Com base em estudos realizados durante o curso de pedagogia e de observações realizadas em sala de aula de anos iniciais2, busca-se fazer uma reflexão sobre a complexidade do conceito de alfabetização. Busca-se também fazer a distinção entre alfabetização e letramento, pois, para muitos, ambos possuem o mesmo significado, o que não pe verdadeiro, bem como, o que um implica no outro.

Sabe-se que é difícil e ao mesmo tempo complicado conceituar a palavra alfabetização. Pois, a mesma é complexa, devido estar inteiramente voltada para a realidade das crianças. Onde, esta complexidade envolve todas as classes sociais, culturais, conhecimento dos alunos, entre outros.

Além do que, a alfabetização não pode ser vista e entendida como apenas codificar3 e decodificar3, como muitos dos educadores pensam. Pois, esta é um processo contínuo, ou seja, não se dá apenas nas primeiras séries, mas sim ao longo de todo o Ensino Fundamental, Médio, Superior, estenda-se por toda a vida.

Diante disso, faz-se necessário colocar alguns conceitos históricos de alfabetização, estabelecidos por alguns autores e outros, afim de que, possamos alertar os educadores da complexidade do conceito de alfabetização e conseqüentemente, um único método de ensino. O que isto, poderia afetar de forma significativa na vida escolar do aluno, pois os mesmos possuem diferenças, sejam das sociais, culturais, etc. E, por isso, é necessário que o professor adote métodos de ensino flexíveis. Partindo disso, faz-se necessário colocar algumas concepções sobre a alfabetização.

Como se pode constatar são inúmeros os conceitos de alfabetização os mais comuns são os que falam ser a alfabetização um processo de aquisição das habilidades de leitura e escrita, também como não sendo só um processo de aquisição, mas também de desenvolvimento, e ainda é conceituada como sendo especificamente, a aquisição da língua escrita pela criança no processo de escolarização.

Para GROSS (1981 e 1985) e WEIZ (1985): “a alfabetização é vista como um processo de construção de conhecimento”.

Para Magda Soares alfabetizar implica em o indivíduo ter acesso ao mundo da escrita, tornando-se capaz de ler e escrever, e, sobretudo, de fazer uso real e adequado da escrita co todas as funções que ela tem em nossa sociedade e também como instrumento em prol da conquista da cidadania plena.

Conforme OLIVEN (185), CARVALHO (1986) e ESPOSITO (1985): “a alfabetização é considerada como uma questão não só técnica, mas também política”.

Atualmente o termo alfabetização tem sido entendido, tradicionalmente, como um processo de ensinar e aprender a ler e escrever, ou seja, alfabetizado é aquele que lê e escreve. Para Paulo Freire alfabetização tem um significado mais abrangente: “possibilita uma leitura crítica da realidade, constitui-se como um importante instrumento de resgate da cidadania nos movimentos sociais que lutam pela melhoria da qualidade de vida e pela transformação social”.(TFOUNI, 2004, pg35), defendia que a leitura do mundo vem antes da leitura da palavra.

A alfabetização está intimamente ligada à instrução formal e as práticas escolares, mas não exclusivamente.

Segundo alguns autores:

“A alfabetização, enquanto processo individual, não se completa nunca, visto que a sociedade está em contínuo processo de mudança, e a atualização individual para acompanhar essas mudanças é constante”.(TFOUNI, 2004:15).

Outro fato, a ser discutido é a questão do letramento. O letramento é um fenômeno de cunho social e salienta as características sócio-históricas ao adquirir-se um sistema de escrita por um grupo social. Assim dizer, o letramento é o que a alfabetização deveria ser.

Conforme WEIZ (2206):

“(...) para quem acredita no letramento, a criança primeiro aprende o sistema da escrita e só depois faz uso social da língua (...) isso dissocia a aquisição do sistema das práticas sociais de leitura escrita. Para evitar essa divisão passamos a usar o termo cultura escrita”.

