O ABSURDO DA EXISTÊNCIA HUMANA NA VISÃO DE ALBERT CAMUS [1].

 Lic. Fil: António Teca Dicondele [2].

SUMÁRIO: Introdução; 1. Da crise à emoção; 1.1 O absurdo; 2. O suicídio filosófico; 2.1 O suicídio físico; 2.2 A aceitação da existência; 3. Vida e morte uma questão perene; Considerações finais; Referências.

Resumo: pretendemos com este artigo encetar uma forma diferente de pensar o absurdo da existência humana na visão de Albert Camus. Considerando que as questões ligadas à existência são transversais, é oportuno incorporar também o posicionamento de outros pensadores para nos explicarem de maneira nova a temática. Para Camus, só há um problema filosófico verdadeiramente sério: é o suicídio. Julgar se a vida merece ou não ser vivida, é responder a uma questão fundamental da filosofia. Assim, o termo absurdo surge como a negação última do sentido da existência. 

Palavras-chave: Albert Camus, Absurdo, Vida, Morte, Suicídio.

 

Resumé: avec cet article, nous voulons commencer une façon différente de penser l´absurdité de l´existence humaine chez Camus. Étant donné que les questions liées à l´existence sont transversales, il est opportun d´intégrer également la position d´autres penseurs pour expliquer le thème d´une manière nouvelle. Pour Camus, il n´ya a qu´un seul problème philosophique vraiment sérieux: c´est le suicide. Juger si la vie mérite ou non d´etre vécue, c´est répondre à la question fondamental de la philosophie. Ainsi, le terme absurde apparait comme la négation ultime du sens de l´existence humaine.

Mots- clés: Albert Camus, absurd, vie, mort, suicide.

 

INTRODUÇÃO

 

[…] Disse-me que era impossível, que todos os homens acreditavam em Deus, mesmo os que não queriam ver. A convicção dele era essa e, se um dia duvidasse, a vida deixaria de ter sentido. Quer o senhor, exclamou, que a minha vida deixe de ter sentido? Eu achava que não tinha nada com isso, e disse-lho [3]

                                                                                                        

Essas notas de abertura têm como objectivo, apresentar o pensamento filosófico e literário das obras do escritor franco-argelino Albert Camus. Sem descurar também o olhar atento dos filósofos existencialistas. Importa afirmar que, essas linhas podem ser costuradas ao estilo de cada um pelo que não existe uma regra acomodatícia. É uma existência que não pretende afastar-se por intermédio do suicídio, nem de uma invasão através da esperança extramundana. O nosso interlúdio seguirá atentamente o mesmo raciocínio que o despertou, o homem está lançado no palco da existência, sem um dado pré-definido.

Para atingirmos tal desiderato servimo-nos basicamente do método hermenêutico-filosófico, voltado a releitura dos textos desmemorizados ao longo dos séculos, e trazê-los à luz da nossa abordagem. Sem mais apelo, convidamos o leitor a subir as nossas escadas ainda que trêmulas, e desfrute os momentos que se seguem.

 

 

 

1. Da crise à emoção

 

“Só almas superficiais são alegres o tempo todo: [...] Se morro e viro pó e ninguém descobre os absurdos que fiz na vida, e não existe alguém ou algo que me faça pagar pelo que fiz nesta vida no outro mundo isso significa tudo bem matar” [4]. Este argumento oferece basicamente três ideias: a inteligência, emoção, e a liberdade. A inteligência é a capacidade que o ser humano tem de ler as coisas a partir de dentro, a emoção é uma volição transitória, ela nasce com o próprio instinto que a sustenta. Enquanto, a liberdade é essencialmente uma autodeterminação. O homem é responsável de si, do seu próprio destino; numa linguagem mais sartriana diríamos que estamos condenados a ser livres.

Todos os dias afrontamo-nos com uma série de coisas, algumas delas desmedidas, outras sem nenhum nexo causal. A banalidade do mundo quotidiano é um rosto familiar e, nada nos surpreenderá se algum dia nos virmos carregados com um montinho de lenhas na cabeça, será apenas a força do destino. Mas, onde reside a crise que nos arrebata o prazer da vida, nos tornando cônscios? Terá a vida um horizonte de sentido? Qual é a essência da crise? E quem poderá responder esta ânsia? Por que a vida é absurda? O que Camus entende por existência? Deve o homem permanecer numa vida assim absurda num mundo sem sentido ou deve abandoná-lo pelo suicídio?

É o que iremos perseguir pouco a pouco reconhecendo a sua profundidade filosófica sem, portanto, postular jamais uma receita absoluta sob pena de cairmos nas charlatanices e pedantismos amplamente difundidos, por pseudo-intelectuais. Há de facto, uma concorrência desenfreada nos últimos dias de terapeutas, psicólogos, pastores, psiquiatras, coachings, sociólogos, etc. que acham que encontraram a receita apropriada para curar a crise, ou seja, a nossa enfermidade, o absurdo. Mas, o que conseguem oferecer é apenas uma reabilitação temporária e fragmentária sobre o homem:

Um psicanalista, por exemplo, não deve buscar impor ao analisando sua ideia do que o outro deveria ou não ser. Não é o caso de considerar como sua a tarefa de ensinar ao outro a se conformar à sociedade ou a qualquer moralidade particular, mas de aprender com o outro e ajudá-lo a descobrir e realizar suas próprias possibilidades existenciais, sejam lá quais forem e aonde quer que o levem, sejam talentos específicos ou possibilidades humanas mais gerais, como a capacidade de fazer amor heterossexual [5].

 

Ora, esta crítica estende-se também para alguns filósofos que com argumentos perniciosos pretendem transformar a filosofia em palestras de autoajuda, falando daquilo que o público deseja ouvir. Postura esta que, empobrece e corta pela raiz o verdadeiro espírito reflexivo. No “working life” [filme-vídeo 2001], por exemplo, há uma narrativa estupenda, que vale a pena anotar aqui:

Há dois tipos de sofredores neste mundo, os que sofrem por não terem uma vida, e os que sofrem por terem muita vida! Eu sempre me considerei da última categoria. Se começar a pensar nisso, quase todo comportamento e atividade humana, não são essencialmente diferentes do comportamento animal. As tecnologias mais avançadas e os artesanatos nos levaram num máximo, até o nível de super-chipanzés. Na verdade, a lacuna entre [...] Platão e Nietzsche, e a média humana, é maior do que a lacuna entre aquele chipanzé e média humana. O reino do verdadeiro espírito do verdadeiro artista, do santo, do filósofo é raramente atingido. Porque tão poucos? Porque a história e a evolução do mundo não é uma história de progressos, mas, sim uma adição fútil e infinita de zeros? Nenhum valor maior foi desenvolvido e os gregos três mil anos atrás eram tão avançados quanto somos. O que são essas barreiras que não deixam as pessoas chegar a nenhum lugar próximo de seu verdadeiro potencial? A resposta a isso pode ser encontrada em outra pergunta que é esta. Qual é a principal característica do universo humano? Medo ou preguiça?

Hoje em dia, não existe trabalho como mera pré-disposição. Todos trabalhamos arduamente porque esperamos dele alguma remuneração, ou algo em troca. É um adágio comum que o trabalho dignifica o homem,

 

Não existe uma consciência sobre o trabalho; existe gente que pode escolher o que faz porque tem grana, e existem profissionais que pregam em empresas e ganham uma puta grana com isso que há, sim, uma nova consciência para fazer os coitados esmagados pelo cotidiano corporativo acreditarem que conseguirão um dia escolher o próprio trabalho-dificilmente conseguirão. Esses gurus corporativos são uns mercadores de esperança barata [6].

