O SENSO COMUM NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Daiane Cristina da Silva

Luciana de Sousa Santos

Vânia Silveira de Souza

O Curso Pedagogia Formação de Professores, de acordo com a proposta pedagógica, pretende formar um professor crítico, compromissado politicamente, além de se comprometer também com a construção de uma democracia cidadã. No entanto, para que tal proposta seja efetivada é necessário, tanto por parte da Instituição de Ensino Superior, como por parte do formando, comprometimento com um ensino de índole democratizante, auto-reflexão crítica, revisão de conceitos, além de um sério compromisso com o estudo científico e holístico dos vários fatores condicionantes da realidade histórica, social, política, econômica e ideológica. Partindo do contraste entre a proposta pedagógica do curso em questão e a realidade apresentada por parte dos formandos desconfia-se que, na Educação Infantil, o ensino parte mais do senso comum do que do preparo científico pretendido pela instituição na formação dos educado. O tema central da pesquisa – que parece se confundir com o problema mais caro da educação – será a constatação da reprodução do senso comum na sala de aula. Portanto, tendo em vista sua clara preocupação com a qualidade do ensino que vem sendo ministrado em nossas escolas nos dias de hoje, trata-se de trabalho de grande relevância não só para o Curso Normal Superior, como também, quem sabe, para toda comunidade acadêmica local. De fato, se o professor de nível superior passa cerca de três anos em uma academia se preparando para assumir uma sala de aula, é de se esperar que ele tenha, ao longo de seu processo de formação, adquirido com compromisso de passar para o aluno um conhecimento mais elaborado, mais cientifico, mai problematizado. De outro lado, além de ter adquirido o que se pode chamar de perspectiva crítica problematizadora, educador tem, ainda, o compromisso de apresentar para o aluno esta visão de mundo diferenciada.

Portanto, vale reiterar, este trabalho se justifica pela necessidade de atentar para o fato, de que as faculdades possam estar formando pessoas que não adquiram a angulação diferenciada que se exige do educador. A partir da compreensão do E.C.A. manifestada em entrevista colhidas, procurou-se desenvolver este trabalho de término de curso buscando constatar  a existência do uso do senso comum na Educação Infantil. Para isso, no primeiro capítulo será apresentada uma breve conceituação do senso comum, verificando se este é mesmo um problema. Em seguida, será feito entre senso comum e mídia e posteriormente com a educação, abordando suas influencias positivas e negativas para a mesma. Será abordado um breve histórico do conhecimento cientifico, enfocando sua importância para Educação e posteriormente a importância desse conhecimento na formação acadêmica.

2 SENSO COMUM: UM PROBLEMA?

                O viver diário ou o cotidiano é uma sucessão de atos em que se observa, ou se dá importância, por pura força de hábitos. Existem hábitos alimentares, de higiene e de comportamento, em que é adquirido ao repetir freqüentemente determinadas ações, como acordar e escovar os dentes todos os dias, acordar e  fazer as refeições sempre á mesma hora; ou ir para o trabalho ou escola sempre pelo mesmo itinerário.São os hábitos que fazem a rotina, ou servem como estrutura dessa rotina.O cotidiano ou rotina feita de hábitos é a concretização do conceito de viver.

No cotidiano, costumam-se rejeitar ou esquivar de pessoas, coisas ou situações que não podem ser dominadas, ou sobre as quais não há controle: evita-se tudo o que seja tirado da mesmice diária, porque na rotina todos os elementos devem ser conhecidos e constantes.  Acomodar-se ao dia-dia, equivale a recolher-se á prisão, sob o pretexto de segurança, as convicções que servem de prisão, se um lado protege os interesses imediatos e mudam, por outro eliminam a curiosidade pelo desconhecido, a satisfação da surpresa e o prazer da descoberta.

O que se faz ou o que se deixa de fazer e o comportamento diante da circunstância, é a exteriorização da filosofia de vida de cada um. Essa filosofia é a sabedoria: é o conhecimento acumulado, é a síntese da experiência, ou histórico pessoal; mais ainda, é a prática das definições ou teorias sobre o certo e o errado.

