Texto: sem contexto, um pretexto?

 

                   A palavra texto, segundo o dicionário Aurélio, tem origem do latim  “tecido”. Daí, logo nos vem a relação paradigmática com a indústria têxtil, o que, de maneira correta, poderia facilitar a compreensão em sala de aula se o professor apresentasse essa relação de significados antes, até mesmo, de apresentar o conceito gramatical de texto, promovendo  trégua e paz entre aluno e texto. 

                   O que se percebe na prática é a grande deficiência da maioria dos alunos em interpretar e produzir bons textos. E isso, vai muito mais além do que se imagina. É o famoso efeito “bola de neve”. Basta atentarmos para o fato de que meu aluno de hoje será o professor de amanhã.  E, nesse espaço de tempo, a “bola”, ou por que não dizer, o problema, vai ficando cada vez maior. Tomemos como exemplo o aluno “Ctrl+A, Ctrl+C, Ctrl+V”. Este aluno seleciona toda uma pagina da internet, sem ao menos filtrar o que realmente tem relação com o tema escolhido para a pesquisa. Porém, esse mesmo aluno, enquanto em fase de “bola de neve em crescimento gradativo”, receberá um empurrão para acelerar tal processo se, nesse momento, não for advertido quanto à maneira que ele conduziu a pesquisa. Agora, imaginemos esse mesmo aluno dez anos depois. Ele agora é um universitário que, curiosamente, ainda realiza seus trabalhos, agora acadêmicos, da mesma forma antipedagógica do passado. E, talvez, futuramente, recorra a sites especializados em fazer monografias e trabalhos de conclusão de curso. Contudo, sabemos por qual razão ele ainda continua assim.

                   Calma! Eu também sou professor de Língua Portuguesa e sei que esta culpa não é só nossa. E muito menos só do aluno. Nem tão pouco só da escola. Veja que dessa forma, a culpa recai sobre um conjunto. Sim, meus caros colegas. Essa culpa é de toda a comunidade escolar. Pais professores e alunos. Isso me faz lembrar um fato curioso que presenciei quando ministrava uma oficina de música em uma determinada escola do interior do meu Estado. Quando cheguei à sala dos professores, percebi uma criança muito chateada. Pertinho dela, um livro. Quando a professora vinha chegando, percebi o esforço da criança em tomar rapidamente o livro e fingir que estava lendo. Então, observei que a professora estava punindo o aluno mandando-o ler. Para esse aluno, segundo as teorias neurolinguísticas, o ato de ler está estreitamente ligado ao de estar de castigo.

                   Sabe aquele professor citado nos parágrafos anteriores? Ele é um produto do processo de “bola de neve”. Isso quer dizer que ele já viveu todas aquelas fases, desde o aluno que ler por obrigação, até o aluno que seleciona, copia e cola. Parafraseando, podemos comparar com a peste do piolho que tem apenas um mês de vida. Porém, imagine quantas centenas de lêndeas ele não procria antes de morrer?

                   Precisamos de alunos leitores nas nossas salas de aulas. Em contra partida, precisamos também de professores ousados que proporcionem momentos prazerosos de leitura. Quem disse que não dá trabalho preparar uma sala de leitura com tapetes, travesseiros, livros espalhados por todo o ambiente e para completar, um som ambiente? Às vezes, um pequeno gesto faz a diferença. Um texto que tem uma mensagem de reflexão perde toda a essência se for lido. Bom seria que o professor experimentasse decorar o texto. Não necessariamente como está no papel. Basta ler, entender e recitar. Ou ainda, podemos imaginar quão interessante seria uma aula sobre verbo transitivo indireto se o professor entrasse em sala declamando um poema que contemple tal assunto em seu contexto. No final do ano letivo, pergunte ao aluno sobre esse tipo de verbo. Ele pode até não lembrar. Mas, no instante em que vier em mente a lembrança da declamação feita pelo professor, com certeza, o conteúdo será lembrado. Por que será que um professor de cursinho se fantasia, dramatiza e canta para que o vestibulando tenha êxito nas provas do vestibular? Será que ele está preocupado realmente com o aprendizado ou o êxito do vestibulando também significa o êxito da sua empresa? Que fique bem claro que, não estou aqui criticando as empresas educacionais que oferecem cursinhos prevetibulares. Estou apenas dizendo que, se um professor de cursinho pode usar recursos artísticos para o bem de uma empresa, nós, professores de língua portuguesa, podemos também fazer uso da arte para melhorar o desempenho de nossos alunos.

                   Então, trata-se de uma escolha. Entre ser o professor que, de vez em quando, “dá uns empurrõezinhos na bola de neve”, e ser o professor que, mesmo diante das criticas dos próprios colegas – “deixa de ser besta, homem! Você não é pago para isso!” “Lá vai o professor poeta!” “Ele acha que vai mudar o mundo ou quer aparecer?” – faz a diferença nas pequenas coisas.

                   A verdade é que, enquanto não houver professores que façam de suas aulas, momentos simples, porém, profundos em aprendizagem, a escola será uma fábrica de “bolas de neve” em processo gradativo de crescimento. É uma questão de escolha. Professor, faça a sua!         

 

(Eduardo Torres Cordeiro – Professor de Língua Portuguesa da Escola Municipal Maria do Céu Fernandes, Parnamirim/RN)