SALA DE AULA EM FOCO: OBSERVAÇÃO DA PRÁTICA DOCENTE E SUAS IMPLICAÇÕES DIÁRIAS

 

ARAÚJO, Regina Maria Alves[1]

MEDEIROS, Beatriz Moreira[2]

 

RESUMO: O presente trabalho é fruto de observações de aula, mais especificamente da prática docente ocorrida dentro dessas aulas. Trata-se de uma atividade final referente à Disciplina Paradigmas de Ensino, onde foi proposto um trabalho que relacionasse os fatos observados na sala de aula, com os conhecimentos teóricos obtidos na mesma disciplina. Um dos principais objetivos é o de se observar os fatos ocorridos em sala de aula, por uma ótica diferente, agora como alunos em formação e futuros professores, e não mais com a perspectiva de alunos.

Palavras-chave: Observação, prática docente, ensino, professor.

 

INTRODUÇÃO

            A prática docente tem sido pautada de muitos desafios. Desvalorizações sociais e salariais são apenas alguns dos empecilhos enfrentados diariamente pelos profissionais da educação. Vislumbrando alguns desses desafios é proposto na formação acadêmica de tais profissionais, um trabalho de observação da prática docente, para que assim, antes mesmo de chegar as salas de aula, o graduando tenha um primeiro contato com a docência, dessa vez, estando em outra posição que não a de aluno. É baseado nesses e em outros motivos pedagógicos que o curso de Letras da Universidade Federal de Campina Grande, oferece a Disciplina Paradigmas de Ensino. Tal disciplina tem como principal finalidade a observação da prática docente, procurando perceber os desafios e a complexidade dos processos que acontecem dentro da sala de aula.

A partir da proposta feita pela disciplina citada acima, relataremos os fatos e resultados obtidos da observação em sala de aula, com o intuito de relacionar tais acontecimentos, que automaticamente se convertem em conhecimentos práticos observáveis e os conhecimentos teóricos obtidos na disciplina mencionada. Tal trabalho se faz relevante entre outros termos, pela necessidade do aluno de licenciatura, em fase de formação, de refletir sobre os fatos ocorridos em sala de aula, sejam eles de caráter educacional ou não.

Enfrentar a realidade das salas de aula requer antes de tudo conhecimentos teóricos e práticos que podem e devem ser construídos e relacionados durante a formação do professor. Partindo de tal concepção, tal disciplina proporciona aos alunos a oportunidade de ter o primeiro contato com a sala de aula como pesquisador e observador, para que a partir disso seja criado um aporte prático dos acontecimentos em sala de aula.

Traçaremos como objetivos principais do presente trabalho relatar e posteriormente analisar o trabalho de observação da prática docente. Tal qual a sua importância dentro da formação acadêmica, assim como analisaremos os dados obtidos durante o decorrer das atividades, apontando sempre uma relação com as teorias e ideias estudadas, além de acrescentarmos nossas impressões pessoais a respeito dos dados, considerando sempre de fundamental importância a experiência e impressões das situações vividas entre as paredes da escola.

A seguir, faremos uma breve exposição a respeito de alguns aspectos teóricos que foram levados em consideram para a concretização do nosso trabalho, além de demonstrar ares relevantes para todo e qualquer trabalho de observação e pesquisa, especialmente no ambiente escolar. Após essa breve contextualização teórica, iremos para a parte de análise dos dados, onde serão encontrados os relatos, e as questões para quais nos voltaremos nesta atividade. Por fim, exporemos nossas conclusões, assim como nosso ponto de vista a respeito do que foi observado.

ALGUNS ASPECTOS RELEVANTES PARA A OBSERVAÇÃO DA PRÁTICA DOCENTE:

            O fazer científico, assim como a própria ciência evolui gradativamente, desse modo, as regras e pressupostos, os chamados paradigmas mudam para que seja possível fazer ciência de outra maneira. Por conseguir substituir o modelo anterior ao seu, podemos dizer que este paradigma é de maior eficiência no estudo das ciências. Nos dias atuais, está em vigência, o chamado paradigma da complexidade, que substituiu o seu “oposto”, o paradigma da simplicidade, também chamado de paradigma tradicional. Para adentrarmos no novo paradigma, é necessário que conheçamos rapidamente o antigo.