Essa rotina diária é a prática da filosofia: se a filosofia é boa, positiva, construtiva, produtiva, a rotina conduz á felicidade e á saúde; se a filosofia é ruim, ou seja, negativa, a rotina é marcada pela negatividade e pessimismo levando sempre a dor, pela angústia, pela ansiedade, pelo medo, pela desesperança e pela depressão. 

Sabe-se que aquilo que é certo para uns, pode não ser o certo para outros. A razão confunde-se com oposto igualmente aceitável, acumulados no decorrer da vivência.

Para conviver com a diversidade que é criada ou para que se consiga aturar uns aos outros, cria-se o que é chamado de senso comum. Sabe-se que o senso comum raramente sintetiza a opinião da maioria, é um saber que nasce da experiência diária, da vida que os homens levam em sociedade. Necessitamos em nossa vida cotidiana um conjunto vasto de conhecimento, relacionados com a realidade em que vivemos funciona: temos que saber como relacionar com as pessoas, saber comportar em cada uma das circunstancias em que nos situamos no nosso dia- a- dia. Criam-se estruturas, denominadas de aparelhos de reprodução da sociedade (como a escola, a igreja e o Estado), mecanismo que, com o tempo, adquirem vida própria, além de uma formidável capacidade de persuasão e repressão.

Os que pensam diferentemente da maioria, os que destoam da grande massa, são excluídos, marginahzados. E é provavelmente por essa razão que as coisas são feitas, no porque acredita-se que devam ser feitas assim, mas porque se transformou em costume fazê-las dessa forma.

Observa-se que é o senso comum - esse acordo que se firma em relação ao que é certo e errado. Quando se diz que uma coisa é boa ou má, utiliza-se o senso comum como parâmetro - e ele passa a ser a linha mestra do comportamento; o construtor da personalidade.

O senso comum baseia-se em conhecimentos espontâneos e intuitivos, uma forma de conhecimento que fica no nível das crenças. Este conhecimento vai do hábito à tradição, muitos deles, aprendidos com os pais que aprenderam com os avós, que desconheciam de qualquer saber científico, e assim por diante, facilitando o dia-a-dia. O homem na medida em que se relaciona com os objetos que o cercam, cria interpretações baseadas nas suas experiências, criando crenças que permitem o domínio do ambiente. Fatores como crenças, desejos, tradição, fazem com que haja um apego ao senso comum.

No entanto, há momentos em que as crenças se tomam problemáticas, aí o homem começa a pensar e surgem novas respostas, é neste momento que surge a Ciência. A Ciência compõe-se de conhecimentos sobre um objeto de estudo, que é expresso através de uma linguagem precisa. Suas conclusões são passíveis de verificação e isentas de emoção, possibilitando a reprodução da experiência, podendo o saber ser transmitido e verificado, utilizado e desenvolvido possibilitando através deste o desenvolvimento de novas descobertas.

Sem a presença da análise e crítica científica a tendência do senso comum é estagnar, fechar em si mesmo, por isso, ainda que a Ciência não possa dispensar o senso comum para começar suas análises, precisa ir para além deste, a partir de investigações que filtrem o máximo possível, opiniões e fantasias.

 Ocorrem muitas vezes dificuldades para que um determinado conhecimento científico consiga retificar as idéias arraigadas do senso comum, por isso é que, mesmo a Ciência conseguindo comprovar o mito ou a superstição de certas práticas, as pessoas, ainda assim, se apegam às idéias míticas; presos num conjunto de idéias ingênuas, mantidas pela tradição local ou em idéias que foram Ciência em um passado distante.

Os hábitos de nosso dia-dia nos influencia em todos os setores da nossa vida, sejam eles no trabalho, em casa, quando levantamos e vamos ao banheiro o momento de asseio.Tudo que imaginamos, de certa forma vivenciamos, é nisto, que devemos ficar atentos para não torná-los o nosso principal objetivo, o que com certeza nos prejudicaria na construção da nossa propria identidade, seja ela profissional, familiar e economica.

