LEITURA E FORMAÇÃO DE LEITORES  

Ludmilla `Paniago Nogueira      

Neide Figueiredo de souza

A leitura no Ensino Fundamental é obrigatória, tal como indica o Art. 32, da Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional – LDB 9394/96, o qual expressa:

 

O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante: I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo. (PCNs, 2017, p. 23).

 

É também descrita nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs (2001), referencial de apoio às práticas pedagógicas, elaborado pelo Governo Federal para nortear as equipes escolares na execução de seus trabalhos, que encontramos o tópico Prática de leitura. “O documento propõe que a escola desenvolva um projeto de educação comprometida com o desenvolvimento do sujeito de modo a permitir a intervenção na realidade e sua consequente transformação.”, afirma Werner (2017,

p. 28). E esse documento traz a seguinte definição para a leitura:

 

A leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto, a partir dos seus objetivos, do seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a língua: características do gênero, do portador, do sistema de escrita, etc. (PCNs, 2001, p. 53).

 

Em relação a trabalhar a leitura como uma prática, de acordo com os PCNs (2001, p. 54-55): “significa trabalhar com a diversidade de objetivos e modalidades que caracterizam a leitura, ou seja, os diferentes para “quês”- resolver um problema prático, informar-se, divertir-se, estudar, escrever ou revisar o próprio texto.”. O ensino da leitura e da escrita é um ato um pouco complexo na atual situação, principalmente porque compete com os avanços tecnológicos que demandam dos professores mecanismos que tornem o ato de ler interessante e motivador.

Cabe à educação institucionalizada uma prática que permita ao professor criar condições para que todos os seus alunos sejam protagonistas de seu aprendizado, com o objetivo de fazer referência como instrumento necessário para compreender e transformar a realidade social, política e cultural de tornar seu mundo mais amplo, garantindo-lhes condições fundamentais para o exercício da cidadania.

 

A leitura é uma das ferramentas mais importantes disponibilizadas aos alunos para o relacionamento social com o mundo exterior. A capacidade de ler e escrever é muito importante, pois é ela que é responsável por selar seu futuro. Os professores devem, então, incentivar o aluno na agradável busca pela prática da leitura, evitando exercícios mecânicos de compreensão de textos. Essas práticas de leitura começam no momento da existência individual na leitura do mundo e continuam ao longo da vida. Como explicam Martins e Galhart (2015):

 

O hábito da leitura não é algo que acontece naturalmente. Não nascemos gostando ou querendo ler. As experiências com leitura no processo de formação do leitor são imprescindíveis para adquirir o hábito da leitura. E antes que se torne um hábito é preciso desejar ler, se deliciar com o que lê ter prazer ao ler. E isto não acontece espontaneamente. (MARTINS, GALHART, 2015, p. 02).

 

Por não acontecer espontaneamente e também não promover uma leitura automática, entendemos que, para superar a mecanicidade, são necessárias práticas eficazes de ensino e aprendizagem da leitura, levando o aluno a descobrir a identificação da diversidade de materiais disponíveis e tornar o aprendizado mais agradável. Segundo os PCNs (2001, p. 54): “A leitura na escola tem sido fundamentalmente um objeto de ensino, para que esta se constitua em um objeto de aprendizagem é necessário que tenha sentido para o aluno”.

Outro importante documento base da educação escolar é a BNCC - Base Nacional Comum Curricular, homologada em 20 de dezembro de 2017 e aprovada pelo Conselho Nacional de Educação – CNE, em 04 de dezembro de 2018, com a pretensão que a mesma seja implementada em todas as escolas públicas e privadas até 2022. Este documento foi previsto em 2014 pelo Plano Nacional de Educação (PNE) para nortear os currículos e propostas pedagógicas das escolas públicas e privadas de Ensino Básico, e sua primeira versão foi publicada em 2015, apenas para consulta pública. Após essa apreciação, o documento foi dividido em duas partes: Educação Infantil/Ensino Fundamental e Ensino Médio.

Com a divisão, a primeira parte foi aprovada em dezembro de 2017, mediante algumas mudanças: inclusão do Ensino Religioso, alfabetização antecipada, obrigatoriedade da Língua inglesa, e uso de tecnologias para aprendizagem. Findada essa primeira parte, o Ministério da Educação – MEC retomou à BNCC Ensino Médio, sendo esta aprovada pelo CNE no final em dezembro de 2018, trazendo: Português e matemática como matérias com carga horária obrigatória nos três anos do Ensino Médio e as demais, distribuídas no decorrer dos três anos do Ensino Médio, podendo até mesmo, ser concentradas em apenas um ano.

Como documento de orientação curricular, a BNCC e os currículos orientam a LDB e as DCNs com foco na formação e no desenvolvimento humano global, nas dimensões: intelectual, física, afetiva, social, ética, moral e simbólica (MEC, 2019).

Quanto ao eixo da leitura a BNCC (MEC, 2019) propõe que:

 

Nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental, a ação pedagógica deve ter como foco a alfabetização, a fim de garantir amplas oportunidades para que os alunos se apropriem do sistema de escrita alfabética de modo articulado ao desenvolvimento de outras habilidades de leitura e de escrita e ao seu envolvimento em práticas diversificadas de letramentos. (MEC, 2019, p. 55).