O paradigma tradicional, fundado pelas ciências físicas, é segundo Santos (2004), composto pelos seguintes pressupostos:

  1. O pressuposto da simplicidade: a crença em que, separando-se o mundo complexo em partes, encontram-se elementos simples, em que é preciso separar as partes para entender o todo, ou seja, o pressuposto de que “o microscópico é simples”. Daí decorrem, entre outras coisas, a atitude de análise e a busca de relações causais lineares.
  2. O pressuposto da estabilidade do mundo: a crença em que o mundo é estável, ou seja, em que “o mundo já é”. Ligados a esse pressuposto estão a crença na determinação – com a consequente previsibilidade dos fenômenos – e a crença na reversibilidade – com a consequente controlabilidade dos fenômenos.
  3. O pressuposto da objetividade: a crença em que “é possível conhecer objetivamente o mundo tal como ele é na realidade” e a exigência da objetividade como critério de cientificidade. Daí decorrem os esforços para colocar entre parênteses a subjetividade do cientista, para atingir o universo, ou versão única do conhecimento. (Santos, 2004 p. 69)

            Desse modo, a partir de tais pressupostos, esse paradigma científico foi seguido pelas três áreas científicas, sendo de grande eficácia nas ciências físicas, e razoável eficiência nas ciências biológicas, porém insuficientes para a área de humanidades. Podemos citar o terceiro pressuposto, o da objetividade, como um dos mais contrários aos estudos das ciências humanas. Estudar o homem, o social, de maneira objetiva e simples é de certa maneira impossível, se formos considerar que o homem, e a sociedade são complexos e subjetivos por natureza. O ser pensante é complexo e vive constantemente em mudanças, por isso o estudo lógico e racional que propõem tal paradigma não foi suficiente e não conteve as peculiaridades das ciências humanas.

            É importante dizer que ocorreu nas ciências humanas a tentativa de adotar o procedimento positivista, que como foi exposto anteriormente, obteve sucesso no campo das ciências naturais. Era a partir da “imitação” dos procedimentos utilizados pelas outras ciências que os estudiosos pretendiam dar o status de ciência aos estudos da área de humanidades. Dessa maneira, acabou-se por ocorrer uma redução nos fatos sociais, já que os pressupostos utilizados para estudo implicavam na redução, simplificação e classificação dos componentes observáveis. Porém, como foi dito por Santos (2004), o “objeto” peculiar das ciências humanas, tem de ser tratado, e observado, com uma atenção especial, que não é cogitada nos princípios lógicos:

As ciências humanas, definidas como um ramo da ciência, viam-se presas num paradoxo: seu objeto, o homem, é o sujeito do conhecimento. Mas, para abordá-lo cientificamente, já que à ciência só compete tratar dos objetos e não do sujeito de conhecimento, as ciências humanas teriam que ignorar justamente sua característica de sujeito conhecedor (res cogitans), que o faria humano, e tratá-lo como um objeto. Como só à filosofia era dada a elaboração de teorias (filosóficas) sobre o sujeito do conhecimento, as ciências humanas muitas vezes se aproximaram da filosofia, afastando-se da ciência. (Santos, 2004 p. 97)

            O paradigma tradicional acabou não satisfazendo, ou até mesmo deformando as ciências humanas, que tinha como seu objeto de pesquisa o próprio sujeito como ser pensante, complexo, subjetivo e em constante mudança. Tal paradigma não conteria as questões de cientificidade das humanidades que tem em seu pesquisador uma função ímpar de imersão e coleta de dados. Esse modo do fazer científico não contém, por exemplo o trabalho de observação proposto aqui, considerando que, a sala de aula se caracteriza fundamentalmente por ser um lugar de interação, e de constante formalização de sujeitos.