 

Aqueles profetas acima elencados desconhecem profundamente o vazio existencial do homem, e a sua proposta é que vivamos a vida de acordo aos seus moldes. Uma vida que tipicamente não é nossa, mas fruto de suas experiências e conversões baratas que obtiveram ao longo da vida. Ou seja, “algumas pessoas nos alertam e querem nos persuadir sobre o que é melhor para nós, até se esforçam para apresentar um esboço imaginário do plano que é melhor para ser seguido, embora muitos deles se encontrem em uma situação completamente contraditória com o que pregam”[7]. Ora, se, apesar de obstáculos desse tipo, aceitamos o risco de viver como ninguém até hoje viveu, e que certamente ninguém irá viver algum dia, acertamos as nossas contas, pagamos as nossas dívidas com o próprio passado- ele, o passado, não tem culpa de nada por sermos o que somos pelos homens serem como são, pelo mundo, enfim, ser o que é.

No mesmo itinerário, se alinha Roger Scruton que,

 

À pergunta sobre em que consiste a liberdade do individual obtém-se apenas uma pergunta incoerente e negativa: liberdade é fazer o que você quer, ou melhor, é realizar suas possibilidades, e então fazer o que você realmente quer, isto é, contato que você não mate, ou roube, ou posso roubar de qualquer modo, o ato sexual é permitido, no mínimo desde que não haja perigo de maltratar o outro, ou no mínimo… O que emerge ou é incoerência, ou precisamente este código particular de moralidade que o psicólogo devia evitar [8].

 

A crise é uma situação de risco e de escolha, mas acima de tudo uma aceitação da própria vida. É impossível que ela seja deduzida inteligentemente, pois, por se tratar de uma “persuasão íntima”, nos impele a ir adiante, afirmando novos riscos, a não ressentirmos os nossos erros, a nos mantermos confiantes e corajosos no modo de viver que, com muito custo, conseguimos inventar. Todavia, não descuramos os motivos que a maioria sustenta sobre a origem da crise, tais como: uma experiência negativa, a morte, a traição, o desejo da eternidade, a disfunção sexual, a perda de um amor, ou absurdo da própria vida; etc. Portanto, as nossas enfermidades vêm algumas vezes acompanhadas de melancolia, ou do amor do bom samaritano... Enquanto, passam pastores, padres, e políticos que, atravessam o homem como se nada aí houvesse; no coração humano existe vazio que nenhuma experiência preencherá,

 

Como ele está ali, debruçado sobre a mesa, olhando a folha de papel com a mesma vivacidade com que olha, durante o dia, as coisas ao seu redor; como esgrime com o seu lápis, sua pena, seu pincel; como deixa que a água respingue do seu copo para o teto e como experimenta a pena em sua camisa; como trabalha depressa e com ímpeto, parecendo temer que as imagens lhe fujam. Assim ele é marcial embora solitário, contra-atacando seus próprios golpes [9].

 

A crise é a própria humanidade do homem e nenhuma experiência a explicita plenamente, senão àquela que a vive. Quanto à isto, tem razão Martin Heidegger que, “nós próprios somos as entidades a ser analisadas” [10]. A situação concreta do homem vivente pode equiparar-se a um transeunte nas margens das suas elucubrações, mas tem certeza que, seu destino lhe pertence. Embora exista no coração de cada um de nós crise, a morte é uma experiência puramente banal e individual. E, esta atitude atesta a morte como uma coisa meramente monologal, uma experiência puramente solitária, que é narrada sempre em primeira pessoa. Ora, quando os homens estão à beira da morte, alguns caiem num recolhimento total, alguns lhes acompanha certa emoção, ou até a palavra emudece e caiem em crise.

Walter Benjamin na obra, A modernidade e os modernos coloca dois autores em conversação Baudelaire, e Chesterton;

 

No seu livro sobre Dickens, Chesterton fixou com mestria o indivíduo que percorre distraído a grande cidade. As andanças constantes de Charles Dickens começaram nos anos de infância. Quando terminava seu trabalho só lhe restava vaguear pela cidade e assim percorria meia Londres. Era sonhador quando criança; seu triste destino preocupava-o mais que outra coisa... Ao anoitecer ficava debaixo das lanternas do Holborne e em Charing Cross sofreu o martírio. Ele não observava à maneira dos pedantes; não olhava Charing Cross para se instruir; não contava as lanternas de Holborne para aprender aritmética. Dickens não absorvia no seu espírito a cópia das coisas; antes era ele que imprimia seu espírito nas coisas. Mais tarde Baudalaire, não podia percorrer as ruas de Paris como promeneur. Seus credores perseguiam-no, a doença se anunciava e, além do mais, havia desentendimentos entre ele e sua amante. Naquele tempo visava, simbolicamente, à conquista da rua. Mais tarde, após abandonar, passo a passo, sua existência burguesa, a rua tornou-se para ele cada vez mais um refúgio. Mas na flânerie desde o início havia uma consciência da fragilidade desta existência [11].

 

Todavia, o argumento do autor não pretende tratar apenas desse exercício meramente banal, ou do cansaço atingido pelas longas horas do trabalho. Há no fundo de tudo isto, uma meditação, uma solidão que muitas vezes, é invadida pelo barulho das máquinas. A cada instante em que o indivíduo se enterra nos covis desta cidade descobre momentaneamente, o absurdo da própria vida. Dizia Nietzsche que, “os grandes problemas estão na rua” e a crise é uma experiência inevitável, ela nos constitui como pessoas na tomada de decisões, ou por outros termos, “é espécie de uma missão filosófica, Émile Cioran”.

 

 

A mãe Baudelaire notava:

 

 

Estou acostumado de tal modo a sofrimentos físicos, sei tão bem me arrumar com duas camisas debaixo de uma calça rasgada e de um paletó pelo qual penetra o vento, e estou tão treinado a emendar sapatos furados com palha ou mesmo com papel, que sinto apenas os sofrimentos morais. Não obstante, devo confessar que cheguei a um ponto em que não faço movimentos bruscos e nem ando muito com medo de rasgar as minhas coisas ainda mais [12].

 

Essa sequência seguida pelo autor é certamente, a manifestação do absurdo. O absurdo se instala em nós a partir da comparação desproporcional que existe entre o que somos, e o que o mundo é. […] Ora, a “vida roubada é aquilo que você projeta como sendo tudo o que perdeu quando sendo objetivo eficaz. Mas não pôr a culpa nos outros; você bem teve alguns êxitos nesse processo”[13]. Assim sendo, a crise é um paradoxo entre o amor a vida, e o medo da morte. É uma constatação que, se fizermos um estudo apurado entre aqueles que querem permanecer na vida, e aqueles que desejam a morte, o número será maior para o primeiro dado. Para o segundo dado, a maioria nutre uma profunda descrença, embora existam aqueles que um pouco embriagados aceitaram inconscientemente atravessar o mar a pé enxuto.

Como evocava Walter Benjamin que,

 

A iluminação religiosa deixa o sujeito numa postura passiva; é preciso ir além da passividade, da abstratividade. Porém a superação autêntica e criadora da iluminação religiosa não se dá através do narcótico. Ela se dá numa iluminação profana, de inspiração materialista e antropológica. A embriaguez prenuncia a iluminação profana, mas não a realiza plenamente [14].

 

Esta é ambivalência do jogo, e “uma das situações potencialmente mais incômodas que os seres humanos podem ser levados a viver é a da espera de algo que não sabem ao certo o que seja” [15]. O que nos impele se assemelha ao pedaço do espelho que sobrou em nossas mãos, e em ambos os lados, podemos observar as rugas da nossa face.

