Fernanda Lima Mamona Santos 1

 

RESUMO
O objetivo do presente trabalho, é analisar e entender a história da feminilidade, desde os tempos antigos até a atualidade. Abrangendo temas correlacionados, como a construção social e a imposição sobre o sexo feminino, do que é ser mulher. Pretende- se estudar a visão da psicanálise à respeito, usando uma abordagem Freudiana que descreve a feminilidade como um "continente obscuro", salientando assim a exploração inacabada sobre o assunto. O pai da psicanálise explica que a feminilidade está em paralelo à masculinidade, mesmo havendo uma distinção entre homens e mulheres, anatomicamente e socialmente. Contudo, o próprio termo foi definido de forma hegemônica numa sociedade machista e patriarcal, trazendo questionamentos até o século atual. Palavras-chave: Feminilidade. Construção. Sociedade.

RESUMEN
El objetivo de este trabajo es analizar y comprender la historia de la feminidad, desde los tiempos antiguos hasta la actualidad. Abarcando temas afines, como la construcción social y la imposición al sexo femenino, de lo que significa ser mujer. Se pretende estudiar la mirada psicoanalítica del sujeto, utilizando un enfoque freudiano que describe la feminidad como un "continente oscuro", destacando así la exploración inconclusa del tema. El padre del psicoanálisis explica que la feminidad es paralela a la masculinidad, aunque hay una distinción entre hombres y mujeres, anatómica y socialmente. Sin embargo, el término en sí fue definido de manera hegemónica en una sociedad sexista y patriarcal, lo que plantea interrogantes al siglo actual.
Palabras clave: Feminidad. Construcción. Sociedad.

1 INTRODUÇÃO
Quando se pensa no feminino, pensa-se primeiramente na gentileza, preocupação com a beleza, cuidados ao lar, delicadeza e outras características que são impostas à feminilidade. Mas qual o problema nisso? É errado ter a delicadeza feminina e todas as outras características por natureza? Não, o erro é achar que todo o sexo feminino é delicado e gentil, pelo simples fato de ser o sexo feminino. A feminilidade é um tema pouco estudado, pois para muitos é tida como superficial, é apenas a descrição da mulher que vive no salão de beleza, que está sempre

 

1 Estudante de Letras, Língua Espanhola e Literaturas - UNEB Campus V

 

2 preocupada com o seu corpo, e que faz de tudo para conseguir ser vista como uma mulher feminina. Como aponta Beauvoir, o homem nasce sujeito; a mulher precisa tornar-se, As mulheres sempre foram o Outro, cuja existência é sustentada pela feminilidade, que são levadas a desenvolver com a finalidade de agradar o homem – sujeito a quem sua existência está condicionada. Simone de Beauvoir também ressalta que mesmo ante o avanço do feminismo e o encorajamento ao estudo, da mulher sempre exige-se outro tipo de realização: que antes de tudo ela seja uma mulher, que não perca sua feminilidade. Neste trabalho, a feminilidade e sua aceitação dentro da sociedade é tratada como tema principal, abrangendo alguns tópicos correlacionados para uma melhor absorção e entendimento sobre o assunto, onde o objetivo principal é examinar o campo onde as mulheres tentam se constituir como sujeitos, para além do desejo de um homem, ou para além do discurso cultural, além disso, levanta uma crítica à respeito da construção e da aceitação sobre essa feminilidade, que vive sendo moldada desde os tempos antigos, de modo que mantenha as mulheres sempre presas aos padrões que são impostos à elas. Utilizou-se a análise de documentos e revisão bibliográfica como metodologia de estudo, tendo uma base inicial na psicanálise.

 

