Universidade Federal do Maranhão

Centro de Ciências Sociais – CCSo

Disciplina: Filosofia da Educação I

Aluna: Anna Jessyka Sousa Costa

Resenha sobre o livro de Dermeval Saviani intitulado Escola e Democracia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

São Luís

2011

                 Nesta resenha iremos explanar de forma sucinta o exposto no livro intitulado: Escola e Democracia de Dermeval Saviani que se encontra dividido em quatro capítulos. O primeiro: As teorias da educação e o problema da marginalidade, o segundo: Escola e democracia I, A teoria da curvatura da vara, o terceiro: Escola e Democracia II, Para além da teoria da curvatura da vara e o quarto composto de 11 teses para a educação e política.

                 O livro começa explicando aos leitores que as teorias educacionais podem ser  descritas em dois grupos. No primeiro composto por estudiosos que acreditam ser a educação o meio de equiparação social e de extinção da marginalidade. E o segundo grupo acredita ser a educação o meio de discriminação social, portanto um fator de contribuição para a marginalização. O grupo número um, crê que a sociedade é um ambiente sociável e conciliador, a marginalidade é considerada uma exceção a essa vida em total comunhão em que vivemos desse modo, acomete um percentual muito pequeno da população e pode ser combatida, nesse ponto de embate lança-se mão da educação para restituição e manutenção desse padrão temporariamente desfeito.

                Já o segundo, que seria a mais realista das duas, entende a sociedade como estratificada, separatista, distinta entre classes em que a minoria detém o poder político, financeiro e a maioria vivem sob condições desfavoráveis. Nesse contexto, a marginalidade é um elemento constituído na sociedade essencialmente, ou seja, faz parte da sua estrutura. A educação neste meio não tende a melhorar a situação das pessoas da classe baixa, mas pelo contrário tende a ser um fator a mais de marginalização, pois a educação reproduz o social.

               O primeiro capítulo continua dando ênfase nas pedagogias, tradicional, nova, tecnicista que serão abordadas mais profundamente nos capítulos que se seguem.

              Saviani faz referência á teoria da Curvatura da vara, fazendo alusão à política interna da escola. A educação que deveria ser o instrumento para as escolhas do homem livre, democrático, cidadão e autônomo acaba então, se tronando mais uma ferramenta de homogeneização do pensamento crítico da sociedade. Ela legitima as diferenças sociais e marginaliza, ao invés de tencionar a luta contra a ideologia das classes dominantes, e dos direitos dos seres humanos: o conhecimento, que deve ser universal e possibilitado a todos.

             Para Lênin existe todo um contexto para essa intitulação; “ quando a vara está torta, ela fica curva de um lado e se você quiser endireitá-la, não basta colocá-la na posição correta. É preciso curvá-la para o lado oposto”. A explicação para essa teoria seria simples, porque se a vara está torta e você coloca-a na posição central, ela continuará tendenciosa para o lado a que estava curvada, mas se esta for curvada para o lado oposto, no seu retorno ela se concentrará ao meio.

             A pedagogia tradicional considerada como precursora no âmbito pedagógico acreditava que os homens são essencialmente livres e, portanto donos de seu destino, ou seja, as pessoas que não seriam distintas por classes utilizariam do bom senso e do consenso para resolverem suas causas e estabelecerem suas prioridades. No entanto é nessa forma ‘comunista ’ de viver que se funda a burguesia propondo a estruturação do sistema de ensino e escolarização para todos. Essa era condicionada para conversão das pessoas livres em servos mediante a educação separatista que disporiam as escolas.

             Já a pedagogia nova considerava que os homens eram essencialmente diferentes e, portanto devem ser respeitados como tal. Então haveria aqueles que se destacariam mais em algumas áreas e teriam mais facilidade em algumas atividades e aqueles que levariam um pouco mais de tempo para desenvolver seu potencial e, contudo se interessariam por coisas distintas.

             O ensino tradicional se consolidou em uma sociedade em constante mudança, após a revolução industrial. Essa forma de ensino se baseou no método expositivo que perdura até hoje nas escolas brasileiras.

