Haroldo Luiz Costa Lopes dos Anjos[1]

RESUMO

Este artigo discute a Ética na Educação a partir da perspectiva de que o ser humano é um ser social-histórico, com uma visão ampla e ao mesmo tempo sintética e de uma visão de educação como ato de libertação. Refletir e seleciona alternativas buscadas pelo homem para atender às suas necessidades, determinando o seu perfil e sua forma ética de atuação, porque o "objeto da Ética é o ato humano, e o ato humano é produzido pela vontade."

Palavras-chave: educação, comportamento, ética, cidadania.

ser humano vive, age e convive em sociedade. Não é um ser isolado, é participante ativo do processo, pois interage é integrado e influenciado pelo grupo, pela sociedade, pela cultura, pelas concepções, pelo meio e por todos os fenômenos dos quais participa.

Para melhor entendimento, classifica-se o comportamento humano em três tipos figurativos:

1. Comportamento vegetal: quando a pessoa, tal e qual uma planta, espera que o mundo à sua volta lhe dê vida e resolva as suas coisas. A planta busca a sobrevivência.

2. Comportamento animal: quando a pessoa realiza somente os seus instintos ou faz exata e somente o que aprendeu, sem nada lhe acrescentar.O animal busca saciedade.

3. Comportamento humano: quando a pessoa usa sua inteligência e superando os problemas busca a felicidade. A felicidade é a saciedade da alma. Mas fica então a pergunta: O que é a felicidade da felicidade? (DEMO, 2000, p. 87).

A psicologia tradicional tem se voltado à análise e resolução dos conflitos pessoais. Mas é inexorável que a psicologia contemporânea analise a resolução em relação aosconflitos sociais já que o único ser vivo que tem civilização, mas cujos filhos pequeninos desrespeitam, ofende, agridem seus próprios pais, é o ser humano.

Hoje não é aconselhável dizer somente que: quem ama, cuida! É necessário que se diga: quem ama, educa! É um educar para ser integrado não só nos seus relacionamentos com os seus amados, próximos e mesmo distantes, mas também com o seu próprio ecossistema.

Não se podem separar os aspectos éticos da vida do indivíduo da sua vida social ou profissional. Há uma unidade da pessoa e uma coisa leva necessariamente a outra. O que se é como pessoa afeta às várias dimensões da vida. Uma ação moralmente negativa, por exemplo: no descuido do patrimônio de outro ou o uso indevido do dinheiro da empresa ou o desperdício do tempo de trabalho, afeta progressivamente o próprio caráter.Afeta o ser. Agir de acordo com os princípios éticos de forma habitual leva a prática das virtudes, isto é à busca da excelência como pessoa. Caso contrário deteriora-se a vida moral pela aquisição dos maus hábitos ou vícios.

Há duas palavras gregas, parecidas, que explicam o sentido etimológico de Ética: ethos e éthos.

Ethos significa costume. Refere-se a usos e costumes de um grupo. Nos grupos humanos primitivos os costumes são decisivos para a conduta dos indivíduos. Nesse estágio, a moral e o direito são os costumes. A Ética do grupo é também a Ética dos indivíduos, o modo de ser do grupo é o modo de ser de cada indivíduo.

Éthos significa domicílio, moradia. É a morada habitual de alguém, o país onde alguém habita. Passou a designar a maneira de ser habitual, o caráter, a disposição da alma. Caráter é marca sigilo, timbre ou disposição interna da vontade que a inclina a agir habitualmente de determinada maneira. Hábito, para o bem ou para o mal, virtuoso ou vicioso, é quase segunda natureza, fonte de atos. (Hábito é efeito de atos, pois a repetição de atos causa o hábito; mas uma vez adquirido, o hábito toma-se causa de atos).

Pois bem, etimologicamente, Ética, seja de ethos seja de éthos, as duas palavras são parentas, chega-se ao mesmo sentido — via costumes ou via morada habitual. Os dois caminhos levam à conduta humana.

Segundo o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda, ÉTICA é o estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana susceptível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja de modo absoluto.

Segundo A ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que são, mas que não são fáceis de explicar, quando alguém pergunta(VALLS, 1993, p.7).

A Ética procura um pensamento que tenha valor absoluto de verdade. Procura um querer e um agir que tenha valor absoluto de bem. Os valores singulares são necessariamente históricos e relativos. O singular pode ser verdadeiro, mas não é a verdade; pode ser bom, mas não é o bem. A Filosofia aponta para valores universais e absolutos, mesmo sabendo que são humanamente inatingíveis. A Ética se propõe a indicar um valor universal para toda a atividade humana, um bem que tenha valor sempre, um valor-guia para todos os atos humanos.

