CONVERSÃO: O RETORNO DA ALMA AO UNO

O caminho pelo qual Plotino afirma que do Uno nasce a primeira “hipóstase” sem, porém, alterar a sua própria natureza é chamado de “processão” metafísica. Se trilharmos o caminho inverso, partindo da realidade mais ínfima que o Uno emana, ou seja, da multiplicidade das coisas sensíveis até a contemplação do Uno denominaríamos este caminho de “conversão”; via pela qual a alma individual do ser humano percorre para unir – se inefavelmente ao Uno.

O homem é preexistente no estado de pura alma. Unida à Alma do mundo, a alma humana conhece, intuitivamente e simultaneamente, o Espírito (Noûs) e, mediante ele, o Uno. Mas a alma humana não permanece sempre no mundo inteligível, ou seja, não está sempre unida a alma do mundo, as almas descem aos corpos individuais, tornando – se individuais com eles.

Segundo Plotino as almas descem aos corpos de duas formas: por necessidade ontológica e o de culpa.  A necessidade ontológica é feita de forma involuntária, tendo como castigo a própria descida dolorosa ao corpo; estado em que a alma tem vontade de se tornar uma individualidade, pois, está inserida em um corpo individual. Já na espécie de culpa, a alma já encarnada no corpo se afasta das próprias origens geradoras para se apegar ao mundo físico, esquecendo – se de si mesma. Aqui consiste o grande mal: a alma que se afasta da própria origem criadora. É neste ponto que Plotino afirma – nos ser necessária a conversão por parte do homem para que a alma retorne ao uno, uma vez afastada e atraída pelas coisas efêmeras do mundo físico. Destarte é necessário que a alma contemple a si mesma para tomar consciência de suas origens e retornar ao Uno, já que a alma individual está ligada as sua potência criadora como nos afirma Plotino.

“Mas nossa alma não desceu toda ao corpo; algo dela fica sempre no mundo inteligível. Se, porém, o que está no mundo sensível, assume o predomínio, ou antes, se é dominada e perturbada, então não podemos ter consciência daquilo que a parte superior da alma contempla”. (En. IV, 8, 8, 2-7).

                   Para que a alma não seja dominada pelas paixões corpóreas se distanciando de sua origem inteligível, far – se – á necessário um processo de retorno ao Uno que poderíamos resumir com a seguinte frase: “Despoja – te de tudo”. Este despojar – se não significa anular a si mesmo, mas significa que podemos aqui mesmo, neste mundo, através da contemplação, ou um olhar para a luz interior que reside em cada um de nós, mudar a nossa forma de ver as coisas sensíveis, encher – se com o todo, com o infinito e buscar no belo das coisas sensíveis aquilo que está de mais oculto, olhando a verdadeira beleza que estão nas coisas, não apenas o que nos é apresentado como cor e corporeidade, mas desvelar – se das coisas sensíveis e descobrir a beleza inteligível que existe em cada uma das coisas belas. Daí, então, a partir do belo inteligível, como já foi explicitado, chegar ao Uno.

A ascensão de volta ao Uno exige uma superação do homem em relação às coisas físicas. “Em Plotino, o retorno à pátria é uma metáfora da introversão: para ver basta fechar os olhos, mudar esta maneira de ver sensível por outra; despertar a visão que todos têm, mas que poucos usam(...)”.(OLIVEIRA:2005, p. 271).

O não olhar para si e o não mudar a forma de ver as coisas sensíveis tornam – se uma escravidão do homem ao mundo físico desviando a alma do verdadeiro encontro com o Uno. Muitos ficam fascinados pelas belezas físicas e não conseguem enxergar a verdadeira beleza inteligível que a alma individual através da própria contemplação interior consegue atingir que é o próprio Uno.

Segundo Reale, Plotino afirma acerca da contemplação a qual se concluem as Enéadas. Compara a vida de quem contempla o Uno com a dos deuses, quando nos diz que a vida dos deuses e dos homens divinos e bem – aventurados: separação do resto das coisas daqui de baixo, vida a que não apraz mais coisa terrena, fuga de só para Só. (cf. REALE, 1990.p.350.).

Somente após o desencantamento pelo mundo físico, a autodisciplina e purificação moral e intelectual, volvendo – se para o interior é que,

“Então, aquele sentimento de perturbação que a alma sentia face ao belo que primeiro viu – o do mundo sensível – cede lugar a uma tranquilidade própria à segunda hipóstase. Assim, o amor pelo belo se transforma em amor pelo bem: a alma ‘se eleva mais alto que a Inteligência e, se ela não pode prosseguir seu curso além do bem, é porque não há nada além (Enéadas, VI, 7, 22, 20)’. Este pensamento perpassa a obra plotiniana.”. (OLIVEIRA: 2005, p. 271).

Assim Plotino decorre toda a sua obra para dizer – nos da necessidade de separação das coisas daqui de baixo para a ligação com o Uno. Mesmo com as perturbações que a alma sofre causadas pelas sensações ligada ao corpóreo é possível através de um esforço pessoal e da contemplação o qual o sujeito contemplante e o objeto contemplado se fundem; retornar ao Uno.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTISERI, Dario;REALE, Giovanni. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. São Paulo: Paulus,1990.

OLIVEIRA, Loraine. O Belo em Plotino. Síntese, Belo Horizonte, v. 32, n. 103, 2005. p. 259-274.

ROSSETI, Luciano; FRANGIOTTI, Roque. Metafísica: Antiga e Medieval. São Paulo: Paulus, 2012.

ÉTICA E METAFÍSFICA – ORGANIZADORES: EMANUEL ANGELO DA ROCHA FRAGOSO/JOÃO EMILIANO FORTALEZA DE AQUINO/ MARLY CARVALHO SOARES – FORTALEZA :EDUECE,2007mestre jou,

SCIACCA, mechele federico. Historia da filosofia I. são Paulo: mestre Jou.