             Segundo Herbart a educação tradicional consistiria em cinco passos. O primeiro, da preparação implicaria na recordação do assunto da aula anterior, a partir disso apresenta-se o novo conhecimento que consiste o segundo passo. A assimilação ou comparação com o conteúdo já incorporado se transformaria em um terceiro passo. No quarto passo o aluno é levado à generalização, ou seja, se ele assimilou os conhecimentos poderá identificá-los a qualquer momento. O método se finda pela aplicação, as atividades que este aluno deverá responder sobre os assuntos abordados e isso dirá se ele compreendeu e apreendeu o que foi explanado em sala de aula.

             No livro também há uma desmistificação do ensino como pesquisa, porque segundo este o que é trabalhado no ambiente escolar são assuntos a serem conhecidos mediante a pesquisa tanto do professor quanto dos alunos.

             Partindo dessa idéia inicial é proposto um novo ensino em contraposição ao método de Herbart, tradicional, que permite que os alunos aprendam e assimilem o conhecimento através da simples transmissão dos conteúdos pelo professor. No método novo, os cinco passos se distribuem esquematicamente por: o primeiro passo composto por uma atividade aplicada aos alunos, à explicação partirá das questões que estes não forem capazes de responder, dando vez a problematização, o segundo passo. A coleta de dados permitirá fazer com que os próprios alunos procurem responder aos questionamentos que não forem esclarecidos de início, daí caberiam pesquisas e constituiriam o terceiro passo. O quarto passo intitulado de formulação de hipóteses permitirá apresentar possíveis resoluções para as questões iniciais. Por fim o quinto passo, a experimentação pretende testar essas hipóteses para chegar a uma conclusão se essa hipótese pode ser contestada ou deve ser refutada.

               Esse novo ensino embora se traduza pela democratização do conhecimento, só foi aplicado verdadeiramente a uma pequena parte da população, elitizada, e se tornou mais uma forma de legitimação das diferenças. Além de não reivindicarem seus direitos, a classe operária de certa forma apóia essa questão, acreditam que a educação é verdadeiramente o único modo de melhoria de vida e ascensão social e responsabilizam os professores por fazerem com que o aprendizado aconteça como pode ser perfeitamente traduzido pela frase encontra neste mesmo livro na página 60:

        “Se o meu filho não quer aprender, você tem que fazer com que ele queira”.        

              No terceiro capítulo, o autor inicia rememorando o segundo capítulo onde tratou de desfazer o mal entendido que acreditava ser a pedagogia nova portadora de todas as virtudes e nenhum vício, e a pedagogia tradicional de todos os vícios e nenhuma virtude.

             Tratou de expor aqui, que nem uma nem a outra poderiam ser consideradas como detentoras de todos os pontos aos quais a educação deveria se preocupar. Em um dos trechos mais importantes da página 73 que se situa para além da pedagogia da essência e da existência, Saviani diz que:

   “Eis porque, tanto a pedagogia tradicional quanto a pedagogia nova entendiam a escola como ‘redentora da humanidade’. Acreditavam que era possível modificar a sociedade através da educação. Nesse sentido, podemos afirmar que ambas são ingênuas e idealistas. Caem na armadilha da ‘inversão idealista’ já que, de elemento determinado pela estrutura social, a educação é convertida em elemento determinante. A relação entre educação e estrutura social é, portanto, representada de modo invertido”. (Saviani, 1980)

              Porém não se pode dizer que a pedagogia tradicional não tinha características revolucionárias, todas as camadas sejam elas populares ou burgueses todos deveriam ter acesso à escolarização, essa perspectiva se destacaria pela igualdade formal, ou seja, transmissão de conhecimentos á todos. Assim como a pedagogia nova, também revolucionária, denunciou o ensino mecânico, artificial da escola anterior.

              Saviani acredita que a Escola nova poderia ter direcionado seus métodos a todos e não somente a elite, por isso ela se tornou discriminatória. Cita, por exemplo, de que essa pedagogia teria dado frutos, o movimento de Paulo Freire aqui no Brasil, uma Escola Nova Popular. A Escola tradicional se traduz pela passividade, inculcarão idéias que não pretendem transformar o aluno em pensador crítico.

