Violência escolar, uma reflexão sociológica na realidade escolar
Prof. Mike Malcher
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Abstract: The issue of school violence is a difficult task within a conceptual analysis, by its complexity. By putting in evidence its aspects, scientific research emerges from the tenuous relationship that exists between culture, historical period and the socioeconomic realities presented. Especially within the school environment, where there is a higher incidence of conflicts between students. Some of these conflicts can be identified as bullying, which a form of violence, both physical and moral, is presenting itself in many ways, such as Cyberbullying is the most current violence.
Key words : Violence, Bullying, school violence and Cyberbullying.
Resumo: A questão da violência escolar representa uma tarefa difícil dentro de uma analise conceitual, pela sua complexidade. Ao colocar seus aspectos em evidencia, emerge das pesquisas cientificas a relação tênue que há entre a cultura, o período histórico e a condição socioeconômica das realidades apresentadas. Principalmente dentro do ambiente escolar, onde há maior incidência de conflitos entre os estudantes. Alguns destes conflitos podem ser identificados como Bullying, que é uma forma de violência tanto física como moral, apresentando- se de varias formas, como o Cyberbullying que é o mais atual tipo de violência.
Palavras – chave: Violência, Bullying, violência escolar e Cyberbullying.
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Introdução A violência nas escolas brasileiras tem sido motivo de pesquisas científicas e discussões constantemente mostradas nas mídias (televisão, internet, jornais impresso...), estes acontecimentos encontram – se mais presente na sociedade. Contudo, não se tem clareza no que se define o fenômeno violência escolar. As investigações realizadas nas escolas têm como característica a tentativa de entender o processo que se da à violência no âmbito escolar. Entre inúmeros trabalhos realizados não somente no Brasil como na Europa em forma de artigos, palestras, livros entre outros. Alguns trabalhos, que assim o fizeram, são o de (CARINA e Lucia Cavalcante “temas em psicologia” apud: Abramovay e Rua (2002), Debarbieux e Blaya (2002) e Ruotti, Alves e Cubas (2006). Essa atitude de expor a cada pesquisa apresentada uma definição do fenômeno ocorre devido à dificuldade encontrada em se adotar uma única definição do que seja violência escolar. Isso sucede devido ao fato de como a questão da violência pode se apresentar. Conforme aponta Abramovay (2005): “Apresentar um conceito de violência requer certa cautela, isso porque ela é, inegavelmente, algo dinâmico e mutável. Suas representações, suas dimensões e seus significados passam por adaptações à medida que as sociedades se transformam. A dependência do momento histórico, da localidade, do contexto cultural e de uma série de outros fatores lhe atribui um caráter de dinamismo próprio dos fenômenos sociais” (ABRAMOVAY, 2005 p. 53). Podemos observar que em diferentes países a compreensão do que seria violência escolar é bastante diversificado: Na Inglaterra, por exemplo, conceituam violência escolar não identificando como violência atos de professores contra alunos e de alunos a professores. Já nas pesquisas espanholas, há certo constrangimento no âmbito da moralidade em expor atos violentos contra jovens e crianças, como violência escolar. Já em meados dos anos de 1990, no Brasil, a expressão violência escolar, refere - se às agressões contra o patrimônio e contra a pessoa (alunos, professores, funcionários, etc.).
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Alem de fatores culturais, histórico e geográfico conforme aponta Abramovay e Avancine (2000), a definição de violência pode se diferenciar de acordo com a idade, o sexo e o status social de quem se esta definindo, por exemplo, o professor, diretor ou aluno. Debarbieux (2002) argumenta que uma única definição de violência escolar seria um erro no campo cientifico. “(...) não deveríamos estar realizando pesquisas sobre a violência como um todo indivisível, mas ao contrario, estar multiplicando pontos de vista (indicadores) que nos ajudem a encontrar o que é real num conceito que é ineficaz devido a sua generalidade.” (CARINA e Lucia Cavalcante “temas em psicologia” apud: DEBARBIEUX, 2002, p. 19). O enunciado de Debarbieux (2002) sobre a impossibilidade de uma única definição é coeso, porém, é assinalada pelo próprio autor a necessidade de se encontrar o que é real no conceito, quais as limitações e quais as definições que podem embasar um conceito eficaz. Obter conhecimento das múltiplas perspectivas de um fenômeno tão complexo como o da violência escolar é de suma importância. Ainda que o estabelecimento de um consenso entre todas as áreas do conhecimento que a investigue como a Psicologia, Sociologia, Antropologia, Historia entre outras seja basicamente improvável de ser alcançado. O que é violência? Não é a pretensão no presente trabalho conceituar de forma etimológica ou científica o termo violência, mesmo por se tratar de um tema complexo, entretanto, para maior compreensão da violência escolar é necessário buscar entender o que seria a violência. “Quando nos referimos à violência, há inúmeras possibilidades, vários conceitos e idéias possíveis como, por exemplo, da violência de um acidente natural, das relações sociais da opressão racista, misógina, violência homo fóbica ou das relações de produção econômica que podem ser opressiva de certa forma violentando a experiência humana”.