Ética não é ciência mecânica, não é técnica que se aprende, põe-se a funcionar e funciona. Nem é ciência, como a lógica, voltada para a inteligência: aprende-se, põe-se em prática, é eficiente. A Ética dirige-se à vontade, ao âmago do ser humano, à cons­ciência. Mais do que ciência, Ética é sabedoria. Supõe o saber, mas é o que fica quando se esquece tudo o que se aprendeu. Permanece o caráter, o hábito, que se for bom, é virtude.

Da Ética ocuparam-se todos os filósofos, também os pré-socráticos por Aristóteles considerados físicos e fisicíssimos. Mesmo ocupando-se mais de Cosmologia do que de Antropologia, como Pitágoras e pitagóricos, como Leucipo e Demócrito, os mais físicos de todos, enriqueceram a humanidade com os mais elevados ensinamentos éticos.

Da Ética ocupou-se a vida inteira Sócrates.

Sobre a Ética discorreu Platão em todos os seus diálogos. Aristóteles legou-nos quatro tratados de Ética. E quando morria Aristóteles, nascia Zenão de Cício, o fundador do Estoicismo, que reduziu toda a Filosofia à Ética.

Para a ética não basta que exista um elenco de princípios fundamentais e direitos definidos nas Constituições. O desafio ético para uma nação é o de universalizar os direitos reais, permitindo a todos a cidadania plena, cotidiana e ativa.

Segundo Guerreiro (1995, p.98):

Ética não se restringe à descrição de costumes ou hábitos de diferentes povos. Esta descrição seria Etiologia ou Etnografia. O objeto real da Ética vai além do sentido etimológico. (Como Economia — etimologicamente é apenas administração da casa — na realidade a Economia ocupa-se de questões que vão muito além da casa). A Ética procura princípios que dirijam a consciência na escolha do bem e concentra sua atenção na vontade humana (como a lógica, na inteligência), porque o objeto da Ética é o ato humano, e o ato humano é produzido pela vontade.

Ética não é ciência mecânica, não é técnica que se aprende, põe-se a funcionar e funciona. Nem é ciência, como a lógica, voltada para a inteligência: aprende-se, põe-se em prática, é eficiente. A Ética dirige-se à vontade, ao âmago do ser humano, à cons­ciência. Mais do que ciência, Ética é sabedoria. Supõe o saber, mas é o que fica quando se esquece tudo o que se aprendeu. Permanece o caráter, o hábito, que se for bom, é virtude.

Se, como cidadãos têm experimentados o hábito de avaliar certas práticas sociais e profissionais a que estamos ligados no dia-a-dia, não se pode dizer que o mesmo venha ocorrendo explicitamente e com a mesma freqüência quando colocamos a educação escolar em pauta.Raras são às vezes em que a discussão ética é presenciada de modo explícito no campo pedagógico, principalmente entre os pares escolares - e a lacunabibliográficasobreotemaéumaevidênciamais quesuficientedoestadoincipiente das discussões na área.Além disso, se a escola é uma das práticas sociais (e o trabalho pedagógico, uma das práticas profissionais) fundamentais da vida civil contemporânea, algo nela parece estar fora da ordem ou, no mínimo, em descompasso quando comparado à efervescência de outras instituições sociais como, por exemplo, a instituição Família.

A educação é uma socialização das novas gerações de uma sociedade e, como tal, conserva os valores dominantes (a moral) naquela sociedade. A educação é também uma possibilidade e um impulso à transformação: desenvolvimento das potencialidades dos educandos.

A Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional:

Art. 1º. A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.

A educação é uma ação interativa: se faz mediante informações, comunicação, diálogo entre seres humanos. Em toda educação há um outro em relação. Em toda educação, por tudo isso, a ética está implicada. Uma educação pode ser eficiente como processo formativo e ao mesmo tempo, eticamente má, como foi a educação nazista, por exemplo. Pode ser boa do ponto de vista da moral vigente e má do ponto de vista ético.

A educação, na verdade, é a arte de conduzir adolescentes e jovens a um padrão de excelência, este conceito precisa ser resgatado, uma vez que a educação deve contribuir não somente para a construção de conhecimento, mas também, construção de cidadania, uma vez que o que caracteriza o cidadão é sua participação na vida social, a fim de melhorar suas vidas e a de outras pessoas e, que o ser humano-cidadão seja sábio, coerente, humilde, corajoso, correto e autêntico consigo mesmo e com os demais. Ser justo nas críticas e sábios no pensar. Capaz de perceber primeiro seus próprios erros para assim perceber os erros dos outros.

No sentido etimológico da palavra, cidadão deriva da palavra civita, que em latim significa cidade, e que tem seu correlato grego na palavra politikos – aquele que habita na cidade.

Segundo o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, "cidadania é a qualidade ou estado do cidadão", entende-se por cidadão "o indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um estado, ou no desempenho de seus deveres para com este".

