Referência: QUINTANEIRO, Tania; BARBOSA, Maria L. de O. e OLIVEIRA, Márcia Gardênia de. Um toque de clássicos. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2000, cap. II.

Marx ficou conhecido como um dos principais autores da Sociologia, embora não se denominasse um sociólogo. Analisou a sociedade capitalista com afinco e até hoje é um dos autores mais estudados, seja no sentido de concordar ou refutar suas teorias, que são extremamente contemporâneas por apontarem desigualdades sociais, desnaturalizando-as. Ficou conhecido por utilizar como método de análise a dialética, originada pelo pensador alemão Hegel e desenvolvida por Marx. A dialética, “aplicada a fenômenos historicamente produzidos, (...) cuida de apontar as construções constitutivas da vida social que resultam na negação de uma determinada ordem (Quintaneiro et al., 2000, p. 65).” No entanto, Quintaneiro et al. (2000, p. 66) afirma que o reconhecimento do movimento dialético não é suficiente e por isso um fenômeno social deve ser submetido à crítica de modo que suas pontecialidades possam ser reveladas e atualizadas numa forma mais evoluída.

“Para Marx, a análise da vida social deve ser feita através de uma perspectiva que, além de procurar estabelecer as leis de mudança que regem os fenômenos, parta do estudo dos fatos concretos, a fim de expor o movimento do real em seu conjunto (Quintaneiro et al., 2000, p. 67).” Seu método de abordagem ficou conhecido como materialismo histórico, segundo o qual as relações materiais e o modo como os homens produzem seu meio de vida formam a base de todas as suas relações. Conforme as perspectivas dialética e materialista, todo fenômeno social é efêmero, “as formas econômicas sob as quais os homens produzem, consomem e trocam são transitórias e históricas (Marx apud Quintaneiro et al., 2000, p. 67).”

“A premissa da análise marxista da sociedade é, portanto, a existência de seres humanos que, por meio da interação com a natureza e com outros indivíduos, buscam suprir suas carências e, nessa atividade, recriam a si próprios e reproduzem sua espécie num processo que é continuamente transformado pela ação de suas sucessivas gerações. (Quintaneiro et al., 2000, p.69)” Esse processo se dá pelo trabalho. Os homens, ao produzir os meios para prover o que precisam, organizam-se e estabelecem relações sociais, intervindo conscientemente na natureza. O ato de produzir gera novas necessidades, ou seja, são produtos da existência social.

A forma de uma sociedade depende do grau de desenvolvimento das forças produtivas e as relações que lhes correspondem. Marx estuda especificamente o contexto capitalista, que surgiu de uma superação do modelo feudal num momento em que as relações sociais já não correspondiam à produção, o que mostra o caráter revolucionário da burguesia.

No capitalismo, a mercadoria é a forma elementar da riqueza. Tudo torna-se mercadoria, inclusive o trabalho. A mercadoria tem valor de uso, que se realiza no consumo e um valor de troca. O valor da mercadoria é equivalente ao tempo de trabalho gasto para sua produção, que varia no tempo e espaço.

O salário é o “valor dos meios de subsistência requeridos para produzir, desenvolver, manter e perpetuar a força de trabalho” (Marx apud Quintaneiro et al., 2000, p. 87). Isso quer dizer que o trabalhador que vende sua força de trabalho trabalha mais que o suficiente para pagar o seu trabalho. Por isso, o trabalho é a única mercadoria capaz de produzir valor, a mais valia, a produção de um excedente, trabalho não pago que permite a acumulação do capitalista.

