TRABALHO DOCENTE: AS MULHERES NA EDUCAÇÃO
Por Ileide Cristina Baú | 05/12/2018 | EducaçãoIleide Cristina Baú
As mulheres sempre estiveram presentes na sociedade, mas sua figura muitas vezes ficava nas sombras dos homens, desta forma sua imagem se remetia a inferioridade. Nesta condição de desmerecimento e opressão, as mulheres sempre foram vistas com olhar de fragilidade. Sendo que sua imagem aparece desde a mitologia em forma de deusas como Afrodite (símbolo do amor), Deméter (símbolo da agricultura), Hera (símbolo do casamento), Atena (símbolo da inteligência), dentre outras. Com o passar do tempo esse “sexo frágil” foi ganhando forças e se formando como seres pensantes e recebendo proteções nas leis. O fato de haver necessidade de normas de amparo de alguém significa que houve a necessidade de afirmação do ente o qual estava em desamparo. A primeira Lei de Instrução Pública do Brasil, de 1827, deixava claro, no que se diz respeito à educação: As mulheres carecem tanto mais de instrução, porquanto são elas que dão a primeira educação aos seus filhos. São elas que fazem os homens bons e maus; são as origens das grandes desordens, como dos grandes bens; os homens moldam a sua conduta aos sentimentos delas. As mulheres tiveram que lutar muito para quebrar esse paradigma de que mulher é vista como figura materna e não pode trabalhar, quando vai trabalhar com educação a situação é ainda mais critica, pois é vista muitas vezes como segunda mãe, como uma pessoa que vai cuidar do filho de uma terceira pessoa enquanto a mesma trabalha, o que as pessoas esquecem é que se estuda por quatro anos se especializa e tudo que é feito em escola é fruto de um planejamento pedagógico cientifico. Precisamos quebrar esse paradigma de que professora é tia. Nas universidades, quanto nas escolas públicas e/ou privadas grande maioria são professoras, sim professoras do sexo frágil, as licenciaturas são compostas por mulheres em sua grande massa. Mas quero lhe fazer uma pergunta, a maioria são professoras nas redes de educação, mas porque na hora de gestar uma instituição são os homens quem assumem esse papel? Quero contar uma historia de uma menina, um fato real. Uma menina que levou vários tiros na cara porque ela queria estudar, vamos levar em conta a realidade da época, vivia em um país que quando se nascia menina era descriminada e ao nascer menino a festa acontecia. Malala era o nome dela, acredito que já tenho escutado falar dela. As mulheres vão aparecendo com muitas luta no âmbito do mercado, vou destacar mulheres, que na Antiguidade já apareciam, mas que não são estudadas na área da Filosofia ou em outras áreas do conhecimento que abordam mais teóricos homens como é o caso da Filosofia que foca em Sócrates, Platão, Aristóteles, Santo Agostinho, Tomas de Aquino, Baacon, Comenius, Rosseau, Kant entre outros, e as mulheres quem são? Vou citar três mulheres que apareciam na Antiguidade; Safo de Lesbos (VII-VI a. C) ficou conhecida por suas artes poéticas e musicas, ajudando outras mulheres em seus desenvolvimentos e habilidade artísticas; Diotima de Mantineia (427-347 a. C) conhecida pelos diálogos platônicos de amor; Hipácia de Alexandria (415 d. C) conhecida por saber Matemática e Astronomia, sendo que foi professora na Academia de Alexandria, substituindo Plotino. Na Idade Média também podemos citar algumas mulheres partiremos de três também sendo elas, Heloísa de Páraclito (1101-1164) conhecida por sua inteligência, diziam que ela tinha o dom da escrita e leitura e escandaloso caso com Abelardo; Catarina de Siena (1347-1380) foi uma líder italiana, irreligiosa de homens e mulheres; Cristina de Pizan (1365-1431) uma poetisa, que criticava a misoginia dentro do meio literário. Vamos começando a caminhar para a sociedade contemporânea, a Idade Moderna também contou com as mulheres citarei três novamente, Mary Astell (1666- 1731), inglesa e feminista; Mary Wollstonecraft (1739- 1797) inglesa e escritora, que defendia os direitos das mulheres; Olímpia de Gouges (1748-1793) francesa que defendeu os negros e as mulheres, na Idade Contemporânea essa presença tão ofuscada nas outras idades vai tomando força com a Rosa Luxemburgo (1871-1919) marxista, conhecida mundialmente por suas revolucionárias; Hannah Arendt (1906-1975) seus estudos foram voltados à ciência da política; Simone de Beauvoir (1908-1986) uma feminista declarada se destacando por isso. Uma expressão que devemos excluir de nosso vocábulo é “por trás de um grande homem, existe uma mulher”, como assim? Chega de esconder a mulher atrás de um homem, isso reforça que as mulheres tem que viver nas sombras dos homens, um fato para pensarmos, sem entrar em teor político mesmo sabendo que é impossível em 2010 elegeu se uma presidenta por sinal uma boa gestão, 2014 ela se elegeu novamente mostrando sua capacidade, mas o que acontece em 2016? Acredito que todos saibam o mediático parlamentar, deixando