            O novo paradigma da ciência, que tem pressupostos contrários aos do paradigma tradicional, reconhece importantes pontos do fazer científico, Santos (2004), expõe os seguintes avanços do novo paradigma:

  1. Do pressuposto da simplicidade para o pressuposto da complexidade: o reconhecimento de que a simplificação obscurece as inter-relações de fato existentes entre todos os fenômenos do universo e de que é imprescindível ver e lidar com a complexidade do mundo em todos os níveis. Daí decorrem, entre outras, uma atitude de contextualização dos fenômenos e o reconhecimento da causalidade recursiva.
  2. Do pressuposto da estabilidade para o pressuposto da instabilidade do mundo: o reconhecimento de que “o mundo está em processo de tornar-se”. Daí decorre necessariamente a consideração da indeterminação, com a consequente imprevisibilidade de alguns fenômenos, e da sua irreversibilidade, com a consequente incontrolabilidade desses fenômenos.
  3. Do pressuposto da objetividade para o pressuposto da intersubjetividade na constituição do conhecimento do mundo? O reconhecimento de que “não existe uma realidade independente de um observador” e de que o conhecimento científico do mundo é construção social, em espaços consensuais, por diferentes sujeitos/observadores. Como consequência, o cientista coloca a “objetividade entre parênteses” e trabalha admitindo autenticamente o multi-versa: múltiplas versões da realidade, em diferentes domínios linguísticos de explicações. ( Santos, 2004 p. 101-102)

            É importante ressaltar, ainda, que tais pressupostos não foram “inventados”, e sim reconhecidos. O mundo e as ciências sempre foram complexos e instáveis, e o cientista, querendo ou não sempre foi subjetivo.

            A partir do conhecimento do novo paradigma científico, podemos direcionar nossa atenção para a complexidade dos fenômenos educativos, que acontecem nos dias atuais fundamentalmente entre as paredes da escola, alunos e professores em uma troca constante de experiências. Tendo em vista tais fenômenos, procuraremos discorrer sobre possíveis maneiras de construir saber científico, tendo a escola e os seus sujeitos como objetos observáveis.

Sabendo da complexidade dos fatos sociais, é necessário que seja respeitado tal aspecto e que se utilize uma metodologia que contemple tal característica. A instituição escolar tem como finalidade a construção e o repasse de conhecimentos, para tanto, é constituída de sujeitos que ocupam determinadas funções, o aluno tem a obrigação de aprender, o professor de ensinar, o diretor de dirigir a instituição etc. É importante para que seja possível o seu funcionamento, que cada sujeito cumpra a sua parte no “acordo de conduta” da instituição. Porém, muitos são os fatos que não estão previstos no “acordo” e que acontecem diariamente nas salas de aula, é exatamente nestes fatos que encontramos a complexidade existente na convivência social ocorrida na escola. É importante pensar na escola como um local repleto de seres pensantes, constituídos por ideologias, representando grupos sociais que transcendem a instituição escolar. Gómez (1998) aponta duas características que diferenciam os fenômenos sociais, e os educativos dos fenômenos naturais:

  • O caráter radicalmente inacabado dos mesmos, sua dimensão criativa, autoformadora, aberta à mudança intencional.
  • A dimensão semiótica de tais fenômenos. A relação em parte indeterminada e, portanto, polissêmica entre o significante observável e o significado latente de todo fenômenos social ou educativo. (Gómez, 1998 p.100)

            Gómez (1998) ainda acrescenta que os procedimentos de estudo e investigação devem ser de tal natureza que possam indagar a troca e a transmissão de conhecimentos que acontecem na complexa vida da sala de aula. Sendo assim, é necessário compreender o significado dos indicadores observados, situando-os no contexto físico, psicossocial e pedagógico que os condicionam. A investigação científica dos fenômenos educativos não pode ter como objetivo a simples produção de conhecimento científico, deve ter como principal finalidade o aperfeiçoamento da prática pedagógica, cabe ao pesquisador possibilitar que tal conhecimento chegue à prática. Gómez (1998) ainda salienta que:

o conhecimento que pretende elaborar neste modelo de investigação encontra-se incorporado ao pensamento e à ação dos que intervêm na prática, o que determina a origem dos problemas, a forma de estudá-los e  a maneira de oferecer a informação. (Gómez, 1998 p. 101)

            Sendo assim, cabe ao investigador, perceber e transformar o conhecimento adquirido, de maneira que ele venha a colaborar com a prática nas salas de aula. Poderíamos aqui, entrar em uma discussão um pouco complexa, porém, não nos aprofundaremos na mesma, que é a formação do professor pesquisador. Um profissional da educação que poderia desempenhar o papel de cientista na busca de conhecimentos que melhorassem as condições de ensino/aprendizagem da sua própria realidade, considerando a peculiaridade de cada campo investigado. Para maior eficiência é preciso uma quantidade razoável de pesquisadores para que seja possível se chegar a resultados diversos, para realidades diversas.

