TÍTULO: CIVILIZAÇÃO OU BARBÁRIE: "Nudez e o Homossexualismo"

Autor Alexandre Motta Alonso[a]

 Revista Universidade Ibirapuera, São Paulo, SP.

 

“Preferimos lançar fora da cultura, na natureza, tudo o que não se conforma com a nossa norma sob a qual se vive."

Lévi Strauss

 

Resumo: Durante muito tempo a humanidade guerreou contra sua própria natureza. Enfrentou seu semelhante e atacou sua naturalidade e beleza. A nudez no decorrer da história da humanidade passou por várias transformações e a relação do homem com a própria nudez marcou sobremaneira diversas culturas, mas destaca-se a nudez para os Gregos. Civilização ou barbárie é essencialmente um paradoxo e o desejo de fugir da natureza dos corpos e a necessidade de domesticá-los torna-se um desafio permanente ao ser.

Palavras-chave: Nudez, Homossexualismo, Civilização, Barbárie.

Abstract: During the long time the war against humanity their very nature. Faced similar and attacked its naturalness and its beauty. The nudity in the course of human history has gone through several transformations and the relationship of man with their nakedness was particularly diverse cultures, but there is a nakedness to the Greeks. Civilization and barbarism is essentially a paradox and the desire to escape from the nature of the bodies and the need for domestic them becomes a challenge to be permanent.

Keywords: Nudity, Homosexuality, Civilization, Barbarism.


1. introdução

Durante muito tempo a humanidade guerreou contra sua própria natureza. Enfrentou seu semelhante e atacou sua naturalidade e beleza. A nudez no decorrer da história da humanidade passou por várias transformações e a relação do homem com a própria nudez marcou sobremaneira diversas culturas, mas destaca-se a nudez para os Gregos.

Civilização ou barbárie é essencialmente um paradoxo e o desejo de fugir da natureza dos corpos e a necessidade de domesticá-los torna-se um desafio permanente ao ser.

A presente produção só é possível com a leitura de vasto referencial teórico, mas torna-se um marco deste breve ensaio a obra de Richard Sennett no capitulo I intitulada "Nudez - O corpo do cidadão na Atenas de Péricles" e através deste vasto material oferecido na sua obra pela riqueza da literatura e do trabalho como antropólogo, alicerça-se despretensiosa contribuição focada na compreensão da Nudez e seus paradigmas.

Entre os antigos gregos, o corpo desnudado mostrava quem era civilizado, permitindo também que se distinguissem os fortes dos vulneráveis.

O corpo para os antigos gregos era visto como sinal de homem civilizado, a nudez importava numa cultura de valorização do corpo e estava diretamente relacionada à vida, saúde, beleza, inteligência e posição social, especialmente entre os homens.

O espetáculo aparente da nudez entre os gregos instiga e aflora a ideia que se faz de civilização ou barbárie. Durante muito tempo a nudez para os gregos retratava o quadro de um "ser civilizado", inserido nos debates modernos, e nos ideais filosóficos.

Perceber a relação do sentido da nudez atribuído aos gregos e aos bárbaros é remontar ao contexto histórico e num recorte diacrônico perceber a construção de uma cultura adversa a nossa e ao conceito de civilização ou barbárie que foi resinificado com o tempo.

Durkheim ao explicar o fato social e seus três pilares essências define que "um fato social só se explica por outro fato social", e o caráter tridimensional da relação fato social, psíquico e biológico, remete ao entendimento da unidade bio-psíquica do homem, ou seja, do indivíduo e o corpo como uma manifestação social, lugar onde a sociedade vai imprimir suas marcas. Nesse ínterim a educação de ambos os sexos revela e orienta o modo de como lidar com o corpo.

Durkheim acolhe a ideia da moralidade como elemento de coesão social. Para Durkheim a sociedade fala através do indivíduo.

Ainda afirma que a sociedade não é a soma de indivíduos e sim uma "consciência moral". A sociedade é um fato moral, é ao mesmo tempo um bem e uma obrigação ao indivíduo. Destaca-se a sociedade como resultado da vontade dos indivíduos.

Na visão de Durkheim a educação integra o indivíduo nessa totalidade ao mesmo tempo em que especifica seu papel. Ela homogeneíza e diferencia. O indivíduo vai ser socializado de acordo com a função que vai exercer nessa sociedade e este é o referencial para entender a civilização ou barbárie ou mesmo entender a questão do homossexualismo.

A sociedade é vista como uma dimensão do dever, mas também como um bem e o indivíduo traz consigo uma totalidade dessa sociedade, de onde se conclui surgir a definição de conceitos, o moral e o a moral, o ético, o estético, o belo, o bom, o socialmente aceitável, etc.

Cada um de nós traz um pouco na nossa fala e no nosso comportamento e relação com a natureza um pouco dessa consciência moral.

A construção do indivíduo na modernidade remete ao culto do "eu", autonomia, igualdade e liberdade. A reflexibilidade, criatividade e a interioridade são modelos do individualismo e Durkheim não poderia negá-lo, pois, o indivíduo nasce atrelado a essa modernidade, donde decorre a ideia de civilização ou barbárie como uma expressão social.

O individualismo nesse caso só tem valor numa sociedade que tem essa marca e é a própria totalidade social que constrói uma nova totalidade onde o indivíduo passa a ter valor. Nas sociedades individualistas privilegia-se o indivíduo, segundo princípios cosmológicos, ou seja, a parte preeminente ao todo e a sociedade preeminente ao indivíduo.

O quanto o corpo pode mostrar sobre uma sociedade mais ampla? Civilização ou Barbárie expressa o dualismo das ideias e das relações sociais em determinadas sociedades e culturas. Construir um referencial é matéria de valor subjetivo. A antropologia do corpo por outro lado propõe novos questionamentos e em relação ao corpo, alguns questionamentos como o controle da imagem passada, entender o atual culto ao corpo, identidade-pudor, não exposição do corpo, a nova moralidade e a moral estética.

No corpo se registra todo caráter, moral a cientifico, da sociedade e do tempo a que pertence, mas não podemos desconsiderar a moralidade estética sobre o próprio corpo. O corpo é visto como instrumento e como valor.