2 A VISÃO PSICANALÍTICA DA FEMINILIDADE
Por volta do fim do século XIX, alguns sintomas questionavam o saber racional da medicina, incapazes de identificar fisicamente o que ocorria com algumas mulheres, as classificaram como "histéricas". Quando Sigmund Freud decidiu ouví- las, lhe possibilitou descobrir a existência do inconsciente, desbravando um novo campo da ciência médica e propondo uma nova forma de tratamento, a psicoterapia. Os sintomas neuróticos dessas mulheres eram resquícios de sofrimento, provenientes do desejo e a repressão, com isso, o estudo dessas mulheres possibilitou a Freud, obter um novo olhar sobre a questão sexual da mulher, tendo como consequência um novo campo do saber. No início das suas teorias, Freud (1931), escrevia uma análise onde a sexualidade feminina e masculina possuíam o mesmo desenvolvimento. Decorrendo em seus estudos, notou que isso não é possível, mantendo o conhecimento da diferença anatômica entre os sexos. Na sexualidade infantil, o masculino é predominante, pois segundo Sigmund (1931), este fato é denominado pela primazia do falo. Para Freud, a feminilidade é um possível destino do Complexo de Édipo nas mulheres, reforçando o argumento de que elas teriam "inveja do pênis". A feminilidade corresponde também a uma posição de passividade, na qual a libido em si pertence ao ser masculino, o tornando ativo, mantendo o feminino em posição secundária. Segundo Freud (1923), o Complexo de Édipo, a figura paterna e a castração resultam no enigma feminino, e foi em seus estudos sobre a sexualidade infantil que ele se aproximou do conceito de feminilidade. Ele expõe o desenvolvimento sexual do menino e levanta questionamento sobre a forma que se apresenta na menina. Esse complexo de castração, se dá de maneira distinta, onde a menina deve aceitála, enquanto o menino deve temê-la. Partindo dessa visão Freudiana, a inveja e o desejo do pênis causam consequências na evolução feminina, uma delas é o distanciamento da relação afetuosa com a mãe, colocando a mesma como responsável pela falta do falo. O caminho para a feminilidade coloca-se aberto à menina após voltar-se para o objeto paterno.


...observamos que muitas mulheres que escolheram o marido conforme o modelo do pai, ou o colocaram em lugar do pai, não obstante repetem para ele, em sua vida conjugal, seus maus relacionamentos com as mães. O marido de tal mulher destinava-se a ser o herdeiro de seu relacionamento com o pai, mas, na realidade, tornou-se o herdeiro do relacionamento dela com a mãe. Isso é facilmente explicado como um caso óbvio de regressão. O relacionamento dela com a mãe foi o original, tendo a ligação com o pai sido construída sobre ele; agora, no casamento, o relacionamento original emerge da repressão, pois o conteúdo principal de seu desenvolvimento para o estado de mulher jaz na transferência, da mãe para o pai, de suas ligações objetais afetivas. (FREUD, 2006e [1931], p.239)

 

Em Sexualidade Feminina (1931), Freud aponta que a maioria das características da vida sexual feminina podem ser explicadas através da sua relaçao com a mãe, já no seu último trabalho, Feminilidade (1932), o pai da psicanálise atesta e ressalta a feminilidade como um enigma, mesmo para a psicologia, reforçando sua definição de "continente obscuro". Ele explana que existe uma grande quantidade narcisista nas características psíquicas da feminilidade, influenciando em escolhas amorosas e até sexuais, na qual devido à inveja do pênis, a mulher tende a super elevar seus encantos, tentando compensar a inferioridade sexual originária. A visão de Freud à respeito da mulher está do lado oposto ao de Lacan, que enxerga um desdobramento do ter para o ser o falo. Perante isto, a mulher faz algo com a falta para despertar o desejo no homem, fazendo sua existência metafórica do desejo do Outro.

 

4 Em contrapartida à natureza feminina, a histérica não tolerando a posição de objeto, vai de encontro a função de virilidade. Expressa seu desejo de colocar-se no lugar de outra mulher, para ser amada e admirada, vivenciar esses aspectos de uma outra visão. Apropriando-se desses atributos, apropria-se também de um saber sobre a feminilidade, fixando-se num modelo feminino e assumindo sua própria feminilidade. O cuidado com a perfeição passa a mobilizar a mulher histérica, e partindo dessa exigência ela encontrará suportes em alguns estereótipos ideológicos e culturais. As exigências da beleza são incansavelmente atormentadoras, virando uma necessidade para apreciação do outro, o mantendo assim, fascinado. (DOR, 1991). Em uma forma de confissão à Marie Bonaparte, Freud afirma: "A grande questão continua sem resposta e a qual eu mesmo não poderia jamais ser capaz de responder apesar dos meus trinta anos de estudos sobre a alma feminina: O que quer uma mulher?". Esse questionamento deixa evidente, que nem mesmo o pai da psicanálise foi capaz de entender o desejo feminino por completo, mesmo com vários estudos. A histeria é em exercício, o inconsciente. Pôs Freud em uma tentativa de construir o saber sobre O que é ser uma mulher? Esse é o grande mistério em torno da histeria, e é através de outras mulheres e de um homem, que a histérica busca a resposta para o enigma.