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“(...) violência é muito mais uma categoria cultural do que um conceito científico. Os esforços de circunscrição semântica e de adestramento semântico com o impulso subjacente de transformar categoria num conceito que acabam falindo diante desta erupção de pluralidade de circunstâncias e aplicações”. (Vídeo Conferência, apud: L. E. SOARES, 2010). Não é simples a tarefa de definir violência. Conceitos de violência têm sido propostos para falar de muitas práticas, hábitos e disciplinas de tal modo que todo comportamento social poderia ser visto como violento. Inclusive o baseado nas praticas educativas, tais como na idéia de violência simbólica proposta por Pierre Bourdieu (2001), para esse autor, a violência simbólica se realiza sem que seja percebida como violência, principalmente por quem é vitimizado, pois se insere em relações de poder naturalizadas. A formulação de conceitos é mais apropriados ao lugar, ao tempo histórico que se examina, a literatura a seguir apresentada, aponta uma tendência de violência de forma mais abrangente do que relacioná-la com atos que imputam danos físicos a pessoas ou grupo de pessoas. Chauí (1999), por exemplo, define violência como: “[...] 1) tudo o que age usando a força para ir contra a natureza de alguém (é desnaturar); 2) todo ato de força contra a espontaneidade, a vontade e a liberdade de alguém (é coagir, constranger, torturar, brutalizar); 3) todo ato de transgressão contra o que alguém ou uma sociedade define como justo e como direito. Consequentemente, violência é um ato de brutalidade, sevícia e abuso físico ou psíquico contra alguém e caracteriza relações intersubjetivas e sociais definidas pela opressão e intimidação, pelo medo e o terror [...]. (CHAUÍ, 1999, p. 3:5). A idéia de violência é, por principio, ambígua, não existe como já foi dito acima, uma única percepção do que seja violência, mas multiplicidade de atos violentos, cujas significações devem ser analisadas a partir das normas, dos contextos sociais, variando de um período histórico a outro. Nos diálogos que ocorrem no cotidiano, a violência se faz presente, sendo expressa através do medo ou da perplexidade, em geral. Cabe aos pesquisadores a necessidade de avaliar criticamente e sistematicamente, as representações da violência criada pela sociedade.
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A constante presença da violência na sociedade pode dar a impressão de que ela se tornou um fenômeno banalizado. Presente em todos os lugares, em diferentes formas, a violência habita uma parcela da consciência de todos que buscam escapar dela. Levando em consideração o nível de atenção em que se foi dado, seja pela população ou pelos meios de comunicação ou políticos, pode – se afirmar que a violência foi elevada ao patamar de um dos principais problemas sociais da sociedade. (A.S.Medeiros – 2006). Formas de violência: Violência simbólica A violência simbólica é um conceito elaborado pelo sociólogo Pierre Bourdieu, sociólogo Frances, e permite compreender melhor as principais motivações que se encontram na origem da aceitação de atitudes e comportamento de submissão, ou seja, no vinculo das relações sociais entre o domínio e submissão. Os dominados assimilam inconscientemente de forma involuntária, os valores e a visão do mundo dos dominantes. Tornando – se desse modo co-autor da ordem estabelecida sem notarem que são as primeiras e principais vitimas dessa mesma ordem. Não são violentadas por palavras ou atos. Aparentemente não há coação ou constrangimento, porém, a violência se faz presente de forma simbólica. (ref.: Marcelo j Araujo UFSCar) A relação de domínio não é notada como uma relação de força onde o mais forte impõe a regra e a norma ao mais fraco. E não se compreendendo que deve ter começado algures no espaço e tempo, é aceita como um dado, uma inevitabilidade, e desse modo é naturalizada. Ocorre ainda que as instituições religiosas, políticas, sociais e culturais convergem no sentido de reforçarem esta característica.