            O modelo de investigação escolhido para tal enfoque é o interpretativo, para tal perspectiva, todo processo de investigação se caracteriza por ser um fenômeno social, e que deve ser caracterizado pela interação. De acordo com esse enfoque, a realidade pesquisada acaba por ser condicionada pela relação com o pesquisador, desse modo, cabe ao mesmo reconhecer tal fato e compreender seu alcance e consequências. O pesquisador assume o lugar de principal instrumento de investigação, cabe a ele, levando em conta sua subjetividade, captar a complexidade e a polissemia dos fenômenos educativos. Para tanto, é necessário que o investigador perceba não só os fatos em si, como também o contexto de acontecimento dos mesmos, ou seja, utilizar de toda a sensibilidade para perceber os mais diversos aspectos do objeto de investigação. É também necessário para uma melhor compreensão da realidade vigente no sistema educacional, um estudo dos modelos de ensino que se fizeram e se fazem presentes na instituição escolar.

                Os caminhos que levam o ser humano à escola são traçados pela busca incansável de cultura e conhecimento, a sociedade necessita situar-se nos modelos educacionais, uma vez que trata-se de realidades que não podemos fugir. Modelos construtivistas são cada vez mais evidentes nos âmbitos escolares, mas como sabemos muito embora o modelo tradicional tenha passado por diversas transformações ao longo de sua existência continua resistindo ao tempo, e esse modelo é encontrado na maioria das escolas públicas brasileiras. Conforme explica Denise Leão (1999) o modelo de escola tradicional surgiu a partir do advento dos sistemas nacionais de ensino, mas só atingiram maiores forças a partir do século XX. A organização dos sistemas escolares, logo em seu surgimento, inspirou-se com mais especificidade na emergente sociedade burguesa, de acordo com Leão (1999), a educação era tida como um direito de todos e dever do Estado e como sabemos esse é um discurso em vigor até os dias atuais, todos têm o direito à educação, cabe o Estado fomentar esse direito.

O ensino tradicional acredita na igualdade essencial dos homens, de serem livres, e, portanto, essa igualdade serve de base para estruturar a pedagogia da essência respaldando o surgimento dos sistemas nacionais de ensino, uma vez que foram esses os fundamentais motivadores do processo de escolarização para todos. Percebe-se que a abordagem tradicional do ensino parte do pressuposto de que o a inteligência é uma faculdade que torna o ser humano capaz de armazenar diversas informações, até mesmo as mais complexas possíveis. De tal forma é compreensível que nesse modelo de escola tradicional o conhecimento humano possui um caráter cumulativo, da forma como evidenciamos na maioria do ensino, ou seja, centra-se que o indivíduo adquire todo o conhecimento a partir da transmissão dos conhecimentos realizados pela instituição escolar, trata-se de um processo de aprendizagem passiva. O professor domina o conteúdo logicamente organizado e estruturado para transmitir aos alunos. É bastante contestado o método tradicional, mas é um processo muito comum atualmente em nossas salas de aula, por se tratar de um método vigente há muito tempo, a contestação é centrada na ideia de se compreender se ele está de fato funcionando ainda hoje, conforme traz Leão (1999):

Podemos questionar, no entanto, a qualidade do ensino da escola             tradicional na atualidade. Constatamos, informalmente, que ela está empobrecida se comparada às instituições existentes nas décadas passadas. Os conhecimentos não estão sendo transmitidos com o mesmo rigor daquela antiga escola tradicional que instruiu nossos pais e avós. (Leão 1999. p 199).

Reconhecemos com clareza que o suporte teórico do modelo de escola tradicional já tem circundado por décadas, existem diversas semelhanças com os métodos antigos, mas, conforme estudado algumas peculiaridades e divergências são identificadas.

Consideramos importante que sejam ressaltados pontos relacionados ao construtivismo, uma vez que este vem sendo pouco a pouco adotado pelas escolas. O construtivismo não é um método, não é uma técnica, trata-se, portanto, de uma postura em relação à aquisição do conhecimento. Leão (199) nos traz que o “Construtivismo fundamenta-se no iluminismo. Por sua vez, a filosofia iluminista preceitua que o homem é um ser dotado de razão.” Em síntese, compreende-se que o construtivismo é fundamentado na ideia de que o pensamento humano não tem fronteiras, ele é construído, como o próprio nome nos diz, dessa forma, o ensino é visto como algo que o aluno irá adquirir de forma processual, o conhecimento não está apenas no professor.