 

3 FEMINILIDADE E SUA CONSTRUÇÃO SOCIAL
Na estrutura patriarcal, os homens falam e escrevem sobre todos os assuntos e são devidamente ouvidos, mesmo não tendo amplo conhecimento, como por exemplo, sobre a feminilidade e o que é ser mulher. Como afirmou Aristóteles, "a relação de macho para fêmea é por natureza uma relação de superior a inferior e de governante a governado". Ele entendia a mulher como um ser inferior, como um segundo sexo. Afirmava que o ser feminino, era por natureza mais fraco e sentimental: “Portanto, as mulheres são mais compassivas e prontas a chorar, mais invejosas e mais sentimentais e mais contenciosas. A fêmea também está mais sujeita à depressão do espírito e ao desespero do que os homens. Ela é também mais desavergonhada e falsa, mais prontamente enganada, e mais atenta às injúrias, mais ociosa e, em geral, menos excitável que o macho. Pelo contrário, o macho está mais disposto a ajudar e, como já foi dito, mais valente do que a fêmea.” (ARISTÓTELES, [350a.C-?])

 

Regressando às origens, na metade do século XIX, pode-se notar que existia um campo imaginário sobre a natureza feminina, essa idealização criada era a definição do que é ser mulher. As mulheres eram objetos de discursos elaborados,
5 criados por homens que sustentavam a ideia de que a função da mulher era ser apenas a esposa e mãe. Porém, as mulheres não desejavam apenas viver dessa forma, como rainhas do lar, queriam também dar sentido às próprias vidas, criando e construindo suas histórias. Em 1789, com a Revolução Francesa, veio à tona o discurso de Liberté, Egalité, Fraternité (Liberdade, Igualdade, Fraternidade), o que dava a cada um a possibilidade de criar e inventar seu próprio destino Sendo assim, houveram mudanças sociais e culturais, dos ideais de que só havia um lugar destinado às mulheres e algumas delas começaram a expandir seus espaços na sociedade, através dos estudos, da escrita ou leitura, mas muitas vezes escondidas em pseudônimos masculinos. Nos séculos passados, mulheres que íam além da beleza, delicadeza e sutilidade, eram comparadas com homens, como o caso de Simone de Beauvoir, que segundo o próprio pai, possuía o "cérebro masculino", já sua irmã era contemplada por sua doçura, o que era considerado ser mulher. O conceito de feminilidade passou por grandes transformações devido à mudança da sociedade, porém, existe um longo período de domínio social do masculino para com o feminino. Uma concepção criada de forma arbitrária dentro de uma sociedade patriarcal, a idealização do que é ser mulher tem sido muito questionada desde os tempos antigos. A noção de feminilidade, desenvolvida a partir do marco histórico da modernidade, manteve as mulheres daquela sociedade em um cerco invisível que visava adequá-las ao padrão cultural ditado pela supremacia masculina, e que as mantivesse afastadas da vida pública. Afinal, o que é a feminilidade? Um aspecto natural das mulheres, ou apenas uma construção cultural? Para Bourdieu (2003), ser uma mulher enquanto construção social, ou seja, atuar no papel de mulher na nossa sociedade seria saber “fazer-se pequena”. Em seu livro A dominação masculina, o autor explica que o corpo, os gestos e atitude da mulher são totalmente moldados pela sociedade, de modo que a faça parecer inferior às dos homens:

 

"A postura submissa que se impõe às mulheres [...] revela-se em alguns imperativos: sorrir, baixar os olhos, aceitar as interrupções etc. [...] as pernas que não devem ser afastadas etc. e tantas outras posturas que estão carregadas de uma significação moral (sentar de pernas abertas é vulgar, ter barriga é prova de falta de vontade etc.). Como se a feminilidade se medisse pela arte de “se fazer pequena” [...], mantendo as mulheres encerradas em uma espécie de cerco invisível, limitando o território deixado aos movimentos e aos deslocamentos de seu corpo, sobretudo em lugares públicos. Essa espécie de confinamento simbólico é praticamente assegurada por suas roupas (o que é algo mais evidente ainda em épocas mais antigas) e tem por efeito não só dissimular o corpo, chamá-lo continuamente à ordem (tendo a

