O presente trabalho tem por objetivo descrever sobre a história dos surdos no mundo e como esse processo aconteceu para a construção identitária desse grupo.

Conhecer a história dos sujeitos surdos não nos proporciona apenas a ocasião para adquirirmos conhecimentos, mas também para refletirmos e questionarmos diversos acontecimentos relacionados com a educação em várias épocas e como aconteceu esse processo e quais métodos utilizaram para ensinar as pessoas surdas.

A história dos surdos no mundo é rica e complexa, e remonta a tempos antigos. Durante muitos séculos, os surdos foram vistos como pessoas isoladas e incapazes de se comunicar com os outros. No entanto, ao longo do tempo, houve um movimento crescente para reconhecer a língua de sinais como uma língua legítima e para melhorar a educação e os direitos dos surdos.

Antes do século XVIII, a maioria das pessoas surdas eram excluídas da sociedade e não tinham acesso à educação. Em muitas culturas, os surdos eram considerados malditos ou possuídos por espíritos malignos. Algumas culturas antigas, como a da Grécia e Roma, tinham algumas histórias lendárias de indivíduos surdos que realizavam tarefas heroicas ou sobrenaturais.

Foi somente no século XVIII que a educação formal para surdos começou a ser desenvolvida. Em 1760, o educador francês Charles-Michel de L'Épée fundou a primeira escola para surdos na França, que utilizava a língua de sinais francesa. A língua de sinais também começou a ser utilizada em outros países, como a Alemanha, a Inglaterra e os Estados Unidos.

No século XIX, houve um movimento internacional para padronizar a língua de sinais e desenvolver métodos mais eficazes de educação para surdos. Em 1880, um Congresso Internacional de Educadores de Surdos em Milão decidiu proibir o uso da língua de sinais em sala de aula em favor do ensino oralista, o que levou a uma grande controvérsia. Embora o ensino oralista tenha se tornado a norma em muitos países, muitos defensores da língua de sinais continuaram a lutar por sua legitimidade e reconhecimento como língua natural dos surdos.

Ao longo do século XX, houve avanços significativos na educação e nos direitos dos surdos. Nos anos 60 e 70, o movimento dos direitos civis das pessoas com deficiência ganhou força nos Estados Unidos e em outros lugares, resultando na aprovação de leis que proibiam a discriminação com base na deficiência e exigiam acessibilidade em locais públicos. A língua de sinais também foi oficialmente reconhecida como língua legítima em muitos países, incluindo os Estados Unidos.

Atualmente, os surdos continuam a lutar por seus direitos e reconhecimento, incluindo o direito de usar a língua de sinais em todas as áreas da vida, incluindo a educação e o trabalho. Há também uma crescente conscientização sobre a importância da inclusão e da acessibilidade para pessoas surdas e outras com deficiência, e um esforço para garantir que todos possam participar plenamente na sociedade.

Os surdos enfrentaram lutas significativas o longo da história para estabelecer sua identidade, a de sua comunidade surda, bem como o reconhecimento que desfrutam atualmente no século XXI.

Os surdos tiveram negado o acesso à educação e a muitos outros direitos por muitos séculos, mas no século XIX surgiram mudanças profundas como resultado do uso de línguas de sinais, utilizada para o ensino dos surdos, trazendo melhorias significativas em sua educação, realização e qualidade de vida.

Segundo SÁ (2004, p.3) a respeito da história de surdos:

“Em síntese, a história dos surdos, contada pelos não-surdos, é  mais ou menos assim: primeiramente os surdos foram, descobertos ‟pelos ouvintes, depois eles foram isolados da sociedade para serem, educados‟ e afinal conseguirem ser como os ouvintes; quando não mais se pôde isola-los, porque eles começaram a formar grupos que se fortaleciam, tentou-se dispersa-los, para que não criassem guetos. (2004, p.3)

 

A sociedade deixou de ser considerada inapta para a faculdade da razão, os anormais agora são capazes de aprender rapidamente e realizar tarefas que antes eram inimagináveis para eles.

Na Antiguidade, os chineses os jogavam no mar, os alemães os sacrificavam aos deuses teutônicos e os gregos os jogavam dos penhascos da cidade de Esparta. Aristóteles ensinou que as pessoas que nasciam sem linguagem eram incapazes de raciocinar.

