Uma Análise Sobre a Necessidade da Promoção da Competência da Leitura e Escrita Académica no Ensino Superior em Moçambique 

O presente texto sobre a promoção da competência da leitura e escrita académica faz uma abordagem preocupante com relação ao domínio da língua escrita a nível de várias áreas de formação no nível superior. Neste contexto, faz-se menção à importância da literacia crítica que é bastante relevante nos textos academicamente produzidos pelos estudantes nas universidades do nosso país. O domínio e gosto pela leitura são aspectos chave para o sucesso da língua escrita e escrita académica em vários processos académicos e educativos.

A partir da formação da escrita académica e a literacia crítica, podemos na verdade perspectivar um estudante com capacidades e competências críticas sobre a construção de conhecimentos, assuntos sociais e domínio de abordagem académica. O estudante será capaz de redigir textos coerentemente e academicamente aceitáveis no contexto em que ele esteja inserido.

O domínio da língua escrita pelos estudantes do ensino superior é algo preponderante e bastante realçado neste texto, que de facto, é de extrema importância para qualquer sociedade académica. A preocupação deve ser generalizada, isto é, não só para os estudantes, mas também para os docentes.

A compreensão da leitura dos vários tipos de textos ajuda no processo de domínio das construções frásicas, bem como a ordenação e coerência dos parágrafos nos textos que os estudantes produzem. O estudante não só interage com o texto como um agente receptor da mensagem, mas também é conduzido pelas acções, atitudes que psicologicamente relacionam-se com a vida real.

Paralelamente a esta abordagem, gostaria de concordar com as RODRIFUES e PEREIRA (2010), ao afirmarem que o entendimento da compreensão na leitura seria o resultado de habilidades conseguidas de modo sequencial e isolado, dá lugar a uma visão interacionista onde a compreensão é o resultado de um conjunto de habilidades cognitivas que ocorrem de modo simultâneo. Nessa perspectiva, o leitor deixa de ser um receptor passivo da mensagem contida no texto, para ser ele próprio a dar um sentido a esse texto.

 Porém, este exercício depende da capacidade de maturidade e domínio das competências com relação aos temas em abordagem, isto é, na formulação e resolução de problemas onde o sujeito se encontra tendo em conta o seu destinatário.

Nesta vertente, o domínio da produção escrita dos textos académicos no nível superior, exige do estudante uma competência crítica para a ‟transformação do conhecimento” BEREITER e SCARDAMALIA (1987:5). Para tal, há toda necessidade de planificar, redigir e rever qualquer que seja o processo de escrita académica, para que a mensagem não seja obstruída ao receptor. Assim, a escrita académica é para nós, um dos elementos importantes que mostra a maturidade intelectual do estudante no ensino superior, estudante que seja capaz de formular e organizar o raciocínio para a produção de um trabalho original que paute pelas convenções próprias da escrita académica, a qual exige fidedignamente as fontes recomendadas, rigor, objectividade e clareza.

Neste prisma, docentes especializados nos cursos de Ensino de Línguas ou Linguística trabalhando nas universidades devem monitorar o processo dentro das instituições do ensino superior em coordenação com os responsáveis de núcleos ou departamentos de pesquisa. Na componente prática, há que referir grandes contributos que os estudantes devem regrar-se obrigatoriamente, por exemplo, a orientação de citações e referências bibliográficas de outras fontes para que possam evitar o acto de plágios.

Para que a competência do domínio da escrita a partir de várias fontes seja uma realidade, o professor na sala de aulas tem um papel muito importante de transformar as aulas em seminários, onde os alunos podem ser postos em pequenos grupos de 3 a 4 estudantes, para a partilha das suas escritas. Isto é, tomando como exemplo, durante as sessões presenciais, cada aluno faz a sua síntese e depois todos elementos em grupo discutem sobre o que deve realmente conter na síntese do trabalho. Isto é o que Grabe e Kaplan, 1997, citados por RODRIGUES e PEREIRA chamam de ‟cooperative learning” ou melhor ‟aprendizagem colaborativa”, de modo a permitir o trabalho em grupos, o que poderá propiciar aos alunos uma visão mais holística da aprendizagem. Nesta aprendizagem, didacticamente o docente tem a missão de fazer um acompanhamento contínuo dos trabalhos e do processo educativo.

 

Considerações finais

As competências do domínio da escrita podem ser adquiridas de forma indirecta, sem que o aluno tenha a noção para tal efeito, a partir de elaboração de resumos de aulas de forma constante. Isto poderá ser chato nos primeiros dias da actividade, mas depois de algum tempo, será algo intrinsecamente aceitável pelo próprio aluno, pois poderá aprender quão importante é fazer o resumo da aula escrita e ganhará o bom hábito de elaborar pequenas sínteses.

Um dos reais contributos, que gostaríamos de sugerir é o apelo de que em muitas instituições do ensino superior moçambicanas, a escrita académica seja implementada como uma disciplina de ensino. Se tomarmos em conta o nível da capacidade de domínio da escrita de vários estudantes neste nível, de facto é necessário e forçoso que haja esta disciplina.

O domínio da escrita académica dá contributos que qualificam positivamente o estudante integrado no ensino superior. O sucesso desta arte depende necessariamente da entrega do estudante em harmonia com os planos de estudo ministrados didacticamente pelos docentes do ensino superior nas devidas áreas de formação. 

Referências Bibliográficas

BEREITER, C.; SCARDAMALIA, M. (1987), The psychology of written composition. Hillsdale, New Jersey: L. Erlbaum.

GRABE, William; KAPLAN, Robert B. (1997), Theory and Practice of Writing: an applied linguistic perspective. London; New York: Addison Wesley Longman.

RODRIGUES, Leila C. S.; PEREIRA, Luísa A. (2010), Pedagogia no Ensino Superior: Uma proposta para a promoção da competência de síntese a partir de várias fontes em contexto académico. Cadernos de Pedagogia no Ensino Superior: Escola Superior de Educação de Coimbra.

 

Gregório Jorge Gonçalves                                                                                                                                Docente da Universidade Pedagógica e Mestrando em Gestão e Administração Educacional