O ENCONTRO DOS ACERTOS E A EVOLUÇÃO

           “Conta uma lenda judaica que em um certo dia, a mentira conseguiu um encontro casual com a verdade. De lá pra cá, o tempo mudou, as pessoas mudaram, o conceitos de verdade e mentida mudaram, o certo e inverteu e o mundo padece por conta dessa mudanças, nem sempre lidas, compreendidas, interpretadas e utilizadas. Numa versão atualizada pelo linguajar da “ tshurma”,  a lenda, de judaica, ficou aos pedaços... mas no perdeu sua essência: “Num lero” mais que relaxado, onde a mentira parecia “trolar” da carrancuda verdade,  mentira, de fininho, se aproxima e diz desembucha: -buenos dias, dona Verdade!, toda debochada, pois sabia que a verdade não lhe daria “trela”. A verdade foi “checar” se era possível, a mentira está falando a verdade, se realmente era um bom dia. Ela olhou para o alto, não viu nuvens de chuva, vários pássaros cantavam, o vento sereno, as plantas ainda orvalhadas..., constatou ser um bom dia. -Bom dia, dona Mentira! -Está muito calor, hoje, disse a mentira. E a verdade vendo que a mentira falava a verdade, relaxou. A mentira, então, convidou a verdade para se banharem no rio. Despiu-se de suas vestes, pulou na água e disse para a verdade: -Venha, dona verdade, a água está uma delícia. E assim que a verdade, sem duvidar da mentira, tirou as suas vestes e mergulhou. A mentira saiu rapidamente das águas, enquanto a verdade constatava que realmente estava uma delícia, a mentira saiu da água e vestiu-se com as roupas da verdade e foi embora. A verdade, por sua vez, recusou-se a vestir as roupas da mentira e, por não ter do que se envergonhar, saiu nua a caminhar por aí, já que aos olhos das pessoas é mais fácil aceitar a mentira vestida de verdade, do que a verdade nua e crua.”

         Quem entende a verdade nua enquanto a mentira está bem trajada, com a melhor roupa de mentira?  Que analogia se faz com os fatos que povoam o nosso imaginário, a nossa literatura, a nossa educação, o nosso trabalho, a nossa religião, os nossos valores, a nossa crença, a nossa fé, os nossos medos, os nossos desafios, o ontem, o hoje, o amanhã, a criança, o adolescente, o jovem, o adulto, o idoso... O que fazer com as mudanças de “roupa” que temos de enfrentar em nome da vida?

            Um dos caminhos é aceitar, sem questionar a fim de estar politicamente correto com o que tem se tornado banal. As pessoas do nosso tempo, para ficar bem na cena moderna negam suas raízes, seus princípios, seus valores, suas verdades...  Assim ocorre nas brincadeiras entre crianças: para se tornar aceito no grupo, a criança mais frágil se submete a brincadeiras abusivas. Na escola, o aluno menos dotado de poder de aprendizagem se submete a situações pouco dignas, para que “seus pares” permitam que ele permaneça no grupo. Essa ilustração tem um vasto campo de exemplos: no futebol, na corrida, na dança, na beleza, no namoro... No trabalho, na rua, na família, a sociedade, não é diferente: as mudanças podem mais que a verdade. A modernidade impõe-se com cruéis desafios que nos levam do mundo real à virtualidade do homem moderno. Um moderno que, efetivamente, não sabe aonde vai. E assim, caminha a humanidade.

             Se buscar o caminho da resistência, a partir de sua verdade, o mundo vai vir contra, as opiniões prevalecem no sentido de condicionar a possibilidade de sobrevivência de um determinado elemento nesse ou naquele grupo social, a partir da renúncia de princípios, verdades e valores que fundamentaram todo o conhecimento prévio acumulado ao longo da vida. Trata-se de um novo desafio a cada instante: ou se é verdadeiro e torna alijado da sociedade por pensar e agir diferente, “ultrapassado”, defasado”, “desatualizado”...,”diferente”, “filhinho de papai”, “mauricinho”, “patricinha”, “fracote”, “retardado”, { ...cobras & lagartos}.

