A Ordem do Carmo é uma das instituições religiosas mais antigas dentro da Igreja Católica. Sua produção literária configura uma vastidão de obras, que torna impossível esgotar os temas espirituais abordados por seus autores, visto a profundidade do que foi escrito.  

          O meu objetivo é descortinar a espiritualidade carmelita, sem a audácia da tentativa do esgotamento do tema, visto a complexidade do que é abordado na literatura da Ordem, no que foi produzido no decorrer destes oito séculos de sua existência.  

          Quando lemos o escrito de um santo carmelita como Santa Teresa D’avila, São João da Cruz ou Santa Terezinha, figuras da Ordem do Carmo bem conhecidos pelo povo, percebemos que suas palavras estão cheias de Deus. Isto se dá, porque seus ensinamentos estão trançados com a Sagrada Escritura. Vale lembrar que a grande maioria dos santos da Ordem viveram numa época que a Sagrada Escritura não estava livremente disponível. O contato que tiveram com a Palavra de Deus foi através dos salmos e trechos bíblicos que rezavam no decorrer do dia, na liturgia das horas. Mesmo com este contato tão restrito, os fragmentos da Palavra de Deus incendiavam seus corações, nutrindo um amor crescente por Deus, notado tanto em suas palavras quanto em suas ações no dia a dia. A espiritualidade da Ordem do Carmo é um desafio de superação, pois busca-se um padrão de intimidade com Deus, onde a ação do indivíduo proclame a autoridade divina através do conhecimento de Deus no seu dia a dia.   

          A liturgia assume um papel fundamental na vida da Ordem do Carmo, pois a não missão não está numa posição anterior ao ato de adoração. É preciso adorar Deus, alimentando-se da força divina emanada dos Sacramentos para enfrentar o mundo. Assim sendo, a vida de um carmelita se pauta no estudo da Sagrada Escritura e na participação da Sagrada Liturgia. O amor pela liturgia traduz o amor pelo próprio Deus, pois a liturgia é a expressão do ato de adoração. Desde a década de 70, a Ordem do Carmo não detém de um rito próprio. Ela assumiu para si o rito ordinário da igreja. E através deste rito, bem celebrado, ela busca seu alimento espiritual.  

          A busca pela intimidade com Deus estabelecida na Ordem do Carmo, coloca os seus membros num eterno aprofundamento do conhecimento divino, pois o objetivo é o eterno aperfeiçoamento da forma como vive. Essa busca não visa a conquista de cargos e prestígio humano, mas unicamente oferecer o melhor à Deus.  

          Assim sendo, a identidade do Carmelo se construiu na história com a reputação de indivíduos da Palavra e da Oração. Essa identidade rendeu à Ordem do Carmo muitos discursos e várias citações no campo da espiritualidade. Sua espiritualidade, algo tão antigo e tão atual, tendo como única pretensão amar a Deus em vida, para contemplar sua face, tal como ela é, pela eternidade de uma vida que nunca mais vai acabar.