Reflexões sobre o processo de ensino - aprendizagem de Física nas Escolas Públicas Moçambicanas

Resumo

Neste trabalho pretendo levantar alguns aspetos marcantes na forma duma reflexão em volta do processo de ensino – aprendizagem da disciplina de física nas escolas publicas moçambicanas. São discutidos alguns pressupostos do processo de ensino – aprendizagem das ciências naturais como forma de responder alguns insucessos do ensino de física nas classes iniciais do ensino secundário. Faremos uma breve análise posicionando o nosso estudo em três focos principias: a escola, o professor e o aluno. Nesses levantaremos alguns aspetos que ajudam a perceber o grau de aprendizagem e dificuldades do ensino de Física e o currículo vigente. Finalmente, são vistos alguns pontos propostos com vista a minimizar os problemas identificados na pesquisa. 

Introdução

Esta reflexão surge num momento onde o ensino secundário moçambicano, sofre diversas transformações estruturais, políticas e didático-metodológicas. Os resultados poderão ajudar a compreender o modelo de ensino-aprendizagem implementados nas escolas secundárias moçambicanas, as tendências do ensino virado ao currículo de Física e algumas notas que ajudarão a ultrapassar alguns problemas identificados.

Há anos que o ensino secundário moçambicano tem sofrido varias mudanças do ponto de vista político, didático e estrutural que pode contribuir para a crescente dificuldades e problemas no ensino das ciências naturais, e em particular o ensino de Física, que tradicionalmente é considerado uma disciplina difícil de ser ensinada pelos professores e consequentementedifícil de ser consolidado pelos alunos.

Em Moçambique, pesquisas tem sido feito como forma de identificação das causas e propostas de possíveis soluções, ao nível das monografias cientificas, dissertações, teses e artigos científicos, mas grande parte destes sãos usadoscomo “produto de consumo interno” principalmente pelas Universidades e institutos de formação de professores, não se efetivando a aplicação pratica no processo de ensino - aprendizagem.

Em função disso, nos últimos anos, verificou-se uma diminuição de carga horária da disciplina de Física no nível secundário, existência de professores sem formação psicopedagógica, falta de laboratório e aulas experimentais, excesso de carga horária dos professores, superlotação dos alunos nas salas de aula, entre outros, como principais problemas que apoquentam o ensino da Física nas escolas publicas em Moçambique. O nosso enfoque vai para as escolas públicas por esse grupo de escolas, absorver acima de 70% dos alunos do nível secundário e por ser o local onde o Autor tem vindo a trabalhar desde 2007.

Há um grande esforço do Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano (MEDH) em coordenar ações que visam a melhoria da qualidade de ensino, propondo políticas educativas bem definidas nos programas das disciplinas, mas a sua execução está sendo posta em causa em função do modelo de ensino e as questões supracitadas. Focalizando na questão interdisciplinar, há um esforço na compartilha de competências e a habilidades que incentivem o raciocínio e a capacidade de entender, ou seja, devem ser empregues estratégias metodológicas que estimulem a aprendizagem, gerando assim o conhecimento.

Uma das estratégiasmetodológicas do ensino de Física, é a incorporação e utilização do laboratório de física nas escolas para servir como instrumento mediador do professor para melhorar o entendimento do aluno, fazendo com que o aluno passe a ver através da utilização de experimentos, a Física como algo presente em seu quotidiano, como algo que instigue sua curiosidade, promovendo o interesse de investigar e tirar conclusões, deixando assim de ser uma disciplina cheia de leis, conceitos e exercícios repetitivos onde a maioria vê como algo vazio de significado, minimizando assim as dificuldades de se aprender e de se ensinar Física de modo significativo e consistente. 

Objetivos

O objetivo principal da pesquisa é realizar uma breve reflexão sobre o processo de ensino e aprendizagem da Física nas escolas públicas em Moçambique, focando o estagio atual, principais problemas enfrentados pelos professores e alunos no atual modelo de ensino proposto pelo MEDH e propostas encontradas pelo autor com vista a minimizar partes dos problemas descritos. 

Ensino das ciências naturais nas escolas primárias - Pressupostos

As escolas Moçambicanas partir do ensino primário (4ª classe), tem na sua grade curricular, as ciências naturais numa abordagem geral, isto é, incluem os conteúdos mais elementares de Física, Química e Biologia, com objetivo de desenvolver capacidades e competências como competências de interpretação cientifica dos seres e fenómenos naturais, tendo em conta a preservação do meio ambiente (PCEB, 2013).

