O texto dos doutores em educação, Flávio e Vera, remetem-nos a um grande ‘silencio’ instaurado nas escolas brasileiras: a discriminação. Nossas escolas, bem como os currículos que as compõe deveriam levar em levar em conta a pluralidade cultural de nossa sociedade. Não existe uma um único “tipo” de ser humano e, a escola precisa romper esse discurso falso e moralista que a permeia: aqui somos todos iguais. Isso é uma mentira.

        O texto nos leva entender que é urgente nas escolas de nosso país, valorizar e buscar desafiar as relações de poder que produzem e preservam as diferenças; devemos entender que existe na sociedade contemporânea brasileira, uma pluralidade cultural e, como educadores, devemos buscar estratégias pedagógicas para lidar com a essa pluralidade cultural e, mais do que nunca, onde os professores são formados essa temática deve ser muito enaltecida.  

        Quando será que a escola levará em conta os interesses dos menos favorecidos? Quando que grupos etnicamente ‘esquecidos’ serão enquadrados como os também formadores de nossa sociedade como os negros e os índios? No caso dos negros, desde 1995, depois de 300 anos da morte de Zumbi, ocorre um fato importante da História vista sob a ótica dos excluídos, foi oficializado ‘Zumbi como herói nacional’. Mas, na verdade essa conquista ainda, para muitas escolas, esta no papel, pois, continua grande a resistência racial. E dos índios?

        Sem sombras de dúvidas, como o texto nos mostrou temos que buscar uma concepção de justiça curricular, para compreender que as práticas pedagógicas existentes em nossas escolas não enfatizam o questionamento às relações de poder que contribuem para criar e preservar diferenças e desigualdades; sendo assim, precisamos fazer com que na escola e no contexto social, valorizemos mais a pluralidade cultural para que sejam analtecidos os  atos democráticos e, sejam reprimidos os atos de opressão, preconceito e discriminação. Para tanto precisamos nos orientar em ações multicultural, como n os assegura o texto, tanto nas escolas como nos currículos, que possam se assentar na tensão dinâmica e complexa entre políticas da igualdade e políticas da diferença.  

        Como os doutores afirmam, não é tarefa fácil suave e que muitos professores não estão interessados nela. Mas, como foi o propósito do texto que é estimular nossos professores a construir e desenvolver novos currículos de forma autônoma, coletiva e criativa que valorizem a pluralidade cultural. Caso os currículos continuarem a produzir e a preservar divisões e diferenças, reforçando a situação de opressão de alguns indivíduos e grupos, todos, mesmo os membros dos grupos privilegiados, acabarão por sofrer. A consequência poderá ser a degradação da educação oferecida a todos os estudantes. Os autores nos lembram de que a escola é uma instituição cultural, em que escola e cultura têm relações fortes que não podem ser concebidas como entre dois polos independentes, mas sim como universos entrelaçados, como uma teia tecida no cotidiano e com fios e nós profundamente articulados.

        Outro ponto apresentado no texto que acaba por refutar a visão da pluralidade cultural, diz respeito à ideia da igualdade e do direito de todos e todas à educação e à escola, ou seja, da visão monocultural da educação. O grande canal para a escola é romper com a monocultura da educação e partir para a pluralidade cultural. Essa nova configuração das escolas expressa-se em diferentes manifestações de mal-estar, em tensões e conflitos denunciados tanto por educadores como por alunos. É o próprio horizonte utópico da escola que entra em questão: os desafios do mundo atual denunciam a fragilidade e a insuficiência dos ideais "modernos" e passam a exigir e suscitar novas interrogações e buscas. A escola, nesse contexto, mais que a transmissora da cultura, da "verdadeira cultura", passa a ser concebida como um espaço de cruzamento, conflitos e diálogo entre diferentes culturas.

        Em vez de preservar uma tradição monocultural, a escola é chamada a lidar com a pluralidade de cultura, reconhecer que há diferentes sujeitos socioculturais presentes em seu contexto, portanto, é preciso abrir espaços para a manifestação e valorização das diferenças. Os autores são enfáticos que é essa é a principal ação da escola hoje. A escola sempre teve dificuldade em lidar com a pluralidade e a diferença. Tende a silenciá-las e neutralizá-las. Sente-se mais confortável com a homogeneização e a padronização. No entanto, abrir espaços para a diversidade, a diferença, e para o cruzamento de culturas constitui o seu grande desafio.  

        É preciso reescrever o conhecimento a partir das diferentes raízes étnicas e isso passa pelo currículo. O professor precisa como afirma o texto, ancorar socialmente o conteúdo, ou seja,  ver como é que ele surgiu, seu contexto social de seu surgimento, quem foi que propôs historicamente esse conceito, quais eram as ideologias dominantes; dessa forma vai fazendo isso com todos os conteúdos, será a maneira de não cair no vazio e que o conteúdo é algo fixo. Todas as manifestações culturais mais valorizadas socialmente devem ser conhecidas, debatidas, criticadas e desconstruídas.

        Uma das questões fundamentais de serem trabalhadas no cotidiano escolar, na perspectiva da promoção de uma educação atenta à diversidade cultural e à diferença, diz respeito ao combate à discriminação e ao preconceito, tão presentes na nossa sociedade e nas nossas escolas.

        Convém salientar que os elementos discriminadores afetam distintas dimensões: o projeto político-pedagógico, o currículo explícito e o oculto, a dinâmica relacional, as atividades em sala de aula, o material didático, as comemorações e festas, a avaliação, a forma de se lidar com as questões de disciplina, a linguagem oral e escrita (as piadas, os apelidos, os provérbios populares etc.), os comportamentos não verbais (olhares, gestos etc.) e os jogos e as brincadeiras. É necessário ressaltar que expressões fortemente arraigadas no sentido comum, que expressam juízos de valor sobre determinados grupos sociais e/ou culturais, assim como as brincadeiras, são âmbitos especialmente sensíveis às manifestações de discriminação no cotidiano escolar. Para isso acontecer é preciso valorizar o trabalho coletivo na escola.

        É importante a releitura da própria visão de educação. É indispensável desenvolver um novo olhar, uma nova ótica, uma sensibilidade diferente. O caráter monocultural está muito arraigado na educação escolar. É preciso questionar e desestabilizar a forma como a escola transmite conhecimento e a  realidade. Não é tarefa fácil. Exige persistência, vontade política, assim como aposta no horizonte de sentido: a construção de uma sociedade e uma educação verdadeiramente democrática, construída na articulação entre igualdade e diferença, na perspectiva do multiculturalismo emancipatório.

        O marco contextual é fundamental para que se possa construir o novo olhar que desejamos.

        É importante que cada educador faça uma reflexão sobre a sua própria identidade cultural: como é capaz de descrevê-la, como tem sido construída, que referentes têm sido privilegiados e por meio de que caminhos; infelizmente os autores afirmam que os níveis de autoconsciência da própria identidade cultural encontram-se, na maior parte das vezes, pouco presente e não costumam constituir objeto de reflexão pessoal.

        O texto termina com afirmando que o docente deve descobrir outra perspectiva, assentada na centralidade da cultura, no reconhecimento da diferença e na construção da igualdade. E que maravilhosos seria se fossem formados educadores que realmente atuassem como agentes sociais e culturais a serviço da construção de sociedades mais democrática e justa.

        Penso que não estamos longe disso e que estudos como esses que estamos realizando, com certeza estão nos ajudando a mudar nossas ‘práticas’ e que a pluralidade cultural será entendida nas escolas e por sua vez, a descriminação será algo do passado.