Albert Camus, na sua obra O mito de Sísifo ensaio sobre o absurdo partilha a mesma ideia subjacente no pensamento de Benjamin. “Só embelezamos aquilo a que temos amor, e a morte repugna-nos e cansa-nos [...] Outros, sem também transigirem, escolheram o eterno e denunciaram a ilusão deste mundo. Os seus cemitérios sorriem, no meio de um povo de flores e de aves”[16]. Pois, muitos sustentam que, o martírio é um acto de glória. São os mártires que esbranquiaram as túnicas no sangue do cordeiro. “Felizes os que lavam as suas vestes, para terem direito à árvore da vida e poderem entrar nas portas da cidade”[17]. Porém, do que temos a certeza é que os seus corpos a muito que andam putrificados. Todas as Igrejas são contra nós, não ignoramos. Um coração assim tenso exime-se ao eterno, e todas as Igrejas, divinas ou políticas, aspiram ao eterno [...] No fim de tudo, e apesar de tudo, está à morte. Sabemo-lo também que ela põe termo a tudo. Eis porque esses cemitérios que cobrem a Europa são medonhos:

 

Os melhores de entre os homens do eterno sentem-se por vezes tomados de um terror, cheio de considerações e de piedade, perante os espíritos que podem viver com semelhante imagem da própria morte. Mas, no entanto, esses espíritos retiram daí a sua força e a sua justificação. O nosso destino está defronte de nós e é ele que nós provocamos [18].

 

Ora, ouvimos algures que a vida compreendida chega a ser àquela bem vivida, e com muita intensidade. É uma tarefa que devemos assumir cuidar das rédeas do destino, e marcá-lo com nosso próprio selo. É o que acontecia nas aldeias quando morria um caçador valente, suas recordações ficavam fixadas nos seus sarcófagos. Enquanto crianças, contentavam-nos com este mito todo. Portanto, a narração visa como a informação comunicar o puro em si do acontecido, mas incorpora na vida do relator para proporcioná-lo, como experiência, aos que escutam. Assim o narrado fica a marca do narrador, como impressão da mão do oleiro sobre o pote de argila. Todavia, prossegue o autor trazendo outra personagem que vinha do vale da sombra da morte. Num estado quase que telepático exclamou: nunca me havia sentido em estado de ânimo como o desta noite; e saboreei a nova emoção que tomava a frente ao oceano de cabeças em movimento. Pouco a pouco perdi de vista o que ocorria no local onde me encontrava, e me abandonei à contemplação do espetáculo da rua [19].

 

 

A postura desta personagem revela certa beatitude não de ordem material, mas apenas contemplativa. Como dizia Pitágoras ao prescrever a natureza do filósofo na sua lenda parafraseado pela Marilena Chauí que:

 

Há Três tipos de pessoas que compareciam aos jogos olímpicos (a festa mais importante da Grécia): as que iam para comerciarlizar durante os jogos, ali estando apenas para servir aos seus próprios interesses e sem preocupação com as disputas e os torneios; as que iam para competir, isto é, os atletas e artistas (pois, durante os jogos também havia competições artísticas: dança poesia, música, teatro); e as que iam para contemplar os jogos e torneios, para avaliar o desempenho e julgar o valor dos que ali se apresentavam. Esse terceiro tipo de pessoa, dizia Pitágoras, é como o filósofo [20].

 

 Desta expressão notamos que, o filósofo está no último degrau, àquele que ia apenas pela curiosidade para ver como se jogava despido de antemão de qualquer tipo de emoção, ou de bens matérias que não seja o próprio pensamento. Porém, isto, não implica dizer que o filósofo não tenha a dimensão sensitiva, ou que tudo lhe pareça desprovido de sentido. Aliás, a beleza da vida consiste exatamente pelo facto de não ter sentido. Portanto, a emoção a que nos referimos é aquela que é capaz de nos conduzir a crise. “Mas quais emoções, essencialmente, experimentamos? É uma emoção que resulta de ideias e imagens ou, ao contrário, é uma emoção que gera ideias e imagens?” [21]. A emoção do filósofo pode resultar de duas perspectivas: a da representação que é uma capacidade intuitiva de como as coisas se apresentam a sua vista. Enquanto, a outra perspectiva é a criadora, é um impulso vital de o artista criar o seu próprio mundo. Tal como, na saudação de Kostandi:

 

O que você quer que haja de novo? Respondeu ele, mal-humorado. Bom dia, e vou para o café; boa noite, e volto para casa! Bom dia, café; boa noite, casa! Isso é minha vida. De trabalho, nada! Alguns se puseram a rir, outros balançaram a cabeça praguejando. O mundo é a prisão perpétua- disse um bigodudo que havia feito seus estudos de filosofia no Karagheuz (Teatrode Marionetes). - Sim, a prisão perpétua, maldito seja ele [22].

 

O que estaria no coração de Kostandi? Será apenas um mal-estar? Ou tivera uma discussão acalorada com o velhote? E por que não o respondeu positivamente? Na verdade, no coração de Kostandi, se esconde uma emoção camuflada: a insignificância da vida, e do mundo que o cerca.

  1. O absurdo

 

O termo absurdo se for visto num único ângulo estritamente racional, pode parecer impreciso e insignificante. Mas, do ponto existencial é demasiado profundo quer dizer, uma densidade de coisas; ou ainda pode significar aquilo que não devia ter existido, nem no plano humano nem no sobrenatural, pois é incongruente. A título de exemplo, vejamos como se desenrola o absurdo na obra O processo de Franz Kafka;

 

Em tudo mais, o processo continua seu curso, continua-se levando-o a tribunais superiores, como o exige o trâmite ininterrupto entre diversos escritórios da justiça; volta depois outra vez aos tribunais inferiores e sofre deste modo oscilações grandes e pequenas e demoras mais ou menos prolongadas. Não é possível calcular o que pode acontecer com o expediente. Visto de fora, poderia muitas vezes dar a impressão de que o processo faz muito tempo é, por conseguinte, completa. [...] Nunca se perde nenhuma acta, a justiça não se esquece de nada. Um dia, sem que ninguém o espere, algum juiz toma em suas mãos com maior atenção o expediente [...] [23].

 

Certamente, este absurdo pertence à instância superior dar-lhe o seu veredito. E, só, ele tem o direito de absolver definitivamente; é inacessível para qualquer um de nós. Por isso, quando propomos definir um conceito, ou seja, um termo significa dizer que queremos, em primeira instância compreendê-lo literalmente, distinguindo-o do sentido ordinário ou comum. O “absurdo, em grego, é indicado pelo termo átapon, que ao pé da letra significa não lugar e, portanto ilógico” [24].

Para Camus, o termo absurdo surge como uma forma de negação do sentido último da existência humana. [...] O absurdo é o confronto desse irracionalismo e desse desejo desvairado de clareza cujo apelo ressoa no profundo do homem. Deste ponto de vista, o termo não se insere apenas no âmbito lógico das coisas, mas sim na relação do próprio homem com o mundo que o envolve. É nesta separação, ou divórcio do sujeito com o mundo, que se delineia o absurdo.

A consciência puramente existencial chega mesmo admitir que, “só há um problema filosófico verdadeiramente sério: é suicídio. Julgar se a vida merece ou não ser vivida, é responder a uma questão fundamental da filosofia” [25]. Assim sendo, partindo da análise fenomenológica recorremos imediatamente, aos gestos quotidianos e banais, que efeituamos durante a vida laboral,

Acontece que os cenários desabam. Os gestos de levantar, o carro eléctrico, quatro horas de escritório ou de fábrica, refeição, carro eléctrico, quatro horas de trabalho, refeição, sono e segunda-feira, terça, quarta, quinta, sexta e sábado, no mesmo ritmo, esta estrada segue-se com facilidade a maior parte do tempo. Só um dia o «porquê» se levanta, e tudo recomeça nessa lassidão tingida de espanto. «Começa», isto é importante. Ora, mas se esta resposta é sincera, se representa esse singular estado de espírito em que o vazio se torna eloquente, em que a cadeia dos gestos quotidianos se quebra em que o coração procura debalde o anel que voltaria a uni-la, é então como o primeiro sinal do absurdo [26].

 

Porém, ao exercermos essas actividades, não o fazemos de forma gratuita, a nossa intenção reside implicitamente no fim último da existência, e não da natureza como se desenrola com as suas leis físicas. Dizia Camus: “julgo, pois que o sentido da vida é o mais premente dos assuntos das interrogações” [27].