A escola tradicional apresenta um aspecto bastante importante em relação a sua preocupação em transmitir os conhecimentos acumulados pela humanidade, sabe-se que até os acervos culturais são objetos de aprendizagem. De acordo com o que vem sendo discutido atualmente fazemos um respaldo em relação ao construtivismo, pois, conforme estudos realizados nessa perspectiva tornam-se notório que este, em sentido estrito, não é uma teoria da educação, nem uma metodologia de ensino, mas sim, uma concepção teórica acerca de como o homem chega ao conhecimento, dessa forma alçando níveis divergentes nos vários alcances da realidade contemporânea.

É com base em tais perspectivas que pretendemos desenvolver um trabalho científico, procurando perceber os mais diversos aspectos da prática de ensino, utilizando os pressupostos mencionados anteriormente. Sempre que possível, relacionaremos as normas e padrões que devem ser seguidos pelas escolas públicas brasileiras com os fatos relatados, para que assim, seja possível adentrar nas questões políticas pedagógicas da docência e da instituição escolar.

 

OBSERVAÇÃO DA PRÁTICA DOCENTE:

            Pretendemos a partir deste tópico analisar os dados colhidos ao longo de sete encontros, somando-se um total de quatorze aulas, nestes encontros observamos a prática docente em uma turma de 9º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública, localizada na cidade de Pocinhos. Em primeiro momento observamos o ambiente escolar, conversamos com a Vice-Diretora do colégio, como também pedimos a autorização da professora para a realização do trabalho de observação das aulas. Trata-se de um Colégio da rede municipal, o qual atende aos níveis fundamentais de ensino, de 1º ao 9º ano do ensino fundamental, como também turmas do EJA (Educação de Jovens e Adultos), nos turno manhã e tarde. Tivemos a oportunidade de observar que o colégio é bastante amplo, são aproximadamente 40 salas de aula, duas quadras de esporte, uma biblioteca, refeitório, além de algumas outras salas que estão reservadas para a parte administrativa da escola. A seguir faremos exposição de alguns pontos referentes às condições de infraestrutura da escola, recursos humanos e material didático para melhor nortear as informações acerca de tais aspectos. Um detalhe bastante importante dos espaços para circulação de pessoas é que em todas as vias de acesso da escola, tanto à entrada, às salas de aula, aos banheiros, corredores, pátio, cantina etc. foram construídas rampas para facilitar o acesso e a circulação das pessoas, sejam elas alunos, pais ou funcionários que apresentem alguma deficiência física e precisem do uso de cadeiras de rodas. O ambiente para recreação e esportes, contém duas quadras, sendo uma de vôlei e uma de futsal, além de um minicampo para os alunos praticarem esportes, sejam eles nos intervalos como também para as práticas de aulas de Educação Física.

            Tratando-se das salas de aulas, observamos que estas não são tão grandes, são proporcionais ao número de alunos, que são entre 25 e 35 por sala. Nas salas de aula não contém recursos midiáticos como Datashow, computadores, DVD, etc. O número de carteiras é inferior ao número de alunos, e na maioria das vezes, os alunos precisam recorrer a outras salas. Um fato curioso, em relação a essa problemática das carteiras, é o fato de que sempre que chegávamos em sala, algum dos alunos se oferecia para ir a procura de cadeiras para nós. Esse foi um dos momentos em que percebemos que não há como estar em sala de aula, estar presente no ambiente daqueles alunos, e não interagir com eles, a priori seria observar, e interferir o menos possível, mas notamos várias vezes o quanto nossa presença era em alguns momentos causadora de desconforto para a professora, e em alguns de euforia para os alunos. Podemos constatar como pesquisadoras em seu campo de observação, que se tratando de seres humanos, pensantes, não há como o pesquisador não afetar o seu ambiente de pesquisa. A presença é sentida, e evidentemente as reações acabam acontecendo, seja ela simples (a simplicidade a qual nos referimos não retira as inúmeras questões que esse gesto pode responder e corresponder) como um aluno ir buscar uma carteira, seja mais complexa, como a professora se sentir incomodada com a nossa presença.