Em sua obra, Sennett [1] aponta o momento em que Tucídides informa que os espartanos "foram os primeiros a participar de jogos nus, a se despirem acintosamente", o que ele identifica como indicativo de progresso alcançado pelos gregos quando da eclosão da guerra. Entre os barbaroi como eram chamados os bárbaros ou estrangeiros, ainda permanecia o costume de cobrir a genitália nos jogos públicos.

A Grécia civilizada fez do seu corpo exposto um objeto de admiração. É notável que para o antigo habitante de Atenas, o ato de exibir-se confirmava a sua dignidade de cidadão.

A democracia ateniense dava à liberdade de pensamento a mesma ênfase atribuída à nudez.

Na nossa sociedade dita moderna onde o costume e as leis são nortes do comportamento social essa prática é vista como um atentado ao pudor e os valores atribuídos ao corpo desde a era ateniense é colocado no vasto memorial do passado histórico e a relação do homem com o corpo passa por uma ruptura que importa no desejo de fugir da "natureza" do corpo e à necessidade que temos de domesticá-los.

O desnudamento coletivo a que se impunham, algo que hoje poderíamos chamar de "compromisso másculo", reforçava os laços de cidadania. Os atenienses tomavam essa convenção tão ao pé da letra, que na Grécia antiga, a paixão erótica e o apego à cidade eram designados pela mesma palavra.

O homem é visto como produto e produtor de cultura e nesse ínterim o corpo é em análoga condição aos gregos, elemento essencial a ostentar os valores de uma sociedade e sua cultura de valorização do corpo.

Cultura são coisas que vão se retro alimentando. Destacar o que o autor [1] chama de "compromisso másculo" é desbravar a relação do homem na antiguidade com o corpo e comparativamente a relação do homem com o corpo na dita civilização moderna.

O corpo do homem civilizado é o corpo contido. A expressão da natureza é constantemente tolhida e a naturalidade sufocada. A necessidade de domesticá-lo segundo convenções sociais é o que importa aos civilizados. O corpo pode ser percebido como um fato social por ser anterior ao indivíduo a ideia que se faz do mesmo e coercitivo a sua imagem e identidade.

O civilizado é antes de tudo um ser social, marcado pelas manifestações de uma dada cultura importada da sociedade em que vive.

Ser "civilizado" é acima de tudo domesticar nossa própria natureza e desejos, é contrariar nossa natureza instintiva e biológica e reprimir nossas formas de erotismo e sexualidade. Importa em portar-se nos padrões sociais, e não contrariar uma convenção social. A consciência moral é o elemento mais importante e é ela que define a ação do indivíduo.

A nudez simbolizava um povo inteiramente à vontade na sua cidade, expostos e felizes, ao contrário dos bárbaros, que vagavam sem objetivo e sem a proteção da pedra.

Alguns autores são unânimes em reconhecer a existência, o vigor e o esforço desses temas de austeridade sexual numa sociedade na qual os contemporâneos descreviam, frequentemente para reprová-los à imoralidade e os costumes dissolutos na visão de Foucault.

Foucault (1976) afirma:

"O esboço de uma evolução multissecular conduz a um regime na qual a liberdade sexual está estritamente limitada pelas instituições e pelas leis, e mesmo com a vontade de rigor defendida pelos moralistas, destaca-se o fato de não encontramos entre os filósofos nenhum projeto para uma legislação coercitiva e geral dos comportamentos sexuais."

Foucault [2] sinaliza que em diversos textos dos primeiros séculos encontramos interdições sobre os atos sexuais, mas acima de tudo a insistência sobre a atenção que devemos ter para conosco mesmo e nesse contexto imputa a ideia da modalidade, amplitude, permanência e exatidão da vigilância sobre nossa inquietação com os distúrbios do corpo e da alma, que devemos no caso evitar por meio de regime austero e pelo respeito a nos mesmos não simplesmente pelo status, mas pelo racional, onde reforça a necessidade de suportar a privação dos prazeres e limitar o uso do casamento e procriação.

O desvio é criado entre os embates da ideologia.

Abordar uma discussão que implica num entendimento do conceito de civilização ou barbárie é vagar por um vasto campo de entendimento e percepções sociologicamente construídas para tentar explicar e compreender a linha tênue que separa e diferencia os conceitos em questão.

Definir conceitualmente tais termos não ajuda compreender o desejo de fugir da natureza e domesticar os corpos e a compreender a noção que temos do corpo e de sua natureza na modernidade.

Com breve olhar sobre o passado é possível perceber que para os Atenienses os corpos nus eram valorizados e as trocas de caricias e afeto eram comuns entre os homens e poderiam ser percebidas como formas de "solidariedade", ou podemos problematizar, afirmando como liberdade.

Era comum entre os gregos os homens terem seus amantes.

A beleza dos corpos atenienses trabalhados, bem desenhados, remonta ao ideal de corpo na nossa sociedade, onde o exercício físico ou o ato de "malhar" passa a ser objeto de desejo de vários indivíduos na busca pelo corpo perfeito e pela natureza estética dos corpos. Essa busca está estreitamente relacionada à sexualidade e ao erotismo.

A ideia que se faz do corpo belo e bem trabalhado é objeto de desejo de muitos, mas essa mesma ideia, hoje incorporada em dadas sociedades, passa a ser imposta aos indivíduos como condição de inserção social e assim percebe-se o "corpo malhado", ou seja, magro, saudável, com músculos bem desenvolvidos e bem delineados como um fato social.

Destaca-se o fato de não expomos mais nossos corpos nus como os Gregos da antiguidade, mas sim expomos nossos corpos transformados, sedutores, "malhados", mesmo debaixo de uma veste, ou roupa de banho.

O sinônimo de estética e beleza está relacionado ao corpo "malhado e transformado" e este conceito está presente entre os homossexuais, assim como entre os heterossexuais, bissexuais e outros tipos de preferência-classificação que possa existir.

O desejo de conter a "natureza" dos corpos e a necessidade de domesticá-los levou a uma construção do homossexualismo como algo proibido, pecaminoso, anormal ou uma anomalia.

A relação entre os homens atenienses e os guerreiros do passado está relacionada ao sentido que se faz dos homens e dos corpos e da função social e biológica das mulheres que era vista especialmente como um ser indispensável à procriação.

O sagrado e o profano estão em voga entre os homossexuais e algumas questões permanecem como: Demonizamos ou romantizamos o homossexual? Seriam os homossexuais um outro contemporâneo?