Contudo, importa salientar dois conceitos fundamentais: o sentimento do absurdo, e a noção do absurdo. O primeiro conceito, não se apresenta ao homem de forma aparente, é inapreensível e inesgotável, não podemos captá-lo a partir dos dados sensoriais, pois carece de um critério de análise. Esse inacessível sentimento do absurdo, talvez o possamos então atingir em mundos diferentes, mais fraternais, da inteligência, da arte de viver, ou simplesmente da arte. O clima do absurdo está no início” [28]. O segundo conceito, surge na medida em que fazemos a comparação entre duas realidades, que se apresentam amplamente desproporcionais, ou para dizermos em termos mais precisos, a noção do absurdo remete-nos essencialmente a um divórcio. Sigamos atentamente as suas características: a revolta, a estranheza, a náusea ou mal-estar, a inquietude, a nostalgia, o mal, a dor, o suicídio, e a morte. Essas características constituem os primeiros sinais da noção do absurdo, desejando um ser supremo que as explique. Porém, Camus pensa que, não existe um significado para além da própria condição humana. É assim que, a vida será melhor e bem vivida quanto menos sentido tiver, e a maneira mais simples de se comportar diante do absurdo, é tomar a sério a ideia da revolta, entendida como “um confronto perpétuo do homem e da sua própria absurdidade [29].

 

 

 

2. O suicídio filosófico

 

Karl Marx dizia numa das suas emblemáticas frases que, “a religião é o suspiro da criatura esmagada pela desgraça, à alma de um mundo sem coração, assim como o espírito de uma época sem espírito. É o ópio do povo”. Quase igual ao espírito religioso, também na filosofia, o suicídio acontece quando o filósofo se refugia num mundo aparentemente fictício; numa afã puramente salvivífica. “Nas fés monoteístas, Deus é a garantia última do sentido da vida humana. Para Gaia, a vida humana não tem mais sentido do que a das amibas” [30].

Aqui está o nó:

“A primeira e, no fundo, a única condição das minhas investigações é preservar precisamente aquilo que esmaga, respeitando-lhe, constantemente, o coeficiente de essencial”.[31] Essa evasão para o além, parece, no entanto, a renúncia à existência em detrimento a uma ideia superior. Talvez, tenham razão os homens de ficção, que também a utopia é um momento do possível vir a ser […] Mas que se passaria se abandonássemos as esperanças vazias tanto do cristianismo como do humanismo? Se puséssemos fim ao palavreado oco- a lenga-lenga de Deus e a da imortalidade, da humanidade e do progresso-, que sentido poderíamos atribuir às nossas vidas? [32].

 Para Camus, esta luta é a ausência total de esperança. Mas, tão somente aceitar a ideia que este mundo com a sua caoticidade, é talvez o melhor mundo possível. E, assim, a vida será melhor bem vivida, quanto menos sentido tiver. “Um homem que se torna consciente do absurdo fica-lhe ligado para todo o sempre. O homem sem esperança e consciente disso, já não pertence ao futuro” [33]. Ou como dizia John Gray: o homem deve pôr de lado estes e aceitar que sua própria existência é inteiramente acidental: deve despertar do seu sono milenar e descobrir a sua solidão absoluta, o isolamento fundamental. Deve compreender que, como um cigano, vive na fronteira de um mundo estranho; um mundo que é surdo para a sua música e indiferente às suas esperanças, bem como aos seus sofrimentos e aos seus crimes. […]  Diríamos ainda nós, um mundo absurdo [34]. A posição do autor é que, a vida deve ser vivida sem recorrer à batota;

Como se vê, não interessa a Camus à escatologia e as suas visões ultraterrenas, se é que lhe interessa uma hipotética soteriologia intramundana. Obter consolo para os males e para a dor que afligem os homens no mundo, na ânsia de obter o prêmio num hipotético mundo ultraterreno, sofrer a vergonha da injustiça absurda e injustificada, com a esperança de ver triunfar a injustiça num hipotético lugar ultramundano é, para Camus, um exercício meramente psicológico [35].

 

 2.1 O suicídio físico

 

Diz-se qualquer homem amplamente são, tem tendências suicidas. Encontramos esta ideia, no prefácio da obra O processo de Kafka. “Se eu tivesse de morrer muito breve ou tornar-se totalmente incapaz de viver- e existem grandes possibilidades de isto acontecer- diria que a mim mesmo me dilacerei” [36]. Ora, esta ideia pode ser acolhida somente por uma pequena minoria. Embora exista, este pesado fardo que a existência carrega, quase boa parte de nós, quer permanecer aqui por longos anos.

O suicídio é um atalho que atravessa muitos corações. Ela passeia no seu universo esplêndido a sua sombra. Suicidar-se, é resolver de forma antecipada os obstáculos da vida. Assim, como o bom cristão que resolve castrar-se em detrimento de uma promessa divina!

Mas, que tolice disse ele, isso é justamente a chave do paraíso! Ergueu a cabeça e olhou-me com atenção, querendo adivinhar minhas ideias sobre vida futura, reino dos céus, mulheres e padres. Mas pareceu não ter não ter podido adivinhar muito, pois balançou com circunspecção sua grande cabeça grisalha. Os aleijados não entram no paraíso! Disse ele, e se calou [37].

 

O suicídio, não implica necessariamente a materialização do acto com uma corda amarrada no pescoço, ou por alternativas mais avançadas. Pode ser entendido simplesmente como um sentimento, um desejo, ou uma curiosidade. Neste sentido, nunca esteve fora do nosso alcance, e está sempre presente como a nossa sombra, e nos vigia. “Não se pode desejar palavra mais exacta. Começar a pensar é começar a ser consumido. A sociedade não tem grande coisa a ver com estes princípios, o veneno está no coração do homem” [38].

A própria natureza nos ordena de vez em quando, a darmos um salto para o consumo. Ninguém rejeita a hipótese de que viver comodamente é impossível. Daí, a razão de procurarmos subterfúgios, ou a fazer dos gestos mais ou menos ridículos um modo de vida. Tem razão Camus que, o suicídio é apenas a confissão de que a existência não vale apena. Viver, naturalmente, nunca é fácil [...] Morrer voluntariamente implica reconhecermos, mesmo instintivamente, o carácter irrisório desse hábito, a ausência de qualquer razão profunda de viver, o carácter insensato dessa agitação quotidiana e a inutilidade do sofrimento. Assim sendo, a diferença que existe entre o suicídio físico, e o suicídio filosófico, é a seguinte: a primeira ideia reside na descoberta do absurdo, ou seja, é o acto de tirar a própria vida. Enquanto, a segunda ideia se resume num simples salto, é uma invasão a esperança.

Camus, citando Karl Jaspers dizia:

 

Essa limitação conduz-me a mim próprio, ao ponto onde já não me escondo por detrás da mera representação de um ponto de vista abstracto, onde nem eu nem mim. Então, ele evoca, depois de muitos outros, esses lugares desertos e sem água, onde o pensamento chega aos seus confins [39].

 

O suicídio físico, dificilmente se despoja da emoção e do impulso que o sustenta. Por isso, é que muitos suicidas, digamos os verdadeiros não se despedem, quando dão conta de que, o veneno alastrou-se em todo corpo, tomam a tragicidade da existência com as suas próprias mãos. Os grandes sentimentos passeiam consigo o seu universo, esplêndido ou miserável. Iluminam com a sua paixão um mundo exclusivo, onde reencontram o seu clima. Há um universo do ciúme, da ambição, do egoísmo ou da generosidade. Um universo quer dizer uma metafísica e uma atitude de espírito. O que é verdade em relação a sentimentos já especializados, mais ainda o será no tocante a emoções, na sua base tão indeterminadas- ao mesmo tempo tão confusas e tão certas, tão longínquas e tão presentes- como as que nos proporcionam o belo ou que suscitam o absurdo [40].