Enfim,... nosso dia-a-dia, ou nossa rotina feita de hábitos, é a materialização de nosso conceito de viver.

Em outras palavras, nosso dia-a-dia, ou a forma assumida por nossa rotina, é a representação de nosso pensamento, a respeito de nós mesmos e de nossa relação com o mundo.

2.1 Senso Comum x Mídia

    Como se viu na parte anterior o senso comum é embasado em crenças e hábito é, portanto acrítico, absoluto. Por outro lado, tem-se nos dias atuais uma enorme “máquina” de divulgação chamada “mídia”, que tem ocupado um espaço muito grande no mundo capitalista.

As propagandas acabam por alienar o consumidor, que termina comprando mais do que precisa ou até mesmo consome apenas por modismos, um dos fatores que leva a tal atitude é a falta de um conhecimento mais aprimorado, pois essas pessoas baseiam-se sempre no senso comum.
Por isso, as empresas publicitánas investem no senso comum, que agrada a todos sem muita dificuldade de compreensão e possui grande poder de influência, o que leva o consumidor a acreditar em tudo que ouve ou vê. Tudo isso provoca um consumo alienado, que não é um meio, mas um fim em si, torna-se um poço sem fundo, desejo nunca satisfeito, um sempre querer mais.
De acordo com (ARANHA; MARTINS, 2002, p.l6)
[...] a ânsia do consumo perde toda relação com as necessidades reais do homem, o que faz com que as pessoas gastem sempre mais do que tem. O próprio comércio facilita tudo isso com as prestações, cartões de crédito, liquidações e ofertas de ocasião, “dias das mães”, etc.
Essa ânsia de compra não atinge somente a classe média alta, mas principalmente a população de baixo poder aquisitivo, que termina reduzida apenas ao desejo de consumir.

Nas sociedades altamente industrializadas e naquelas menos desenvolvidas, que se regem também pela lei de mais valia, a alienação não só afeta o trabalhador, mas, sob outras formas, estende-se a amplos setores sociais. Trata-se da alienação do consumidor. As relações entre produção e consumo se subordinam também às exigências da obtenção dos maiores lucros, e, por este motivo, não se produz para satisfazer as necessidades nele criadas artificialmente, com a finalidade de ampliar a colocação dos artigos fabricados. O “homem econômico” não é somente o produtor, mas o consumidor sujeito a uma nova e particular forma de alienação.
Segundo (VÁSQUEZ, 2005, p.222),

 
[...] o consumidor é considerado como uma fortaleza — mais ou menos firme — cuja resistência deve ser vencida sob a investida da publicidade e das técnicas da persuasão oculta. Exerce-se assim uma coação externa, que se interioriza como uma necessidade especial. Nessa sutil submissão, não declarada, do consumidor aos manipuladores de consciências, minam-se as condições indispensáveis para que o sujeito escolha e decida livre e conscientemente. Desse modo, esta manipulação do consumidor é profundamente imoral, e por duas razões fundamentais: 1°) porque o homem, como consumidor, é rebaixado à condição de coisa ou objeto que se pode manipular, passando por cima de sua consciência e de sua vontade; 2°) porque, impedindo que escolha e decida livre e conscientemente, minam-se as próprias bases do ato moral e, deste modo, restringe-se o próprio domínio da moral.
Dessa maneira, compreendemos que a mídia mantém fortes influências sob o consumidor, fazendo com que se sinta necessitado por possuir todas as tecnologias nela apontadas como essenciais, e isso infelizmente, o toma alienado.

