POSIÇÃO DEPRESSIVA

Klein (1935) descreveu dois importantes estágios no desenvolvimento psíquico no primeiro ano de vida da criança: a posição esquizo-paranóide e a posição depressiva.

Inicialmente, existe um predomínio dos impulsos destrutivos na criança, que enxerga o mundo externo também como destrutivo e persecutório. A posição esquizo-paranóide caracteriza-se por esses impulsos e, nessa fase, o conflito acontece em função da sobrevivência do ego. Conforme ocorrem influências de impulsos amorosos dirigidos para o mundo externo, é desenvolvido um relacionamento mais positivo com a mãe e a criança conscientiza-se de sua própria ambivalência. Nessa fase, a criança tem ansiedade relacionada ao medo de que seus próprios impulsos destrutivos possam destruir sua mãe amada e, a percepção de sua própria ambivalência a leva a intensos sentimentos de responsabilidade, desespero, ansiedade e culpa. Assim, a posição depressiva pode ser caracterizada por um modo mais maduro de relacionamento com o outro, o qual possibilita uma nova forma de moralidade.

Na posição depressiva, a criança preocupa-se com o bem-estar do outro, diferentemente da posição esquizo-paranóide, onde a mesma está preocupada apenas com o bem-estar do ego.

Outra característica da posição depressiva é o ego que se torna mais identificado com o outro, e essa preservação do outro é sentida como garantia da preservação do próprio ego. Aliás, nessa condição, existe a possibilidade de uma preocupação real com o bem-estar do outro, independentemente do ego.

Na teoria de Klein, a ansiedade depressiva é a fonte da verdadeira capacidade de amar, a qual é inicialmente expressa através de ansiedade pela destruição do outro, culpa, remorso, desejo de reparar o dano feito, responsabilidade em preservar o outro e tristeza relacionada com a possibilidade de perdê-lo. A capacidade de identificação com o outro na posição depressiva tem como conseqüência o amor. Assim, a criança se torna capaz de encontrar outros objetos de interesse e o seu amor é dirigido também para outras pessoas e coisas.

Conclusão

Conforme Klein (1935), no primeiro ano de vida da criança, ocorre uma importante mudança nas relações de objeto, sendo uma relação do objeto parcial para um objeto total. Nessa mudança, o ego se posiciona diferentemente, identificando-se com o objeto.  O que antes era caracterizada sua ansiedade como tipo paranóico e prevalecia a preservação do seu ego, nessa nova posição, a criança apresenta um conjunto mais complexo de sentimentos ambivalentes e ansiedades depressivas sobre seu objeto, tendo medo de perder o objeto amado bom, além de sentimentos de culpa pela sua agressividade contra o objeto e reparação com sentimentos de amor. Ocorrem mudanças também em suas defesas, mobilizando as defesas maníacas para aniquilação dos perseguidores e lidando com esses sentimentos de culpa e desespero.

Esse grupo específico de relações de objeto, ansiedades e defesas, que são caracterizadas como a posição depressiva, Klein menciona ser a posição central do desenvolvimento da criança, que acarreta a saúde mental assim como a sua capacidade de amar, e depende de uma firme internalização do objeto bom. Caso isso não aconteça, podem acarretar o estado psíquico da criança para a doença depressiva.