Os trabalhos humanos tomam a forma de produtos cujos valores podem ser medidos, quando são intercambiados, mas essa relação parece dar-se apenas entre coisas. Conquanto seja “uma relação social determinada dos homens entre si (...) adquire para eles a forma fantástica de uma relação de coisas entre si”. Este é o que Marx chama de caráter fetichista da mercadoria, dado pela incapacidade dos homens de perceber como sociais os frutos do seu trabalho (...). (Quintaneiro et al., 2000, p. 93)

Para Marx, o conjunto das forças produtivas e das relações sociais forma a infra-estrutura, ou seja, a base material sobre a qual se constituem as demais instituições. Na superestrutura encontram-se “produtos” sem forma material, instituições como Estado, que produzem e reproduzem concepções, ideologia, códigos morais, etc. A superestrutura seria condicionada pela base material, a forma como os homens se organizam no processo produtivo.

Num primeiro momento, a sociedade estava pautada numa divisão natural do trabalho. O surgimento de um excedente de produção permite a divisão social do trabalho, que permite uma apropriação privada e uma acumulação, permitindo que alguns tenham direitos sobre o produto e até mesmo sobre os trabalhadores. Surgem, então, as classes sociais. Na teoria marxiana, aparecem duas classes opostas: proletários e capitalistas, trabalhadores e proprietários. Esse modelo pode ser considerado um tanto simplista, na medida em que talvez não seja suficiente para análise da complexidade social, mas o próprio Marx percebeu isso. Sua análise se pauta nas principais classes do sistema econômico em que vivemos, levando em conta a classe dominante e aquela que considera capaz de superar este modelo. A crítica marxiana à propriedade privada dirige-se, portanto, à exploração e opressão de uma classe trabalhadora desprovida dos meios de produção, que só tem como meio de vida a venda de sua força de trabalho.

Pensando nisso, Marx desenvolveu o conceito de alienação, que demonstra o estado dos trabalhadores, alienados dos meios de produção, alienados de seu próprio trabalho e do produto deste, ou seja, o trabalhador não se reconhece em seu trabalho, no produto que criou.

Tendo isso em vista, Marx afirma que a história da humanidade é a história da luta de classes. Essa afirmação procura apontar as contradições e conflitos inerentes ao modelo classista. Tais problemas só seriam resolvidos numa sociedade sem classes, o comunismo. Para tanto, é preciso que a classe operária deixe de ser apenas classe em si e torne-se classe para si, ou seja, tome consciência de sua força e revolucione, instaurando a ditadura do proletariado, primeira etapa em direção a sociedade sem classes. Marx acredita que este momento é inevitável, uma vez que o capitalismo ao se desenvolver, desenvolve as forças que o destruirão, ou seja, está repleto de contradições.

A educação na sociedade capitalista

Tendo em vista a teoria marxiana da sociedade capitalista, podemos situar a educação como instituição parte da superestrutura, ao lado do Estado, reprodutor da ideologia burguesa. Neste contexto, há diversas interpretações de autores marxistas, como por exemplo, Althusser, que enxerga a escola como aparelho ideológico do Estado, ou seja, reprodutora da ideologia burguesa. Há também autores como Gramsci, que enxerga a escola como lugar de disputa de hegemonia, portanto, o trabalho docente não necessariamente é vão.

Fato é, que independente da interpretação que se tem do aparelho escolar, podemos concordar que se trata de um sistema perpassado pela luta de classes e reprodutor dos interesses do capital, acentuando e perpetuando diferenças sociais. É por esse motivo que não é interessante melhorar a escola pública no Brasil, pois ela contribui para que a elite capitalista permaneça onde está, já que a escola disciplina os indivíduos para que fiquem em seus “devidos lugares”, seleciona aqueles que terão acesso a universidade (principalmente a pública), além de produzir a mão de obra barata que o mercado demanda.

Cria-se, então, uma consciência de que para melhorar é preciso privatizar e a educação se torna favor, portanto, chegar ao ensino superior depende do mérito de cada um de trabalhar para pagar ou conseguir uma bolsa oferecida pelo Estado, que privilegia mais uma vez a iniciativa privada ao invés de investir na educação pública de qualidade para todos, nivelando sempre por baixo.

Trata-se, portanto, de uma lógica bastante perversa, que só pode ser superada por completo, de acordo com Marx, quando da revolução socialista.