" SER " criança no Ensino Fundamental

Cibele Cristina O Mendanha Dias*

A nova organização do Ensino Fundamental com duração de 09 anos absorveu as crianças com 06 anos de idade, as quais estavam, até o momento, na Educação Infantil com suas orientações pedagógicas especificas.
Já que o ingresso nesta modalidade de ensino se deu de forma generalizada e obrigatória no país, precisa ser problematizado considerando o ambiente, a estimulação, as características singulares à esta criança de 06 anos.
Segundo ZENKER (2008) Um novo sujeito ? criança ? nasce. Se nasce um novo sujeito, nasce uma nova escola. Um novo educador. Um novo projeto educacional. O Ensino Fundamental de nove anos deve priorizar essa idéia de criança, trazendo para o debate, muito mais do que somente preocupações com atividades ou conteúdos.
Trabalhar com as crianças de 06 anos dentro de um programa de conteúdos e objetivos não é nada fácil, é complexo, desafiador e exige do professor um olhar diferenciado e responsável. Demanda um grande esforço da escola para dimensionar seu trabalho descartando a visão reducionista da criança como um adulto em miniatura.
A escola requer um educador preocupado com a formação social da criança que através da sua afetividade e identidade está construindo espaços de autonomia, mas ainda precisa do apoio do adulto. Precisa sentir-se livre para construir idéias e conhecimentos, mas ancorada sobre um olhar de orientação que não a deixe sentir-se insegura, incapaz.
A idéia não é a de uma educação voltada para tutoria, mas sim de acompanhamento individual á criança que, nesta faixa etária, está descobrindo suas possibilidades cognitivas e psicomotoras autônomas. E trabalhar nesta perspectiva é desafio constante e diário. Será um tempo de transição ou de novas construções e desconstruções de velhos paradigmas que assolam o ensino fundamental?
Considerar a estruturação da rotina diária escolar é importante para que a criança entenda que regras são formas de organização da sociedade. E ao mesmo tempo possa liberar-se delas retomando suas construções ainda infantis e, a partir delas, abrir espaço para outras elaborações.
Chamo atenção para o "ser" criança nas suas dimensões corporal, mental e social que demanda um cuidado especial da escola para que não se percam ou se fragmentem ao elaborar conhecimentos mais específicos. Se seu corpo demanda de movimento, sensações e abstrações, por que não utilizar destas necessidades para ensinar a criança a aprender?
O ambiente escolar precisa superar sua forma tradicional de organizar o tempo, o espaço, a didática. É importante propor a criança um espaço de aprendizagem significativa onde há possibilidades de expor suas emoções e sensações, trabalhar o lúdico, socializando momentos e objetos com estas crianças.
É nesta relação de conhecimento e prazer que a criança desenvolve e aprende todos os conteúdos importantes para seu desenvolvimento. E não há como negá-los, uma vez que, acreditamos no potencial infantil como forma de acomodação de conhecimentos que resultará na condição de sujeito ativo no exercício da cidadania.

Referências

TIERNO, Giuliano. (orgs). A criança de 6 anos: reflexões e práticas. Editora Meca:SIEEESP, São Paulo, 2008.

Brasil. Ministério da Educação. Ensino Fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade. PAGEL, Jeanete Beauchamp (orgs). Brasília: FNDE, estação gráfica, 2006.

FIRME, Thereza Penna. Uma perspectiva inclusiva da avaliação. In Pátio Revista Pedagógica n. 50. Porto Alegre: Artmed, 2009.