Especialmente entre os homossexuais masculinos, percebemos a valorização do "culto ao corpo" e a dimensão do valor estético que se faz do "corpo malhado e bem definido".

A homofobia é palco de grandes debates contemporâneos e a domesticação do corpo é assunto pertinente ao debate, já que conter a natureza dos instintos seria uma forma de domesticá-lo. Enfrentar sua própria natureza seria a negação de sua identidade e aceitação de uma "consciência moral" antes que a individual.

Os direitos sociais e civis dos homossexuais em algumas sociedades já são aceitos e estão devidamente regulamentados, enquanto noutras sociedades, como no Brasil, os seus direitos não estão totalmente aceitos ou reconhecidos, embora temos presenciado uma importante evolução e tolerância nas últimas décadas.

A "consciência moral", ou seja, a sociedade que não reconhece seus direitos, os homossexuais são vítimas de discriminação e preconceito. Além do mais são excluídos socialmente dessa sociedade.

Nas últimas décadas uma mudança significativa vem ocorrendo e alguns direitos são reconhecidos e o respeito à diversidade e a liberdade sexual passaram a ser valorizados. Relativizar passa a ser o grande desafio.

Especialmente entre os homossexuais masculinos, percebe-se, que o desejo de conter a natureza dos corpos e dos impulsos permanece presente até uma etapa de suas vidas, que vai desde a infância à juventude, momento este em que o indivíduo representa a sociedade na sua totalidade.

Com a ascensão da consciência individual e da razão, os homossexuais buscam sua emancipação e a experimentação sexual, bem como lutar pelos seus direitos individuais e coletivos, como o importante movimento de combate a homofobia.

Vítimas de violência, perseguição, assassinatos e outro, esse debate do homossexualismo está ativo nas grandes universidades e instituições sociais do Brasil e de outras comunidades, no intuito de reconhecer seus direitos à vida, liberdade e integridade física e moral.

 

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Um estudo em que os dados necessários foram coletados através da análise documental, histórico-bibliográfico Este foi um estudo sobre as questões sociais e o objetivo não foi investigar em maior profundidade o assunto, mas entender melhor a inter-relação entre civilização-barbárie, nudez-homossexualismo e gerar hipóteses para incentivar os futuros inquéritos mais amplos.

Estudo descritivo, em suas múltiplas formas, com dados e fatos recolhidos da realidade ou da unidade analisada, que abrange os aspectos de um contexto geral.  A análise ampla visa identificar várias formas de fenômenos sem interferir na realidade, apenas objetiva descrever e interpretar os fatos.

 

3. Resultados e diScussões

O tema proposto contextualiza-se numa discussão contemporânea como a questão do homossexualismo.

Importa reconhecer a nossa própria natureza e entender que o "desejo que temos de domesticar o nosso corpo" é consequência de uma educação socialmente construída, ou seja, um fato social.

O indivíduo no decorrer da história da humanidade passou por várias transformações e em vários momentos o corpo, seus desejos, impulsos e as diversas formas de relações foram resinificadas.

Notadamente cultura é um precipitado de experiências e efêmera.

Compartilhar uma cultura é ser solidário na mesma visão etnocêntrica e presente. Aqui chegamos a uma importante reflexão, haja visto que aqueles que compartilham nossa visão de mundo são civilizados e aqueles que se distanciam são bárbaros.

 

 

 

 

 

Figura 1: Logotipo da Universidade Ibirapuera. (Fonte: http://www.revistaunib.com.br/)

 

4. conclusão

Para a sociologia, como ciência, torna-se cada vez maior o desafio de analisar as questões pertinentes à ética e a moral. No artigo discutiu-se apenas alguns aspectos como a civilização e a barbárie, assim como o homossexualismo e a nudez, mesmo porque o assunto é demasiadamente vasto.

 

A premência dessa discussão, transformada em questão global, obriga a que o conhecimento acumulado na sociologia possa refletir sobre assunto de tamanha importância. Mais do que isso exige que sejam pensadas reflexões para esses temas, a partir do conhecimento que se possa ter da organização da sociedade na qual se vive.

 

É aceitável o fato de "cada outro achar o outro bizarro", bárbaro, mas "nós somos igualmente o outro, só estamos familiarizados por nosso próprio costume".

 

Identidade é um processo relacional. "Preferimos lançar fora da cultura, na natureza, tudo o que não se conforma com a nossa norma sob a qual se vive" (Lévi Strauss).

 

 

5. REFERÊNCIAS

 [1] SENNETT, Richard; Carne e Pedra. Rio de Janeiro: Editora Record, 1994.

[2] FOUCALT, Michel; História da Sexualidade - O Cuidado de Si. Ed. Graal, 1976.

 

 

 

 

 

 



[a] Alexandre Motta Alonso, Bacharel em Ciências Sociais, Universidade Federal do Espírito Santo. Email [email protected]

TÍTULO: CIVILIZAÇÃO OU BARBÁRIE: "Nudez e o Homossexualismo"

Autor Alexandre Motta Alonso[a]

 Revista Universidade Ibirapuera, São Paulo, SP.

 

“Preferimos lançar fora da cultura, na natureza, tudo o que não se conforma com a nossa norma sob a qual se vive."

Lévi Strauss

 

Resumo: Durante muito tempo a humanidade guerreou contra sua própria natureza. Enfrentou seu semelhante e atacou sua naturalidade e beleza. A nudez no decorrer da história da humanidade passou por várias transformações e a relação do homem com a própria nudez marcou sobremaneira diversas culturas, mas destaca-se a nudez para os Gregos. Civilização ou barbárie é essencialmente um paradoxo e o desejo de fugir da natureza dos corpos e a necessidade de domesticá-los torna-se um desafio permanente ao ser.

Palavras-chave: Nudez, Homossexualismo, Civilização, Barbárie.

Abstract: During the long time the war against humanity their very nature. Faced similar and attacked its naturalness and its beauty. The nudity in the course of human history has gone through several transformations and the relationship of man with their nakedness was particularly diverse cultures, but there is a nakedness to the Greeks. Civilization and barbarism is essentially a paradox and the desire to escape from the nature of the bodies and the need for domestic them becomes a challenge to be permanent.

Keywords: Nudity, Homosexuality, Civilization, Barbarism.