No Egito, os surdos eram adorados como se fossem deuses, agindo como intermediários entre os deuses e os Faraós, e eram reverenciados e respeitados pela população.

Era prática comum jogar as crianças abandonadas, principalmente as pobres, no rio Tibre para que as Ninfas cuidassem delas. Mais tarde, Santo Agostinho defendeu a ideia de que os pais das crianças surdas estavam pagando por algum crime que haviam cometido. Ele acreditava que os surdos podiam se comunicar uns com os outros por meio de gestos, que equivaliam à fala.

Devido à incapacidade de administrar os sacramentos, a Igreja Católica acreditava que os surdos não possuíam uma alma eterna, ao contrário dos ouvintes. Essa crença persistiu até a Idade Média.

John Beverley foi a primeira pessoa que ensinou um surdo a falar pela primeira vez em 700 Depois de Cristo. Por esse motivo, ele era frequentemente considerado o primeiro educador de surdos.

A primeira vez que se distinguiu a surdez de mudez foi na Idade Moderna, período esse em que o surdo deixou de ser designado pela expressão surdo-mudo.

Pedro Ponce de León, foi um espanhol que viveu de 1520 a 1684. Ele é considerado a primeira pessoa a ensinar os surdos e a iniciar a história global dos surdos. León criou um alfabeto manual que permitia que os surdos falassem claramente (outros disseram que esse alfabeto era baseado nos gestos dos monges, que se comunicavam dessa maneira porque haviam passado por um voto de silêncio). Ele foi a primeira pessoa a usar a língua de sinais.

Charles Michel de L'Épée, foi um francês nascido em 1712, que ensinou os surdos em sua primeira fase por motivos religiosos. Muitas pessoas acreditavam que ele foi o criador da língua gestual. Embora saibamos que a mesma língua já existia antes dele. L'Épée reconheceu que é uma língua verdadeira e a desenvolveu, embora não a considerasse dotada de gramática.

As principais contribuições dele incluíram a Fundação do Instituto Nacional de Surdos - Mudos em Paris, a primeira escola de surdos do mundo, em que houve o reconhecimento do surdo como ser humano através do reconhecimento de sua língua, e a percepção de que ensinar o surdo a falar seria uma perda de tempo.

Em vez disso, o surdo deve primeiro aprender sua língua materna, a língua de sinais e após, a língua de origem do seu país.

Um dos primeiros professores de surdo do mundo foi Jean Massieu, e o primeiro aparelho auditivo surgiu em 1898.

Mesmo depois de vinte anos, é possível observar que a Língua de Sinais é pouco difundida, e também são raros os educadores que têm domínio sobre ela, o que representa uma grande limitação e barreira para a comunicação com os surdos.

Portanto, para que os surdos possam ter melhores condições de vida, é preciso incluí-los na sociedade, interesse não apenas em difundir a língua de sinais, mais também aprendê-la, pois só assim teremos um mundo mais justo e humano alicerçado na educação.

Conforme Strobel, a história dos surdos é fascinante e, entre exclusão, conquistas, retrocessos e reconquistas, se entrelaça à abordagem acerca das línguas de sinais e é escrita por muitas pessoas que contribuíram para a educação e formação das pessoas surdas.  Alguns pensam que só ouvintes agiram nesse processo e os surdos apenas reagiram a iniciativas. Engano! Os próprios surdos têm mostrado seu protagonismo, revelando suas habilidades e escrito sua história ao longo dos anos.

 

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LIDIANE DA SILVA XAVIER - Graduada em Pedagogia; Especialista em Educação Infantil e professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis. 

NOEMI BRAGA DE REZENDE- Graduada em Pedagogia e História (FALBE e UFMT); Especialista em Psicopedagogia (UNIGRAN) e professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.

RAQUEL SANTOS SILVA - Graduada em Letras; Especialista em Educação Infantil e professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.

ROSANGELA ALVES DA SILVA ARAÚJO- Graduada em Pedagogia (UFMT); Especialista em Psicopedagógico Afirmativo e professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.

VALQUÍRIA MENDES MARQUES- Graduada em Pedagogia (UENP); Especialista em Psicopedagogia (FIC) e professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.

VALQUIRIA RODRIGUES DIAS- Graduada em Pedagogia (UFMT); Especialista em Psicopedagogia (UNISERRA) e professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.