NEOPENTECOSTALISMO NO CONTEXTO BRASILEIRO ATUAL 

         O Brasil é considerado um país predominantemente católico, ou seja, que segue os ditames e dogmas da Igreja Católica Romana, que tem como líder o Papa, mas esse quadro está mudando, pesquisas apontam que aproximadamente daqui a dez anos o número de evangélicos superará o de católicos, hoje os evangélicos já somam quase 28 milhões. Esse avanço dos evangélicos no Brasil se dá, em grande parte, por um novo fenômeno religioso que se infiltrou no meio evangélico, denominado neopentecostalismo, ou movimento pentecostal da terceira onda, esse movimento surgiu por volta da década de 70 e fazem parte dele algumas igrejas conhecidas no cenário nacional, seja pela grande atuação na mídia eletrônica, que é uma marca característica dessas igrejas, seja pelos escândalos envolvendo os seus líderes, podemos citar entre algumas mais influentes como: Sara Nossa Terra, Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), Igreja Mundial do Poder de Deus (IMPD), Igreja Internacional da Graça, Igreja Apostólica Renascer em Cristo, Igreja Deus é Amor, Igreja Nova Vida.

         O movimento neopentecostal tem suas raízes nos Estados Unidos da América, que exportou a sua doutrina para vários outros países, os principais porta-vozes desse movimento são Kenneth Hagin, Benny Hinn, Kenneth Copeland, Jorge Tadeu e outros, aqui no Brasil teve grande recepção por parte de alguns lideres evangélicos como o missionário RR Soares, Edir Macedo, Estevam Hernandes, Valnice Milhomens, Bispo Robson Rodovalho, entre outros. A característica marcante desse movimento é a teologia da prosperidade, onde se prega que todo filho de Deus tem direito a ser próspero financeiramente, ou seja, andar de carro de luxo, ter casa nova, ter as melhores jóias, os melhores ternos, ostentação de riquezas. Os pregadores da teologia da prosperidade afirmam que pobreza é coisa do diabo, quem é pobre está sob maldição, se a pessoa serve a Deus tem todo direito de ser uma pessoa rica financeiramente, afirmam que a riqueza é sinônimo de que a pessoa é muito abençoada por Deus.

         Várias igrejas evangélicas brasileiras têm mudado suas práticas litúrgicas e forma de pregação da Bíblia por aderirem a esse movimento. Em suas reuniões são enfatizadas as “campanhas ou correntes”, em que as pessoas são incentivadas a contribuírem financeiramente com ofertas e dízimos para adquirir aquilo que querem, seja um carro novo, um emprego melhor, a volta da pessoa amada ou a restituição dos bens materiais. Alguns líderes dessas igrejas chegam a afirmar que quanto maior a oferta maior será a benção recebida por Deus.

          A forma de culto tem sido aperfeiçoada para agradar os membros, o pragmatismo religioso tem sido aceito abertamente, adota-se o que está dando certo, não sendo necessário estar de acordo com os preceitos bíblicos, se um modelo de culto está dando certo em determinada igreja, logo é adotado também em várias outras, o sistema tradicional de liturgia foi quase que totalmente abolido nessas igrejas. A criação de novos eventos e novas programações para atrair e manter as pessoas  tem sido uma prática constante, a cada dia surge uma novidade, como exemplo: campanha da rosa ungida, do sal grosso, arruda para espantar mal olhado, cajado de mel, sabonete ungido, lenço com suor do homem de Deus, água ungida direto rio Jordão, etc...; se o fiel da igreja passar alguns dias sem ir ao templo, quando voltar talvez se espante com tantas novidades que surgiram nesse pequeno espaço de tempo.

         Os neopentecostais se diferem muito dos pentecostais históricos e dos da segunda geração, não se apegam a questões de roupa, televisão, usos e costumes, têm um jeito diferente de cultuar a Deus, seus cultos são sempre emotivos com músicas ao fundo, em algumas delas o momento dos cânticos se estende por horas reduzindo bastante o tempo de pregação da palavra. O neopentecostalismo se tornou um movimento de massa, alcançando as camadas populares, tem os seus representantes no rádio, televisão, inclusive em horário nobre, na política, no meio artístico onde vários famosos se converteram a fé evangélica por meio dessas igrejas neopentecostais.

         A Igreja Evangélica no Brasil não tem preservado o que os reformadores deixaram como legado, no que se refere a doutrina, liturgia, valores cristãos, pregação teocêntrica, etc. Hoje, provavelmente, qualquer teólogo da época da Reforma Protestante que sacrificou até a sua própria vida pela Igreja de Cristo ficaria estarrecido com a situação da Igreja Evangélica no Brasil, com seus modismos, suas campanhas baseadas em passagens do Velho Testamento, muitas totalmente fora de contexto, com os apóstolos modernos e suas unções milionárias, com a teologia da prosperidade que se alastrou nas Igrejas Evangélicas, onde não é mais pregado o sacerdócio universal, mas sim que o crente tem que ter um intermediário, uma pessoa ungida e especial que se torna um canal de benção entre Deus e os homens. Isso tudo tem afetado a Igreja no Brasil, hoje os valores do mundo estão se sobrepondo aos valores deixados por Cristo em sua Palavra, há uma inversão de prioridades: Cristo afirma que os seus discípulos deveriam primeiro buscar o seu reino e sua justiça e todas as outras coisas seriam acrescentadas (Mt 6), mas hoje o que vemos são os crentes buscando primeiro essas outras coisas, como: prosperidade financeira, bens materiais, casas e carros luxuosos, bons empregos, status social, fama.... Para essas pessoas Cristo veio a terra para simplesmente torná-las ricas e não redimi-las da punição eterna, a obra de Cristo na cruz do calvário como meio de salvação ao homem já não é o mais importante, mas sim os benefícios que Ele proporcionou.

         Os cristãos evangélicos no Brasil estão perdendo a sua identidade como Igreja de Cristo que tem como única regra de fé e prática a Palavra de Deus, não estão sendo relevantes numa sociedade esfacelada em seus valores. O mundo pós-moderno em que vivemos necessita de uma Verdade absoluta, de um referencial, de um caminho a seguir, e se a Igreja não cumprir essa função como propagadora das boas novas, não saberemos que tipo de sociedade teremos e nem mesmo como estará a igreja que foi redimida na cruz por Cristo.

Gilson Nunes
Diácono da Igreja Presbiteriana Éfeso
Ceilândia-DF, 9/12/2010