 

2.2 Senso Comum na Educação 


Para efeitos desta pesquisa buscar-se-á, a partir de dados acerca da má qualidade na educação, identificar indícios de senso comum nos temas relativos às questões sociais. Obviamente, entre os vários defeitos de uma má formação, aparece também a deficiência de problematização de conteúdos de natureza sociológica. Não é à toa que o ensino, nos últimos tempos, tem se preocupado mais com questões de natureza sociológica. E, não foi com outro objetivo que os Parâmetros Curriculares Nacionais, por exemplo, inseriram a proposta dos Temas Transversais. Cite-se:
[...] Eleger a cidadania como eixo vertebrador da educação escolar implica colocar-se explicitamente contra valores e práticas sociais que desrespeitem aqueles princípios, comprometendo-se com as perspectivas e decisões que os favoreçam. Isso refere-se a valores, mas também a conhecimentos que permitam desenvolver as capacidades necessárias para a participação social efetiva. [...] Uma pergunta deve então ser respondida: as áreas convencionais, classicamente ministradas pela escola, como Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História e Geografia, não são suficientes para alcançar esse fim? A resposta é negativa. Dizer que não são suficientes não significa absolutamente afirmar que não são necessárias. E preciso ressaltar a importância do acesso ao conhecimento socialmente acumulado pela humanidade. Porém, há outros temas diretamente relacionados com o exercício da cidadania, há questões urgentes que devem necessariamente ser tratadas, como a violência, a saúde, o uso dos recursos naturais, os preconceitos, que não têm sido diretamente contemplados por essas áreas. Esses temas devem ser tratados pela escola, ocupando o mesmo lugar de importancia.(PCNs, 1997, p.23).
Ora, se a deficiência pode ser constatada numericamente na escola tradicional, com os conteúdos clássicos (Matemática, Língua Portuguesa, Ciências, História e Geografia), que dirá dos conteúdos que pretendem “formar cidadania” — que nem eram ministrados?
É justamente preocupado com os rumos que vem tomando a educação que Simon Schwartzman comentou em um artigo em seu site o seguinte:
A expansão da educação pública e privada, a entrada nas universidades de estudantes mais velhos e que têm que trabalhar, o número crescente de estudantes que vêm de um ensino secundário precário, tudo isto mostra que este padrão de seletividade não tem como se manter para todo o conjunto. O resultado tem sido o deterioro de muitas instituições, o surgimento de cursos de qualidade duvidosa, ou a reprovação e a alienação de um número crescente de estudantes que nunca completam seus cursos (cerca de 35% dos que iniciam um curso superior jamais o terminam, tanto no setor público quanto no setor privado).
Segundo o INEPIMEC — (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira / Ministério da Educação e Cultura), os dados revelam que o processo ensino-aprendizagem das crianças se concretiza de forma precária no Brasil. A maioria dos estudantes não aprende a ser leitor para realizar as atividades básicas do cotidiano, inserir-se na complexa sociedade globaliza e exercer plenamente a cidadania.De acordo com estudos do INEP/MEC,
[...j no Brasil 36% dos estudantes estão em um nível considerado “intermediário11, ou seja, conseguem ler textos mais complexos, mas não fazem leitura de gêneros variados, como o jornalístico, e de informações sob forma de tabela. O nível de leitura desse grupo ainda é insuficiente para um aluno que está na quarta série. Apenas 5% podem ser considerados leitores competentes. Eles demonstram habilidades de leitura compatíveis com a série e dominam alguns recursos lingüísticos. Os resultados do SAEB evidenciaram que as características que diferenciam os alunos com desempenho “adequado” e os que estão numa situação “muito crítica” são, entre outras, nível de formação dos professores, taxa de distorção idade série e escolaridade da familia.
No Estado de Mato Grosso, no que tange à educação, a situação não é muito diferente do resto do país. Comentários feitos por Rita Volpato a respeito de dados do SAEB — Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica - de (2001) revelam a baixa qualidade do ensino conforme será visto a seguir:
Os estudantes mato-grossenses tiveram desempenho abaixo da média brasileira, segundo o estudo da “Qualidade da educação: uma nova leitura do desempenho dos estudantes da quarta série do ensino fundamental”. De acordo com o estudo, os resultados para os alunos da 4a série do Ensino Fundamental em Mato Grosso são:
42,50 1 têm desempenho considerado “crítico”, que segundo o SAEB significa que “Não são leitores competentes, lêem de forma truncada, apenas frases simples”; 27,21 encontram-se no estágio “muito crítico”, ou seja, “Não desenvolveram habilidades de leitura, não  
foram alfabetizados adequadamente e não conseguem responder os itens da prova”; 28,88% dos alunos estão no estágio “intermediário”, considerado aquém do nível exigido para a 4 série; Apenas 1,34 estão incluídos no estágio “adequado” (São leitores com nível de compreensão de textos adequados 4 série) e menos de 1% (0,075) estão no estágio “avançado” (São leitores com habilidades mais consolidadas, algumas com nível além do esperado para a 4a série).
Ora, não se pode pensar que diante de todo este quadro de adversidades se possa obter aqueles resultados — em números expressivos — atualmente mais desejados na educação, qual seja, a formação de uma consciência crítica e cidadã. O comum, o geral, é o aluno agregar as deficiências de formação colhidas nas suas várias etapas e reproduzi-las no exercício de sua profissão. Ou será diferente?
De outro lado, as pesquisas indicam claramente que o fato dos alunos apresentarem um nível de conhecimento escolar tão abaixo da média é em certa parte devido também à má formação que recebe do professor. Por este também estar envolvido num sistema de ensino onde há diversos fatores negativos que influenciam o bom desempenho de sua prática, como os baixos salários, as más condições físicas das unidades de ensino, a falta de material didático, enfim, fatores que acabam levando o professor ao desânimo e assim, mais uma presa fácil do senso comum.