Ainda segundo o autor, seria notório se a violência simbólica se exercesse apenas sobre os dominados, mas não é exatamente desta forma. Para que o domínio se perpetue, e não seja detectado e denunciado, é necessário que não só as identidades dos dominados, mas também as dos dominantes sejam construídas em conformidade com estes dois modelos de comportamento, não se desculpando sequer, a mais leve transgressão, o mais
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curto desvio à norma. Neste caso temos alguns exemplos: “Um homem não chora”, “O menino que gosta de brincadeiras menos agressivas é tido como maricas”, “certas profissões são impróprias para os homens”. Cada homem encontra – se sob a constante responsabilidade de afirmar sua virilidade, onde essa expressão começa sedo nas escolas. Os meninos perseguem sempre aquele que parece não se conformar à norma. Segundo Bourdieu, o simbólico, ou melhor, o poder simbólico é um “poder indivisível o qual só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que exercem”. (Bourdieu, 1989:7-8). Na realidade, há certa dificuldade de se identificar alguns atos violentos, eventualmente, até mesmo agressões físicas são difíceis de serem identificadas como violentas, dependendo do contexto e das circunstancias em que são praticadas. Por isso, identificar a violência simbólica é tarefa mais difícil, pois não há percepção de sua existência em agressões psicológicas. Humilhações e constrangimentos. Segundo Nilo Odalia: Nem sempre a violência se apresenta como um ato, como uma relação, como um fato, que possua estrutura facilmente identificável. (...) o ato, violento se insinua, frequentemente, como um ato natural, cuja essência passa desabercebida. Perceber um ato como violento, demanda do homem um esforço para superar sua aparência de ato rotineiro e natural como que escrito na ordem das coisas. (ODALIA, 1993 p. 22-23) Neste sentido, a violência simbólica – despercebida na vida rotineira – encontra – se presente na organização familiar, nos hábitos, nos costumes, nas leis, na mídia, escolas e universidades. Na paisagem urbana, vemos casas projetadas e construídas para se adaptarem às novas condições de vida das famílias cuja necessidade de proteção as obriga a construir casas não mais privilegiando espaços externos e sim, espaços fechados, interiorizando – se para buscar desesperadamente a segurança e a defesa. As pessoas constroem casas que, do exterior, parecem sombrias, com muros altos e intimidantes, envoltas por cercas elétricas que chegam a lembrar verdadeiras muralhas. (ref.: Marcelo j Araujo UFSCar apud: ODALIA, 1993).
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Presente também em pichações de muros e busto, nos bancos quebrados de praças públicas, na sujeira das ruas, na poluição dos automóveis, na poluição sonora, na poluição visual dos incontáveis cartazes de propaganda etc., a violência simbólica é marcada pela rigidez das paisagens urbanas. Expressa – se também, nos hábitos ao reproduzir uma violência institucionalizada na miséria, na fome, seca e no frio. Expressa – se na lei que consagra os limites de violência permitida a cada sociedade que normalize muitas vezes o que não se considera normal. (Odalia, 1993). Apresenta – se na mídia que explora o imaginário das pessoas e cria uma cultura de aceitação e concordância, de permanência e manutenção da ordem vigente, do status quo. Na mídia idéias são geralmente aceitas sem objeção ou analise. Ele não nos deixa esquecer hipótese maneira alguma a verdadeira essência da sociedade capitalista, ao nos inculcar que o sentido que o sentido de produção das mercadorias deve ser reforçado pelo seu valor de troca e não de uso. Onde o ser passa a ser substituído pelo ter. Lógica esta que também perpassa pela cultura. Na obra “Dialética do Esclarecimento”, Adorno e horkheimer, discutem o conceito de indústria cultural e definem com bastante propriedade este raciocínio econômico da sociedade e a manipulação de bens culturais. De acordo com Colloca: Os consumidores são objetos da indústria cultural, apesar de passar a imagem de que eles são os sujeitos. O que orienta a produção das mercadorias é a comercialização e não o conteúdo dos produtos. O alvo da indústria cultural é o espírito que é insuflado, já que mexe com o inconsciente das pessoas, cria uma mentalidade, sempre buscando a manutenção da ordem vigente, do poder já estabelecido. (colloca, 2003:13) Ainda segundo a autora:
O consentimento que a indústria cultural alardeia reforça a autoridade cega e impenetrada da sociedade. Ele encoraja e explora as fraquezas do eu,