1. introdução

Durante muito tempo a humanidade guerreou contra sua própria natureza. Enfrentou seu semelhante e atacou sua naturalidade e beleza. A nudez no decorrer da história da humanidade passou por várias transformações e a relação do homem com a própria nudez marcou sobremaneira diversas culturas, mas destaca-se a nudez para os Gregos.

Civilização ou barbárie é essencialmente um paradoxo e o desejo de fugir da natureza dos corpos e a necessidade de domesticá-los torna-se um desafio permanente ao ser.

A presente produção só é possível com a leitura de vasto referencial teórico, mas torna-se um marco deste breve ensaio a obra de Richard Sennett no capitulo I intitulada "Nudez - O corpo do cidadão na Atenas de Péricles" e através deste vasto material oferecido na sua obra pela riqueza da literatura e do trabalho como antropólogo, alicerça-se despretensiosa contribuição focada na compreensão da Nudez e seus paradigmas.

Entre os antigos gregos, o corpo desnudado mostrava quem era civilizado, permitindo também que se distinguissem os fortes dos vulneráveis.

O corpo para os antigos gregos era visto como sinal de homem civilizado, a nudez importava numa cultura de valorização do corpo e estava diretamente relacionada à vida, saúde, beleza, inteligência e posição social, especialmente entre os homens.

O espetáculo aparente da nudez entre os gregos instiga e aflora a ideia que se faz de civilização ou barbárie. Durante muito tempo a nudez para os gregos retratava o quadro de um "ser civilizado", inserido nos debates modernos, e nos ideais filosóficos.

Perceber a relação do sentido da nudez atribuído aos gregos e aos bárbaros é remontar ao contexto histórico e num recorte diacrônico perceber a construção de uma cultura adversa a nossa e ao conceito de civilização ou barbárie que foi resinificado com o tempo.

Durkheim ao explicar o fato social e seus três pilares essências define que "um fato social só se explica por outro fato social", e o caráter tridimensional da relação fato social, psíquico e biológico, remete ao entendimento da unidade bio-psíquica do homem, ou seja, do indivíduo e o corpo como uma manifestação social, lugar onde a sociedade vai imprimir suas marcas. Nesse ínterim a educação de ambos os sexos revela e orienta o modo de como lidar com o corpo.

Durkheim acolhe a ideia da moralidade como elemento de coesão social. Para Durkheim a sociedade fala através do indivíduo.

Ainda afirmar que a sociedade não é a soma de indivíduos e sim uma "consciência moral". A sociedade é um fato moral, é ao mesmo tempo um bem e uma obrigação ao indivíduo. Destaca-se a sociedade como resultado da vontade dos indivíduos.

Na visão de Durkheim a educação integra o indivíduo nessa totalidade ao mesmo tempo em que especifica seu papel. Ela homogeneíza e diferencia. O indivíduo vai ser socializado de acordo com a função que vai exercer nessa sociedade e este é o referencial para o entender a civilização ou barbárie ou mesmo entender a questão do homossexualismo.

A sociedade é vista como uma dimensão do dever, mas também como um bem e o indivíduo traz consigo uma totalidade dessa sociedade, de onde se conclui surgir a definição de conceitos, o moral e o a moral, o ético, o estético, o belo, o bom, o socialmente aceitável, etc.

Cada um de nós traz um pouco na nossa fala e no nosso comportamento e relação com a natureza um pouco dessa consciência moral.

A construção do indivíduo na modernidade remete ao culto do "eu", autonomia, igualdade e liberdade. A reflexibilidade, criatividade e a interioridade são modelos do individualismo e Durkheim não poderia negá-lo, pois, o indivíduo nasce atrelado a essa modernidade, donde decorre a ideia de civilização ou barbárie como uma expressão social.

O individualismo nesse caso só tem valor numa sociedade que tem essa marca e é a própria totalidade social que constrói uma nova totalidade onde o indivíduo passa a ter valor. Nas sociedades individualistas privilegia-se o indivíduo, segundo princípios cosmológicos, ou seja, a parte preeminente ao todo e a sociedade preeminente ao indivíduo.

O quanto o corpo pode mostrar sobre uma sociedade mais ampla? Civilização ou Barbárie expressa o dualismo das ideias e das relações sociais em determinadas sociedades e culturas. Construir um referencial é matéria de valor subjetivo. A antropologia do corpo por outro lado propõe novos questionamentos e em relação ao corpo, alguns como o controle da imagem passada, entender o atual culto ao corpo, identidade-pudor, não exposição do corpo, a nova moralidade e a moral estética.

No corpo se registra todo caráter, moral a cientifico, da sociedade e do tempo a que pertence, mas não podemos desconsiderar a moralidade estética sobre o próprio corpo. O corpo é visto como instrumento e como valor.

Em sua obra o Sennett aponta o momento em que Tucídides informa que os espartanos "foram os primeiros a participar de jogos nus, a se despirem acintosamente", o que ele identifica como indicativo de progresso alcançado pelos gregos quando da eclosão da guerra. Entre os barbaroi como eram chamados os bárbaros ou estrangeiros, ainda permanecia o costume de cobrir a genitália nos jogos públicos.

A Grécia civilizada fez do seu corpo exposto um objeto de admiração. É notável que para o antigo habitante de Atenas, o ato de exibir-se confirmava a sua dignidade de cidadão.

A democracia ateniense dava à liberdade de pensamento a mesma ênfase atribuída à nudez.

Na nossa sociedade dita moderna onde o costume e as leis são nortes do comportamento social essa prática é vista como um atentado ao pudor e os valores atribuídos ao corpo desde a era ateniense é colocado no vasto memorial do passado histórico e a relação do homem com o corpo passa por uma ruptura que importa no desejo de fugir da "natureza" do corpo e à necessidade que temos de domesticá-los.

O desnudamento coletivo a que se impunham, algo que hoje poderíamos chamar de "compromisso másculo", reforçava os laços de cidadania. Os atenienses tomavam essa convenção tão ao pé da letra, que na Grécia antiga, a paixão erótica e o apego à cidade eram designados pela mesma palavra.

O homem é visto como produto e produtor de cultura e nesse ínterim o corpo é em análoga condição aos gregos elemento essencial a ostentar os valores de uma sociedade e sua cultura de valorização do corpo. Cultura são coisas que vão se retro alimentando. Destacar o que o autor chama de "compromisso másculo" é desbravar a relação do homem na antiguidade com o corpo e comparativamente a relação do homem com o corpo na dita civilização moderna.

