Educação Infantil: Espaço de Interações
Por Ludmilla Paniago Nogueira | 18/12/2017 | EducaçãoPor, Ludmilla Paniago Nogueira
Joziane Lopes dos Santos
As situações de aprendizagem deverão abranger os “recursos e capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas, previamente estabelecidos pelas crianças, aos conhecimentos humanos já produzidos”, como argumenta Arce & Martins (2007, p. 19). A isso se chama valorização do pré-conhecimento da criança. As autoras enfatizam que o professor é então o responsável pelo acompanhamento do desenvolvimento da criança quando planeja as atividades, pois estas devem estar de acordo com as propostas curriculares da educação infantil, “respeitando a criança como sujeito de direito”, como enfatizam Arce & Martins (2007, p. 21).
A educação infantil então é administrada como assistencialista e preparatória para o ingresso da criança na primeira série do ensino fundamental; também, é há a preocupação em promover a aprendizagem sem deixar de complementar à educação familiar. De acordo com Arce & Martins (2007, p. 22), “o conhecimento é construído a partir da interação que as crianças estabelecem com outras crianças e com o meio, [...]. [...] visão construtivista de conhecimento,” que Segundo Evans (1980), esta visão foi iniciada por Piaget, na qual defende que o conhecimento vem da assimilação, um mecanismo de ampliação ou modificação, ao que Piaget chamou de acomodação.
O educador precisa então, “provocar” a criança, instigar a modificação, para a construção de novos conhecimentos, estabelecendo um processo ativo e organizado de assimilação do novo ao já construído e vice versa, com articulações e aproximações mais sucessivas, completando o processo ao qual Piaget chamou de adaptação. A cada adaptação realizada gera uma nova assimilação, novas acomodações, formando um movimento ao que Piaget chamou de processo de equilibração. Piaget considerava que todo conhecimento é uma construção, uma interação, contendo um aspecto de elaboração do novo.
Ensinar na educação infantil significa atender as necessidades biológicas, envolvendo as relações humanas e afetivas, ampliando os conhecimentos da criança acerca desses aspectos para que ela consiga autonomia e independência. As atividades nessa fase da educação devem ser lúdicas, trabalhadas num conceito em que a criança “aprende fazendo, aprende brincando”, aprende prazerosamente, expressando suas habilidades cognitivas, autonomia, independência, sua identidade com criatividade, aumentando sua auto-estima.
Nesse contexto o professor orienta, facilita, promove a interação da criança, mas sem definir quando e como elas aprendem, visto que, segundo Arce & Martins (2007, p.27), “o conhecimento não pode ser passado do professor para o aluno, já que esse último o constrói. Não há como planejá-lo, pois as crianças determinam o que, como e quando aprender.”.
Contudo, o não planejar significa não forçar a aprendizagem, deixá-la acontecer no tempo da criança. De acordo com Rocha (1999, p. 70, apud Arce & Martins, 2007, p. 30), “enquanto a escola tem como sujeito o aluno, e como objeto fundamental o ensino em diversas áreas, através da aula, a creche e a pré-escola têm como objeto as relações educativas travadas num espaço de convívio coletivo que tem como sujeito a criança de 0 a 6 anos de idade [...]”. Por isso na educação infantil o educador deve promover a aprendizagem significativa a partir das pré-concepções da criança.
Quando se trata da interação criança-criança, deve-se considerar que desde muito cedo a criança se sente bem, ou não, ante a presença de outra criança, e nessa relação existe a motivação, uma “parceria social”, percebida quando as crianças desenvolvem determinada atividade, e se mostram, por exemplo, agressivos. É a competição, sinal de interação. Nessa fase as crianças interagem por meio da linguagem verbal e não verbal, interagindo-se umas com as outras, segundo preconiza o RCNEN (1998).
É importante lembrar que a escola é o espaço onde as interações acerca da criança acontecem, portanto, não deve sistematizar o saber afastando-o do cotidiano da criança, diferentemente do que comentam Arce & Martins:
O dia-a-dia das crianças e toda a bagagem oriunda deste constituir-se-ão apenas em pontos de partida a serem superados. A escola passa a ser um momento de suspensão da vida cotidiana, para isso artificializa-se, apresenta-se como um ambiente criado, planejado pelos adultos que intencionalmente educam as crianças em seu interior (Arce & Martins, 2007, p. 31).
O ato de ensinar sistematizado garante apenas a reprodução. O que não significa deixar de planejar. Sob essa visão o planejamento também está ligado à formação do professor e à sua prática pedagógica. No artigo 3º da Lei 11.274 de 06/02/2006 consta:
art. 32 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação: "Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante: [...] (Planalto Do Governo, Brasil, 2006).
Essa lei tem causado questionamentos entre os gestores educacionais e professores, pois a transição de oito para noves anos no ensino fundamental implicaria em sua reorganização, um desafio. Mas segundo Arce & Martins (2007, p. 37), “o que em debate é a infância na educação básica”. Assim, percebe-se que a mudança não acontece somente a partir do ensino fundamental, pois isso refletiu também na educação infantil oferecida pelas creches e pré-escolas. A preocupação implica na revisão dos projetos político-pedagógicos,
[...] principalmente no que se referem à concepção de infância, alfabetização, letramento, desenvolvimento humano, processo de aprendizagem, metodologias de ensino, organização do tempo escolar e currículo; definição de políticas de formação continuada; instalações físicas, etc. (Arce & Martins, 2007, p. 38-39).
O desenvolvimento na fase da educação infantil é uma transformação cultural e somente observa-se essa transformação quando na realização das atividades. Segundo Arce & Martins (2007, p. 45), Vygotsky afirmava que “o desenvolvimento da criança transcorre de modo lento e processual, contendo uma dinâmica interna essencial e entrelaçamento do que denominou como linhas centrais do desenvolvimento e linhas acessórias do desenvolvimento”. Pode-se celebrar então, que a criança possui uma dinâmica interior, que sofre transformações qualitativas, se reestrutura.