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consequenciais da sociedade atual com sua concentração de poder. As produções da indústria cultural não incentivam uma reflexão sobre o real, mas aproveitam – se das fraquezas sofridas e observadas no cotidiano para conseguir a audiência e a resposta de que necessitam, alem de darem um tom individual as suas mercadorias. (Colloca, 2003:15) Este é o tipo de violência evocativo e representativo que tem a anuência do individuo. Uma violência imposta pela indústria cultural, que gera uma semiformação cultural muito bem desenvolvida pelos meios de comunicação e que estimula um processo de identificação e egocentrismo, favorecendo um narcisismo coletivo. As pessoas tornam – se cada vez mais dependentes e frágeis. Chistoph türcke ressalta que o prazer adquirido com os objetos da indústria cultural resume – se em um pré – prazer. ( Marcelo j Araujo UFSCar, apud: Türcke, 1999, p.55-79) Neste sentido, o pré – prazer produz pessoas frias, indiferentes com seus semelhantes, pessoas sem sentimentos, incapazes de uma identificação com o sofrimento alheio. No texto “Educação após Auschwitz”, Adorno mostra que a incapacidade de amar ente as pessoas que permitiu que Auschwitz acontecesse. Outra forma de violência que iremos discorrer é da moral ou psicológica, onde seu efeito pode ser tão prejudicial quanto à física. Violência Moral ou Psicológica A violência moral e/ou psicológica diferencia-se do uso da força. Enquanto força designa, em sua acepção filosófica, a energia ou "firmeza" de algo, a violência caracteriza-se pela ação corrupta, impaciente e baseada na ira, que não convence ou busca convencer o outro, simplesmente o agride.
Quando falamos de violência psicológica referimo-nos a um comportamento (não-físico) específico por parte do agressor, seja este agressor um indivíduo ou um grupo específico num dado momento ou situação. Muitas vezes, o tratamento desumano tal como rejeição, depreciação, indiferença, discriminação, desrespeito, punições (exageradas), pode ser considerado como um grave tipo de violência. Esta modalidade, muitas vezes não deixa (inicialmente) marcas visíveis no indivíduo, mas pode levar à graves
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estados psicológicos e emocionais. Muitos destes estados podem se tornar irrecuperáveis em um indivíduo, de qualquer idade. Diferentemente da violência física, a violência moral e psicológica tem menor visibilidade, pois as decorrências não são percebidas de imediato, vindo a sê-lo em estado avançado, quando ocorrem evidências de depressão, dependência química e suicídios. Crianças, idosos e deficientes são as potenciais vítimas no círculo escolar ou familiar. As crianças são mais expostas à violência psicológica, tendo em vista que dispõem de menos recursos que lhe garantam a proteção, assim como os adolescentes também são vítimas da mesma situação por motivos semelhantes às crianças. Mesmo indivíduos adultos podem sofrer as mesmas conseqüências danosas. Um exemplo claro disto são as situações de assédio moral. Através de palavras maldosas, gestos agressivos, olhares sarcásticos entre outras ações, o agressor mórbido vai continuamente usando esses instrumentos como meio de aplicação da violência. Palavras usadas que vão atuar na auto-estima da vítima, olhares duros, irônicos, gestos desrespeitosos, risos sardônicos, usados constantemente sobre um único alvo, geram um grau de exaustão tão grande que a vítima é paralisada pela incapacidade de reação dentro do jogo psicológico. A maioria dos suicídios é, pois, uma decorrência da submissão à violência moral e/ou psicológica sofridas pelas vítimas submetidas a um jogo psicológico estafante e altamente prejudicial. (Tereza Martins2007, apud: CZER, 2009) O Bullying, principal ato de violência escolar
O Bullying é um problema mundial, sendo encontrado em toda e qualquer instituição de ensino, não sendo restrito a alguns casos específicos de escolas: primaria ou secundária pública ou privada, rural ou urbana. Mas afinal, o que vem a ser Bullying? O termo Bullying não possui tradução literal para o português. Bully é o termo, em inglês, para, "valentão". A palavra Bullying deriva da expressão “to bully”, diz respeito à reiteradas práticas realizadas por parte de uma criança socialmente percebida como "mais forte, mais inteligente,