O corpo do homem civilizado é o corpo contido. A expressão da natureza é constantemente tolhida e a naturalidade sufocada. A necessidade de domesticá-lo segundo convenções sociais é o que importa aos civilizados. O corpo pode ser percebido como um fato social por ser anterior ao indivíduo a ideia que se faz do mesmo e coercitivo a sua imagem e identidade.

O civilizado é antes de tudo um ser social, marcado pelas manifestações de uma dada cultura importada da sociedade em que vive.

Ser "civilizado" é acima de tudo domesticar nossa própria natureza e desejos, é contrariar nossa natureza instintiva e biológica e reprimir nossas formas de erotismo e sexualidade. Importa em portar-se nos padrões sociais, e não contrariar uma convenção social. A consciência moral é o elemento mais importante e é ela que define a ação do indivíduo.

A nudez simbolizava um povo inteiramente à vontade na sua cidade, expostos e felizes, ao contrário dos bárbaros, que vagavam sem objetivo e sem a proteção da pedra.

Alguns autores são unânimes em reconhecer a existência, o vigor e o esforço desses temas de austeridade sexual numa sociedade na qual os contemporâneos descreviam, frequentemente para reprová-los à imoralidade e os costumes dissolutos na visão de Foucault.

Foucault (1976) afirma:

"O esboço de uma evolução multissecular conduz a um regime na qual a liberdade sexual está estritamente limitada pelas instituições e pelas leis, e mesmo com a vontade de rigor defendida pelos moralistas, destaca-se o fato de não encontramos entre os filósofos nenhum projeto para uma legislação coercitiva e geral dos comportamentos sexuais."

Foucault sinaliza que em diversos textos dos primeiros séculos encontramos interdições sobre os atos sexuais, mas acima de tudo a insistência sobre a atenção que devemos ter para conosco mesmo e nesse contexto imputa a ideia da modalidade, amplitude, permanência e exatidão da vigilância sobre nossa inquietação com os distúrbios do corpo e da alma, que devemos no caso evitar por meio de regime austero e pelo respeito a nos mesmos não simplesmente pelo status, mas pelo racional, onde reforça a necessidade de suportar a privação dos prazeres e limitar o uso do casamento e procriação.

O desvio é criado entre os embates da ideologia.

Abordar uma discussão que implica num entendimento do conceito de civilização ou barbárie é vagar por um vasto campo de entendimento e percepções sociologicamente construídas para tentar explicar e compreender a linha tênue que separa e diferencia os conceitos em questão.

Definir conceitualmente tais termos não ajuda compreender o desejo de fugir da natureza e domesticar os corpos e a compreender a noção que temos do corpo e de sua natureza na modernidade.

Com breve olhar sobre o passado é possível perceber que para os Atenienses os corpos nus eram valorizados e as trocas de caricias e afeto eram comuns entre os homens e poderiam ser percebidas como formas de "solidariedade", ou podemos problematizar, afirmando como liberdade.

Era comum entre os gregos os homens terem seus amantes.

A beleza dos corpos atenienses trabalhados, bem desenhados, remonta ao ideal de corpo na nossa sociedade, onde o exercício físico ou o ato de "malhar" passa a ser objeto de desejo de vários indivíduos na busca pelo corpo perfeito e pela natureza dos corpos. Essa busca está estreitamente relacionada à sexualidade e ao erotismo.

A ideia que se faz do corpo belo e bem trabalhado é objeto de desejo de muitos, mas essa mesma ideia, hoje incorporada em dadas sociedades, passa a ser imposta aos indivíduos como condição de inserção social e assim percebe-se o "corpo malhado", ou seja, magro, saudável, com músculos bem desenvolvidos e bem delineados como um fato social.

Destaca-se o fato de não expomos mais nossos corpos nus como os Gregos da antiguidade, mas sim expomos nossos corpos transformados, sedutores, "malhados", mesmo debaixo de uma veste, ou roupa de banho.

O sinônimo de estética e beleza está relacionado ao corpo "malhado e transformado" e este conceito está presente entre os homossexuais, assim como entre os heterossexuais, bissexuais e outros tipos de preferência-classificação que possa existir.

O desejo de conter a "natureza" dos corpos e a necessidade de domesticá-los levou a uma construção do homossexualismo como algo proibido, pecaminoso, anormal ou uma anomalia.

A relação entre os homens atenienses e os guerreiros do passado está relacionada ao sentido que se faz dos homens e dos corpos e da função social e biológica das mulheres que era vista especialmente como um ser indispensável à procriação.

O sagrado e o profano estão em voga entre os homossexuais e algumas questões permanecem como: Demonizamos ou romantizamos o homossexual? Seriam os homossexuais um outro contemporâneo?

Especialmente entre os homossexuais masculinos, percebemos a valorização do "culto ao corpo" e a dimensão do valor estético que se faz do "corpo malhado e bem definido".

A homofobia é palco de grandes debates contemporâneos e a domesticação do corpo é assunto pertinente ao debate, já que conter a natureza dos instintos seria uma forma de domesticá-lo. Enfrentar sua própria natureza seria a negação de sua identidade e aceitação de uma "consciência moral" antes que a individual.

Os direitos sociais e civis dos homossexuais em algumas sociedades já são aceitos e estão devidamente regulamentados, enquanto noutras sociedades, como no Brasil, os seus direitos não estão totalmente aceitos ou reconhecidos, embora temos presenciado uma importante evolução e tolerância nas últimas décadas.

A "consciência moral", ou seja, a sociedade não reconhece seus direitos e os homossexuais são vítimas de discriminação e preconceito. Além do mais são excluídos socialmente dessa sociedade.

Nas últimas décadas uma mudança significativa vem ocorrendo e alguns direitos são reconhecidos e o respeito à diversidade e a liberdade sexual passaram a ser valorizados. Relativizar passa a ser o grande desafio.

Especialmente entre os homossexuais masculinos, percebe-se, que o desejo de conter a natureza dos corpos e dos impulsos permanece presente até uma etapa de suas vidas, que vai desde a infância à juventude, momento este em que o indivíduo representa a sociedade na sua totalidade.

Com a ascensão da consciência individual e da razão os homossexuais buscam sua emancipação e a experimentação sexual, bem como lutar pelos seus direitos individuais e coletivos, como o importante movimento de combate a homofobia.