 

 

A nossa existência é marcada por algumas narrativas, e ninguém por mais cansado que se sinta, passaria o seu fardo a algum parente, nem o velho de oitenta anos idade se escusaria da sua vida, em detrimento de um neto. Todos temos esta ânsia pela existência, mas o suicídio carrega muitos, como dizia Nikos Kazantzakis:

No tempo de meu avô, a filha de um notável da aldeia apaixonou-se por um pastor. Seu pai não queria o casamento; e a moça chorava e gritava, suplicando-lhe. Mas o velho não mudava de ideia! E um dia os dois desapareceram, o pastor e a moça. Saíram em busca deles, e por dias, e depois semanas, ninguém os encontrou! Mas os cadáveres começaram e cheirar mal então, seguindo o mau cheiro, foram encontrá-los abraçados num buraco que existe entre as raízes da figueira. Você entende, eles foram descobertos pelo fedor [41].

 

Esta bela passagem, é uma experiência gratificante, e muitos devem ter passado por ela, embora com um final diferente. É verdade como dizia o autor que, nesse raio de vida nunca faltam às surpresas. Muitas delas interessantes, e outras mais tenebrosas ainda. O mesmo asseverava Bertrand Russell, na sua obra História da filosofia ocidental, às ideias de Burnet que, diria um bom cristão o seguinte: “somos estrangeiros neste mundo, e o corpo é o túmulo da alma; não obstante, não devemos tentar fugir por meio do suicídio, pois somos rebanho de Deus, que é nosso pastor, e, sem que ele o ordene, não temos o direito de desaparecer” [42].

Este sentido ordeiro da vida, não é obviamente o desejo de Russell, pelo que sabemos, o seu posicionamento sobre a vida no além-túmulo. A ideia é não querer macular o propósito da transcendentalidade o que constitui para muitos a barreira intransponível. Num aforismo nietzschiano em homenagem a Schopenhauer, dizia o seguinte: “porque há-de ser sempre mal considerada a preocupação de gozar o mais possível o presente, o único seguro, se a vida inteira é apenas um pedaço do presente, e, como tal, passageira em absoluto?” [43]. Há muito tempo que digerimos essa ideia nietzschiana, que a vida no além não passa de obediência, pois obediência. Mas, se agíssemos, como se a morte não existisse, nos limitaríamos apenas às nossas emoções, e as nossas superficialidades. Tal como, na resposta do mais velho de noventa anos.  “Meu filho, eu faço as coisas como quem não vai morrer nunca. E eu lhe respondo: pois eu faço como se estivesse para morrer a cada instante” [44]

Assim, como a morte é uma experiência solitária, o suicídio também o é, se efetivado. Porém, a maior dificuldade consiste exactamente nisto, se somos capazes de abordá-lo, com bastante honestidade? Ou nos limitamos apenas em ouvir algumas narrações de pessoas oculares? Uma vez que o suicida assumiu os seus próprios algozes! Viva a vida, e que a morte vá para o inferno. Estamos todos arrolados nesse processo como bem exortava Franz Kafka, que podemos nos ver a representar uma peça neste teatro. Alguns com um feixe de lenhas tomadas em seus ombros, e nós incansavelmente dispostos a empurrar a nossa pedra gigantesca, até ao cume;

Se estivesse sozinho no mundo teria descuidado ligeiramente este processo, no caso naturalmente de estar certo de que efetivamente existia. [...] Ontem sonhei contigo. Já não recordo exatamente o que acontecia, apenas sei que nos interpenetrávamos constantemente, um dentro do outro, eu era tu, tu eras eu. Finalmente começaste a queimar-te, não sei como. Lembrando que o fogo se apaga com roupas, tomei um velho abrigo e te golpeei com ele. Mas novamente começaram as transmutações, até o ponto em que já não estavas ali, era eu em troca quem ardia, e também era eu o que golpeava com o abrigo [45].

 

 Portanto, exibamos as nossas peças ainda que, sem auditório, numa deliberação íntima, numa narração dramática… Um homem partira de uma aldeia para fazer fortuna. Ao fim de vinte e cinco anos, rico, regressara casado e com um filho. A mãe dele, juntamente com a irmã, tinha uma estalagem na aldeia. Para lhes fazer uma surpresa, deixara a mulher e o filho noutra estalagem e fora visitar a mãe, que não o reconheceu. Por brincadeira, tivera a ideia de se instalar num quarto como hóspede. Mostrara o dinheiro que trazia. De noite, a mãe e a irmã tinham-no assassinado à martelada e atirado o corpo para o rio. No dia seguinte de manhã, a mulher do desgraçado viera à estalagem e revelara, sem saber, a identidade do viajante. A mãe enforcara-se e a irmã atirar-se a um poço [46].

 

 

 

2.2 A aceitação da existência

 

O suicídio é, como mergulho, o extremo limite da aceitação. Tudo está consumado, o homem entra de novo na sua história essencial. Ele avista o seu futuro e nele se precipita, no seu único e terrível futuro. O suicídio resolve à sua maneira o absurdo. Arrasta-o para a mesma morte. Mas eu sei que, para se manter, o absurdo não pode resolver-se. Escapa ao suicídio na medida em que é, ao mesmo tempo, consciência e recusa da morte, este atacador de sapato que, apesar de tudo, ele avista a alguns metros, mesmo à beira da sua queda vertiginosa. O contrário do suicida é, precisamente, o condenado à morte [47].

 

É no próprio existencialismo, onde encontramos a pluralidade de matizes, quanto ao fim último do homem. E, o mito de Sísifo é certamente o reflexo da condição humana. O que significa dizer que, existir é estar exposto às circunstâncias do espaço e tempo, é uma projeção para morte. Mas, esta projeção não se realiza mediante o suicídio. Como podemos seguir nos trilhos propostos por Martin Heidegger:

O apelo à existência autêntica implica a coragem de defrontar-se com a possibilidade do próprio não- ser, de fazer a experiência da angústia do ser- para-a- morte. Isto requer aceitação da própria finitude. [...] A antecipação abre para a existência como extrema possibilidade à tarefa de sua propriedade, rompendo assim todo e qualquer enrijecimento da existência já alcançada [48].

 

Ora, é preciso aceitar a condição pela qual a vida foi dada. O sofrimento pertence à estrutura essencial de todo vivente, mas não é um bálsamo de conformismo, ele pode ser superado por uma doze de ignorância. Por isso, projetar-se prematuramente, é cancelar uma existência que devia ser vivida com muita intensidade e jovialidade.

Porém, não condenamos os sofrimentos do jovem Werther; escrito brilhantemente por Goethe. Eis a narração: Pela manhã, às 6 horas, o criado encontrou no quarto com a luz. Encontrou o seu senhor no chão, viu a pistola e o sangue. Chamou-o, mexeu nele; nenhuma resposta, ele ainda agonizava. Correu em busca dos médicos e de Albert. Litte ouviu alguém tocar a campainha e um temor convulsionou-lhe todos os membros [...] Tinha atirado na cabeça, logo acima do olho direito, fazendo saltar os miolos. Pelo sangue espalhado no espaldar da cadeira, conclui-se que realizara seu intento sentado à escrivaninha caíra em seguida, rolando convulsivamente em volta da cadeira. Estava estendido de costas perto da janela inerte, todo e calçado de casca azul e colete amarelo [...] Do vinho bebera um copo [49].

Só aparentemente, é que o suicídio pode ser entendido como um acto romântico. Embora colocado como desejo de pessoas que evidentemente tenha encontrado algum sentido nele, torna-se velha demais para solucionar o absurdo. O absurdo não se resolve, vive-se [...]. Portanto, Goethe escrevera o romance não para suicidar-se, mas para tentar sobreviver a um amor não correspondido. Encontramos também esta ideia no pensamento de Camus, que “um homem que se torna consciente do absurdo fica-lhe ligado para todo o sempre. O homem sem esperança e consciente disso, já não pertence ao futuro” [50]. Que fique claro que reconhecer o absurdo, não é o mesmo que desesperar-se, o absurdo é contrário do desespero. O absurdo é confronto perpétuo, é uma revolta constante à existência; viver é viver o absurdo suportando-o, dando-lhe corpo, sem subterfúgios, nem ilusões amplamente apregoadas.