BREVE HISTÓRICO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO 
Dá-se nome de conhecimento ao saber acumulado pelo homem através das gerações. Este conhecimento pode ser concreto, quando o sujeito estabelece uma relação com o objeto individual. E pode ser abstrato, quando estabelece uma relação com um objeto geral, universal.
Vale ressaltar que a relação de conhecimento implica uma transformação tanto do sujeito quanto do objeto. O sujeito se transforma mediante o novo saber, e o objeto também se transforma, pois o conhecimento lhe dá sentido.
Há muitos modos de se conhecer o mundo, que dependem da postura do sujeito frente ao objeto de conhecimento: o mito, o senso comum, a ciência, a filosofia, a arte.
Todos eles são formas de conhecimento, pois cada um, a seu modo, desvenda os segredos do mundo, atribuindo-lhe um sentido.
A ciência, por exemplo, procura descobrir o funcionamento da natureza através, principalmente, das relações de causa e efeito, busca o conhecimento objetivo, lógico, através de métodos desenvolvidos para manter a coerência interna de suas afirmações.
A filosofia, por sua vez, propõe-se oferecer um tipo de conhecimento que busca, com todo o rigor, a origem dos problemas, relacionando-os a outros aspectos da vida humana, numa abordagem globalizante.
Assim, o conhecimento pode designar o ato de conhecer, enquanto relação que se estabelece entre a consciência que conhece o mundo conhecido. Mas, o conhecimento também se refere ao produto, ao resultado do conteúdo desse ato, ou seja, o saber adquirido e acumulado pelo homem.
Na verdade, ninguém inicia o ato de conhecer de uma forma virgem, pois esse ato é simultâneo à transmissão pela educação dos conhecimentos acumulados em uma determinada cultura. No decorrer dos tempos, a razão humana adquire formas diferentes, dependendo da maneira pela qual o homem entra em contato com o mundo que o cerca.
A ciência tem de envolver mais do que a mera catalogação de fatos e do que a descoberta, através da tentativa e erro, de maneiras de proceder que funcionam.