 

6 saia uma função semelhante à sotaina dos padres) sem precisar de nada para prescrever ou proibir explicitamente [...]: ora com algo que limita de certo modo os movimentos, como os saltos altos ou a bolsa que ocupa permanentemente as mãos, e sobretudo a saia que impede ou desencoraja alguns tipos de atividades (a corrida, algumas formas de se sentar etc.); ora só as permitindo à custa de precauções constantes, como no caso das jovens que puxam seguidamente para baixo uma saia demasiado curta, ou se esforçam por cobrir com o antebraço uma blusa excessivamente decotada, ou têm que fazer verdadeiras acrobacias para apanhar no chão um objeto mantendo as pernas fechadas.. [...] E as poses ou as posturas mais relaxadas, como o fato de se balançarem na cadeira, ou de porem os pés sobre a mesa, que são por vezes vistas nos homens — do mais alto escalão — como forma de demonstração de poder, ou, o que dá no mesmo, de afirmação são, para sermos exatos, impensáveis para uma mulher." (BOURDIEU, 2003, p. 39–40).

 

O famoso trecho do livro O segundo sexo, de Simone de Beauvoir (1967) "não se nasce mulher, torna-se mulher", alerta o fato de que as mulheres são ensinadas desde à infância, a cumprirem um papel social de submissão e silenciamento perante os homens. Meninos e meninas são criados de maneira distinta dentro de casa, e desde cedo aprendem o machismo em sua prática, pois “é sem dúvida à família que cabe o papel principal na reprodução da dominação e da visão masculina” (BOURDIEU, 2003, p. 102). Simone de Beauvoir afirma, que é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de feminino e que somente a mediação de outrem pode constituir um indivíduo como um Outro.

 

4 A PROMOÇÃO DA FEMINILIDADE PELA VISÃO MIDIÁTICA
Classificada como feminilidade cultural, a prática de impor "costumes femininos" às mulheres, se tornou cada vez mais forte, principalmente com a ajuda da mídia. A televisão veicula imagens de mulheres perfeitas, arrumadas, com unhas grandes e bem feitas, cabelos sempre bem penteados, vestidas sempre com belas roupas e salto alto em sua maioria. Suas personalidades são sempre dotadas de delicadeza e sensibilidade, sempre tão amáveis e acolhedoras, verdadeiras mulheres, que honram seu gênero feminino. Afinal, isso é feminilidade. Os programas de televisão, jornais e revistas dedicam espaços cada vez maiores para apresentar novidades no segmento dos cosméticos e vestuários, que visam manter as mulheres nesse processo de imposição e opressão aos seus corpos. Esses meios de comunicações têm imposto um estereotipado padrão de beleza feminino, onde o ideal é ser magra, estar sempre bem vestida, ser atraente e sexy para ser aceita, assim como Bohm afirma:

 

7 "O padrão estético de beleza atual, perseguido pelas mulheres, é representado imageticamente pelas modelos esquálidas das passarelas e páginas de revistas segmentadas, por vezes longe de representar saúde, mas que sugerem satisfação e realização pessoal e, principalmente, aludem à eterna juventude." (BOHM, 2004, p.19).

 

A beleza vendida pela mídia, é uma que se baseia em nádegas e seios grandes, empinados e sem nenhuma marca, pele bronzeada, nenhuma ou quase nenhuma gordura no corpo, não pode haver estrias ou qualquer característica que mostre suas marcas de expressão ou flacidez. E como é conseguido tudo isso? Através de produtos artificiais, que em sua grande maioria melhoram o físico, mas afetam a saúde. Esse padrão de beleza tornou-se associado à feminilidade, portanto as mulheres se tornaram o principal alvo de propagandas midiáticas, já que a elas foi dado a obrigação de serem sempre belas e perfeitas, excluindo completamente as que não se encaixam nesses padrões.

 

"A distância entre o modelo da revista – dos comerciais – e o reflexo no espelho também contribui para a dificuldade de integração. Não se trata apenas de conciliar senso de realidade e aspirações narcisistas. O que propõem as fotografias são corpos imaginários, abstratos e inatingíveis e, por assim dizer, eternos. Não são submetidos à dor, nem ao envelhecimento, ainda menos a morte." (AUGRAS, 1996 p. 44-45).

