No artigo “Mundialização, Educação e Emancipação humana”, que se encontra na obra “Educação e luta de classes” organizada por Paulino José Orso, Sebastião Rodrigues Gonçalves e Valci Maria Mattos, o autor Arioval Santos, que é professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL – PR), coloca o conceito de educação como algo amplo e inseparável do gênero humano. Ele contextualiza sua concepção de educação comparando-a ao conceito de trabalho proposto por Marx que diz que “(...) o trabalho é a condição indispensável da existência do homem, uma necessidade eterna, o mediador da circulação entre natureza e homem.” (ORSO, 2008, pag. 40). A partir dessa concepção o autor coloca a educação em um patamar à altura das atividades indispensáveis ao processo humano e sua condição de transformador de sua própria realidade.

            No contexto pluralizado das sociedades humanas, a educação é algo constantemente mutável e adaptável ao contexto político social de quem pratica o processo educativo, uma vez que a educação é o processo de aquisição de conhecimento, métodos, técnicas, teorias e fórmulas de agir socialmente assim como de criar e executar processos produtivos, segundo a visão marxista do autor.

            Prosseguindo em sua visão marxista de que a economia define todas as relações sociais, Arioval Santos coloca a educação como uma dessas relações definidas pelas mutações provocadas pela necessidade de constante transformação e adaptação do sistema produtivo capitalista. Assim sendo a educação transforma-seem produto. Seucaráter mutável enquanto relação social, possibilita que as forças econômicas do mundo mercadológico façam da própria educação mais um de seus produtos.

            As instituições de ensino da sociedade de classes adquirem então, um papel importante no mundo ideologicamente dominado pela burguesia, que é criar um sistema de formação educacional voltada para a divisão do trabalho, a aceitação da condição sócio-econômica assalariada e a reprodução da ideologia de classista. Tal função estabelece então uma forte barreira à verdadeira educação do ser social, que deveria realmente emancipar, tornar o indivíduo autônomo no pensamento e nas ações. Essa barreira torna o trabalhador limitado em seu conhecimento e suas ações já que ele domina apenas parte do processo produtivo, e assim depende do dono dos meios de produção para efetivar a força de seu trabalho. Isso porque o processo educacional pelo qual passou o treinou para determinada função do processo produtivo e não para o processo produtivoem si. Paraexemplificar tal afirmação o autor do artigo cita trechos do Manifesto do Partido Comunista no qual Marx e Engels apresentam argumentos de como seria o processo produtivo educativo comunista em oposição ao capitalista vigente em nossa sociedade. Porém o autor completa seu pensamento destacando a resistência do capitalismo enquanto sistema produtivo e ideológico perante as forças sociais comunistas.

            É na seqüência desse pensamento que Ariovaldo Silva traz à tona o caráter emancipador da educação. As estruturas educacionais da sociedade atual está presa à lógicas da sociedade de classes e se mantém rígida na mesma medida da rigidez do sistema econômico capitalista. E por isso nosso modelo educacional e todas as etapas de seu processo não são emancipadoras. Segundo o autor,

 

“o quanto o complexo educativo amplo e formal (na escola) se subordinou à lógica e dinâmica do capital, satisfazendo suas exigências, é dado hoje pelo uso freqüente, mesmo no campo dos que se nomeiam esquerda e socialistas, de termos como qualificação, eficiência, racionalidade e qualidade total.” (ORSO, 2008 – pag. 45-46)

 

            Para contextualizar a questão da mundialização do processo educativo na sociedade de classes, o autor cita o fracasso dos modelos socialistas no séc. XX e a força com que a lógica capitalista se expandiu e legitimou-se nos países da América Latina, especialmente no Brasil. As relações sociais na sociedade de classes, realizada por ela e para ela naturalizou segundo as forças do sistema produtivo capitalista tornou natural a condição da educação como formadora de mão-de-obra para o sistema capitalista e para a manutenção da sociedade de classes, ao passo que a educação deveria emancipar o indivíduo para a sociedade mundializada.