UMA REFLEXÃO SOBRE O QUE PRODUZ A MARGINALIDADE DO MENOR

      O modelo de desenvolvimento social e econômico brasileiro tem forçado cada vez mais uma marginalização de massa. A concentração da riqueza que é restrita de uma pequena parcela da sociedade enquanto a grande massa fica nas margens periféricas de um sistema altamente excludente que incrementa um distanciamento das duas camadas, proporcionando uma dualidade cada dia mais crescente.

      Dentro desse quadro, um grande fenômeno vem se apresentando em nossa sociedade, o Chamado “periferização”, que se explica pelo fato da urbanização da população que migrou dos campos para as cidades onde a oferta de trabalho seria ou deveria ser mais abundante, e a distribuição desigual da riqueza brasileira, encontramos assim a própria massa nas imediações periféricas dessa cidade que também acarreta uma vertente da divisão social de classes. Esse processo tem acarretado diversos problemas de ordem social, inclusive ao que se refere a formação desse sujeito.

     Os processos de periferização se traduzem pela expansão da área Metropolitana por meio do crescimento das periferias comprometendo a integridade física e mental dos menos favorecidos. (KOWARUCK, 1977. P.41).

     O que nos interessa nesta breve análise, são os caminhos que levam a construção da criança e do adolescente em situação de risco pessoal e social, que vai gerar o nosso foco de estudo.

     Quando tratamos da questão das instituições sociais, já abordamos o assunto e ressaltamos que cabe a família a maior responsabilidade garantir a base da formação deste indivíduo. Mas onde estão às famílias dos marginalizados?

     A revolução industrial foi o passo inicial para a maioria das mudanças ocorridas no seio familiar, onde se deixa o modelo patriarcal de autoridade, proteção e busca do sustento e inclui-se o modelo atual, onde todos são corresponsáveis pelo crescimento econômico familiar e onde vai impelir a figura materna para longe de sua prole, deixando para terceiros as orientações e os valores morais que eram até então papel desta mulher no decorrer da formação desse indivíduo. Outros fatores, no entanto vão surgir desta vertente para contribuir com a falta ou a precariedade dos cuidados familiares.

     Sabendo que o fator renda ou busca da mesma tem sido imperial para a desarticulação daquela que deveria acolher proteger e orientar este indivíduo em formação. Não raras são as crianças forçadas ao trabalho ou ao abandono por causa da precarização financeira familiar ou pela inserção da mulher no mercado de trabalho cada vez mais cedo.

     Entende-se que as crianças e jovens encontrados permanentemente nas ruas dos centros das cidades, aparentemente desvinculados de qualquer instituição responsável por um direcionamento educacional, sejam o indicador mais concreto dos efeitos produzidos por uma situação de ausência e inacessibilidade dos direitos do cidadão. (GRACIANI, 1999.p.25). 

     Como esta criança ou adolescente esteve ou está fora dos laços familiares, não adquiri a orientação e a construção dos valores que regem a sociedade dominante, não só pelos meios desta, como também pelas instituições mais abrangentes, como escola e igreja.

     A sociedade que cria também exclui os seus desprivilegiados.

 O não acesso aos serviços essenciais de saúde e educação, ou quando este acesso é oferecido não supre de forma favorável as necessidades destes.

     O apelo da mídia cada vez mais feroz ao consumo de bens materiais, deixando explicito em seus discursos que o indivíduo só será bem aceito em determinado grupo se obtiver tal bem, assim esta sociedade exclui aqueles que por ela mesma são impedidos de integrar grupos privilegiados.

     Uma das resultantes deste processo é a inclusão deste indivíduo em formação no mercado de trabalho mesmo que fora da lei regente.

A maioria das crianças e de jovens que se encontram nas ruas estão vinculadas a um mecanismo de aferição de renda, quer seja pelo processo aceito pelas normas da sociedade, quer seja pela produção ilícita. Em ambas as situações, as crianças e jovens encontran-se em desvantagem perante os demais. (GRACIANI, 1999.p.32).

A rua é um espaço de dominação, exploração e exclusão e é lá que encontramos parte de uma população marginalizada pelo próprio sistema que a rege.

     Há aqueles que exercem algum tipo de trabalho nas ruas para garantirem a sua subsistência, assim contribuindo para o funcionamento da engrenagem da lógica capitalista que lhes nega a própria existência enquanto cidadão de direitos. Tais crianças que estão inseridas no mercado de trabalho obtêm ganhos irrisórios que não sendo o bastante para inseri-las nos grupos privilegiados impele-os para a apropriação ilícita de bens que podem ser vendidos ou servirem como moeda de troca oferecendo-lhes uma renda a mais.  

     Sendo provenientes de famílias oriundas das classes menos privilegiadas, elas trazem consigo a defasagem em quase todos os segmentos de sua formação. A maioria não teve acesso a escolarização, ou quando teve não durou muito. Muitos sofrem de desnutrição severa, outros sofreram tanto com a violência doméstica que preferem estar nas ruas ao voltar para seus lares. Vivem, porém num cenário confuso, complexo e violento do mundo das ruas.  O produto final desse processo de marginalização se retrata na conduta divergente ou desvio social dessa criança ou adolescente marginalizado. Problemas com o alcoolismo, o uso de drogas, a violência e várias outras formas de tentativas de alívio do mundo real são formas de protesto e inconformismo com a sua condição.

Referências

GRACIANI, Maria Stela Santos. Pedagogia social de rua. São Paulo: Cortez, 1999.

KOWARICK, L. Capitalismo e marginalidade na América Latina. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977.