 Por outro lado, viver é também uma capacidade de decisão, entre o estar aqui ou ali. O psiquiatra, vienense Viktor Frankl, no livro de psicologia: As grandes ideias de todos os tempos; ensinava-nos como dar sentido ao sofrimento. Ao dar sentido ao sofrimento, nós o tornamos suportável; o sofrimento deixa de ser sofrimento quando ganha sentido. O sentido é algo que precisa ser descoberto, e não inventado. Nós o encontramos na vida e, sobretudo no amor, exercendo a criatividade e de acordo com a maneira como escolhemos enxergar os fatos.

O amor fati é uma proposta aliciante que tanto, Nietzsche como Camus comungam. Porém, a proposta não é uma autoajuda, ou alerta sobre os maléficos do pensamento ou do acto suicida, [...] Mas sim um enfoque filosófico para este problema humano. Vejamos a ideia de Filipe Silgueiros Sanches Navarro, na página oficial do facebook para quem gosta de filosofia. O acto do suicida se consubstancia mediante duas alternativas: “a primeira parte da incompreensão, ou seja, o facto do indivíduo entender em plenitude o sentido da vida, a segunda está na incapacidade de atribuir um significado absoluto ao universo”. Ora, “O suicídio é uma opção. Se um dia me vir numa situação de não retorno, não hesitarei em optar por isso”. Diria ainda, Janaynah Q. Rosa em Albert Camus, in facebook Brasil.

Segundo a doutrina budista é certo que a vida não oferece apenas sofrimentos, mas também algumas alegrias. Mas o que torna intolerável é a impermanência de todas as coisas,  

Da ignorância provêm às formações, das formações provém o conhecimento provêm nome e corpo, do nome e do corpo provêm os seus domínios: dos seis domínios provém à sensação, da sensação provém o apego à existência: do apego provém à existência; da existência provem o nascimento e queixume, dor, desgosto e desespero. Tal é a origem de todo império da dor [51].

 

Uma vida completamente absurda quem a poderá suportar? Só os homens amplamente apaixonados por ela, ou seja, aqueles que forem capazes de sobreviverem às intempéries, “o carácter representativo dessa existência como fim absurdo é esgotar bem a vida que se tem, em papéis sempre variados: é uma multiplicidade de almas num só corpo, proscrito, sem Deus; é sobreviver o mais tempo possível” [52]. Como desfecho, acolhamos Sísifo nossa guarida: Os deuses tinham condenado Sísifo a empurrar sem descanso um rochedo até ao cume de uma montanha, de onde a pedra caía de novo, em consequência do seu peso. Tinham pensado, com algum razão, que não há castigo mais terrível do que o trabalho inútil e sem esperança. […] No termo desse longo esforço, medido pelo espaço sem céu e pelo tempo sem profundidade, a finalidade está atingida. Sísifo vê então a pedra resvalar em poucos instantes para esse mundo inferior, de onde será preciso trazê-la de novo para os cimos. E desce outra vez à planície [53]. Ora, é preciso imaginar Sísifo feliz. 

 

3. Vida e morte uma questão perene

 

Nós vivemos uma vida tão ociosa, tão parada, tão desprezível estamos tão descontentes da nossa sorte, tão enfastiados da nossa existência! E, na verdade, verifique como a própria vista, tudo se apresenta, na nossa vida, tão amargo como hostil… Pobres criaturas [54].

 

Após a segunda guerra mundial, nunca a humanidade atravessou momentos tão sombrios como estes da covid-19, e pelo interesse que a mesma causa em torno da vida, o pico actualmente alcançado pelo número de seres humanos poderá ser interrompido por diversas ordens de razões: alteração climática, novas formas de doenças (coronavírus), efeitos colaterais da guerra, espiral descendente da taxa de natalidade, ou a combinação destes factores com outros ainda desconhecidos [55].

 

 

A preocupação pelo sentido da existência é própria do homem e está na raiz mais remota da filosofia, tal como da religião. Esta preocupação é o ponto de partida de toda reflexão filosófica. Embora com a modernidade a questão tivesse perdido seu fulgor. Pensamos que, mesmo que o homem se tenha desvencilhado dela, por meio de aventuras e outros atalhos, a questão pela vida nunca esteve fora de moda. Porquê quero saber de onde venho e para onde vou, de onde vem e para onde vai tudo o que me rodeia, e que significa tudo isto? Porquê quero saber se morrerei ou não definitivamente e por que desejo eu a morte que não seja um fim absoluto? Ou ainda, terá a existência uma finalidade última, um sentido? [56].

Karl Jaspers, ao falar da situação-limite mostra-nos de que modo a vida está exposta entre dois parênteses [...]:

O nascimento é fato de que não se tem lembrança. Quem se reconhece existindo tem a impressão de que sempre existiu, de que desperta de um sono sem memória. Ouvir falar do próprio nascimento não estimula qualquer recordação. Pessoa alguma guarda experiência do início de seu existir. Estamos todos destinados à morte. Ignorando o momento em que ela virá, procedemos como nunca devesse chegar. Em verdade, vivendo, não acreditamos realmente na morte, embora ela constitua a maior de todas as certezas. A consciência puramente vital desconhece a morte. É preciso que nos demos conta da morte, para que ela se torne uma realidade para nós. A partir daí, transforma-se a morte em uma situação-limite: aqueles que me são mais caros e eu próprio cessaremos de existir. A resposta a essa situação-limite há de ser encontrada na consciência existencial de mim mesmo [57].

 

Tudo indica que, do coronavírus guardaremos certamente várias experiências muitas delas negativas. Ser autêntico é encarar a situação com olhos plenamente expostos ao momento presente. Pois a morte pertence à estrutura do vivente, o que implica uma aceitação. Como defendia Heidegger que, o sentido da vida está na morte, morte entendida como possibilidade sem apelo a transcendência. Ora, tudo o resto é uma questão de hábito, é uma questão de aceitação no momento em que o absurdo tomar conta do nosso destino. Tal como nas palavras de abertura de Meursault. “Hoje, a mãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem. Recebi um telegrama do asilo: sua mãe falecida. Enterro amanhã. Sentidos pêsames. Isto não quer dizer nada. Talvez tenha sido ontem” [58]. A primeira constatação do argumento acima simboliza num tom coloquial a finitude que é a pedra angular de toda narração, o absurdo da vida. “Primeira e, no fundo, a única condição das minhas investigações é preservar precisamente aquilo que me esmaga, respeitando-lhe, consequentemente, o coeficiente de essencial” [59]. O que há de mais simples na nossa vida, é o reconhecimento do absurdo maior que é a morte, que descobrirmos por intermédio da consciência, e quando isso acontece, o absurdo se instala em nós. Viver comodamente, não é uma coisa fácil. Por isso, reinventamos novas formas de vida com os divertimentos de formas a esquecermos de que de facto existimos;

É vão o consolo que se apoia na afirmativa de que sobreviveremos na lembrança de outros, na descendência, em obras imperecíveis, na glória que atravessará os tempos. Tudo chega a um fim: não apenas o que eu sou e o que os outros são, mas também a humanidade e tudo quanto ela produz e realiza. Tudo mergulhará no esquecimento, como se jamais tivesse existido [60].

 

É preciso que saibamos que, a nossa vida está circunspecta, mediante o espaço e tempo. Por intermédio do espaço, nos situamos na realidade em que estamos imersos. Enquanto, o tempo é o devir real, que não tem começo, nem fim: “a morte é o fim, como a vida é o começo da manifestação temporal. A imortalidade, entretanto, é sinônima de uma eternidade em que o passado e futuro desaparecem” [61]. Assim, desprovidos da inautencidade a morte jamais se constituirá como uma novidade para o homem que, se tornou consciente dela. Uma coisa é verdade: da morte não sabemos absolutamente nada, embora ela se constitua como a maior de todas as certezas. Então, podemos considerar a posição de Camus como um pessimismo acerca do sentido da existência? Sigamos atentamente, o parecer de Rui Grácio e José Girão, na obra A cor das ideias:

Aparentemente sim, já que se trata de uma afirmação expressa da absurdidade da existência. Mas só aparentemente. A originalidade da sua posição filosófica consiste, pelo contrário, em conciliar a afirmação da absurdidade da existência com uma perspectiva não derrotista. Ou seja, para ele a vida é absurda, mas isso não significa que devamos ceder ao pessimismo filosófico. Camus afasta-se, assim, da posição daquelas filosofias que ele próprio designa «filosofias da esperança» ou «metafísicas da consolação», tal como expressam no cristianismo e no marxismo. Nestas, a consciência ainda acredita na promessa de uma vida nova, no sonho de que este mundo irracional será um dia explicado. É essa a atitude da fé religiosa que anuncia um meta-mundo de justiça e felicidade plenas no Paraíso que virá no além [62].