 

Segundo a BNCC (MEC, 2019), o Parecer CNE/CEB nº 11/20105 afirma que às crianças deve se oportunizar o conhecimento do mundo por meio do exercício da leitura e da escrita de forma mais significativa, com outros olhares. E o tratamento das práticas leitoras compreende dimensões inter-relacionadas às práticas de uso e reflexão, no eixo da oralidade, por exemplo, no qual se encontra a contação de histórias. De acordo com a BNCC (MEC, 2019):

 

O Eixo da Oralidade compreende as práticas de linguagem que ocorrem em situação oral com ou sem contato face a face, como aula dialogada, webconferência, mensagem gravada, spot de campanha, jingle, seminário, debate, programa de rádio, entrevista, declamação de poemas (com ou sem efeitos sonoros), peça teatral, apresentação de cantigas e canções, playlist comentada de músicas, vlog de game, contação de histórias, diferentes tipos de podcasts e vídeos, dentre outras. Envolve também a oralização de textos em situações socialmente significativas e interações e discussões envolvendo temáticas e outras dimensões linguísticas do trabalho nos diferentes campos de atuação. (MEC, 2019, p. 78).

 

Incumbe ao professor compreender que, para aprender a ler, é necessário interagir com a diversidade de textos escritos, participar de atos de leitura, proporcionar formas de aprendizagem que levem o aluno a questionar, a expor seu ponto de vista sobre o que lê. A leitura é um dos meios mais eficazes para desenvolver a linguagem sistemática, é uma das atividades mais importantes de aquisição de conhecimento e avanço social, econômico e cultural. A BNCC (MEC, 2019) foca a leitura como um processo no qual o leitor participa ativamente de modo a compreender e interpretar o que lê, a partir do desenvolvimento de suas habilidades (prática da escuta, sendo essa compartilhada e autônoma) e competências leitoras (conhecimento cultural, linguístico e argumentativo). Diante da BNCC espera-se um leitor não passivo, mas sim, emergente e competente


Porém, como ressaltam Martins e Galhart (2015):

 

O hábito da leitura não é algo que acontece naturalmente. Não nascemos gostando ou querendo ler. As experiências com leitura no processo de formação do leitor são imprescindíveis para adquirir o hábito da leitura. E antes que se torne um hábito é preciso desejar ler, se deliciar com o que lê ter prazer ao ler. E isto não acontece espontaneamente. (MARTINS, GALHART, 2015, p. 03).

 

Kleiman (2002) chama-nos a atenção ao afirmar que a leitura cada dia mais ocupa menos espaço no cotidiano brasileiro, e isso se deve, segundo a autora, ao empobrecimento do ambiente e do material escrito com os quais o aluno entra em contato, seja dentro ou fora da escola. Outro motivo seria “a própria formação precária de um grande número de profissionais da escrita que não são leitores, tendo, no entanto, que ensinar a ler e a gostar de ler. Para formar leitores, devemos ter paixão pela leitura.” (p. 15).

O que podemos entender das afirmações acima é que, para a leitura se tornar um hábito para o aluno, ela deve antes ser mostrada, vivenciada na escola e na família como algo prazeroso, que leva ao conhecimento, que não se trata de um amontoado de palavras e frases vazias. Kleiman (2002) cita Lionel Bellenger para nos explicar de uma forma mais poética o que é a leitura:

Em que se baseia a leitura? No desejo. Esta resposta é uma opção. E tanto o resultado de uma observação como de uma intuição vivida. Ler é identificar-se com o apaixonado ou com o místico. É ser um pouco clandestino, é abolir o mundo exterior, deportar-se para uma ficção, abrir o parêntese do imaginário. Ler é muitas vezes trancar-se (no sentido próprio é figurado). É manter uma ligação através do tato, do olhar, até mesmo do ouvido (as palavras ressoam). As pessoas lêem com seus corpos. Ler é também sair transformado de uma experiência de vida. é esperar alguma coisa. E um sinal de vida. Um apelo, uma ocasião de amor sem a certeza que se vai amar. (BELLENGER apud KLEIMAN, 2002, p. 15).

Ainda que a citação acima exale a leitura como atividade sempre prazerosa, o que muitas vezes percebemos em sala de aula principalmente, como um ato tradicional, difícil, sem sentido e chato de decifração de palavras.

 

 REFERÊNCIAS 

 

BRASIL/MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais. 3. ed. Brasília - DF: MEC, 2001.

MARTINS, Iloine Maria Hartmann; GALHART, Anna Carolina. O professor um contador de histórias na formação de leitores. EDUCERE - XII Congresso Nacional de Educação, PUCPR, 26 a 29 out. 2015.

MEC. BNCC – Base Nacional Comum Curricular. Ministério de Educação –     MEC / Conselho Nacional de Secretários de Educação – CONSED / União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação – UNDIME, 2019. Disponível em:<http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_20dez_site.pdf>. Acesso em: 21 mar. 2020.