Vítimas de violência, perseguição, assassinatos e outro, esse debate do homossexualismo está ativo nas grandes universidades e instituições sociais do Brasil e de outras comunidades, no intuito de reconhecer seus direitos à vida, liberdade e integridade física e moral.

 

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Um estudo em que os dados necessários foram coletados através da análise documental, histórico-bibliográfico Este foi um estudo sobre as questões socioambientais e o objetivo não foi investigar em maior profundidade o assunto, mas entender melhor a inter-relação entre variáveis ambientais e sociais e gerar hipóteses para incentivar os futuros inquéritos mais amplos.

Estudo descritivo, em suas múltiplas formas, com dados e fatos recolhidos da realidade ou da unidade analisada, que abrange os aspectos de um contexto geral.  A análise ampla visa identificar várias formas de fenômenos sem interferir na realidade, apenas objetiva descrever e interpretar os fatos que influenciam o fenômeno.

 

3. Resultados e diScussões

O tema proposto contextualiza-se numa discussão contemporânea como a questão do homossexualismo.

Importa reconhecer a nossa própria natureza e entender que o "desejo que temos de domesticar o nosso corpo" é consequência de uma educação socialmente construída, ou seja, um fato social.

O indivíduo no decorrer da história da humanidade passou por várias transformações e em vários momentos o corpo, seus desejos, impulsos e as diversas formas de relações foram resinificadas.

Notadamente cultura é um precipitado de experiências e efêmera.

Compartilhar uma cultura é ser solidário na mesma visão etnocêntrica e presente se faz importante reflexão, haja visto que aqueles que compartilham nossa visão de mundo são civilizados e aqueles que se distanciam são bárbaros.

 

 

 

 

 

Figura 1: Logotipo da Universidade Ibirapuera. (Fonte: http://www.revistaunib.com.br/)

 

4. conclusão

Para a sociologia, como ciência, torna-se cada vez maior o desafio de analisar as questões pertinentes à ética e a moral. No artigo discutiu-se apenas alguns aspectos como a civilização e a barbárie, assim como o homossexualismo e a nudez, mesmo porque o assunto é demasiadamente vasto.

 

A premência dessa discussão, transformada em questão global, obriga a que o conhecimento acumulado na sociologia possa refletir sobre assunto de tamanha importância. Mais do que isso exige que sejam pensadas reflexões para esses temas, a partir do conhecimento que se possa ter da organização da sociedade na qual se vive.

 

É aceitável o fato de "cada outro achar o outro bizarro", bárbaro, mas "nós somos igualmente o outro, só estamos familiarizados por nosso próprio costume".

 

Identidade é um processo relacional. "Preferimos lançar fora da cultura, na natureza, tudo o que não se conforma com a nossa norma sob a qual se vive" (Lévi Strauss).

 

 

5. REFERÊNCIAS

 SENNETT, Richard; Carne e Pedra. Rio de Janeiro: Editora Record, 1994.

FOUCALT, Michel; História da Sexualidade - O Cuidado de Si. Ed. Graal, 1976.

 

 

 

 

 

 



[a] Alexandre Motta Alonso, Bacharel em Ciências Sociais, Universidade Federal do Espírito Santo. Email [email protected]

Civilização ou Barbárie:
"Nudez e o Homossexualismo"

Antropologia do Corpo / Ciências Sociais
Universidade Federal do Espírito Santo



Resumo - Durante muito tempo a humanidade guerreou contra sua própria natureza. Enfrentou seu semelhante e atacou sua naturalidade e beleza. A nudez no decorrer da história da humanidade passou por várias transformações e a relação do homem com a própria nudez marcou sobremaneira diversas culturas, mas destaca-se a nudez para os Gregos. Civilização ou barbárie é essencialmente um paradoxo e o desejo de fugir da natureza dos corpos e a necessidade de domesticá-los torna-se um desafio permanente ao ser.

Summary - During the long war against humanity their very nature. Faced similar and attacked its naturalness and its beauty. The nudity in the course of human history has gone through several transformations and the relationship of man with their nakedness was particularly diverse cultures, but there is a nakedness to the Greeks. Civilization and barbarism is essentially a paradox and the desire to escape from the nature of the bodies and the need for domestic them becomes a challenge to be permanent.

(Palavras-chave: nudez, homossexualismo, civilização, barbárie)


Introdução

Durante muito tempo a humanidade guerreou contra sua própria natureza. Enfrentou seu semelhante e atacou sua naturalidade e beleza. A nudez no decorrer da história da humanidade passou por várias transformações e a relação do homem com a própria nudez marcou sobremaneira diversas culturas, mas destaca-se a nudez para os Gregos.

Civilização ou barbárie é essencialmente um paradoxo e o desejo de fugir da natureza dos corpos e a necessidade de domesticá-los torna-se um desafio permanente ao ser.

Ensaio

A presente produção só é possível com a leitura de vasto referencial teórico, mas torna-se um marco deste breve ensaio a obra de Richard Sennett no capitulo I intitulada "Nudez ? O corpo do cidadão na Atenas de Péricles" e através deste vasto material oferecido na sua obra pela riqueza da literatura e do trabalho como antropólogo, alicerça-se despretensiosa contribuição focada na compreensão da Nudez e seus paradigmas.

"Entre os antigos gregos, o corpo desnudado mostrava quem era civilizado, permitindo também que se distinguissem os fortes dos vulneráveis."

O corpo para os antigos gregos era visto como sinal de homem civilizado, a nudez importava numa cultura de valorização do corpo e estava diretamente relacionada à vida, saúde, beleza, inteligência e posição social, especialmente entre os homens.
O espetáculo aparente da nudez entre os gregos instiga e aflora a idéia que se faz de civilização ou barbárie. Durante muito tempo a nudez para os gregos retratava o quadro de um "ser civilizado", inserido nos debates modernos, e nos ideais filosóficos.

Perceber a relação do sentido da nudez atribuído aos gregos e aos bárbaros é remontar ao contexto histórico e num recorte diacrônico perceber a construção de uma cultura adversa a nossa e ao conceito de civilização ou barbárie que foi resignificado com o tempo.