               Após essa explicitação, Saviani nos propõe a superação destas pedagogias criando uma nova pedagogia. Essa teria como princípios, o estímulo aos alunos sem, contudo descartar o auxílio do professor. Priorizará o diálogo em sala e com os elementos da cultura, interessar-se-á pelo que o aluno acredita ser importante e merece ser estudado levando em conta também o currículo imposto à escola.

               Para tanto também propõe cinco passos para direcionar as atividades que os professores e alunos realizaram. O primeiro passo diferentemente das pedagogias anteriores (tradicional e nova), se caracteriza pela prática social, o professor e os alunos devem se posicionar criticamente a respeito do assunto que está sendo posto inicialmente. O segundo passo, a problematização define quais questões do passo inicial precisam ser debatidas com mais ênfase e qual conhecimento precisa ser retomado. Já o terceiro passo, a instrumentalização diz-se da apropriação do conhecimento pelo proletariado para que estes tenham poder maior para contestar essa dominação da classe burguesa. Na catarse, quarto passo, trata-se dessa conscientização da camada popular, de domínio dos instrumentos. E finalmente o quinto passo: ponto de chegada, o aluno é levado novamente ao passo número um, a prática social agora com uma diferença significativa, não mais são discutidos só o que se tem idéia sobre o assunto, mas o aluno já estará nivelado ao seu professor, portanto sua contribuição será muito mais específica e significativa.

             No último capítulo do livro, Saviani comenta pontos divergentes e convergentes sobre educação e política. Ele dispõe 11 teses para explicar esses pontos, primeiramente, em educação o educador está e disposição para auxílio e estímulo do educando. Já em política as disputas ocorrem exatamente pela luta por interesses pessoais, a favor do que cada um concebe como melhor para si.

             No ato educativo o ‘mestre’ tende a querer fazer sempre o que for melhor para o aprendizado do educando, e estes entendem essa posição acreditando que o professor quer realmente o melhor para ele, para possibilitarem o seu desenvolvimento. Caso um aluno acredite e defenda um ponto de vista diferente, o educador tende a mostrar a ele qual o caminho correto para tal afirmação. 

           Diferentemente da política que o veria como um possível adversário pelo fato de não acreditar nas mesmas perspectivas que ele. Caso o partido seja contrário e derrotado, ele não admite o erro e permanece na luta de contrários, ou seja, ele pode ser vencido, mas não convencido. Já se o professor esclarece e mostra aos seus alunos à verdade por trás de alguns fatos eles tendem a acreditar e seguir o que é melhor para eles.

          Porém, estes temas não são totalmente distintos. Na 2° e 3° tese, toda prática educativa possui uma dimensão política assim como toda prática política possui em sua formação uma ação educativa.

          A prática educativa demonstra uma relação de dependência da política quando se resulta a questão burocrática, construção e ampliação do espaço físico o que constitui a 4° tese. Já a política se traduz dependente da educação quando precisa determinar os pré-requisitos para divulgação de informação, campanhas, formação de chapas, para constituição de partidos constituindo a 5° tese.

          Nossa sociedade é composta de pessoas que defendem seus interesses. Nem sempre estes interesses são comuns e por isso travam-se lutas no campo político, 7° tese. No caráter educativo, essa luta é um pouco mais contida e se trava no campo do conhecimento, das idéias, 6° tese.

          Educação e política são dependentes entre si e expressa uma autonomia correspondente, 8° tese. Em alguns momentos a educação se rende ao poder da política, na constituição de classes e distinção destas pelo poder aquisitivo, 9° tese. A educação busca a eliminação da divisão de classes exatamente por esse motivo, para que essa dominação política não ocorra mais, 10° tese. Por fim, a 11° tese nos informa que, a supremacia da educação ocorre pelo fato de serem dependentes para consolidação da prática pedagógica e política.

 

 

 

 

 

 

 

 

Referência bibliográfica

 

SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre educação e política/ Dermeval Saviani- 35 ed. revista- Campinas-SP: Autores Associados, 2002 (Coleção Polêmicas do nosso tempo: vol. 5).