Além do que, a aprendizagem da alfabetização e do letramento constituem processos indissociáveis, porém distintos, e uma não é pré-requisito da outra. Enquanto, a alfabetização se ocupa da aquisição da escrita por um indivíduo, ou grupo. O letramento “focaliza os aspectos sócios-históricos da aquisição de um sistema escrito por uma sociedade” (TFOUNI, 1995), e, ainda, é o estudo ou condição de quem além de saber ler e escrever cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita.

Não há como trabalhar a alfabetização isolada do letramento. Pois, ambas devem ocorre concomitantemente. A leitura e a escrita devem ser vistas como o conteúdo central da escola, possuindo a função de incorporar a criança à cultura do grupo em que ela vive.

Outro fato relevante à discussão do método ideal para alfabetizar. Sabe-se que o professor não deve adotar um método de ensino com sendo único, ou melhor, que existem outros, métodos devido à diversidade dos alunos no que se refere à cultura, as dificuldades de cada aluno, enfim as diferenças das quais existem numa sala de aula. È que o professor adote os diferentes métodos de ensino para que essa diversidade encontrada na sala de aula seja abrangido e trabalhada, de forma gratificante para todos, mas, principalmente para que os alunos atinjam um melhor aprendizado e, que através disso certamente diminuiria os índices de analfabetismo, evasão, entre outros.

Um método de ensino, que tem sido trabalhado juntamente co os demais métodos e, que tem ajudado, mostrando resultados significativos, e o método da ludicidade. Este método tem se mostrado eficiente, devido ser uma atividade prática e prazerosa para as crianças, tornando-se mais prazerosa ainda se for levado para a realidade das crianças.

A partir disso, o processo de ensino-aprendizagem para a alfabetização deve ser organizado de modo que a leitura e a escrita sejam desenvolvidas por intermédio de uma linguagem real, natural e significativa e vivenciada.

É de grande importância que o alfabetizando tenha contato com todos os tios de materiais escrito, uma vez que esta atividade possibilita a ele o contato com a prática mediada pela escrita.

Segundo Telma Weisz (2006): “(...) é preciso tornar o texto familiar conhecer suas característica e trazer para a sala práticas de leitura do mundo rel (...) é preciso ensinar a ler jornal, literatura, textos científicos, de história, geografia, biologia (....).”

O contato com os diversos tipos de texto, como livros, jornais e revistas possibilitam aos alunos ler e escrever mais rapidamente, tornando-se capazes de buscar as informações de que necessitam. Enfim, é preciso que estimulemos as crianças ao hábito da leitura, que o mesmo aprenda com mais facilidade a escrever e, conseqüentemente a interagir com o meio onde vive. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) (1997): “É preciso (...) oferecer-lhes os textos do mundo: não se formam bons leitores solicitando aos alunos que  leiam apenas durante as atividades   e depois na sala  de aula, apenas no    livro didático,     apenas porque  o professor    pede. Eis a primeira    e talvez    a   mais  importante    estratégia    didática para    a prática da  leitura: o  trabalho      com     a diversidade     textual.  Sem         ela,    pode-se      até     ensinar         a      ler, mas certamente não se formarão leitores competentes.

A alfabetização é um processo importante, o qual não ocorre apenas na escola de forma planejada e sistematizada. No modelo tradicional a escrita é entendida como mera representação da fala, uma atividade mecânica.Hoje, dois aspectos devem ser considerados neste processo: o caráter simbólico é o uso social da escrita. Porém apesar dos avanços teóricos, vários autores alertam para as chamadas propostas modernas, as quais estão longe das propostas críticas, a alfabetização pode constituir um processo de conscientização ou um processo de alienação dos indivíduos.

Sendo assim, percebe-se que o papel da escola é de ampliar as possibilidades do uso lingüístico, habilitando-os assim para os diferentes usos da linguagem oral e escrita tendo a alfabetização como um fator fundamental para auxiliar a formação de cidadãos críticos e transformadores.

Como se percebe, a alfabetização vem passando por transformações e o desenvolvimento da escrita também evoluiu. Atualmente, sob as exigências e evolução da sociedade, surge uma nova necessidade na alfabetização em que não basta ler e escrever é preciso usar a escrita no cotidiano.