Educar para os limites é submeter a graves riscos os jovens e adolescentes. A idéia que está por trás dos limites é que a liberdade é um fim e não um meio. Diz-se: "o jovem é livre, mas não deve ultrapassar o limite". Falso. O jovem não é mais livre quando faz o que quer dentro de determinadas fronteiras. O jovem exercita melhor a sua liberdade quando escolhe dar o melhor de si, quando aspira a excelência humana, quando aspira a coisas grandes.

Os "limites" tornaram-se da quintessência da educação atual: pais e educadores usam e abusam desse conceito, achando que assim mantêm os jovens longe de problemas. Assim, esquecem-se de que é muito mais fácil cair quando se diz "seu limite é à beira do precipício" do que dizer "ande por aqui, longe do perigo". A educação, na verdade, é a arte de conduzir adolescentes e jovens a um padrão de excelência. É este o conceito que precisa ser resgatado.

A educação ética ou a ética na educação acontece quando os valores no conteúdo e no exercício do ato de educar são valores humanos e humanizadores: a igualdade cívica, a dignidade da pessoa, a justiça, a democracia, a solidariedade, o desenvolvimento integral de cada um e de todos, respeitando suas potencialidades.

Segundo Paulo Freire (1987, p. 14).

O ato de estender algo a alguém é um "equivoco gnosiológico". Estender o conhecimento até a "fonte da ignorância", sem permitir que aquele que constrói seu próprio conhecimento possa refletir e questionar, não é um ato educativo e formativo, mas um ato de opressão, que destrói todas as potencialidades do ser humano, tornando-os apenas um objeto capaz de produzir o inútil e o indesejável. Aniquila a sua capacidade de ver o mundo e entendê-lo.

Os valores humanos são a questão chave para a boa convivência humana. Animar e estimular a prática dos ideais elevados é o melhor legado que podemos oferecer aos que serão os protagonistas do desenvolvimento do próximo século. Esta aspiração implica na preparação de educadores e pais para as dificuldades que advém de uma sociedade competitiva e de apelos consumistas como a nossa.

Os valores humanos são fundamentos morais e espirituais da consciência humana. O ser humano tem a capacidade de tomar conhecimento dos valores a eles inerentes.

Várias são as causas que martirizam a humanidade está na negação destes valores como apoio e inspiração para o desenvolvimento integral do potencial individual e, por conseguinte do social.

As constantes mudanças tecnológicas e culturais nos levam às questões sobre o que é permanente e o que é mutável na educação, e quais os valores no contexto do século XXI?

Falar de valores humanos significa, sobretudo, destacar do homem, a capacidade de produtor da realidade construída a partir de uma consciência do que valoriza e transmite, realiza e transforma.Tem sido esta a história da evolução humana desde o seu aparecimento no planeta terra.Pela sua especial inteligência em relação aos animais, a sua mente ocupou-se também na construção de princípios que lhe permitissem estabelecer uma distinção entre o bem do mal até mesmo como forma de estabelecer um caminho para a busca do seu ideal de realização da felicidade.Essa consciência, menos clara nos primeiros homens, mas já detectada na pré-história, foi evoluindo na medida em que se torna capaz de acumular conhecimento e descobrir uma realidade em a si mesmo (BASTOS, C. R. & MARTINS, I. G., 1988, p.12-15).

Atualmente, podemos perceber educadores cada vez mais conscientes da sua missão não somente informativa, mas também a de promoção de construção de cidadania, valores humanos, assim, haverá um estímulo para a Educação das Virtudes Humanas como eixo da transformação do próximo século. As virtudes põem o homem no centro do processo de desenvolvimento e protagonizam um progresso científico e tecnológico dentro dos valores solidários.

Conhecedores dos efeitos por vezes negativos de uma mídia pouco preocupada com a educação, pais e educadores podem e devem atuar para uma tomada de posição para elevar os níveis morais e culturais.

Precisamos redobrar esforços na conscientização de que os saberes e as técnicas não bastam para construir a coesão social. O sentido moral, a adesão aos valores compartilhados e as qualidades do coração são tão necessários como à razão para refazer, sem cessar, geração após geração, uma sociedade solidária e fraterna.

REFERÊNCIAS

BASTOS, C.R. & MARTINS, I. G. Comentários à constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva, 1988, V. 1

BRASIL. Lei nº 9.394/96. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. São Paulo: Editora do Brasil, 1996.

DEMO, Pedro. Ironia da Educação: mudanças e contos sobre mudança.Rio de Janeiro. Editora DP&A .2000

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

FERREIRA, Aurélio B. de Hollanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

GUERREIRO, Mário A. L. Ética mínima para homens práticos. São Paulo: Instituto Liberal, 1995.

VALLS, Álvaro L.M. O que é ética. São Paulo: Brasiliense, 1993.



[1] Especialista em Psicologia da Educação com ênfase em psicopedagogia preventiva – PUC/MG. Mestrando em Ciência da Educação-UAA-Assunção/Paraguai