Durkheim ao explicar o fato social e seus três pilares essências define que "um fato social só se explica por outro fato social", e o caráter tridimensional da relação fato social, psíquico e biológico, remete ao entendimento da unidade bio-psiquica do homem, ou seja, do individuo e o corpo como uma manifestação social, lugar onde a sociedade vai imprimir suas marcas. Nesse ínterim a educação de ambos os sexos revela e orienta o modo de como lidar com o corpo.

Durkheim acolhe a idéia da moralidade como elemento de coesão social. Para Durkheim a sociedade fala através do individuo.

Ainda afirmar que a sociedade não é a soma de indivíduos e sim uma "consciência moral". A sociedade é um fato moral, é ao mesmo tempo um bem e uma obrigação ao individuo. Destaca-se a sociedade como resultado da vontade dos indivíduos.

Na visão de Durkheim a educação integra o individuo nessa totalidade ao mesmo tempo em que especifica seu papel. Ela homogeneíza e diferencia. O individuo vai ser socializado de acordo com a função que vai exercer nessa sociedade e este é o referencial para o entender a civilização ou barbárie ou mesmo entender a questão do homossexualismo.

A sociedade é vista como uma dimensão do dever, mas também como um bem e o individuo traz consigo uma totalidade dessa sociedade, de onde se conclui surgir a definição de conceitos, o moral e o a moral, o ético, o estético, o belo, o bom, o socialmente aceitável, etc.

Cada um de nós traz um pouco na nossa fala e no nosso comportamento e relação com a natureza um pouco dessa consciência moral.

A construção do individuo na modernidade remete ao culto do "eu", autonomia, igualdade e liberdade. A reflexibilidade, criatividade e a interioridade são modelos do individualismo e Durkheim não poderia negá-lo, pois, o individuo nasce atrelado a essa modernidade, donde decorre a idéia de civilização ou barbárie como uma expressão social.

O individualismo nesse caso só tem valor numa sociedade que tem essa marca e é a própria totalidade social que constrói uma nova totalidade onde o individuo passa a ter valor. Nas sociedades individualistas privilegia-se o individuo, segundo princípios cosmológicos, ou seja, "a parte preeminente ao todo" e "a sociedade preeminente ao individuo".

"O quanto o corpo pode mostrar sobre uma sociedade mais ampla."

Civilização ou Barbárie expressa o dualismo das idéias e das relações sociais em determinadas sociedades e culturas. Construir um referencial é matéria de valor subjetivo. A antropologia do corpo por outro lado propõe novos questionamentos e em relação ao corpo, alguns como o controle da imagem passada, entender o atual culto ao corpo, identidade-pudor, não exposição do corpo, a nova moralidade e a moral estética.
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No corpo se registra todo caráter, moral a cientifico, da sociedade e do tempo a que pertence, mas não podemos desconsiderar a moralidade estética sobre o próprio corpo. O corpo é visto como instrumento e como valor.

Em sua obra o Sennett aponta o momento em que Tucídides informa que os espartanos "foram os primeiros a participar de jogos nus, a se despirem acintosamente", o que ele identifica como indicativo de progresso alcançado pelos gregos quando da eclosão da guerra. Entre os barbaroi como eram chamados os bárbaros ou estrangeiros, ainda permanecia o costume de cobrir a genitália nos jogos públicos.

"A Grécia civilizada fez do seu corpo exposto um objeto de admiração."
É notável que para o antigo habitante de Atenas, o ato de exibir-se confirmava a sua dignidade de cidadão.

A democracia ateniense dava à liberdade de pensamento a mesma ênfase atribuída à nudez.

Na nossa sociedade dita moderna onde o costume e as leis são nortes do comportamento social essa prática é vista como um atentado ao pudor e os valores atribuídos ao corpo desde a era ateniense é colocado no vasto memorial do passado histórico e a relação do homem com o corpo passa por uma ruptura que importa no desejo de fugir da "natureza" do corpo e à necessidade que temos de domesticá-los.

"O desnudamento coletivo a que se impunham ? algo que hoje poderíamos chamar de "compromisso másculo" ? reforçava os laços de cidadania. Os atenienses tomavam essa convenção tão ao pé da letra, que na Grécia antiga, a paixão erótica e o apego à cidade eram designados pela mesma palavra."
O homem é visto como produto e produtor de cultura e nesse ínterim o corpo é em análoga condição aos gregos elemento essencial a ostentar os valores de uma sociedade e sua cultura de valorização do corpo. Cultura são coisas que vão se retro alimentando. Destacar o que o autor chama de "compromisso másculo" é desbravar a relação do homem na antiguidade com o corpo e comparativamente a relação do homem com o corpo na dita civilização moderna.

O corpo do homem civilizado é o corpo contido. A expressão da natureza é constantemente tolhida e a naturalidade sufocada. A necessidade de domesticá-lo segundo convenções sociais é o que importa aos civilizados. O corpo pode ser percebido como um fato social por ser anterior ao individuo a idéia que se faz do mesmo e coercitivo a sua imagem e identidade.

O civilizado é antes de tudo um ser social, marcado pelas manifestações de uma dada cultura importada da sociedade em que vive.

Ser "civilizado" é acima de tudo domesticar nossa própria natureza e desejos, é contrariar nossa natureza instintiva e biológica e reprimir nossas formas de erotismo e sexualidade. Importa em portar-se nos padrões sociais, e não contrariar uma convenção social. A consciência moral é o elemento mais importante e é ela que define a ação do individuo.

"A nudez simbolizava um povo inteiramente à vontade na sua cidade, expostos e felizes, ao contrario dos bárbaros, que vagavam sem objetivo e sem a proteção da pedra."

Alguns autores são unânimes em reconhecer a existência, o vigor e o esforço desses temas de austeridade sexual numa sociedade na qual os contemporâneos descreviam, frequentemente para reprová-los à imoralidade e os costumes dissolutos na visão de Foucault.

Foucault ainda afirma:

"O esboço de uma evolução multissecular conduz a um regime na qual a liberdade sexual esta estritamente limitada pelas instituições e pelas leis, e mesmo com a vontade de rigor defendida pelos moralistas, destaca-se o fato de não encontramos entre os filósofos nenhum projeto para uma legislação coercitiva e geral dos comportamentos sexuais."