 

Nosso propósito é encerrar este subtema com duas categorias centrais da existência humana: vida e morte. No entanto, ao nos referimos na palavra “encerrar”, não significa dizer que, não existam outras versões mais endóceis sobre a vida e morte.

 

Por exemplo, no Livro Tibetano da vida e da morte, Sogyal Rinchopé. Ralata a história de Krisha Gotami: Uma jovem mulher que vivia no tempo de Buda, cujo filho de um ano de idade lhe é arrebatado por uma doença fulminante: esmagada pela dor, e apertando contra si o corpinho querido, Krisha pôs-se a correr pelas ruas, implorando às pessoas que lhe indicassem uma maneira de trazê-lo de novo à vida. Alguns a ignoram, outros pensaram que estava doida, mas finalmente, um homem sensato aconselhou-a a dirigir-se ao Buda. Ela assim o fez e dispôs-lhe o pequenino corpo aos pés e falou do seu desgosto.

O sábio ouviu-a com infinita compaixão e disse-lhe com doçura: há apenas um remédio para o mal que te atormenta. Vai até à cidade e traz-me um grão de mostarda proveniente de uma casa onde nunca tenha havido uma morte […] Krisha bateu a todas as portas, recebendo sempre a mesma resposta: quanto ao grão de mostarda não havia dificuldade; mas quanto ao resto, todos os lares tinham tido os seus mortos, nenhum estava indemne. Quando a jovem mulher vai ter de novo com o Buda, já está no Bom Caminho: no mundo humano, nada é permanente. O único elemento eterno é a própria impermanência o carácter de todas as coisas. Quem for suficientemente louco para ignorar isso se expõe aos piores sofrimentos. Só conseguimos libertar-nos se tomarmos consciência das verdadeiras causas do mal, se nos apercebermos de que elas se prendem com as ilusões de um eu que se apega às suas coisas quando a lei do mundo é a mudança. Nisso reside à sabedoria.

As grandes religiões, cada qual à sua maneira, pretendiam preparar o homem para a morte, para a sua própria morte e para a do ser amado. E era no âmbito dessa iniciação que apelavam à decifração do sentido da vida humana. E as morais antigas, as dos estoicos, por exemplo, mas também a de Montaigne, […] Que acreditava que a sabedoria residia na aceitação de um mundo que incluísse a finitude e que, consequentemente, filosofar era aprender a morrer [63].

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Ao longo deste artigo procuramos trazer à tona o pensamento filosófico e literário do escritor franco-argelino Albert Camus. Não sendo, no entanto, uma visão definitivamente opaca, estendemo-la também a outras concepções existencialistas. O absurdo é na verdade, aquilo que cada um de nós vivencia a partir de uma experiência particular. Mas esta experiência pode ter repercussões negativas que envolvam toda comunidade. Por exemplo, quando um indivíduo decide tirar a sua propria vida, isso não afecta apenas ao malogrado, afecta também a comunidade, os seus parentes naturalmente. Contudo, há problemas na vida cujas respostas continuam mudas e surdas, mas o importante é nunca pararmos de fazer perguntas. Esta é a missão do filósofo, o que também seria a missão de todo homem comum.

O absurdo que hoje se tornou nossa narrativa, sempre nos acompanhará como um fardo perfeito, aliás ele nunca esteve fora de nós. Basta apenas fazermos um pequeno imaginário é a nossa sombra, de vez quando nos assusta e nós apontamos-lhe sempre o dedo por causa do seu peso. Daí que, a existência não pode ser compreendida, ou captada abstractivamente, portanto, existir é, antes de mais nada, arder em chama, é sentir que temos um corpo de argila.

Colocado isto, estendemos o fio por onde passaremos o resto da vida, não há uma vida que não se paute em passagens puramente estreitas. Porém, para nós e de acordo com o nosso autor, a vida deve ser vivida ainda que absurda, sem recorrer a batota, a existência entendida nesses termos, está muito aquem de qualquer lógica. Portanto, que isto não se constitua como motivo de tal risota, mas simplesmente compreender que a existência, o absurdo, não se concatena instaurando mundos extramundanos, viver é fazer viver o absurdo contratacando-lhe com uma doze de ignorância, sem escapá-la, por intermédio do suicídio. Quanto à isto, Sartre nos foi bastante claro. Assim sendo, esperemos que os santos tenham compreendido estes dados,  ainda que por intermédio de uma experiência mistica.

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

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[1] ALBERT, Camus. Nasceu na Argélia, em Mondovi, província de Constantina, a 7 de Novembro de 1913, e morreu num acidente de automóvel em Janeiro de 1960 ao regressar a Paris de uma pequena digressão pela província. Licenciado em filosofia, a doença impediu-o de levar mais longe a carreira de professor. Entrou para o jornalismo. Com a invasão da França ingressou na Resistência, e a Libertação encontrou-o redactor do jornal Combat. O seu nome subira, entretanto, ao primeiro plano das letras francesas e mundiais. Em 1957 sobreveio a consagração do Prémio Nobel da Literatura. Para além de Mito de Sísifo, a sua obra ensaísta é ainda composta por Reverso e o Direito, Núpcias, O Homem Revoltado, O Verão, etc.

[2] António Teca Dicondele, é Licenciado em Filosofia pela Universidade Católica de Angola (UCAN), Instituto Superior Dom Bosco (ISDB), Membro da Organização Académica FILONORG (Angola-Luanda). É formado em Agregação Pedagógica para o Ensino Superior pela mesma Universidade. É também Jornalista estagiário pela Rádio Escola. Nutre maior interesse em Filosofia Existencial, Filosofia Vitalista, e Filosofia da Desconstrução. Com os seguintes contactos: 937 993 828, [email protected].

[3] CAMUS, A. O estrangeiro. Trad. António Quadros. Edição, Lisboa: Livros do Brasil, 2002, p. 114.

[4] PONDÉ, F. Luiz. Filosofia para Corajosos. São Paulo: Editora Planeta, 2016, p. 16.

[5] SCRUTON, Roger. Pensadores da nova esquerda. Trad. Felipe Garrafiel Pimentel. São Paulo: Coleção Abertura Cultural, 2014, p. 60.

[6] PONDÉ, F. Luiz. Filosofia para Corajosos. São Paulo: Editora Planeta, 2016, p. 23.

[7] Ver www.amauriferreira.com. 2012, p. 3.

[8] CRUTON, Roger. Pensadores da nova esquerda. Trad. Felipe Garrafiel Pimentel. São Paulo: Coleção Abertura Cultural, 2014, p. 61.

[9] BENJAMIM, Walter. A modernidade e os modernos. 2ª Edição. Trad. Tânia Jatobá. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2000, pp. 6- 7.

[10] M. Heidegger. Apud. BUCKINGAM, Will [at al]. O livro da filosofia.  Trad. Douglas Kim. São Paulo: Editora Globo, 2011, p. 252.

[11] BENJAMIM, Walter. A modernidade e os modernos. 2ª Edição. Trad. Tânia Jatobá. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2000, p. 8.

[12] BENJAMIM, Walter. A modernidade e os modernos. 2ª Edição. Trad. Tânia Jatobá. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2000, p. 8.

[13] PONDÉ, F. Luiz. Filosofia para Corajosos. São Paulo, Editora Planeta: 2016, p. 28.

