Currículo: um conjunto de experiencias e conhecimentos que a instituição oferece às crianças 

Este artigo tem como propósito, conhecer o currículo para a educação infantil, apresentaremos algumas implicações que dizem respeito à organização de materiais, ao mesmo tempo/espaço, aos conteúdos e as metodologias de ensino e avaliação. De acordo com Silva (2003), o currículo corresponde a um conjunto de experiencias e conhecimentos que a instituição oferece às crianças e pode ser um elemento de transformação ou manutenção das relações de poder, pois, privilegiada um tipo de conhecimento. Proporcia qualidade ao ensino e, conforme Sacristán (1995, p.125), “a escolaridade é uma percussão para os alunos, e o currículo é seu recheio, seu conteúdo, o guia de seu progresso pela escolaridade”. Compreende um conjunto de intenções que impulsionam a prática pedagógica na educação infantil.

 Silva (2003) quando afirma:

 

O currículo é lugar, espaço, território. O currículo é relação de poder. O currículo é trajetória, viagem, percurso. O currículo é autobiografia, nossa vida, curriculum vitae: no currículo se forja a identidade. O currículo é texto, discurso, documento. O currículo é documento de identidade (SILVA,2003, p.150).

 

De acordo com a autora, o currículo reflete a intencionalidade da ação e na educação infantil acontece por meio da riqueza de experiencias, norteadas por objetivos voltados para o desenvolvimento infantil em seus aspectos afetivos, cognitivos e sociais.

Acrescenta que, cada instituição de educação infantil constrói o seu currículo a partir das orientações oriundas do governo federal, e o conhecimento é estruturado e articulado a partir das vivencias das crianças que são consideradas sujeitos históricos e de direito, que realizam constantes interações em seu cotidiano. Assim, na educação infantil é importante valorizar o lúdico, possibilitar o contato com diferentes linguagens, brincadeiras e favorecer o desenvolvimento da cultura infantil, enfim, dar condições para que a criança construa seu conhecimento, desenvolvendo competências e habilidades, construindo, assim, a sua identidade.

A proposta curricular que contempla o trabalho em grupo, o desenvolvimento de projetos, possibilita uma vivencia social rica de oportunidades que influenciam a construção da personalidade infantil. Cabe ao professor conhecer a comunidade onde a escola está inserida, suas manifestações e maneira de viver.

As Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil (Resolução CEB n.1, de 7 de abril de 1999) apontam subsídios que orientam para a construção dessa proposta:

Art. 3º - São as seguintes as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil: I – As Propostas Pedagógicas das Instituições de Educação Infantil, devem respeitar os seguintes Fundamentos Norteadores: a) Princípios Éticos da Autonomia, da Responsabilidade, da Solidariedade e do Respeito ao Bem Comum; b) Princípios Políticos dos Direitos e Deveres de Cidadania, do Exercício da Criticidade e do Respeito à Ordem Democrática; c) Princípios Estéticos da Sensibilidade, da Criatividade, da Ludicidade e da Diversidade de Manifestações Artísticas e Culturais. II – As Instituições de Educação Infantil ao definir suas Propostas Pedagógicas deverão explicitar o reconhecimento da importância da identidade pessoal de alunos, suas famílias, professores e outros profissionais, e a identidade de cada Unidade Educacional, nos vários contextos em que se situem. III – As Instituições de Educação Infantil devem promover em suas Propostas Pedagógicas, práticas de educação e cuidados, que possibilitem a integração entre os aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivo/linguísticos e sociais da criança, entendendo que ela é um ser completo, total e indivisível. IV – As Propostas Pedagógicas das Instituições de Educação Infantil, ao reconhecer as crianças como seres íntegros, que aprendem a ser e conviver consigo próprios, com os demais e o próprio ambiente de maneira articulada e gradual, devem buscar a partir de atividades intencionais, em momentos de ações, ora estruturadas, ora espontâneas e livres, a interação entre as diversas áreas de conhecimento e aspectos da vida cidadã, contribuindo assim com o provimento de conteúdos básicos para a constituição de conhecimentos e valores. V – As Propostas Pedagógicas para a Educação Infantil devem organizar suas estratégias de avaliação, através do acompanhamento e dos registros de etapas alcançadas nos cuidados e na educação para crianças de 0 a 6 anos, “sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental”.

VI – As Propostas Pedagógicas das Instituições de Educação Infantil devem ser criadas, coordenadas, supervisionadas e avaliadas por educadores, com, pelo menos, o diploma de Curso de Formação de Professores, mesmo que da equipe de Profissionais participem outros das áreas de Ciências Humanas, Sociais e Exatas, assim como familiares das crianças. Da direção das instituições de Educação Infantil deve participar, necessariamente, um educador com, no mínimo, o Curso de Formação de Professores. VII - O ambiente de gestão democrática por parte dos educadores, a partir de liderança responsável e de qualidade, deve garantir direitos básicos de crianças e suas famílias à educação e cuidados, num contexto de atenção multidisciplinar com profissionais necessários para o atendimento. VIII – As Propostas Pedagógicas e os regimentos das Instituições de Educação Infantil devem, em clima de cooperação, proporcionar condições de funcionamento das estratégias educacionais, do uso do espaço físico, do horário e do calendário escolar, que possibilitem a adoção, execução, avaliação e o aperfeiçoamento das diretrizes. Art. 4º - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, ficando revogadas as disposições em contrário. (CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO,1999).

 

 

Para a autora, na educação infantil não temos garantia a obrigatoriedade de uma proposta curricular, pois o RCNEI constitui um documento que compreende orientações curriculares de forma não prescritiva. Baseadas, Huguet e Solé (1999) apresentam alguns subsídios para a construção do currículo: análise sociocultural, psicológica voltada para as etapas do desenvolvimento infantil, disciplinar e pedagógico. Coloca a necessidade de um currículo construído a partir das necessidades de cada escola.

Acrescenta que as discussões sobre as questões curriculares não podem se limitar as concepções sobre o ensino e a aprendizagem, mas devem estar atentas em como organizar as situações de aprendizagem na instituição, levando em consideração o espaço/tempo destinado ao trabalho com o conhecimento. Essa organização curricular não é neutra e deve envolver um olhar crítico para o nosso aluno, reflexão coletiva dos coordenadores e professores para repensarmos nossos currículos e nossas práticas pedagógicas. Assim, é importante refletimos sobre os diferentes modelos teóricos de currículo em sua abordagem conceitual e histórica, para entendermos nossa prática. Recorte retirado do livro, Organização do trabalho pedagógico na educação infantil: Reflexão e pesquisa.p.18-19

 

Referência Bibliográfica

 

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. RESOLUÇÃO CEB Nº 1, DE 7 DE ABRIL DE 1999Disponível em: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/resolucao_ceb_0199.pdf

SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: Uma introdução às teorias do currículo.2. ed. Belo HORIZONTE: Autêntica, 2003.

Vagula, Edilaine, Organização do trabalho pedagógico na educação infantil: Reflexão e pesquisa./Edilaine Vagula, Marlizete Cristina Bonafini Steinle.- 1.ed.- São Paulo:Pearson Education do Brasil,2013.p.18-19

Karina de Azevedo Santiago