A compreensão da natureza da escrita, de suas funções e usos é indispensável ao processo de alfabetização. A escola deve investir na competência leitora, formando leitores e gente capaz de escrever. Sua função deve constituir-se além do ensino de gramáticas, ou seja, além da aquisição do sistema.

É valido que a escola saiba tratar adequadamente a escrita e a fala no processo de alfabetização, pois o fato de a escola não saber formar seus alunos em bons leitores traz sérias conseqüências para o futuro destes, os quais sentirão uma enorme dificuldade em continuar na escola, meio no qual a leitura se faz constantemente necessária.

Para que a alfabetização deixe de ser compreendida como um dos principais problemas educacionais, é relevante avançar na formação dos professores, os quais devem possuir uma série de conhecimentos pedagógicos, metodológicos, psicológicos e lingüísticos para poder atuar de maneira correta.

Para Cagliari (1998:34): “Nada substitui a competência do professor e, enquanto nossas escolas continuarem a formar mal nossos professores, a alfabetização e o processo escolar como um todo continuará seriamente comprometidos”.

Os professores devem contar com uma melhor preparação para o trabalho, conhecendo os vários aspectos e seqüências de sua tarefa, podendo mudar a concepção crucial de alfabetização.

Segundo Lemle (2003:06):“À    medida       que se  sentirem mais seguros em sua    preparação para o trabalho, os professores  se sentirão       seguros também para exigir maior  consideração pela profissão e mais investimentos para    a    educação (...)   ajudarão   a   promover um grande número de pessoas que até agora são atiradas à marginalidade”.

Concluindo, a questão da alfabetização é bem mais complexa do que parece ser, e longe de resumir-se apenas às primeiras séries de escolarização, estende-se durante toda a vida, sendo um direito de todo e qualquer sujeito, independentemente de sua condição social, contando, para isso, com a conscientização do verdadeiro papel da escola no processo de alfabetização.

 

Referências:

BRAGANÇA, Angiolina; CAPANEMA, Isabella. Alfabetização: vida nova, contextualizando a escrita. São Paulo. FDT, 1998.

BRASIL. MEC – Ministério da Educação e do Desporto, SEF – Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa (PCNs). V. 3. Brasília, DF: MEC?SEF,1997.

CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e Lingüística. 9ª ed. São Paulo, Scipione, 1996.

_____________________Alfabetização sem o BÁ, BÉ, BI, BÓ, BU. 1ª ed. São Paulo, Scipione, 1998.

CÓCCO, Maria Fernandes; HAILER, Marco Antônio. Alp: Alfabetização: Um trabalho de Linguagem numa proposta Socioconstrutivista. FTD, 1995.

_____________________________________________Alp 1: análise, linguagem e pensamento: um trabalho de linguagem numa proposta socioconstrutivista. Ed. Renovada. São Paulo, FTD, 1995.

LEMLE, Miriam. Guia Teórico do Alfabetizador. São Paulo: Ática, 2003,

REVISTA NOVA ESCOLA, março de 2006, editora Abril. São Paulo.

_______________________, agosto de 2006, editora Abril. São Paulo.

SOARES, Magda. A reinvenção da alfabetização. In: Revista Presnça Pedagógica Julho?agosto 2003. Disponível em: http://www.editoradimensao.com.Br/revistas/revista52_trecho.htm, acesso em 19 de junho de 2006.

TFOUNI, Leda Verdiani. Letramento e Alfabetização. 6ª ed. São Paulo, Cortez, 2004.

WEISZ, Telma Alfabetização, Educação Infantil e acesso à cultura escrita: as possibilidades da escola. Disponível em:        http://www.reescrevendoaeducacao.com.br/pages.php?recid=18, acesso em 19 de junho de 2006.

http://www.paulofreire.org/moacir_gadotti, disponível em 20 de agosto de 2006.

http://www.acordeduca.com.br /revista/rev03_hum/resenha_01htm, disponível em 15/de novembro d 2006.