[14] BENJAMIM, Walter. O marxismo da melancolia. 3ª Edição. Trad. Leandro Konder. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999, p. 29.

[15] Ibid., p. 29.

[16] CAMUS, Albert. O mito de Sísifo ensaio sobre o absurdo. Trad. Urbano Tavares Rodrigues. Lisboa: Editora Livros do Brasil. 2002, p. 92.

[17] AAVV. Bíblia Sagrada. 5ª Edição. Herculano Alves (cord). Lisboa: Difusora Bíblica, 2008, p. 2057.

[18] CAMUS, Albert. O mito de Sísifo ensaio sobre o absurdo. Trad. Urbano Tavares Rodrigues. Lisboa: Editora Livros do Brasil. 2002, p. 92.

[19] BENJAMIM, Walter. O marxismo da melancolia. 3ª Edição. Trad. Leandro Konder. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999, p. 29.

[20] CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000, p. 25.

 [21] Ver www.amauriferreira.com. 2012, p. 52.

[22] KAZANTZAKIS, Nikos. Zorba, o Grego. 3ª Edição. Trad. Flexa Ribeiro e Guilhermina Sette. São Paulo: Editora Nova Fronteira, S/d. p. 7.

[23] KAFKA, Franz. O Processo. Trad. Torrieri Guimarães. 5ª Edição. São Paulo: Martin Claret, 2016, pp. 185- 186.

[24] PENZO, Giorgio, GIBELLINI, Rosino. Deus na Filosofia do Século XX. Trad. Roberto Leal Ferreira. 2ª Edição. São Paulo: Loyola, 2000, p. 481.

[25] CAMUS, Albert. O mito de Sísifo ensaio sobre o absurdo. Trad. Urbano Tavares Rodrigues. Lisboa: Editora Livros do Brasil, 2002, p. 13.

[26]CAMUS, Albert. O mito de Sísifo ensaio sobre o absurdo. Trad. Urbano Tavares Rodrigues. Lisboa: Editora Livros do Brasil, 2002, p. 22.

[27] Ibid., 21.

[28] CAMUS, Albert. O mito de Sísifo ensaio sobre o absurdo. Trad. Urbano Tavares Rodrigues. Lisboa: Editora Livros do Brasil, 2002, p. 14.

[29] Ibid., 57.

[30] GRAY, John. Sobre humanos e outros animais. 2ª Edição. Trad. Miguel Serras Pereira. Editora, Lua de Papel, Córdoba: 2008, p. 42.

[31] CAMUS, Albert. O mito de Sísifo ensaio sobre o absurdo. Trad. Urbano Tavares Rodrigues. Lisboa: Editora Livros do Brasil, 2002, p. 38.

[32] GRAY, John. Sobre humanos e outros animais. 2ª Edição. Trad. Miguel Serras Pereira. Editora, Lua de Papel, Córdoba: 2008, p. 45.

[33] Ibid., 39.

[34] GRAY, John. Sobre humanos e outros animais. 2ª Edição. Trad. Miguel Serras Pereira. Editora, Lua de Papel, Córdoba: 2008, p. 40.

[35] PENZO, Giorgio, GIBELLINI, Rosino. Deus na filosofia do século XX. Trad. Roberto Leal Ferreira. 2ª Edição. São Paulo: Loyola, 2000. pp. 480- 481.

[36] KAFKA, Franz. O Processo. Trad. Torrieri Guimarães. 5ª Edição. São Paulo: Martin Claret, 2016, p. 24.

[37] KAZANTZAKIS, Nikos. Zorba, o Grego. 3ª Edição. Trad, Flexa Ribeiro e Guilhermina Sette. São Paulo: Editora Nova Fronteira, S/d. p. 16.

 [38] CAMUS, Albert. O mito de Sísifo ensaio sobre o absurdo. Trad. Urbano Tavares Rodrigues. Lisboa: Editora Livros do Brasil, 2002, p. 14.

[39] CAMUS, Albert. O mito de Sísifo ensaio sobre o absurdo. Trad. Urbano Tavares Rodrigues. Lisboa: Editora Livros do Brasil, 2002, p. 18.

[40] Ibid., p. 20.

[41] KAZANTZAKIS, Nikos. Zorba, o Grego. 3ª Edição. Trad. Flexa Ribeiro e Guilhermina Sette. São Paulo: Editora Nova Fronteira, S/d. p. 21.

[42] RUSSELL, Bertrand. História da Filosofia Ocidental. Trad. Brenno Silveira. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1957, p. 43.

[43] NIETZSCHE, Friedrich. Despojos de Uma Tragédia. Trad. Ferreira da Costa, Editora. Educação-Nacional, Ltda, 1944, p. 39.

[44] KAZANTZAKIS, Nikos. Zorba, o Grego. 3ª Edição. Trad, Flexa Ribeiro e Guilhermina Sette. São Paulo: Editora Nova Fronteira, S/d. p. 26.

[45] KAFKA, Franz. O Processo. Trad. Torrieri Guimarães. 5ª Edição. São Paulo: Martin Claret, 2016, pp. 156- 30.

[46] CAMUS, A. O estrangeiro.  Trad. António Quadros. Edição, Livros do Brasil Lisboa: 2002, p. 114.

[47] CAMUS, Albert. O mito de Sísifo ensaio sobre o absurdo. Trad. Urbano Tavares Rodrigues. Lisboa: Editores Livros do Brasil, 2002, p. 58.

[48] Cf. HEIDEGGER, M. Ser Tempo. Petrópolis. Ed. Vozes, 1988. Apud. SILVA, da Bolda Márcio. Metafísica e Assombro. 2ª Edição. São Paulo: Paulus, 1994, pp. 124- 125.

[49] Ver, Revista Superinteressante, Wikipédia, BBC.

[50] CAMUS, Albert. O mito de Sísifo ensaio sobre o absurdo. Trad. Urbano Tavares Rodrigues. Lisboa: Editores Livros do Brasil, 2002, p. 39.

[51] ARVON, Henry. O Budismo. Lisboa, Publicações Europa-América, 1951, p. 45.

[52] CAMUS, Albert. O mito de Sísifo ensaio sobre o absurdo. Trad. Urbano Tavares Rodrigues. Lisboa: Editora Livros do Brasil, 2002, p. 18.

[53] Ibid., pp. 123- 124-127.

[54] DOSTOIVESKI. F. Noites brancas. Trad. Carlos Loures. Brasil: Domínio Público, 2003, p. 39.

[55] GRAY, John. Sobre humanos e outros animais. 2ª Edição. Trad. Miguel Serras Pereira. Editora, Lua de papel, Córdoba: 2008, p. 24.

[56] UNAMUNO, M. Del sentimento trágico de la vida. Apud. G. Rui. G, José. A cor das ideias. Lisboa: Texto Editores, 2005, p. 279.

[57] Cf. JAPERS, Karl. Introdução ao pensamento filosófico. Trad. Leonidas Hegenberg e Octanny Silveira da Mota. São Paulo, Editora Cultrix: 2011, p. 143.

[58] CAMUS, A. O estrangeiro.  Trad. António Quadros, Edição Livros do Brasil Lisboa: 2002, p. 7.

[59] CAMUS, Albert. O mito de Sísifo ensaio sobre o absurdo. Trad. Urbano Tavares Rodrigues. Lisboa: Editores Livros do Brasil, 2002, p. 18.

[60] Cf. JASPERS, Karl. Introdução ao pensamento filosófico. Trad. Leonidas Hegenberg e Octanny Silveira da Mota. Editora Cultrix, São Paulo: 2011, p. 143.

[61] Ibid., p. 149

[62] G. Rui. G, José. A cor das ideias. Lisboa: Texto Editores, 2005, p. 270.

[63] FERY, Luc. O homem- Deus ou sentido da vida.  Edições Asa, 1997. Apud. G. Rui. G, José. A cor das ideias. Lisboa: Texto Editores, 2005, pp. 283- 284.