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 INTRODUÇÃO

Na atualidade a compreensão da política como pertencente a existência humana é algo que se faz mais necessário a cada instante, pois, não pode o homem habitar num mundo ao qual seja instrumento, mas sim construtor do processo social.

Contudo o aprendizado necessário para o exercício da atividade política como prática coletiva, se dá mediante modelos que podem ser seguidos. Platão ao desenvolver sua teoria política aliada à vida prática, possui como referência o mundo ideal no qual a filosofia é aliada para a compreensão das formas de governo.

A possibilidade do Estado somente existe enquanto possibilidade de exercício. A concepção do ateniense não se desvincula a política da filosofia, ao contrário, ambas se complementam quando apontam o filósofo como o mais indicado a assumir o posto de governante.

As contradições existentes no pensamento de democracia existentes, devem ser vistas com base no contexto ao qual sua teoria foi concebida. Assim, o objeto central é entender o termo cidadão no seu sentido pleno. Mesmo que seja algo inalcançável, isto é, seja uma utopia.

I – PANORÂMICA DO PENSAMENTO PLATÔNICO

Platão nasceu em Atenas, em 427 a.C. O seu verdadeiro nome era Aristocles (nome de seu avô), e Platão era um apelido. Alguns afirmam que ele tomou esse nome pela modo amplo de seu estilo ou ainda pela largura de sua fronte.

Seu pai tinha orgulho de fazer parte da descendência do rei Crodo, e sua mãe afirmava ter parentesco com Sólon. Era, portanto, óbvio que Platão, desde a juventude, visse na política o seu ideal: a família, a inteligência e as atitudes pessoais, tudo movia naquela direção.

Aristóteles afirma que Platão foi o primeiro discípulo de Crátilo e, depois, de Sócrates. É provável que Platão freqüentou Sócrates, não para fazer da filosofia o escopo da própria vida, mas para preparar-se melhor, através da filosofia, para a vida política. Isso não fez, no entanto, que sua vida seguisse o rumo desejado.

Platão teve o primeiro contato com a vida política por volta de 404-403, momento de ascensão da aristocracia e de seus parentes, Cármides e Crítias chegaram ao poder. Os métodos usados por estes, no entanto, causaram em Platão uma experiência decepcionante e amarga.

Em 360, após a morte de Sócrates e de se manter afastado da vida pública, retorna a Atenas onde permanece na direção da Academia até 347, ano de sua morte.

Seus escritos somam ao todo o número de 36 obras; as quais no decorrer nos deteremos em alguns deles, que consideramos relevantes para a efetivação de nossas pesquisas.

1. A Filosofia Platônica

As doutrinas platônicas passaram por múltiplas evoluções e transformações de que os diálogos nos dão testemunho. Os autores estão de acordo sobre a classificação desses escritos em três grupos:

a) Diálogos da Juventude[1]de Platão, que se distingue por seu caráter socrático, isto é, preocupações quase exclusivamente antropológicas, éticas gnosiológicas. Os da segunda categoria deste primeiro grupo mostram, já o esboço da teoria das Idéias, por exemplo, o belo em si, as quais, porém, ainda não são concebidos como substância reais e independente, e sim como caráter geral, comum a tudo o que é, bom e belo, como tipo o que nos leva a uma analise fenomenológica de casos concretos. Juntamente com a preocupação de reduzir a virtude e o seu objeto, o bom e o belo ao seu tipo, temos aqui ainda a tendência de sistematizar todas as virtudes entre si (ao contrário do ensinamento socrático, que não era sistemático).

b) A segunda href="#_ftn2" name="_ftnref2" title="">[2] nos dá uma idéia madura do pensamento platônico e manifesta um considerável aumento de problemas, tais como ontológicos e psicológicos. Aqui temos a doutrina das idéias substantivas, que constituem o ser, o mundo real pura e simplesmente em oposição ao mundo do devir, sendo o primeiro o objeto da inteligência, ou da ciência propriamente dita (dialética), ao passo que o segundo, o mundo do devir pertence, como objeto, a sensação e a opinião, falha enganadora. Nestes diálogos, Platão estabelece a sua doutrina sobre imortalidade da alma; sobre a opinião verdadeira como transição a ciência, sobre a recordação que é, em ultima análise, a fonte para conhecermos as idéias. É ainda nesse diálogos que Platão coloca as duas doutrinas em base mais larga, metafísica, antropologia - psicológicas. Os diálogos dessa época se caraterizam por uma forma literária esmerada, ao mesmo tempo que manifesta em dogmatismo rigoroso. Apesar desse tom dogmático, entretanto, mostra-nos também, o quanto Platão lutou pela certeza e pela verdade. Finalmente, nesses diálogos tomou em consideração outros sistemas filosóficos, o que lhe deu algo a precisar sempre mais o seu próprio pensamento.

c) A última classe de escritos são os de Platão velho, como por exemplo, o livro das Leis. Aqui o filósofo desce das alturas de sua especulação metafísica, para se preocupar de problemas do mundo concreto e da vida política e moral quotidiana. Em suma, uma ocupação mais intensiva com a realidade terrestre. Nesse sentido Platão empreende uma espécie de harmonização de seu próprio pensamento com os de outros, uma atitude intermediária com relação aos diversos sistemas filosóficos. As ciências naturais ocupam maior espaço, principalmente a especulação matemática dos pitagóricos fascina o velho Platão. O problema das idéias se torna, grandemente, um problema de predicação lógica. A forma geral desses diálogos é, em geral, mais sóbria que a dos escritos anteriores.

Para compreender a filosofia de Platão, cumpre localizá-la em seu ambiente conatural: impasse da especulação filosófico-metafísico com os eleatas e Heráclito (soluções oposta insuficientes, por falta de distinção, no próprio domínio do ser). Cumpre, então, ligar todo este impasse à personalidade de Platão poeta. Daí o caráter dogmático da metafísica platônica; o menosprezo pela realidade material que se opõe num dualismo, ao ser das idéias; daí também a preocupação de uma fundamentação da mesma base sólida inabaláveis (contra o hedonismo dos sofistas); daí a problemática do conhecimento certo (contra cepticismo estéril da sofística); daí a busca quase fanática da verdade como único valor.

2. O Mundo Material na Filosofia Platônica

No primeiro grupo de seus escritos Platão nem menciona a realidade material como problema, a não ser uma única vez, no Crátilo, onde ele condena o Heraclitismo, dizendo que os criadores da linguagem deram nomes às coisas materiais e transpondo a sucessão de seus pensamentos e de suas imaginações para a realidade material. De resto, Platão fala da realidade concreta, sempre num contesto antropológico ou moral, para exemplificar ou para corroborar seu ponto de vista.

Entretanto, nos seus escritos do período de transição já se prepara a oposição entre concreto e idéias, se bem que Platão, por enquanto, só se refere ao domínio moral ou estético (o bom em si contra as coisas boas e o belo em si contra as coisas belas). A mesma oposição também já se desloca na distinção entre saber e opinião (por exemplo, no Górgias e no Mênon), ainda que também aqui, Platão permaneça no campo da antropologia e da Ética (virtude = saber).

Nos escritos da idade madura, encontramos, com várias mudanças, a teoria de dois mundos, fundamentalmente diversos: o mundo das essências ou das idéias e o mundo material, mundo do devir.

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