Muitas pessoas tropeçaram no fato de que certas coisas funcionam, mas a verdadeira ciência consiste em saber por que razão as coisas funcionam.
A ciência desenvolveu em todas as áreas uma linguagem própria cuja compreensão passou a exigir níveis de formação escolar cada vez mais elevados. Como os sistemas escolares não garantiram o acesso ao conhecimento para toda a sociedade, grande parte dos indivíduos foram pouco a pouco marginalizados do saber científico que, por fim, passou a ser propriedade de alguns poucos grupos sociais, notadamente daqueles que dispõem de condições econômicas para adquiri lo Hoje, o discurso científico atinge inclusive a própria comunidade científica na medida em que o avanço da especialização torna impossível ao cientista, e já não apenas ao cidadão comum, compreender o que se passa a sua volta, onde a ciência se desenvolve.
Muito do que se procurou e do que se procura desenvolver no campo científico, reflete interesses particulares ou de determinados grupos sociais para os quais o conhecimento científico representa uma maneira de garantir ou conquistar interesses frente a grupos sociais de interesses diferentes.
Aos que não detêm o conhecimento científico, resta buscar resolver seus problemas cotidianos sem a ajuda das construções racionais e metódicas da ciência, sem os instrumentos que a ciência desenvolveu para que se atinja uma melhor compreensão do mundo.
• A Importância do Conhecimento Científico na Formação Acadêmica 
Toda pessoas traz consigo um conhecimento empírico, conhecido como senso comum, que é o conhecimento espontâneo adquirido no cotidiano de suas vidas.
No entanto, esse conhecimento não leva as tomadas de decisões conscientes, pois não apresentam uma fundamentação científica que comprovem os resultados, daí surge a necessidade de aprimorar o senso comum e buscar transformá-lo em conhecimento científico.
A ciência contribui para formulação de valores e estabelece objetivos, isso faz com que o homem se torne mais consciente das conseqüências de seus atos.
Como já foi dito anteriormente, o senso comum é um tipo de conhecimento que se busca nas experiências de vida, na convivência, enfim, na educação que se recebe em casa.
“Em comparação com a ciência, o conhecimento espontâneo é fragmentário, pois não estabelece conexões onde estas poderiam ser verificadas” (ARANHA;
MARTIN, 1993, p. 128).
No entanto, não se deve conceber o senso comum como uma visão de mundo precária e distorcida. Assim o homem comum deve ser tutelado por outros que lhe digam qual a melhor forma de pensar e quais as melhores ações a serem realizadas, baseando-se no conhecimento científico.
Enquanto o saber comum observa um fato a partir do conjunto dos dados sensíveis que formam a nossa percepção imediata, pessoal e efêmera do mundo, o fato científico é um fato abstrato, isolado do conjunto em que se encontra normalmente inserido e elevado a um grau de generosidade.
Assim, o mundo construído pela ciência busca a objetividade por qualquer pessoa pertencente à comunidade científica, pois a racionalidade desse conhecimento procura despojar-se do emotivo, tornando-se impessoal na medida do possível.
Nesse contexto entende-se a importância do conhecimento científico na formação da pessoa, pois todos possuem um conhecimento empírico que precisa ser aperfeiçoado e isso só se dá através da aquisição do conhecimento científico que é adquirido através dos estudos.
As universidades propõem em seus currículos um apanhado de conteúdos significativos para a formação do futuro profissional, na verdade o ensino superior é um dos maiores responsáveis pela formação do conhecimento científico. É nessa etapa que o indivíduo é formado para atuar em determinada área e em se tratando da educação deve-se dizer que a responsabilidade é bem maior, pois o trabalho do futuro educador será com a formação de futuros cidadãos.
Então, vê-se aqui a necessidade de estar sempre buscando a construção do saber científico e procurar trabalhar com os alunos este saber, se não o fizer estará deixando de atingir o principal objetivo da escola que é transmitir e formar o conhecimento científico e intelectual dos alunos.