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mais popular", contra outras vistas como "menores, mais fracas e anti-sociais". Essas práticas envolvem formas daquilo que pode ser também denominadas de violência moral, implicando em xingamentos, ofensas, apelidos, entre outros, bem como violência física, como chutes e empurrões. (Tereza Martins2007, apud: RUOTTI, ALVES e CUBAS, 2007, p.176). Bullying são todas as atitudes agressivas, intencionais, deliberadas e conscientes de causar dor, sofrimento, perseguição e exclusão adotada por um indivíduo ou um grupo, na sua maioria, composto de pessoas que denotam força física, tem mais idade, ou possuem alto poder de persuasão, usando-se de sua “superioridade” física e cronológica contra outros indivíduos ou grupos mais “fracos”. Alguns exemplos de atitudes usadas pelas pessoas que praticam Bullying contra outras podem ser: humilhar, bater, gritar, colocar apelidos pejorativos, espalhar boatos sobre alguém, fazer fofoca, difamar, acusar, discriminar, excluir, roubar, esconder ou danificar materiais escolares ou roupas de outros alunos, sempre numa relação desigual de poder. Segundo os resultados da pesquisa realizada pela ABRAPIA (2003), a comunidade em geral além de não reconhecer o problema pelo nome: Bullying, muitas vezes é quem motiva comportamentos agressivos. Por exemplo, grande número de jovens que na escola são populares, de grande influência e autores de Bullying, em casa, junto à família, são vítimas de assédios, chacotas, servem de bode expiatório, etc. As situações de Bullying estão diretamente ligadas a casos de vitimização, explica Seixas (2005).
Qualquer comportamento de Bullying é manifestado por alguém e tem como alvo outro indivíduo. Sendo assim, encontra-se sempre subjacente o envolvimento de dois sujeitos: um autor que agride e aquele que é alvo de tal agressão. Nesta perspectiva, quando ocorre um episódio de Bullying, ocorre simultaneamente uma situação de vitimização. Apesar de ocorrer casos de Bullying em setores de trabalho coletivo e em outras diversas situações, é na escola que o fenômeno ocorre com maior intensidade e assiduidade; com
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maior gravidade entre a 5ª e 8ª séries e no período do Ensino Médio, explica Lopes Neto (2005). Tempos atrás (e ainda hoje, em alguns lugares), estas atitudes agressivas e intencionais eram tidas como uma “fase”, “brincadeiras” “coisa de jovens”, “coisas que todos passam na vida”. A gravidade desta situação passou a ser estudada na década de 1970, mas houve uma abordagem mais profunda na década de 1980, com o professor da universidade de Bergen na Noruega, Dan Olweus, que notou o alto índice de suicídios entre estudantes, a princípio, devido às situações de bullying que vivenciavam na escola. Antes de seu estudo pioneiro, as instituições de ensino norueguesas não demonstravam nenhum interesse ou preocupação com o tema. Olweus realizou inúmeros estudos. Em 1983 – 1984, envolveu 715 escolas compreendendo 130.000 alunos de todas as zonas da Noruega, com idade entre 08 e 16 anos. Concluiu que 15% se envolviam em atos de agressão, cujo numero de vitimas e agressores se estimava em 9% e 7%, respectivamente. Num estudo realizado em 1991, Olweus verificou que os discentes do gênero masculino eram mais violentos que os do feminino, e a violência se manifestava mais nos discentes que não comunicavam com os pais. Indicadores do Bullying no ambiente escolar
Certos indicadores da probabilidade de uma criança estar sofrendo Bullying no ambiente escolar, e são eles: demonstrar falta de vontade de ir à escola, ou pedir para que sejam levados até lá; mudar frequentemente o trajeto para ir à escola ou demonstrar medo na hora de ir; apresentar baixo rendimento escolar ou voltar da escola repetidamente com roupas rasgadas, materiais estragados ou machucados inexplicáveis; tornar-se pessoa fechada e arredia, parecer ansioso, desanimado e depressivo, com manifestações de
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baixa auto-estima; ter pesadelos durante o sono, principalmente com manifestações verbais de "socorro" ou "me deixa" durante a noite; perder seus pertences e dinheiro; evitar falar sobre o que está acontecendo e o mais grave, dos sintomas, tentar cometer suicídio. Este último foi o principal responsável pelo início de pesquisas para combate ao Bullying entre crianças e adolescentes. Lopes Neto (2008) revela que a agressividade entre os estudantes é encontrada em todas as escolas, e que a percepção de sua ocorrência pela comunidade escolar é muito pequena, incluindo os pais, sendo o Bullying mais frequentemente observado entre estudantes do ensino fundamental. O autor também aponta que, recentemente, surgiu uma nova forma de Bullying chamada de Cyberbullying ou bullying digital. Trata-se de mais uma forma de assédio escolar, utilizando para isso diversos recursos tecnológicos. Segundo o canadense Bill Belsey o "Cyberbullying envolve o uso de tecnologias da informação e da comunicação com a finalidade de legitimar comportamentos hostis, deliberados e repetidos, produzidos individualmente ou em grupo para causar danos a outros." Poucos são as pesquisas relacionadas a este novo fenômeno, porem, já se constatou que há duas modalidades de Cyberbullying: a utilizada para reforçar o Bullying já existente e praticado pessoalmente e aquela que não há antecedentes (Lopes Neto, 2008).
