FACULDADES BATISTA DO PARANÁ

MESTRADO PROFISSIONAL EM TEOLOGIA

RESENHA

 

Professor: Claiton Kunz.

Disciplina: A contemporaneidade dos Sinóticos.

Mestrando: Claudio José Bezerra de Aguiar.

Obra: MAUERHOFER, Erich et al. Uma introdução aos escritos do Novo Testamento. São Paulo: Vida, 2010. p. 67- 230.

 

O Dr. Mauerhofer é um exímio escritor e pesquisador, além de pregador e conselheiro espiritual. Elaborou esta obra após anos de estudos, com o intuito de trazer respostas apropriadas aos questionamentos emergentes a autoridade do Novo Testamento. Dividida em nove capítulos, aborda de forma erudita, do capitulo um ao oito os livros de Mateus até Apocalipse. Apresentado respostas a cada um dos livros sobre as questões de conteúdo, autoria, destinatários, questões filosóficas e varias influencias que ocorrem nos escritos e na transmissão. No capitulo nove contribui com apêndices que mostram as problemáticas dos textos classificados como apócrifos. Não se detendo a obra completa, a resenha apresentada ficará restrita ao campo dos sinóticos, com início na página 67 se estendendo a página 230.

Na sessão em questão, inicia-se com a problemática em descobrir o objetivo para a qual os evangelhos foram escritos. Não eram biografias, não eram aretalogias (relatos de milagres), nem lecionários (textos de leituras culticas), Nem pode ser comparado ao midrash. Os evangelhos formam um novo propósito, anunciar boas notícias, as boas novas de salvação.A proximidade dos textos nos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, levou no século XIII Johann Jakob Griesbach a denominá-los como evangelhos sinópticos, devido a necessidade de serem estudados em conjunto, um ao lado do outro. Colocados nesta forma começam a aparecer a divergências e similaridades.  

Nesta forma, aparecem em Mateus textos que não são encontrados nos outros evangelhos. Esta divergência é solucionada na possibilidade de Mateus ter um “material exclusivo” que os outros evangelistas não tiveram. O termo “Evangelho de Mateus”, aparece em documentos datados no início da era cristã, o que é considerado uma forte evidência a favor da autoria de Mateus. Eusébio de Cesareia deixa alguns escritos sobre o evangelho em questão e o de Marcos. Uma afirmação que Eusébio faz sobre este evangelho, posteriormente levou a conclusão que o evangelista realmente se apropriou de fontes extras. Resultando na “teoria das duas fontes” difundida por Schleiermacher. Esta afirma, Mateus na edição de seu texto fez uso de Marcos, da fonte “Q”, e do material exclusivo. No entanto, esta teoria foi descartada por não condizer com a interpretação das palavras de Eusébio. Mais provável era que ele estivesse fazendo referências a anotações que o próprio Mateus fazia dos ditos e feitos de Jesus antes de escrever seu evangelho. Ainda existem, os que afirmam que Mateus tinha escrito um evangelho em hebraico. Outros definem que foi em aramaico. Dentre eles os delegam ser fruto de um evangelho oral.

Mesmo sendo poucas as objeções contra autoria de Mateus, são apresentadas algumas hipóteses que tentam dar credibilidade a ideia que ele não seja realmente o autor do evangelho. Argumentam que dificilmente uma testemunha ocular se apropriaria de algum tipo de material para redigir o que ele mesmo tinha presenciado. Ou mesmo, se ele tivesse escrito, não teria escrito completo, como o evangelho é apresentado na atualidade. Considerando a data (60 d. C), postulam que não teria tempo suficiente para realizar toda a obra. Possível seria que existia um pseudo- evangelho que circulava na igreja com o nome de Mateus. Uma escola de Mateus é sugerida, onde um rabino, que posteriormente se tornou publicano, o tenha elaborado. Contudo, nenhum destas explicações conseguem se manterem diante da crítica.

Evidencia-se Mateus como autor por sua ênfase está em apresentar evidências que Jesus é o messias esperado para Israel. Escrevendo para judeus, mostra as profecias se cumprindo em Cristo. Alguns críticos tentam colocar e evangelho como escrito numa data posterior ao ano setenta, para dar explicação aos fatos que o evangelho registram, ao invés de darem credibilidade a onipresença de Cristo, que anunciava as evidências antes que elas aconteçam.

Abordando questão do evangelho de Marcos, fontes antigas, assim com aparecem em Mateus, atestam o nome de Marcos, como autor deste evangelho. Este, foi discípulo de Pedro, fazia anotações das palavras de seu mestre a respeito das doutrinas e ensinamentos de Jesus. Na construção do evangelho não teve preocupação com a ordem cronológica dos fatos. Descrevia conforme se lembrava, cuidando apenas com a integridade do material produzido. Esse fato leva uma data para a edição do material, após a morte de Pedro. Doutro modo, Marcos não necessitaria apenas de sua memória para produção do evangelho. Estando em Roma, de acordo com documentos antigos, Pedro anuncia o evangelho e as pessoas se convertem. Depois, com ausência do apostolo, as pessoas testemunham que Marcos estava com ele e pedem que ele faça um relato das palavras de Pedro, este ficou conhecido como evangelho segundo Marcos

Papias é o único historiador antigo que faz menção a autoria de Marcos para este evangelho. Evidencia sugerida como não suficiente para concluir o assunto. No entanto, registros antigos que discordem da ideia não existem. De modo a ser relevante o testemunho de Papias. Trazendo a direção do evangelho, e possível perceber pelas evidências do próprio texto (explicações sobre costumes dos judeus, a manifestação do ministério de Cristo, ações de Jesus, a ênfase no termo “filho do homem”), que este foi escritos para gentios cristãos. De acordo com inícios do evangelho, e de documentos antigos, Marcos estava em Roma, por volta de 60-67, quando redigiu sua obra. Um ponto intrigante neste evangelho é seu final, existem traduções antigas que constam e outra que não mencionam a parte final do livro (Mc. 16-9-20). Passível de uma explicação seria a teoria que informa ser original. Marcos dificilmente terminaria seu evangelho com as mulheres saindo amedrontadas do sepulcro. Ele tinha conhecimento a ressurreição, e com certeza terminaria com Jesus ascendendo ao céu e a deixar sua ultimas instruções.

