Mas eu não aprendi assim!

“O mestre conduz seu aprendiz pela floresta. Embora mais velho, caminha com igualdade, enquanto seu aprendiz escorrega e cai a todo instante. O aprendiz blasfema, levanta-se e cospe no chão traiçoeiro e continua a acompanhar seu mestre. Depois de longa caminhada, chegaram a um lugar sagrado. Sem parar, o mestre dá meia volta e começa a viagem de volta.

-Você não me ensinou nada hoje -diz o aprendiz, levando mais um tombo.
-Ensinei sim, mas você parece que não aprende – respondeu o mestre – estou tentando te ensinar como se lida com os erros da vida.

- E como lidar com eles?

– Como deveria lidar com seus tombos- respondeu o mestre- Em vez de ficar amaldiçoando o lugar onde caiu, devia procurar aquilo que o fez escorregar.

Nisso consiste uma das maiores lições que aprendemos na vida: Antes de falar, escute; antes de escrever, leia; antes de ter, consiga; antes de pedir, agradeça; antes julgar, sinta; antes de correr, ande; antes de desistir, tente; antes de saber, aprenda; antes de apender, queira; antes de ter, seja.

O desenvolvimento humano traz em si, uma complexa estrutura de valores que se confunde enquanto se propaga. Essa complexidade compromete a clareza e a coerência de propósitos quando deixa à deriva as perspectivas com que os objetivos precisam ser alcançados, a curto, médio e longo prazo. Tais objetivos precisam resultar em melhoria na qualidade de pessoas que assumirão o comando do porvir, de ações que perpetuem a espécie que se propõem a resistir, evoluindo efetivamente com conquistas e avanços cada vez mais comprometidos com a vida.

Esse tão propagado desenvolvimento humano não pode nem deve representar um simples transmissor de conhecimento, mas induzir a pessoa a pensar, ser dinâmico e conhecedor de suas habilidades e capacidades cognitivas. Essas ferramentas, por certos compõem a grande oferta de engenhos identificados como tecnologias que estão a serviço desse homem que pensa, que sente, que critica, que julga, que assimila e consegue filtrar o que melhor lhe convém parasse manter no comando do seu destino de usar sem se deixar ser usado por quaisquer instrumentos.

Planejar e pensar andam juntos: o homem pensa, distribui suas atividades no tempo. Ele tem sempre em mente, o que fazer, como fazer, para que fazer, com que fazer. O que produzir, como produzir, para quem produzir. Quem não planeja, robotiza. E preciso criar mecanismos que garantam segurança no fazer e resultados que se prolonguem como prolongada deve ser a vida dos que aprendem a melhor maneira de fazer diferente aquilo que outros já realizaram.

Essas observações chamam atenção sobre o aspecto cotidiano da ação de planejar e como o planejamento faz parte da vida. Nesse sentido, o planejamento é um processo que exige organização, sistematização, previsão, decisão e outros aspectos, não pretensão de garantir a eficiência e eficácia de uma ação educativa e outra qualquer, seja em um nível micro, quer, seja no nível macro.

Do ponto de vista educacional para que se melhorem os procedimentos humanos, o planejamento é um ato politico-pedagógico que revela intenções e a intencionalidade, expõe o que se deseja realizar e o que se pretende atingir. “Como lidar com os seus tombos”, diz a lenda. Na medida que uma criança, no seu processo natural de formação encontra seus desafios, ela tem a grande oportunidade de aprender a lidar com a vida e definir com que facilidade ou dificuldade vai deslindar os meandros de caminhos que foram traçados por outros a quem a mesma aprendeu a seguir, a observar, a imitar, a assemelhar-se que acreditar ser esse o melhor caminho, o melhor exemplo, melhor lição aprendida.

Retomando a questão da complexa estrutura em que as crianças têm se debruçado, o panorama descortina-se na formação dos “formadores” e no planejamento ou despreparo dos mesmos, quando, em casa, constroem um espaço para a uma pratica pedagógica não intencional, capaz de provocar situações favoráveis ou não, ao desenvolvimento do “aprendiz” nas diferentes áreas do conhecimento, como no aspecto afetivo emocional, nas habilidades e as atitudes e valores. Na esteira dos valores que precisam ser reconhecidos como norteadores da formação de qualquer ser humano capaz de pensar pelo todo, caso os mesmos não sejam concebidos como esteios de formação, sempre haverá a lacuna no que diz respeito à responsabilidade pela fragilidade dos sistemas de ensino e formação de pessoas. Quem ensinou a quem, e o que deveria ter sido ensinado, será o grande desafio da humanidade. “Aprender com os próprios erros” propõe a lenda. Mas, como lidar com os erros de quem ensinou errado? E quem assim ensinou o fez ciente de que estava certo ou errado? Se aprendeu assim, ensinará assim. Quem aprender assim, pagará pelo erro de quem ensinou. “Ensinei sim, mas você parece que não aprende “.

