A PEDAGOGIA DE NIETZSCHE

Ionete Meireles Simões11

RESUMO: O presente texto tem como intuito, apresentar algumas reflexões a cerca das concepções de Nietzsche e sua pedagogia, concepções estas, construídas quando o mesmo lecionava na Basileia, na Universidade e no Padagogium. O texto tido como base para a construção deste trabalho nos leva a refletir sobre a relação que deve existir entre educação e cultura, visto que ambas encontram-se interligadas, servindo como base uma para a outra; além de discorrer sobre o papel do educador na constituição do estudante, sendo que este é fundamental para que se tenha uma formação de qualidade.

“[...] ambas abordam, cada uma á sua maneira, o problema da educação e da cultura. Aliás, podemos mesmo afiançar que ele jamais abandonou sua inclinação pedagógica em toda a sua carreira intelectual, pois, seja como professor da cadeira de filologia clássica, seja como filósofo solitário, ele sempre escreveu para ser lido e, portanto para ensinar alguma coisa a seus leitores”.

(Nietzsche apud. Sobrinho, 2003)

Nos textos de Nietzsche (1844-1900), encontramos reflexões relacionadas com os problemas da educação e da cultura, apresentando para os leitores seus ideais e concepções, criticando um ensino que não presa pela qualidade, e que propõe a ideia de que ensinar é preciso, não importando a forma e os métodos.

Nietzsche escreve relatos vivenciados nos estabelecimentos de ensino alemães, contudo, os fatos que naquele período se sucederam, refletem e muito a realidade de muitas escolas e universidades brasileiras, que se encontram aprisionadas em conceitos pré-estabelecidos institucionalmente, não “abrindo” margens para mudanças, muito menos para a valorização do individuo como um ser capaz de pensar e agir por conta própria.

A educação e a cultura não devem ser trabalhadas isoladamente, visto que, uma auxilia a outra no crescimento dos seres humanos, seja ele social ou intelectual, dessa forma, para que a educação se desenvolva de maneira satisfatória, é necessária a existência de uma cultura que lhe sustente, apresentando subsídios suficientes para a construção da autonomia pessoal.

Quanto à importância da educação e da cultura (Nietzsche apud. Sobrinho 2003, p. 10) destaca que:

[...] é enorme a importância dada por Nietzsche à educação e ao ensino dos jovens para a formação e para o seu desenvolvimento do pensamento e da cultura [...]. O seu ponto de partida é a tese de que cultura é uma determinação da natureza e não pode ser compreendida como estando separada dela. O resultado a que chega é uma condenação dos princípios, dos meios e dos efeitos criados pela modernização pedagógica operada nas escolas da época.

Ou seja, trabalhar a educação desvinculada da realidade, acarreta perdas imensuráveis, impedindo os estudantes de terem contato com alguns conhecimentos que são indispensáveis para a sua formação, e que de alguma forma estão intrinsecamente ligadas com a sua vida. Dessa forma, a essência da educação é deixada de lado, e a modernidade do ensino para a operar gradativamente, transformando o conhecimento e o método educacional, convertendo algo organizado e com princípios, em uma fonte apenas de decodificação e alienação.

Dentre os aspectos criticados por Nietzsche, encontram-se questionamentos sobre a “extensão e redução” da cultura, visto que de acordo com o filósofo.

A resolução da questão pedagógica realizada por esta modernidade, segundo Nietzsche, estava apoiada em duas correntes complementares, ambas trazendo conseqüências pedagógicas nefastas, deletérias e antinaturais, uma que defendia a extensão e a ampliação da cultura e outra que reduzia a cultura a uma simples função. (NIETZSCHE apud. SOBRINHO 2003, p. 10)

Dessa forma, com a extensão da cultura, a educação começa a chegar em inúmeros lugares, vale compreender que ele não recriminava a educação em si e a possibilidade de novas pessoas terem acesso a ela, contudo, criticava a qualidade apresentada por essa extensão que era verdadeiramente “empobrecida”, Nietzsche apud. Sobrinho (2003, p. 10) enfatiza “afirma ao mesmo tempo e respectivamente o “estreitamento” e a “concentração” da cultura contra a tese da redução”. Percebe-se assim que, oferecia apenas uma pseudoformação, insuficiente para elevar a cultura e formar homens superiores, com aspectos filosóficos e teóricos capazes de torná-los ativos e críticos.

Na verdade, sabemos que essa era a verdadeira intenção do sistema educacional, educar homens passivos, impossibilitados de criticar ou até mesmo pensar, desprovidos de um pensamento próprio e legitimo.

Quanto à especialização da cultura, se posiciona totalmente contrário, e Nietzsche apud. Sobrinho (2003, p. 11) destaca que “a cultura dos especialistas que obedece convenientemente a uma certa divisão do trabalho nas ciências. [...] distante e alienado da cultura autêntica, e produtor de uma pseudocultura”.

Depreende-se assim, que apenas especializar os jovens não seria, e não é uma opção viável, sendo que, com essa concepção de ensino, oferece uma formação totalmente voltada para o mercado de trabalho, alienando os indivíduos de conhecimentos teóricos e clássicos, que os proporcionaria um olhar crítico com relação a cultura e a educação no qual estavam inseridos.

Nietzsche apud. Sobrinho (2003, p. 12) fala que “as instituições de ensino da época se apresentavam como instituições transmissoras de uma educação ao mesmo tempo uniformizada e medíocre, utilitária e integradora [...] cujo efeito era conservar os jovens na imaturidade, na ignorância e na indiferença”. Não oferecer aos jovens uma educação de qualidade e completa era o foco das instituições de ensino.

A intenção era transmitir e repassar apenas o que lhes fosse condizente e que não tornasse os jovens maturos e com personalidade. Como diz Nietzsche apud. Sobrinho (2003) a intenção era a de educar para a mentira e fazer desta um viés para a educação.

Surge assim um questionamento pertinente, relacionado com a função do educador diante de um caos educacional instaurado nas instituições de ensino. Nietzsche diz que o mestre deve ser ao mesmo tempo “asas” e “freios” para os seus discípulos. Ou seja, deve-se oferecer para os alunos condições suficientes para que suas habilidades cognitivas sejam potencializadas de maneiras que criem “asas”, e construa por conta própria seus caminhos; mas ao mesmo tempo, conscientiza os educadores sobre seu papel diante da formação do educando, funcionando como ‘freios”, encontrando uma forma de conter um desenvolvimento acelerado e desenfreado, que não conhece, nem possui limites.

Sendo assim, compreende-se que, educar não se restringe apenas em repassar conhecimentos e conteúdos, mas em buscar formas e metodologias eficazes para que esses conhecimentos sejam repassados de modo eficiente, proporcionando um crescimento intelectual amplo, que torne o aluno ativo e capaz de discernir entre o “certo’ e o “errado”.

REFERÊNCIA

SOBRINHO, Noéli Correia de Melo. A Pedagogia de Nietzsche. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio: São Paulo: Loyola, 2003.

1 Aluna do curso de graduação em Pedagogia pela Universidade Federal do Pará (UFPA) núcleo de Mocajuba.