 

Atualmente, o mundo está vivendo a era da imagem, aquela vendida e consumida. Mulheres vivem sustentando a imagem da perfeição, seus corpos perfeitos, filhos perfeitos, vida perfeita, o verdadeiro imaginário que é vendido como padrão. Sabe-se que por trás de tudo existe um mercado capitalista que dita as regras, fazendo com que essas mulheres façam grandes esforços para sustentarem a imagem de que a perfeição é algo alcançável.

 

5 INFLUÊNCIA DA IGREJA SOBRE A FEMINILIDADE
Para a igreja, a feminilidade faz parte da identidade da mulher, assim como a masculinidade para os homens, adequando seu modo de ser, agir e pensar. Acreditam que a feminilidade é um chamado para as mulheres, uma dádiva de Deus. Sendo assim, todo e qualquer movimento que vá contra esse pensamento, é tido como errôneo. O movimento feminista é bastante criticado pelos cristão, pois eles classificam como algo que fere à constituição de Deus, julgam o movimento como uma forma de retirar das mulheres, as suas características femininas que já foram 8 predestinadas à elas, características essas que em sua maioria, são relacionadas a comportamento, falas, ações e muitas vezes ao estético.

 

“Ora, ao desejarem se tornar como homens, as feministas inconscientemente admitem a superioridade do sexo masculino. Elas insensatamente preferem alterar a desigualdade a buscar a verdade ou a justiça. Reconhecendo o seu papel e sua dignidade, a mulher pode fazer muito mais do que ao tentar anular sua feminilidade.” (HILDERBRAND, 2014, p. 19).

 

A narração de Gênesis 2, 18 mostra que o Senhor Deus disse: "Não é bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe uma auxiliar que lhe seja adequada’”. Ao criar a mulher, Deus a chamava para ser auxiliar do homem, para o ajudar em suas necessidades espirituais, físicas e psicológicas. A visão da igreja é que a mulher carrega em si, características que permitem ser sensível às necessidades do outro, possui capacidade de motivar, ter empatia e superar dificuldades. Para Soares (2014), a missão da mulher se dá em favor da humanidade, e a forma como ela usa sua feminilidade tem o poder de construir o homem, assim como de destruí-lo. Para o mesmo, a vivência da feminilidade cristã permite à mulher cooperar na construção de um homem novo, uma sociedade nova, conduzindo-os à Deus. Para Hilderbrand (2014, p. 78), "enquanto as mulheres se mantiverem fiéis ao seu chamado religioso, o mundo será salvo." A visão cristã à respeito das mulheres, é que sua feminilidade é um dom, é uma característica dada por Deus, e é exclusivamente voltada na construção dos homens como superiores, como heróis, onde os mesmos são tidos como a força e cabeça de uma casa, e a mulher é vista apenas como um suporte, como alguém que está ali apenas como apoio, com o dever de tornar aquele homem em alguém melhor.

 

“Uma mulher na presença de um bom homem, de um homem de verdade, adora ser mulher. A força desse homem permite que o coração feminino da mulher floresça. Sua busca faz aflorar a beleza dela. E um homem na presença de uma mulher de verdade adora ser homem. A beleza dessa mulher o instiga a agir como homem, faz aflorar sua força. Ela o inspira a ser um herói” (ELDREDGE, 2007).

 

Analisando algumas passagens bíblicas, pode-se observar que desde os tempo antigos até a atualidade, as mulheres são tratadas como seres inferiores dentro da visão cristã. Em 1 Timóteo 2.11-14 mostra que "a mulher deve aprender em silêncio, com toda a sujeição. Não permito que a mulher ensine, nem que tenha autoridade sobre o homem. Esteja, porém, em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, e depois Eva." O apóstolo Paulo dita duas proibições para as mulheres, que aprendam em silêncio com total submissão, e que não devem ensinar aos homens, nem ter autoridade sobre eles, as mantendo inferiores, submissas e silenciosas perante os 9 homens. Seguindo essa análise, Maria é o modelo cristão perfeito de feminilidade, pois manifestou em si, a perfeição de ser filha, mulher, esposa e mãe, acolhendo a vontade de Deus e ensinando a fazer sempre o que Cristo pede.