Foucault afirma que em diversos textos dos primeiros séculos encontramos interdições sobre os atos sexuais, mas acima de tudo a insistência sobre a atenção que devemos ter para conosco mesmo e nesse contexto imputa a idéia da modalidade, amplitude, permanência e exatidão da vigilância sobre nossa inquietação com os distúrbios do corpo e da alma, que devemos no caso evitar por meio de regime austero e pelo respeito a nos mesmos não simplesmente pelo status, mas pelo racional, onde reforça a necessidade de suportar a privação dos prazeres e limitar o uso do casamento e procriação.

"O desvio é criado entre os embates da ideologia".

Abordar uma discussão que implica num entendimento do conceito de civilização ou barbárie é vagar por um vasto campo de entendimento e percepções sociologicamente construídas para tentar explicar e compreender a linha tênue que separa e diferencia os conceitos em questão.

Definir conceitualmente tais termos não ajuda compreender o desejo de fugir da natureza e domesticar os corpos e a compreender a noção que temos do corpo e de sua natureza na modernidade.

Homossexualismo

Com breve olhar sobre o passado é possível perceber que para os Atenienses os corpos nus eram valorizados e as trocas de caricias e afeto eram comuns entre os homens e poderiam ser percebidas como formas de "solidariedade", ou podemos problematizar, afirmando como liberdade.

Era comum entre os gregos os homens terem seus amantes.

A beleza dos corpos atenienses trabalhados, bem desenhados, remonta a ao ideal de corpo na nossa sociedade, onde o exercício físico ou o ato de "malhar" passa a ser objeto de desejo de vários indivíduos na busca pelo corpo perfeito e pela natureza dos corpos. Essa busca está estreitamente relacionada à sexualidade e ao erotismo.

A idéia que se faz do corpo belo e bem trabalhado é objeto de desejo de muitos, mas essa mesma idéia, hoje incorporada em dadas sociedades, passa a ser imposta aos indivíduos como condição de inserção social e assim percebe-se o "corpo malhado", ou seja, magro, saudável, com músculos bem desenvolvidos e bem delineados como um fato social.

Destaca-se o fato de não expomos mais nossos corpos nus como os Gregos da antiguidade, mas sim expomos nossos corpos transformados, sedutores, "malhados", mesmo debaixo de uma veste, ou roupa de banho.

O sinônimo de estética e beleza esta relacionado ao corpo "malhado e transformado" e este conceito é presente entre os homossexuais.

O desejo de conter a "natureza" dos corpos e a necessidade de domesticá-los levou a uma construção do homossexualismo como algo proibido, pecaminoso, anormal ou uma anomalia.

A relação entre os homens atenienses e os guerreiros do passado está relacionada ao sentido que se faz dos homens e dos corpos e da função social e biológica das mulheres que era vista especialmente como um ser indispensável à procriação.
O sagrado e o profano estão em voga entre os homossexuais e algumas questões permanecem como: Demonizamos ou romantizamos o homossexual? Seriam os homossexuais ou outro contemporâneo?

Especialmente entre os homossexuais masculinos, percebemos a valorização do "culto ao corpo" e a dimensão do valor estético que se faz do "corpo malhado e bem definido".

A homofobia é palco de grandes debates contemporâneos e a domesticação do corpo é assunto pertinente ao debate, já que conter a natureza dos instintos seria uma forma de domesticá-lo. Enfrentar sua própria natureza seria a negação de sua identidade e aceitação de uma "consciência moral" antes que a individual.

Os direitos sociais e civis dos homossexuais em algumas sociedades já são aceitos e estão devidamente regulamentados, enquanto noutras sociedades, como no Brasil, os seus direitos não são aceitos.

A "consciência moral", ou seja, a sociedade não reconhece seus direitos e os homossexuais são vitimas de discriminação e preconceito. Além do mais são excluídos socialmente dessa sociedade.

Nas ultimas décadas uma mudança significativa vem ocorrendo e alguns direitos são reconhecidos e o respeito à diversidade e a liberdade sexual passaram a ser valorizados. Relativizar passa a ser o grande desafio.

Especialmente entre os homossexuais masculinos, percebe-se, que o desejo de conter a natureza dos corpos e dos impulsos permanece presente até uma etapa de suas vidas, que vai desde a infância à juventude, momento este em que o individuo representa a sociedade na sua totalidade.

Com a ascensão da consciência individual e da razão os homossexuais buscam sua emancipação e a experimentação sexual, bem como lutar pelos seus direitos individuais e coletivos, como o importante movimento de combate a homofobia.

Vitimas de violência, perseguição, assassinatos e outros esse debate do homossexualismo está ativo nas grandes universidades e instituições sociais do Brasil e de outras comunidades, no intuito de reconhecer seus direitos à vida, liberdade e integridade física e moral.

Discussões e Conclusões

O tema proposto contextualiza-se numa discussão contemporânea como a questão do homossexualismo.

Importa reconhecer a nossa própria natureza e entender que o "desejo que temos de domesticar o nosso corpo" é conseqüência de uma educação socialmente construída, ou seja, um fato social.

O individuo no decorrer da historia da humanidade passou por várias transformações e em vários momentos o corpo, seus desejos, impulsos e as diversas formas de relações foram resignificadas.

Notadamente cultura é um precipitado de experiências e efêmera.
Compartilhar uma cultura é ser solidário na mesma visão etnocêntrica e presente se faz importante reflexão, haja visto que aqueles que compartilham nossa visão de mundo são civilizados e aqueles que se distanciam são bárbaros.

É aceitável o fato de "cada outro achar o outro bizarro", bárbaro, mas "nós somos igualmente o outro, só estamos familiarizados por nosso próprio costume".

"Identidade é um processo relacional"

"Preferimos lançar fora da cultura, na natureza, tudo o que não se conforma com a nossa norma sob a qual se vive" (Lévi Strauss)

Referências

1. SENNETT, Richard; Carne e Pedra. Rio de Janeiro: Editora Record, 1994.

2. FOUCALT, Michel; História da Sexualidade ? O Cuidado de Si. Ed. Graal.


Agradecimento: Agradeço a Professora e Orientadora Mirela Berger pelo apoio e paciência e pela dinâmica de seus ensinamentos que acessíveis aos nossos ouvidos ainda pouco habituados ao tema e as analises sociológicas me permitiu a produção deste despretensioso ensaio, e a todos os nossos Mestres da Graduação de Ciências Sócias da UFES que contribuíram direta ou indiretamente para a nossa formação.