 O SENSO COMUM NA EDUCAÇÃO INFANTIL 


Falar em senso comum na educação infantil, diante de tudo o que já foi exposto na presente pesquisa, requer uma atenção especial.
Atualmente a educação infantil tem sido vista de forma bastante diferenciada da educação das crianças de algumas décadas atrás, aliás, antigamente a educação infantil possuía apenas um caráter assistencialista, no qual as crianças eram deixadas pelas mães que iam trabalhar, a fim de que as professoras cuidassem das mesmas e ensinassem o que a mãe deveria ensinar, tendo em vista que esta não tinha tempo.
Hoje, o que se nota nas escolas que oferecem este tipo de educação é que, como a mesma deixou de ser apenas assistencialista e passou a ter sua responsabilidade na educação pré-escolar, as professoras, talvez por falta de preparo ou por comodismo deixam de priorizar o conhecimento científico e acabam sempre voltando ao senso comum. Até o E.C.A., que direciona os direitos e deveres da criança é desconhecido pela maioria das docentes.
Não é objetivo da educação infantil apenas ensinar conteúdos, pelo menos o problema se coloca do ponto de vista da formação dos professores de creche e de pré-escola, pois a se considerar a multiplicidade de aspectos, saberes e experiências exigidos pela criança, colocam-se em questão quais domínios necessariamente devem fazer parte da formação do professor neste âmbito. Porém, a preocupação maior parece estar em manter a ordem e ensinar um pouco da leitura e da escrita.

O termo educar no contexto da educação infantil parece dar um caráter mais amplo que o termo ensinar que, em geral, refere-se mais diretamente ao processo ensino-aprendizagem no contexto escolar. O aspecto cognitivo privilegiado no trabalho com o conteúdo escolar, no caso da educação infantil, não deve ganhar uma dimensão maior do que as demais dimensões envolvidas no processo de constituição da criança, nem reduzir a educação ao ensino.
No entanto, assim como a escola de ensino fundamental e médio se preocupam com o ensino do conhecimento científico a educação infantil também deve priorizar este saber, porém de maneira bem mais suave, aproveitando o máximo o conhecimento trazido de casa pelas crianças.

Dessa forma, as creches e pré-escolas devem cuidar da criança num todo, desde os hábitos de higiene até o início da alfabetização. Pois é tarefa do professor estabelecer metodologias, nas quais a criança cresça diferenciando o que ela aprende na escola do senso comum, que é seu conhecimento empírico.


 CONCLUSÃO 


A ciência e o senso comum são dois pólos de um mesmo fenômeno. O pólo ciência representa a parte dinâmica do fenômeno que faz o conhecimento evoluir. É a fase construtora do conhecimento. O pólo do senso comum representa a fase conservadora do conhecimento e por isso tem a característica de imobilidade, tendendo a se repetir em um ciclo fechado, eternamente, se não for fecundado pelo dinamismo evolutivo da ciência.
O senso comum ou o conjunto dos “conhecimentos” não-científicos pode ser classificado como parte constitutiva do que chamamos de cultura popular. O modo de ver e de fazer do senso comum, mesmo não contando com uma estrutura de difusão organizada e institucionalizada, penetra na consciência do homem comum de maneira profunda e, além de servir a cada homem individualmente, assume funções sociais importantes.
No desenvolvimento da presente pesquisa, como já foi dito antes, procurou-se compreender melhor como o senso comum atua na Educação Infantil através de seus educadores.
De acordo com a entrevista feita aqui, foi possível detectar a presença de indícios que levam a crer na reprodução do senso comum nas salas de aula. Não existem, por vários fatores, dados suficientes para se chegar a números precisos. Todavia, as várias notícias da má qualidade na educação (exemplo colhidos no INEP/MEC) e o descompromisso dos educadores da infância com a Lei que regulamenta, entre outras coisas, os direitos desta mesma infância, levam a crer na existência de um ambiente propício à reprodução e disseminação do senso comum.

 

REFERÊNCIAS
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:
introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 2002.
_____ _____ Temas de filosofia. São Paulo: Moderna, 1992.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Cumculares
Nacionais: apresentação dos temas transversais, ética / Secretaria de Educação
Fundamental. — Brasília: MECISEF, 1997.
Schwartzman, Simon. Nota sobre Qualidade e Expansão do Ensino Superior. Disponível em: http://www.schwartzman.org.br/simon acesso em 17/11092008.
VOLPATO, Rita. Estudo do INEPIMEC revela baixa qualidade do ensino em Mato Grosso. Disponível em: http:IIwww.seduc.mt.iov.br/numeros saeb.htm acesso em: 1711112005.
VÁSQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. 26 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.