A vida passa, as experiências vão se sucedendo, as lições vão passando... as coisas vão mudando, as pessoas se acomodam, o tempo não para e com ele uma pergunta: como será o amanhã?

As pessoas já não se cumprimentam, não se olham, não se falam, não se sentem... As calçadas já não são seguras, os passeios já não são prazerosos, o fio de bigode já não vale mais a palavra dada. A palavra já não é honrada. A honra perdeu a hora, o medo cresceu, a segurança se esvai, o amanhã fica cada vez mais difuso, o hoje cada vez mais difícil e o ontem nem parece que foi ontem.

Falar baixo, de repente, é sinônimo de medo, falar alto é indicativo de segurança; sinalizar o equívoco do outro é preconceito, não apontar é concordar; ser honesto é dizer o que pensa, ser justo é não levar desaforo; cuidar do outro, é ser otário; pensar primeiro em si, é ser auto-suficiente; cuidar da natureza é futilidade; gastar o necessário, é pobreza; pensar antes de falar, é perda de tempo... A nudez, é liberdade; o sexo livre é sinal dos tempos; a morte violenta é resultado da competição; discutir gêneros é respeitar os direitos humanos; ser omisso, é ser cauteloso; responder à altura, é ser ousado; silenciar é covardia, estudar não garante sucesso na vida; trabalhar honestamente, pode soar como pessoa pouco esperta; ser esperto, é mais vantajoso; devolver o troco, é pensar pequeno...

Reforçam-se as sensações de que algo muito sério está se processando: muda a vida, muda o homem, que homens sucederão os atuais? “As coisas mudaram muito em termos do que achamos necessário fazer para manter nossos filhos seguros. Um exemplo: só 10% das crianças americanas vão para a escola sozinhas hoje em dia. Mesmo quando vão de ônibus, são levadas pelos pais até a porta do veículo. Chegou a ponto de colocarem à venda vagas que dão o direito de o pai parar o carro bem em frente à porta na hora de levar e buscar os filhos. Os pais se acham ótimos porque gastam algumas centenas de dólares na segurança das crianças. Mas o que se fez pelo filho? Se o seu filho está numa cadeira de rodas, você vai querer estacionar em frente à porta. Essa é a vaga normalmente reservada aos portadores de deficiência. Então, você assegurou ao seu filho saudável a chance de ser tratado como um inválido. Isso é considerado um exemplo de paternidade hoje em dia. (IstoÉ , 22/07/2009)”

Diante de tantos recortes atribuídos aos novos tempos, urge levantar uma crítica, uma preocupação com nosso futuro próximo. O caminho que a nova geração vem trilhando é um tanto preocupante. Não é saudosismo, nostalgia, nem uma atitude de conservador, apenas uma reflexão sobre: se o homem mudou, os tempos são outros... ou quem mudou foi o tempo e o homem é o mesmo... que caminhos são esses?

De repente, para as crianças um estranhamento: como assim, nesse planeta? Para os adultos, uma oportunidade para hesitar e, “ouvi meus pais falando isso...” Para os de meia idade, “... e ninguém se frustrou, ninguém ficou revoltado, somos uma geração que aprendeu a aprender como viver bem...” Para os idosos, quanta saudade!

Se parafrasearmos um trecho do reflexivo relato autobiográfico “ ...saudades de que não me lembro: “ Nasci com 57 anos. 24 legados do meu pai e 23 herdados de minha mãe. Não mais que de repente, guardo as proezas do meu pai, como exemplo e o sofrimento de minha mãe, como lições. Assim, quando eu estiver com 3 anos, terei o direito de brincar como uma criança de três anos, mas por ter 60 anos de uma história meio complexa e mal resolvida, dos meus pais, tenho que pensar como um sexagenário, com as marcas do tempo e registros de vidas que me servirão de motivação para o meu tempo e sempre que precise alargar minha consciência de ser o homem de hoje, sou o somatório das experiências do ontem que me foram passadas ao sabor das inovações, da tecnologia, da inteligência artificial, dos valores desvalorizados pela valorização das oportunidades.    

  • Sebastião Maciel Costa