O agressor, para pratica de seus atos, não haverá necessidade da presença da vítima, pode ser realizado em qualquer tempo e espaço. Pode reproduzir as agressões para que seus efeitos sejam mais duradouros, e por se tratar de um veículo tecnológico, de rápida propagação, pode ter as agressões disseminadas a várias pessoas em vários lugares de aparente privacidade e segurança, como o próprio lar das vítimas, ou seja, ultrapassando os limites da escola. Levando em consideração tais aspectos, conclui-se que as conseqüências do Cyberbullying sejam maiores e mais graves do que as do Bullying tradicional. Ruotti, Alves e Cubas (2007) aprofundam o tema alegando que os problemas de Bullying podem trazer implicações aos princípios
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democráticos fundamentais, na medida em que, o que é visto apenas como brincadeira de criança é na verdade a ausência ou a ruptura de normas sociais. O contexto social O Bullying resulta de uma questão social complexa que muitas vezes, advém da própria comunidade no qual a escola se insere. Diversas investigações levadas a cabo não são consensuais no que concerne a relação ente problemas de comportamento e nível sócio – econômico. Segundo Farrington e Loeber, (cit. Por Fonceca, 2000, P.. 20) “a pobreza e a pertença à classe social baixas, constituem fatores de risco de delinquência. (...) particularmente elevado nas zonas mais degradadas e desorganizadas das grandes cidades”. (Farrigton, cit. Por Negreiros, 2003, P. 73) evidenciou uma correlação entre o comportamento agressivo das crianças entre 8 – 10 anos de idade e a pobreza. Segundo Rochex (2003) a violência é mais evidente nos bairros urbanos, pois ressentem dificuldades significativas tais como a pobreza e o desemprego, advertido, todavia, que nem todas as escolas são afetadas da mesma maneira. More (1989) em estudos já empreendidos verificou uma correlação entre o estatuto socioeconômico e o grau de Bullying existente na escola. Porem, investigadores não apresentam as mesmas conclusões (Stephenson e Smith, 1989). Aliais, da investigação de Olweus (1998) depreendeu – se que a classe social não interfere na porcentagem de crianças agressivas e vitimas. Já Fernandes (1998) numa análise acerca de 1000 redações realizadas por alunos de 14 e 15 anos que sofreram ou tiveram conhecimento de situação de Bullying apontaram, entre outras, a pobreza como uma possível causa.