            É bastante relevante ter uma biblioteca nas escolas, isso pode instruir os alunos a buscarem mais conhecimento, além de facilitar o próprio acesso a ele. Logo, no presente colégio contém uma biblioteca de porte médio, contendo vários títulos de autores diversos, uma bibliotecária para organizar e datar tudo que entra e sai diariamente. Os alunos tem o direito de levar os livros para casa e o dever de cumprir com as datas estabelecidas para devolução. Observamos também que há uma sala de vídeo equipada com data show, DVD, computador, televisão, para atender aos alunos. Trata-se de uma sala de porte médio, infelizmente não contém muitas, trata-se de apenas uma, nesse caso, entendemos que para usar esta sala é preciso que o professor marque junto à coordenação um dia que possa ser disponibilizado. Como a escola tem um porte grande, é interessante proporcionar aos alunos outras salas de multimídia, para que os professores pudessem e sentissem desejo de incrementar suas aulas com recursos diversos.

            Ao observar a sala para os professores, percebemos que esta é consideravelmente pequena, uma vez que o colégio atende a uma grande quantidade de alunos, tendo assim, um número bastante razoável em seu quadro de professores. Vimos também que há uma sala para a diretora e a vice, localizada logo na entrada do colégio, como também uma sala ao lado para a coordenadora e para alguns serviços de informação, de assinatura de boletins escolares, etc. Em relação à cantina, pudemos observar quatro, estas sendo exclusivas à vendas de lanches, mas os alunos tem um refeitório onde é servido a merenda escolar diariamente.

            Ao tratarmos da observação das aulas propriamente ditas a priori, tivemos a permissão de ambas as partes, Diretora e Professora, ambas nos permitiram desenvolver o trabalho na turma escolhida. Por questões particulares e metodológicas não nos foi permitida a gravação das aulas, nem da entrevista.

             É de suma importância esclarecer que nossa observação foi atravessada por um período de organização de uma gincana estudantil, nesse caso, existia toda uma preparação dos alunos para as provas dessa competição, então as aulas ficaram um pouco de lado para que se fosse planejada as atividades referentes a essa gincana. A gincana concretiza-se como uma atividade complementar as questões escolares, e é colocada inclusive no planejamento escolar que ocorre no início do ano. É um evento esperado ansiosamente pelos alunos, e pelo que podemos perceber a importância do evento é grande tanto para os pequenos (alunos), quanto para os professores, que também se engajam e dividem-se entre as equipes. A questão da gincana, nos fez refletir principalmente a respeito da complexidade dos fatos ocorridos em sala de aula, diríamos que é mais do que necessário atividades como essa, que envolvem questões importantíssimas para o crescimento do aluno, tais quais, trabalho em equipe, desenvolvimento comunicativo, entre outros. Porém, não podemos deixar de falar do quanto nos assustou o fato das aulas serem quase sempre tomadas por esse assunto.

De acordo com as aulas que conseguimos observar, tratavam-se em tese de aulas  expositivas e bem tradicionais, a professora ministrava o assunto, tirava algumas dúvidas e logo após fazia a leitura de textos bases presentes no Livro Didático. O livro adotado pela professora que observamos, tem como nome Português Linguagens, dos autores, Tereza Cochar Magalhães e William Roberto Cereja, ano 2009, é importante ressaltar a “importância” dessa obra dentro do sistema educacional brasileiro, já que ela se concretiza como uma das mais adotadas nas instituições escolares.

 Primeiramente foi realizada uma leitura silenciosa, depois ela lia junto com a turma, após a leitura compartilhada partia para as atividades do LD adotado pela escola. Todo esse processo da aula dava-se em meio ao barulho e as conversas paralelas, alunos bastante desatentos e sem interesse pela aula. Atitudes que refletem a aula planejada pela professora e o contexto de acontecimento da mesma, se em uma situação normal já é difícil prender a atenção de pré-adolescentes, imagine as consequências de uma aula mal planejada, em meio a uma gincana escolar. É importante ressaltar que ocorreram alguns momentos em que eles prestavam atenção nas aulas, quando o assunto era comum a eles e principalmente quando a leitura feita a partir de textos do LD com base em um tema polêmico, inserido em um determinado contexto de percepção e que lhes causava algum interesse particular ou fazia parte dos seus extremos de vida social, eles demonstravam querer participar, pois discutiam e opinavam sobre. Com isso a nossa principal conclusão foi que  escolha dos textos, e da situação comunicacional para se trabalhar em sala, pode definir a maneira como essa aula vai se concretizar, e mais do que isso, é um ponto chave para se alcançar o sucesso no processo ensino/aprendizagem.