           Uma saída, várias nuances, diversos comprometimentos, muitos interesses em jogo, em nome de uma evolução que, se resume a vício que nos leva à sensação de que todas as facilidades nos chegaram, com um rol de vantagens infinitamente maior que quaisquer embaraços. Basta ter acesso ao equipamento: falta energia, entra o gerador; falta água na fonte, compra engarrafada; falta vento, liga o ar condicionado; falta cozinheira, parte-se para fast food; falta a ama de leite, compra-se a babá eletrônica; acaba a lenha, liga o microondas; complica-se o mundo real, acessa-se o virtual; morre a modista, parte-se para confecção em série; somem não se tem companhia, liga-se a tv; some o professor, vem a ead; fecha a escola, vem a rua; somem os amigos, vêm o traficantes; somem as praias vem o lodo; somem  as árvores, vem o deserto; somem os sonhos, restam os pesadelos; perdem-se os amigos, vem desesperança... some o dicionário, vai-se ao google; some a leitura, recorre-se aos memes; desaparecem  os livros, buscam-se e-books cifrados; soe a verdadeira informação, nascem as fake News; omitem-se as opiniões surgem as lake & deslake; excasseia-se a verdade, reforçam-se as mentiras que cada vez mais se travestem para desviar o homem do seu destino.   Que mudanças, que caminhos, que horizontes... que mudanças.

         Suprimindo atitudes, eliminando termos, reduzindo expressão sucumbindo sentimentos, o novo homem faz de tudo um “ops!”. Já não se lê um bom livro. Não se assiste mais a um bom espetáculo. Os saraus fazem parte de um passado distante. Concertos, escrito com “c” para muitos jovens é um assassinato à língua portuguesa uma vez que esse termo não faz parte do seu vocabulário, nem do de muitos formadores. Eles também, não têm acesso a esse tipo de entretenimento, que se tornou raro... Feira de livros... um fato raro pois as crianças preferem a robótica cada vez mais sofisticados e softwres, a cada dia mais próximo do perfil humano, por meio de protótipos que mais se assemelham a espectro de figuras do mundo fantasmagórico, onde o homem cria asas e voa, cospe fogo, destroi se trasmuta, “encantando” gerações inteiras que fazem dessas imagens o modelo ideal para o homem corajoso, justo e fiel representante da espécie a quem foi confiado o destino da humanidade. N o texto original é preciso vencer a qualquer custo.

        O jogador, incauto imberbe em formação de opinião e caráter é treinado para vencer, treinado para destruir, treinado para ludibriar o opositor com o fito de alcançar a vitória virtual que na sua mente passa a ser o destino de todas as lutas, de todos os desafios, de todos os embates, de todas as suas aventuras em qualquer faia etária. Quem se dá bem é que sai na frente, é quem sobe mais rápido na contagem dos pontos acumulados em um jogo de vida ou morte, em nome de uma virtualidade onde a criança reside, pois ali passa a maior parte do seu tempo.

      Para os pais, 100% ocupados na conquista de recursos para manutenção deum padrão de vida moderno, terceirizam o olhar, o afeto, o cuidar, o orientar, o formar e, quando a criança age de modo “diferente” do seu rol de valores, a fim de suprir suas efetivas ausências, compram o seu reconhecimento por meio de caros eletrônicos, de sofisticados jogos, de fantásticas viagens e, principalmente de plena liberdade a pensamento e atitudes. O filho e um gênio. “Antes de orientá-lo, antes de pedir prestação de contas de tarefas básicas pertinentes ao dia a dia do filho, e/ou discutir o custo/benefício de suas atitudes, sentem que estão sendo injustos. Preferem não constranger o “brother”, discutem como amigos. Amigos não punem amigos. Amigos não prestam contas à sociedade, pelas falhas de um outro amigo, sumiu o pai, desapareceu a ação da mãe, diluiu-se a família, minimizou o papel da escola, eliminou-se a lição... restou apenas...