Adentrando o evangelho de Lucas, desde muito cedo circulou com o título que menciona seu nome, com algumas variações, mas em geral todas informam o mesmo nome como autor. Este evangelho e o livro de “Atos dos Apóstolos” remetem a um mesmo autor, uma pessoa culta, que não estava inserida no grupo dos discípulos de Jesus. Perceptível nestes escritos e nas cartas paulinas, ser uma pessoa que esteve frequentemente com Paulo. Estas características facilmente podem ser identificadas com Lucas, o médico. No livro de “Atos dos Apóstolos” é verificável que Paulo e Lucas tiveram contato. Lucas, na verdade foi um dos cooperadores de Paulo.

No prólogo do evangelho com o seu nome, algumas informações importantes são apresentadas. Ele não era uma testemunha ocular, assim, ele não pode ser associado a nenhum dos discípulos. Não era o primeiro a escrever sobre Jesus, ele estava fazendo uma pesquisa sobre tudo que conhecia sobre o assunto. No ponto dos destinatários, este evangelho é o mais específico. Foi direcionado a um Teófilo, provavelmente alguém da alta aristocracia. Lucas escreve o escreve de Cesareia no período do segundo cativeiro de Paulo. Observando a passagem de Lucas 2.1, alguns pesquisadores quiseram colocar duvida quanto a veracidade, afirmando que de acordo com Josefo, não existiu um recenseamento no período conforme mostra o evangelho. No entanto, mesmo que as informações de Josefo não coincidem com as de Lucas, devem ser analisados alguns critérios. Lucas nasceu primeiro, as informações de Josefo muitas vezes são tendenciosas, e varias pesquisas recentes têm comprovado a versão de Lucas.

Na analise dos três evangelhos, quando colocados um ao lado do outro, é notável a grande similaridade entre eles. Muitas passagens são idênticas, contudo aparecem detalhes diferentes entre si. Nestas divergências concite o problema sinótico. As primeiras tentativas de solução para estas cisões supõem a existência de um protoevangelho em aramaico (escritos das mensagens, curas, milagres morte e ressurreição de Jesus), ou fragmentos destes escritos, e a possibilidade de uma tradição oral, que circulavam na comunidade e foram utilizados por cada um dos evangelistas. Entretanto essas explicações não conseguem dar respostas significativas ao problema. Então passaram a olharem os próprios evangelhos, e perceberam que todo o conteúdo de Marcos está presente nos outros dois. Deduzindo que Marcos foi escrito primeiro, e os outros evangelhos o utilizaram para escreverem. Mas, nos dois evangelhos apareceram os ensinamentos detalhados de Jesus que em Marcos não constam. Assim surgiu a teoria das duas fontes. Mateus e Lucas utilizaram Marcos, e mais uma fonte comum entre os dois, denominada fonte “Q”. Porém, ainda restaram as passagens que aparecem em Mateus e em Lucas, mas não coincidem com nenhum deles. Resultado, uma fonte “M”, para o material extra de Mateus e uma fonte “L”, para o material exclusivo de Lucas. No entanto, a suposta fonte “Q” nunca foi encontrada, nem vestígios dela, o que a torna apenas uma hipótese. E como explicar as passagens mencionadas em Marcos que não aparecem nos outros dos evangelhos?. E os documentos antigos que registram os evangelhos na mesma ordem atual? Estes, entre outros questionamentos fazem com que a teoria das duas fontes não consiga se mater. No entanto, levando em conta a condução do Espírito Santo na formação dos evangelhos, e sabendo que é Ele quem garante a inerrância das escrituras, pode-se tomar como base o evangelho e Lucas e os Atos dos Apóstolos. Estas são as fontes mais fidedignas para se tirar algumas ponderações. Como no ministério de Jesus, muita informação se manteve na forma oral, ou em pequenas anotações, que se tornaram tradição. Jesus anuncia que seus discípulos conhecerão a verdade pelo Espírito, que há de os revelar. Atos dos Apóstolos confirma este acontecimento depois do Pentecostes. O prólogo de Lucas trás informações sobre os acontecimento e edição dos evangelhos que estavam acontecendo. Resumindo a ordem apresentadas dos evangelhos é coerente com o que o Espírito Santo pretendia deixar para igreja Mateus, Marcos e Lucas.

       A obra abordada é riquíssima em detalhes. O autor provou sua capacidade investigativa. Sua linguagem é técnica quando necessária, não carregando o texto, e facilitando a leitura. É uma obra de arte que precisa ser apreciada por completo. Contudo, é necessário tempo e realizar uma leitura com calma, para conseguir absorver o conteúdo, e chegar às conclusões que são direcionadas. É uma obra acadêmica com bases cristã. Confia no testemunho Bíblico, na infabilidade e inerrância das Escrituras. Um excelente trabalho para ser apreciado por acadêmicos, pastores e crentes que desejem ampliar seus conhecimentos sobre o Novo Testamento.