Ao prestarmos atenção na relação professora/aluno vimos nitidamente que tratava-se de uma relação amigável e que existia um respeito mutuo. A professora demonstrava compreender o comportamento de cada aluno seu, por isso procurava integrá-los na aula, chamando-os, questionando-os, fazendo perguntas sobre o assunto e solicitando exemplos do que ela estava trabalhando, para assim conquistar a atenção deles. Uma cena que nos chamou bastante atenção e que mostra toda a complexidade do ser professor, e nos mostrou que claramente que ela compreendia o comportamento de seus alunos, foi quando um aluno abaixou a cabeça e ficou sem copiar e responder a atividade que ela tinha solicitado ( a partir do LD), ela teve toda uma preocupação em não constrangê-lo, pois não falou alto para que todos ouvissem, sentou-se junto dele, conversaram por algum tempo e então vimos que ela pediu para que duas meninas fizessem a atividade em dupla e emprestassem o LD ao colega, prontamente as meninas emprestaram e ele deu início a sua atividade também.

Utilizando-se de uma estratégia para mudar um pouco suas aulas expositivas, as vezes, a professora pedia para os alunos formarem grupos para responder as atividades, poderia ser positivo se eles permanecessem a fazer a atividade, entretanto, essa alternativa só aumentava o barulho das conversas paralelas. Ela devia monitorá-los, observar se eles estavam realmente fazendo o exercício e não simplesmente solicitar e deixá-los livres, uma vez, que ela está tratando de uma turma de adolescentes, alunos entre 13 a 15 anos, que encontram-se em uma fase em que a paquera, a diversão parece ser mais importante, pois estão “descobrindo” o mundo agora. Quando a aula não ia bem, a professora utilizava-se do método de tentar fazer com que a turma diminuísse o barulho das conversas fora de hora, optando por trocar, ou melhor separar os alunos na sala.

É de suma importância a introdução de diferentes métodos para aprimorar as aulas , dessa forma, rompendo um pouco com o paradigma tradicional, o investimento em diferentes modelos de ensino leva o aluno a buscar mais, a se sentir instigado a fazer algo novo. Percebemos essa necessidade de haver uma mudança, mesmo que simples, a partir da fala de um aluno que diz:

Aluno:

- Professora!!...Por que a gente não faz uma rodinha...? :: Vamos fazer:: Um círculo... a gente muda um pouco:::: isso já tá cansando...!! Todo dia!! Todo dia assim::: a gente pode::?

Professora:

- N-ã-ã-o... !! Não vejo necessidade:::Se fizermos isso... prestem atenção...!! se eu deixar, vocês fazerem isso... o barulho só vai aument-a-a-ar:: cada vez mais... Eu conheço bem você-ssss:::

Aluno:

-Aaaaah....!!

Professora:

- vamos iniciar... SILÊNCIO!! :: Atenção!! ... vamos corrigir a atividade:::: vamos!!!!! Quem começa a leitura:?

            A partir desse diálogo que ocorreu entre um aluno e a professora, percebemos nitidamente essa necessidade que os alunos têm de querer mudança nos métodos de ensino, mudanças simples como um círculo para promover uma melhor interatividade entre a turma. A professora não concordar com o desejo dos alunos de mudar um pouco a rotina, nos deixa claro sua opção pelo método antigo e tradicional: alunos em fileiras, um a frente do outro, dispostos linearmente em uma ordem. O modelo de ensino atual não pode se prender única e exclusivamente ao tradicionalismo, é importante essa inserção de novas alternativas para melhorar e induzir a capacidade cognitiva dos alunos.