        A evolução da espécie é a vocação do ser humano. Sem ela, é como se o melhor fosse desistir de quaisquer projetos, de quaisquer estudos, de quaisquer sonhos de conquista do plano físico, psíquico, biológico, cientifico e social. Um dos pontos decisivos para que essa evolução não se torne um risco para a segurança do homem no planeta é que sejam preservados os valores que as sociedades anteriores descobriram, aplicaram, ampliaram e projetaram como prova de conquista. Não se pode pensar em descartar a essência do que funcionou em outros tempos. O caminho e melhorar, aperfeiçoar, adaptar, preservar e tocar adiante a sua força, o seu papel e que faça diferença em um universo que fica à espreita de avanços e conquistas que imprimirão status e  classifica o homem, como o que faz a diferença, independente do seu tempo, espaço, ou condições de vida e de aprendizado.

       Os homens modernos não aprenderam como combater o monstro da liberalidade que invade a sua casa, que absorve o que há de melhor na consciência dos filhos em formação e que insiste em afirmar que nos tempos modernos, o que passou deve ser esquecido.  Se a palmatória disciplinava, por que foi eliminada? Se o exame de admissão ao ginásio era, na escola, trampolim para voos mais altos e fixar conteúdos, para incentivar possibilidades qualificando etapas de estudo como forma estimular cada vez a criança a avançar e galgar novos degraus, foi suprimido?  Não estaria com isso, a sociedade, quebrando o elo necessário à evolução humana, com a preservação dos elementos que em outras ocasiões funcionou positivamente?

         Não se pretende defender a ideia de que a saída seria um caminho de volta. A evolução é inerente ao ser humano que a cada novo amanhecer traduz uma nova possibilidade. Nesse mister nem tudo está posto. É preciso ser posto. Posto em discussão, em busca de melhores resultados. Se ao logo de milhares de anos, foi possível coletar dados e façanhas humanas que nos identificam como empreendedores e seres capazes de fazer de cada desafio, um passo adiante, vamos sim, procurar tirar proveito dos avanços. Identificar os melhores produtos que justifiquem os porquês de sua busca, do seu alcance. Subestimar a capacidade que a inteligência artificial tem de nos influenciar a mais estudos e pesquisas não seria prova racional. Não se deve é correr o risco de “deitar tudo a perder”, por comportamentos e atitudes que negam o homem, como agente do seu tempo e de suas competências.

         No centro da questão permanece a necessidade de se perpetuar valores que deverão ser transmitidos às gerações do porvir. Desde o embrião dos questionamentos quanto aos rumos que humanidade tende a seguir, nos moldes do que se vivencia, cobra-se: quem está formando o homem do futuro? Em que escola estão sendo forjados os heróis dos próximos séculos? Em que temperatura as oficinas que forjam o ferro do caráter do novo homem estão sendo mantidos valores que sustentam ideais de honra, respeito e compromisso com a verdade e com a vida? Quem responderá por uma ação infeliz que o homem das décadas de 2050/60 venha a cometer se o destino de outros estiver em jogo? Como as questões ambientais serão justificadas se nós os formadores de hoje, não temos compromisso com a vida por meio da responsabilidade social?

         “O acertado não sai caro” Se há acertos, fecham-se acordos, entendimentos registrados, compromissos mantidos. Mas como arrolar os acertos diante dos atropelos causados pela presença frenética da evolução que, com a velocidade da luz, coloca o homem contra seus próprios princípios, seus valores contra a natureza, seus interesses contra os direitos e espaço do outro?  Quando o “politicamente correto” for o ideal, a criança acolherá como exemplo a lição recebida espontaneamente dos seus pais, dos seus mestres, do seu mundo, do seu tempo.

       Admite-se a máxima: a criança não apende necessariamente o que ensinam, mas aprende, naturalmente o que vê os adultos fazendo, especialmente quando ela tem nesse adulto, o modelo de segurança, confiança, firmeza e proteção. Seja esse adulto, o pai, a mãe, o cuidador, o professor, o orientador, o preceptor.... E, o que temos assistido? Os maiores problemas de desvio de conduta e abuso de incapazes, têm sido registrados no seio de convívios sociais com pouca ou sem nenhuma formação rígida de caráter e valores morais. Há a destruição de vidas, de sonhos, de futuro... A mesma sociedade que precisa, em nome da evolução acertar o caminho seguro para o futuro.

  • Sebastião Maciel Costa