O Saber do Pensar e o Saber do Sentir: O Psicossoma em Winnicott e os Afetos no Poema Ressentimento

Ressentimento do mundo

Enquanto no mundo tem gente pensando que sabe muito, eu apenas sinto.

Muito. (Carlos Drummond de Andrade)

 

Os poetas e filósofos descobriram antes de mim o inconsciente; o que eu descobri foi o método científico pelo qual o inconsciente pode ser estudado”. (Sigmund Freud)

No poema “Ressentimento do mundo” o poeta descreve um conceito importante do Psicanalista Donald W. Winnicott na qual a mente “é uma faculdade que tem uma função elaborativa de descrever a experiência do psicossoma”.

Freud no início da psicanálise achava era suficiente apenas trazer para o consciente o conteúdo recalcado, o analista teria a função de interpretar. Assim, a tomada de consciência eliminaria o sintoma que perderia a razão de existir como formação de compromisso entre o ego e o inconsciente. A teoria não confirmou a experiência, os sintomas permaneciam, assim, Freud percebeu que o trauma precisaria ser vivenciado, revivido, sentido, com toda sua carga afetiva.

Nesse caso, fazer com que a lembrança (saber da mente) se unisse ao corpo, para que a experiência fosse resignificada, elaborada, ou seja, unificar o “saber do corpo” (psique/soma) com o “saber da mente” (interpretação sobre o sentir do corpo).

O poeta não “re”-sente, apenas “sente”, vive os afetos, deixa se afetar, seu “saber” não vinha do consenso de “gente que pensa que sabe”, que quantifica o “saber do pensar” do conhecer através da mente que re-“flete” sobre o sentir do corpo, que tenta o moralizar, enclausurar, através do decodificar, nomear o que o que está para além do nome.

Há uma diferença entre o “saber” do pensar de quem pensa que “sabe muito” para o “saber” do sentir, que está para além do pensar, assim, para o poeta quantificar o saber é preciso sentir, e sentir “muito”!

No poema o poeta percebe um conflito entre o “pensar como uma apropriação do intelecto” com o “saber que tem origem no sentir”. O corpo sabe o que a mente desconhece. E o que tem a ver com Winnicott? Winnicott desenvolve o conceito de “psicossoma” como uma unidade, “a mente é uma faculdade que tem uma função elaborativa de descrever a experiência do psicossoma”. Dessa forma o pensamento surge para tentar dar sentido à experiência.

O corpo na sua totalidade que ele chama de psicossoma que “sente as sensações” os nomes dados ao “sentir do corpo” é o saber da “mente” fruto de uma “dissociação”, uma interpretação fora do psicossoma. Então para Winnicott, “É preciso viver o verdadeiro self, sentir a experiência do corpo (psique/soma) na sua espontaneidade”.

O saber da interpretação da mente sobre o que o “corpo sente” através do pensar, não é suficiente, é preciso o "pensar do corpo” (psique/soma), o saber do sentir, dos afetos. Por isso, o poeta não “re”- sente, apenas “sente”, se afeta e deixa-se afetar. Seu “saber” não vem do consenso dos que “pensam que sabe” dos tentam quantificar o “saber do pensar”, para ele, o saber da mente que interpreta o sentir do corpo, tenta o moralizar, enclausurar, inibir o potencial criativo, na tentativa de decodificar, nomear o que o que está para além do nome.

O poeta e o psicanalista concordam que há uma diferença entre o “saber do pensar”, de quem pensa que “sabe muito”, para o “saber do sentir”, que está para além do pensar. Assim, o poeta e o psicanalista sabem que o saber do sentir não pode ser quantificado, porque é preciso sentir, e sentir “muito”!