uma vez mais o homem no poder, calando a voz das mulheres visto que no senado a grande maioria é homem. Acho pertinente a fala de Ferreira: Dar visibilidade às mulheres num domínio em que aparentemente tiveram seu estatuto de sombras, a sua tarefa é eminentemente reconstrutiva, quer desvelando a presença oculta [...] da mulher na história da filosofia, quer destacando no território filosófico coordenadas femininas que dele estiveram afastadas, quer mostrando a produção filosófica das mulheres pela divulgação de textos que por vários razões se mativeram desconhecidos. (FERREIRA, 2009, p.29) O magistério tornou-se feminino porque os homens o foram abandonando, Apple (1995) diz que “o custo de oportunidade era muito alto para permanecerem no magistério. Muitos professores ensinavam em tempo parcial” (p.59), ou seja, muitos iam buscar empregos com mais alta remuneração, Apple continua dizendo ainda que as mulheres aceitavam trabalhar por valores menores que os homens. Quero aqui chamar a atenção para um contrato dos Estados Unidos, em que as professoras assinavam ao serem contratadas por determinadas instituições, e isso não foi há tanto tempo atrás, contrato de 1923. Este é um acordo entre a Senhorita...., professora, e o Conselho de Educação da Escola...., pelo qual a Senhorita...., concorda em ensinar por um período de oito meses, começando em 1 de setembro de 1923. O conselho de Educação concorda em pagar á Senhorita.... a soma de 75 dólares por mês. E o contrato continua com algumas cláusulas da seguinte forma; 1. Não se casar. Este contrato torna-se nulo imediatamente se a professora se casar; 2. Não andar em companhia de homens; 3. Estar em casa entre as 8 horas da noite e às 6 horas da manhã, a menos que esteja assistindo a alguma função da escola; 4. Não ficar vagando pelo centro em sorveterias; 5. Não deixar a cidade em tempo de algum sem a permissão do presidente do Conselho de Curadores; 6. Não fumar cigarros. Este contrato torna-se nulo imediatamente se a professora for encontrada fumando; 7. Não beber cerveja, vinho ou uísque. Este contrato torna-se nulo imediatamente se a professora for pega bebendo cerveja, vinho ou uísque; 8. Não andar de carruagem ou automóvel com qualquer homem exceto seu irmão ou pai; 9. Não vestir roupas demasiadamente coloridas; 10. Não tingir o cabelo; 11. Vestir ao menos duas combinações; 12. Não usar vestidos maus de duas polegadas acima dos tornozelos; 13. Conservar a sala de aula limpa, a) varrer o chão da sala de aula ao menos uma vez por dia, b)esfregar o chão da sala de aula ao menos uma vez por semana com água quente e sabão, c) limpar o quadro-negro ao menos uma vês por dia, d) acender a lareira ás 7 horas da manhã de forma que a sala esteja ás 8 horas quando as crianças chegarem, e) não usar pó no rosto, rímel, ou pintar os lábios. Acredito não ser necessário comentar sobre tal contrato onde deixa claro que a pedagoga era submetida a fazer todas as tarefas da escola e, são impostas algumas condições de posse sobre a mesma, sem falar na baixa remuneração, mas esse contrato acredite não acabou em 1923 se alongou por décadas, e após um tempo foi mudando de terminologia para questões burocráticas. Ao decorrer dos anos as mulheres foram ganhando forças para atuar no mercado de trabalho, mas essa evolução ao mesmo tempo em que caminhava para frente retrocedia também, nos anos 30 os Estados Unidos se recusava a contratar a aceitar professoras casadas, e as que eram casadas eram demitidas, esse “surto” acontecia em escolas primárias e em universidades, em alguns lugares eles obrigavam as professoras casadas e pedir demissão. Em 1932 o governo federal determinou que se um casal trabalhasse para o governo um deles teria que ser dispensado, e advinha quem era dispensada, exatamente a mulher. Vimos que para chegar até aqui as mulheres passaram por muitas lutas, para conseguirem um lugar, a luta ainda precisa ser continuada, a educação precisa olhar com outros olhos para esse sexo frágil que esta ganhando força e se tornando independente. Quero aqui encerrar alguns de meus questionamentos ainda que me falte algumas respostas, mas espero que o tempo me esclareça como não quero me ater ao feminismo busco encerrar esse trabalho, mas continuo com o desejo de me aprofundar mais e mais nessa questão, fazendo com que as mulheres apareçam. Referência APPLE, Michael W. Trabalho docente e textos: economia política das relações das classes e de gênero em educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. COSTA, Marisa Cristina Vorraber. Trabalho docente e profissionalismo. Porto Alegre: Sulina, 1995. FERREIRA, Maria Luísa Ribeiro. As Mulheres na Filosofia. Lisboa. Colibri, 2009 TIBURI, Marcia. “As mulheres e a filosofia como ciência do esquecimento”. In. Com Ciência, Campinas, dez.2003. Disponível em: http://www.comciencia.br/dossies-1-72/reportagens/mulheres/15.shtml. Acessado em: 09 de novembro 2017.