COMPREENDENDO O ENSINO           

            De acordo com a prática docente observada podemos compreender o ensino centrado no tradicionalismo, dentro do método que observamos percebemos pontos falhos que contradizem com a abordagem proposta pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que focam nos objetivos, na organização dos conteúdos, nos processos avaliativos e remete a Didática. Nesse caso é importante que a prática docente seja efetivada em cima do desenvolvimento da capacidade linguística do aluno, primeiro porque estamos tratando do ensino de Língua Portuguesa, segundo porque cada aluno tem um modo diferente de adquirir conhecimento e acima de tudo, é preciso que seja considerado o contexto social que acarreta no modo de falar, pensar e agir do aluno.

            Partindo desses pressupostos compreende-se que é de suma importância planejar um projeto pedagógico, ou melhor, planejar a forma de ensino considerando as propostas dos PCNs(1998), uma vez que estes sugerem considerar o ensino e a aprendizagem de Língua Portuguesa, como prática pedagógica, resultantes da articulação de três variáveis: o aluno, os conhecimentos com os quais se opera nas práticas de linguagem e a mediação do professor. De tal maneira, é eficaz que o ensino seja pautado em vieses que proporcionem interações e melhoria na qualidade dos métodos educacionais. Permitir que o aluno sinta-se integrado e induzido a participar das aulas de Língua Portuguesa é um papel a ser desempenhado pelo professor, fazer com que os alunos gostem das aulas contribui para deixarem de lado o discurso antigo de que não sabem Português. Uma vez que o professor é o portador dos conhecimentos a serem transmitidos e o instigador dos seus alunos, ele quem ajuda a despertar nos seus  alunos o gosto pela Língua Portuguesa, faz parte do árduo trabalho do docente, explorar a capacidade de linguagem e influenciá-los de maneira positiva e interativa para ter como resultado um maior rendimento.

            Conforme citado neste trabalho, o único objeto de ensino da professora era o Livro Didático, portanto apenas o LD não basta para se efetivar o ensino, mais uma vez pontuando, é necessário a inserção de novos mecanismos para a prática docente. É importante quebrar velhos paradigmas e investir em novos modelos, novos projetos e alternativas para o ensino.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

 De acordo com o que observamos e o material que recolhemos, podemos compreender que o ensino/aprendizagem é um processo bastante complexo, envolve diversos fatores, tanto internos quanto externos. Fatores que vão desde a escolha do Livro Didático, aos projetos pedagógicos e planos de aula. O processo de ensino começa desde a elaboração dos planos de aula até chegar à sala de aula para a transmissão dos conhecimentos.

A relação professor/aluno é bastante forte para se obter resultados positivos no trabalho, é importante que o professor saiba conciliar entre aulas que possam descontrair, além de buscar métodos inovadores que fortaleça a aprendizagem e possa conquistar a atenção, o interesse e a dedicação dos alunos.

Em síntese, este trabalho é considerado de suma importância, sobretudo, por ser realizado por estudantes de Licenciatura, uma vez que estes encontram-se em preparação para o exercício dessa profissão. É positivo este contato com as salas de aula, assim compreendemos o fazer pedagógico e toda complexidade existente por trás dele.

Educar é ir longe, ensinar é transmitir valores, é passar conhecimento e acima de tudo é aprender também, pois os alunos permitem essa aprendizagem, é uma profissão árdua, encontramos uma bagagem de desafios a serem enfrentados diariamente, conquistas a serem alcançadas e muita informação a ser transmitida para os que buscam. Exige-se que o professor esteja preparado para isso, mas nada como as práticas diárias para lhe mostrar essa preparação conquistada um pouco a cada dia um pouco a cada novo encontro com seus alunos.

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

GERALDI, João Wanderley. No espaço do trabalho discursivo, alternativas. In:___ Portos de Passagens. São Paulo: Martins Fontes: 1999.

LEÃO, Denise. Paradigmas Contemporâneos de Educação: Escola Tradicional e Escola Construtivista. Cadernos de Pesquisa, nº107, p. 187-286, Julho/ 1999.

PNLD 2011 : Língua Portuguesa. – Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2010.

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa/ Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.

SACRISTÁN, José Gimeno. Compreender o ensino na escola: modelos metodológicos de investigação educativa. In:___. Compreender e Transformar o ensino. Porto Alegre: Artmed editora, 2000, p. 99-117.



[1] Graduanda em Letras-Língua Portuguesa. Universidade Federal de Campina Grande. E-mail: [email protected]

[2] Graduanda em Letras-Língua Portuguesa. Universidade Federal de Campina Grande. E-mail: [email protected]