 

"Mulheres, sujeitem-se a seus maridos, como ao Senhor, pois o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, que é o seu corpo, do qual ele é o Salvador. Assim como a igreja está sujeita a Cristo, também as mulheres estejam em tudo sujeitas a seus maridos. Maridos, amem suas mulheres, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se a si mesmo por ela para santificá-la, tendo-a purificado pelo lavar da água mediante a palavra, e apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável. Da mesma forma, os maridos devem amar as suas mulheres como a seus próprios corpos. Quem ama sua mulher, ama a si mesmo. Além do mais, ninguém jamais odiou o seu próprio corpo, antes o alimenta e dele cuida, como também Cristo faz com a igreja, pois somos membros do seu corpo. “Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne”. Este é um mistério profundo; refiro-me, porém, a Cristo e à igreja. Portanto, cada um de vocês também ame a sua mulher como a si mesmo, e a mulher trate o marido com todo o respeito." (BÍBLIA, Efésios 5.22- 33).

 

A passagem bíblica citada acima, mostra que a mulher deve sempre se sujeitar ao seu marido, o tratar com respeito, enquanto o homem deve amar a sua esposa como a si mesmo. Nessa passagem, pode-se notar que definitivamente, para o cristianismo essa é a verdadeira feminilidade, o ato de ser submissa, obediente e estar sempre disposta para o marido. Sendo assim, a visão cristã é de que a feminilidade da mulher está voltada para a maneira como ela se porta perante aos homens, como ela se porta perante a sociedade. A igreja reforça que mulheres devem estar sempre bem cuidadas, arrumadas e belas, que devem sempre manter a casa e os filhos em ordem, e ainda cuidar do seu marido. Em conclusão, para o cristianismo, a feminilidade da mulher terá sempre essa relação com o cuidado e submissão ao homem, será sempre vista como uma característica especial dada por Deus, para que as mulheres fossem sempre tão receptivas, amáveis e sucintas, jamais será vista como uma característica construída, moldada e superestimada pela sociedade.

 

6 CONCLUSÃO
Como foi apresentado na introdução do presente trabalho, não é errado que mulheres sejam delicadas e gentis, mas é errôneo afirmar que todas as mulheres possuam essas características, como se fossem específicas do sexo feminino. Inquestionavelmente, a feminilidade ainda é um tema pouco explorado, porém bastante questionado desde a antiguidade, pois não existem estudos concretos onde mostrem de fato que é algo natural, inerente às mulheres. Por tanto, se faz necessário 10 que especialistas desenvolvam estudos aprofundados sobre o tema, para uma melhor absorção e esclarecimento. Após uma breve análise sobre a visão psicanalítica, social, midiática e religiosa, conclui-se que ainda há uma grande imposição à cerca do que é ser mulher e do que é a feminilidade em si. Tendo em vista o exposto, considera-se que para muitos, é uma verdadeira dádiva, uma característica de nascença, mas para outros, apenas uma construção da sociedade afim de aprisionar mulheres à padrões que lhes são impostos desde à infância.

 

REFERÊNCIAS
FREUD, SIGMUND . Escritos Sobre a Psicologia do Inconsciente. Imago, v. 2, 1915-1920. 230 p. (Obras Psicológicas de Sigmund Freud).

FREUD, Sigmund. Amor, sexualidade, feminilidade. Tradução Maria Rita Salzano Moraes. Belo Horizonte: Autêntica, v. 7, f. 191, 2018. 384 p. (OBRAS INCOMPLETAS DE SIGMUND FREUD).

FREUD, Sigmund. Feminilidade . Rio de Janeiro: Imago, 1972. v. XXII. 123 p. KEHL, Maria Rita. Deslocamentos do feminino: A mulher freudiana na passagem para a modernidade. Rio de janeiro: Boitempo Editorial, v. 3, f. 116, 2017. 232 p. MEDEIROS, Maria Carolina. A história das mulheres. 2021. Disponível em: https://revistaforum.com.br/debates/a-historia-das-mulheres-por-maria- carolinamedeiros/#. Acesso em: 9 nov. 2021.

PERROT, Michelle. Minha história das mulheres. 2 ed. São Paulo: Editora Contexto, 2007. 192 p. SILVA, Denise Quaresma da; FOLBERG, Maria Nestovsky.

De Freud a Lacan: as idéias sobre a feminilidade e a sexualidade feminina. Estud. psicanal. Belo Horizonte, n. 31, 2008, p. 50-59. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S0100-34372008000100007. Acesso em: 9 nov. 2021.