SIMÕES, Alexandre Pereira. OS SONS DA VILA: Leitura Crítica da Realidade- Relatório produzido durante o 7º semestre do Curso de Pedagogia na FACED/UFRGS. RS: Porto Alegre, 2003.

Alexandre Pereira Simões é graduado em Pedagogia, com habilitação em séries iniciais pela FACED/UFRGS. No seu artigo intitulado “OS SONS DA VILA: Leitura Crítica da Realidade” relata sua experiência no planejamento didático-pedagógica com uma turma de jovens e adultos em uma escola municipal de Porto Alegre no ano de 2003.

O perfil da turma pesquisada por Simões era composta de trabalhadores da classe baixa com idade de 13 a 50 anos, contendo 16 anos matriculados, no entanto apenas 10 assistiam às aulas.

No primeiro tópico “o que estão tramando para mim” o autor descreve como surgiu o planejamento didático-pedagógico da referida turma, tendo como embasamento teórico o pensamento de Paulo Freire, nessa ideia a leitura acontece a partir de vivências do dia a dia aluno.  De acordo com as experiências vivenciadas os alunos aprendem a sistematizar e organizar o conhecimento, mas para que possa ocorrer essa aprendizagem o aluno necessita realizar uma leitura crítica a partir de sua realidade, ou seja, tendo como ponto de partida sua leitura de mundo.

O autor expõe para os alunos que os meios de comunicação podem influenciar de forma positiva ou negativa na formação do pensamento de um sujeito, se este não souber diferenciar os discursos dispostos na mídia como um fato verídico ou inverídico. Na maioria das vezes os alunos, se deparam com ideias manipulativas que fazem com que os mesmos atenham como verdades absolutas incontestáveis.

No tópico seguinte “planejamento didático-pedagógico: os sons da vila” surgiu após analise da realidade dos alunos e da comunidade pesquisada, essa proposta abrange detalhada caracterização do perfil dos moradores; seus costumes, suas histórias, e os sons que a vila possuía.  Sendo assim, a proposta feita por Simões, diz que é muito mais fácil para o aluno utilizar-se da linguagem que ele já conhece, e o domínio da leitura tornar-se muito mais proveitoso se este inserir a mesma linguagem do cotidiano na sala de aula. 

O objetivo geral é estabelecer a relação entre o sujeito e o meio que estão inseridos, procurando conscientizar os alunos a serem transformadores de sua própria história. Nesse sentido, o aluno deixa de ser só ouvinte da comunidade e tornando-se agentes de mudança dentro do local de convívio social.

Sabe-se que os alunos do EJA são pessoas que possuem diversas experiências vivenciadas, o professor dessa modalidade de educação tem um importante papel, ao levar os alunos a pesquisarem sobre sua realidade, faz com que estes se interessem pelas as aulas e pela sua própria história.

No tópico “princípios suleadores” interroga acerca do perfil dos alunos do EJA, destacando que o ato de ler ocorre quando o aluno descobre a problemática  posta na realidade, acordando para o senso crítico com a intenção de aumento da visão de mundo.

No desenvolvimento do trabalho o autor destaca a necessidade de escutar os diferentes sons, conhecer as diferentes tradições e enxergar além das paredes da escola. Mas o trabalho foi árduo, porque o objetivo final do planejamento era a formar alunos críticos, fazendo com eles ouvissem sobre sua própria história e se autoconhecesse.

O tema escolhido foi “cidadania” e diversos outros subtemas foram abordados na escuta da comunidade, sendo que cada disciplina era trabalhada de forma diferente e dinâmica: na matemática partia do conhecimento do prévio dos alunos para conceitos lógicos que lhes auxiliassem a utilização dos cálculos na comunidade; em estudos sociais enfatizava as relações sociais, históricas, culturais e políticas em que a comunidade havia passado ou estava vivenciando, os temas dessa disciplina focavam o conhecimento geográfico e humano da comunidade; em ciências eram trabalhados os tipos de solo, a reciclagem, a conservação das áreas verdes, as doenças e as drogas.

Todos os dias Simões traziam para as aulas textos que retratassem o cotidiano dos alunos, isso mostra da importância de relacionar a teoria à prática educacional.  Portanto nesta abordagem de Simões, professor e aluno têm papéis fundamentais no processo de aprender e de ensinar, reconhecendo o papel da ação aprendente/aluno, um aprendiz por natureza, e o professor, como mais uma pessoa neste processo de aprendizado, e com a responsabilidade da mediação das intervenções, onde as problematizações, intervenções e encaminhamentos devem estar presentes no seu fazer.