A atitude geral da sociedade diante da violência é um importante fator que pode incrementar a incidência de comportamentos violentos. Uma sociedade individualista que incita a competição, não pode exigir uma atitude tolerante de quem se encontra inserido nesta. (Silva (2004), P. 19) a este
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propósito afirma que a violência se deve “à quase absoluta consideração de regras e valores Moraes privados (fidelidade aos amigos, por exemplo) e ligados a gloria (beleza, prestigio social e status financeiro) em detrimento ou pela banalização dos valores morais públicos (justiça, honestidade, respeito mútuo)”. Por isso, no seio da família, os pais devem veicular e incutir valores criveis e coerentes às crianças de modo a reabilitar os valores Moraes instituídos. A Família É na família que se estabelece as primeiras normas de vida em sociedade, que se transmite ao longo das gerações a herança cultural e social. Ela constitui igualmente um núcleo de vinculação, coesão e inter – relação além de, simultaneamente, promover a autonomia da criança que, com a entrada para escola, se confronta com a tarefa de estruturar relações de outras dimensões. É inicialmente na família que a criança desenvolve a socialização, e esta desempenha um papel preponderante no comportamento que a criança ira adaptar em sua visão do mundo e na interação com os outros. Por socialização, entendemos “a adaptação das crianças às características da sociedade em que se encontra inserida, transmitindo – lhes normas culturais e sociais que podem diferir segundo a família” (Shaffer, 1996, P. 241). Escola A escola é um espaço aberto para comunidade onde uma diversidade de indivíduos interage e cuja heterogeneidade cultural e social, deve convergir para o enriquecimento destes, em detrimento e comportamentos anti – sociais, termo que engloba atitudes de violência, agressividade entre outros. (Fonceca, Taborda Simões e Formosinho, 2000). Não obstante, afirma – se que:
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“a escola tem vindo a ser associada ao acréscimo da violência juvenil, porquanto figura como lócus privilegiado de expressões dessa mesma violência e, simultaneamente é encarada ela própria como potenciadora de violência através das frustrações que provoca em alguns alunos” (Tereza Martins2007, apud:TABORDA SIMÕES, FORMOSINHO E FONSECA, 2000, P. 415) De fato, com a democratização e alargamento da escolaridade obrigatória, a escola depara – se com alunos cuja heterogeneidade sociocultural, gera expectativas dessemelhantes. Alunos oriundos de meios sociais desfavorecidos e de minorias étnicas exibem um quadro de valores e normas que não se conforma com a cultura padrão que a própria instituição veicula, causando assim certo desajuste (Afonso, 1998). Os contextos socioeconômicos, culturais diversificados que se esboçam na escola através da população que acolhe, obrigam – a repensar a sua organização. O Bullying ocorre, geralmente, em locais com supervisão diminuídas como sucede com os espaços exteriores à sala de aula, mais concretamente nos recreios, corredores, bares, cantinas. (Amado & Freire, 2002, Smith & Sharp, 1994; Olweus, 1998). As investigações levadas a cabo corroboram que no primeiro ciclo, o recreio é o local por eleição, para a ocorrência de Bullying. (Smith & Sharp, 1994; DFE, 1994). Na escola secundária ocorre de igual modo no recreio, além da sala de aula, corredores e casas de banho (DFE, 1994). A experiência de docência revela-nos ainda a incidência deste tipo de comportamento agressivo na própria sala de aula onde toma não só a forma de agressão verbal, através do uso de linguagem injuriosa e desadequada, mas ainda de agressão física (Amado & Freire, 2002). Cada escola possui suas características e a sua “identidade”, ocorrendo variações de acordo com o contexto individual de cada aluno. Por isso, em uma mesma comunidade, uma escola pode ter um etos muito distinto da outra. Isto relaciona – se com o fato de cada aluno, quando chega à escola, traz consigo, determinantes culturais e sociais heterogêneas. Por isso uma escola que recebe muitos alunos com carências econômicas, efetivas e educacionais, terá mais brobabilidades de se verificar a ocorrência de violência (Dupâquer, 2000).
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Como podemos observar o ambiente escolar afeta os alunos não somente em termos acadêmicos, mas ainda no ponto de vista social e psicológico, sendo imperativa uma preocupação assente na qualidade do etos escolar para o estabelecimento de relações interpessoais aprazíveis entre os membros da comunidade educativa. Considerações finais Neste artigo, foi realizada uma breve análise da violência no contexto escolar, especificamente o fenômeno Bullying. Inicialmente, um breve apanhado da violência escolar e a definição de violência dada por alguns autores, em seguida foi realizado a investigação de como se da o fenômeno Bullying. O tema, embora seja de grande relevância para sociedade e atualmente esteja presente nas mídias, ainda é de pouco conhecimento no Brasil. Diferente de outros países que trabalham com equipe especializada para conter e prevenir este tipo de violência. É de suma importância a necessidades de outros estudos referentes ao assunto com o objetivo de promover o conhecimento aos educadores dando embasamento e condições para lidar com as questões referentes ao Bullying. Referências ABRAPIA – Associação Brasileira de Multiprofissionais de Proteção à Criança e ao Adolescente. Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes. Disponível em: 12 – 10 - 11 http://www.bullying.com.br/. Rio de Janeiro 2003 AQUINO, Julio Groppa.(org) Erro e fracasso na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1997.
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