É a partir destes pressupostos que se observa um certo esforço do MEDH de incorporar os conhecimentos sobre as ciências e/ou fenómenos naturais (Física em particular) no processo de desenvolvimento cognitivo do aluno desde as fases iniciais da educação formal levada a cabo na escola. É também a partir deste nível que devemos procurar compreender os diferentes aspetos didáticos emetodológicos dos professores no tratamento de conceitos, leis e fenómenos científicos envolvidos nas ciências naturais. A partir daí, podemos traçar formas de abordagens nas classes subsequentes onde tratar-se-á das ciências naturais nas suas especificações: a Física, a Química, a Biologia, a Agropecuária, entre outras.

Quanto a formação do professor, a que ressaltar que no EP1[1] o professor é único e leciona a totalidade das disciplinas. Assim, há uma necessidade clara de capacitações e atualizações continua e periódicas sobre as novas metodologias de ensino das diversas disciplinas, salientando que no atual modelo de formação de professores do ensino primário, preconizam formações nas seguintes áreas:

Área 1 – Língua Portuguesa; e Educação Visual;

Área 2 – Matemática; Ciências Naturais; e Educação Física;

Área 3 – Língua Inglesa; Ofícios; e Educação Visual, e;

Área 4 – Língua Moçambicana; Ciências Sociais; Educação Moral e Cívica; e Educação Física.

Segundo(PEP, 2015), os conteúdos físicos tratados nas ciências naturais, incluem:

  • Relâmpagos e trovoadas – Riscos em caso de trovoadas e para-raios;
  • Temperatura – O termómetro e ação da temperatura sobre os corpos;
  • Energia – fontes de energia (sol, água, vento, lenha, carvão mineral e vegetal) e tipos de energias (elétrica, calorifica e eólica);
  • Som – fontes sonoras (batuque, rádio, celular, voz, buzina, entre outras) e poluição sonora.

Nas sugestões metodológicas dos Programas de Ensino preconizam a ilustração de fenómenos, debates sobre diferentes assuntos e nelas estão incluídas algumas experiências demonstrativas, mas sem um roteiro especifico, e sabendo que alguns professores não têm formações psicopedagógica em ciências naturais, isso pode acarretar certas dificuldades ou limitações associadas a falta de material experimental e o seu uso em situações concretas da sala de aula. Ainda a falta de demonstração e baixa qualidade dos debates é um fator que cria distração por parte dos alunos e falta de interesses sobre as ciências naturais desde as classes iniciais.

[1] EP1 – Ensino primário do 1º grau, corresponde a 1ª à 5ª classe.

Ensino secundário – o foco da pesquisa

O nível dos alunos na perceção e interpretação dos fenómenos físicos naturais é um dos principais pressupostos a ser tomado em conta professor como pré-requisito no assunto a tratar. No ensino secundário, o professor deve explorar as diversas formas que os alunos encontram para explicar os fenómenos naturais, com vista a encontrar melhor enquadramento e formas de tratamento dos conceitos, leis e fenómenos físicos(PCESG, 2007).

Partiremos de antemão que o aluno não é uma “tábua rasa”, isto é, aprende a interpretar o Mundo a partir da sua vivência e experiências do quotidiano, Ele (o aluno) constrói interpretações e adquire conhecimentos sobre o mundo que o rodeia. Tais interpretações podem ser cientificamente aceites ou não. Cabe ao professor de Física, como representante da comunidade científica na sala de aula, ajudar o aluno a sair de forma segura da zona de conhecimento do “senso comum” para abordagens aceites na comunidade cientifica (lógica). Nesta passagem, o professor tem que considerar o nível de desenvolvimento social e intelectual dos alunos e o tipo de abordagem a fazer.

O ensino secundário Moçambicano compreende classes desde a 8ª à 12ª classe, sendo que, no nível básico (da 8ª a 10ª classe), todos os alunos estudam a disciplina Física, já no nível medio (11ª e 12ª classe) só estudam a Física os alunos que optarem pelas áreas B (Ciências naturais) e área C (Artes visuais e cénicas). Assim sendo, devemos dar uma atenção especial no nível básico por ser a área onde há maior concentração dos alunos no ensino de Física, o período onde o aluno tem a possibilidade de construir bases cientifica sólidas que podem influenciar na escolha de áreas ligadas as ciências naturais/visuais e cénicas no nível médio, como também por ser o primeiro contacto com a Física “separada” doutras ciências naturais.

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