Introdução

A diversidade étnica e racial, tem sido, como as identidades políticas , culturais e sociais, comumente relacionadas ao termo multiculturalismo, pela proximidade, que mantêm com a idéia de pluralidade que acompanha a história humana.
As diferenças culturais, dão um acento político ás análises dos processos híbridos da pós ?modernidade, no que se refere a confirmação de identidades e sujeitos políticos, locais e regionais, muitas vezes construídos, a partir de políticas de inclusão e ações afirmativas.
A educação brasileira, mantêm relações intrínsecas com diversos grupos étnicos, pois existem fortes indícios de que (...) os séculos de escravismos foram definitivos na implantação do ethos do país.
( MOURA,1983)
Levando em conta a complexidade que o tema multiculturalismo comporta , seus efeitos em nosso país, fortalecem a discussão sobre as demandas por visibilidade das minorias étnicas , suas identidades raciais e o papel dos novos atores culturais em nossa sociedade. As demandas por democracia racial, resultaram na necessidade de lutar contra as condições de desigualdade ( HENRIQUES,2001).
O multiculturalismo , tematiza atualmente, as experiências das minorias , localizando e dando novas configurações ás questões raciais, sobretudo, devido a implementação da Lei 10639/03, cuja reflexão paira sobre o acesso de negros às universidades e a obrigatoriedade de se trabalhar nas escolas de ensino fundamental e médio do país, a história e cultura dos afro-descendentes.
Acompanhar o contexto de discussões sobre pluralidade cultural, multiculturalismo e identidade, requer construir uma nova configuração para a análise da importância que há em se implantar programas que realmente trabalhem a inclusão do negro em nossa sociedade " [...] numa perspectiva multicultural em ambientes marcados pela diversidade."
( CANEM & CANEM, 1999).

O lugar da escola nas relações étnicos ?raciais

A garantia da implementação de políticas de inserção social das minorias, promovendo inclusão e identidade, via pluralidade cultural, precisa ter ênfase na educação. Os docentes podem garantir aos sujeitos sociais a promoção de políticas pedagógicas que efetivem currículos baseados no multiculturalismo, como forma de aliar pluralidade e justiça social.
O debate sobre as tensões entre multiculturalismo e políticas igualitárias , apontam para a urgência de se trabalhar as diferenças e a cidadania multicultural nos espaços educacionais. À medida que novos olhares são lançados sobre os currículos, essa urgência do multiculturalismo, como campo de pequisa, toma lugar de destaque na formação de identidades.
As sociedades multiculturais, de um certo modo, precisam do engajamento de seus sujeitos sociais , mobilizados para interferir em certos discursos que esteriotipam e impedem a evolução de identidades plurais . Nesse sentido, as diferenças e a hibridação são potencialmente articuladas para avançar rumo á construção identitária e ao conhecimento do multiculturalismo.
Para Pereira (1978), o estudo da história do Brasil possui uma herança derivada do colonialismo cultural, que supervaloriza os feitos europeus, minimizando e excluindo qualquer referência à historia afro-asiática.
A lei 10.639/03, traz á tona os debates sobre o multiculturalismo e suas implicações no cenário social brasileiro, numa tentativa de tornar a discriminação racial e o preconceito, mais amenos em nossa sociedade.
Focalizar então as dimensões multiculturais no contexto educacional, juntamente com leis de combate ao racismo e promoção da consciência racial, contribuiria para a construção da identidade e a promoção das relações étnicos-raciais.
MUNANGA ( 1999) propõe romper coma as ideologias dominantes tendo como ponto de partida uma identidade coletiva mobilizadora.
O professor, pode dentro do contexto de atuação educacional, combater a disseminação de idéias racistas e a esteriotipação do negro através do currículo escolar. Outra contribuição , estaria na possibilidade de trabalhar a visibilidade social dos afro-descendentes , combatendo o silêncio em relação a história da África e sua diversidade cultural.

A educação humanizadora

" A educação é vista como um processo de humanização,
que se dá ao longo de toda a vida em sociedade". ( BRANDÃO,1984 )

A invisibilidade racial tem lugar na escola como vetor que contribui diretamente para acentuar as diferenças nas relações étnico-raciais, o que acaba definindo o afro-descendente de uma maneira deformada. A busca pela identidade de negro é a busca pela autodefinição" ( BERND,1987: 38), já que , sem ter referência histórica, acaba alienado pela realidade opressora.
Para ( ROBINSON, 1998, p 15) o ensino não apresenta políticas concretas, realmente transformadoras e que sejam assumidas conscientemente pelos educadores.
Refletindo sobre a minha experiência como professor , muitas vezes me deparo com situações de preconceitos em sala de aula e são inúmeras as dificuldades enfretadas para fazer da prática educacional, algo que se realize significativamente, para construir autonomia, respeito e tolerância nos ambientes escolares.
Os processos educativos precisam servir a difusão de mudanças sociais efetivas e à constituição do senso de cidadania , cabendo aqui, uma análise do cruzamento de práxis educacionais afirmativas e os atores sociais mobilizados.
Incluídos em nossa análise , os processos educacionais humanizante são responsáveis pela articulação de ideologias que legitimam a construção da idéia de sociedade mais justa e igualitária.Vasconcelo( 2004) assegura que :

" é importante tomar como ponto de partida do processo
Pedagógico, o saber anterior do educando"


Bohes ( 2007) analisa que em Paulo Freire, essa reflexão da realidade do educando, transforma e reconstroem saberes dentro de determinados grupos.
Há para alguns autores, que se buscar subsídios , nas práticas educativas humanizantes, para que o conhecimento seja difundido, tanto para que o homem tome ciência das diversas realidade da quais poderá fazer parte, quanto para simplesmente colocar na pauta de discussões sobre cidadania, o respeito, a resistência e as relações ético-raciais.
A educação , nessa relações de poder e diferenças, pode incluir em seu currículo alternativas ás sociedades, buscando a ruptura com domínio das elites, á servidão e a invisibilidade das minorias, criando segundo Brandão ( 2002) protagonistas emergentes de um processo que inclui e discute a educação popular como um fundamento da identidade.
Nesse projeto proponho realizar uma pesquisa sobre a problemática da identidade afro-descendente, que possa evidenciar as particularidades e articulações das relações étnico-raciais dentro de contextos multiculturais, colaborando afirmativamente para a conscientização sobre demandas sociais por respeito, identidade e tolerância racial nos ambientes escolares. Com base nessas reflexões, estabeleci algumas questões ligadas ao multiculturalismo , às relações étnico-raciais e a produção de identidades afirmativas dos afro-descendentes.

1.Quais os impactos da identidade enquanto vetor de transformação social?
2.Como articular educação e identidade afro-descendente implicando na problematização do currículo educacional brasileiro.
3.como trabalhar a reeducação de atitudes e valores coibindo manifestações racistas e preconceituosas.

A construção das identidades sociais dos afro-descendentes produzidas através da interação, reflexão e diálogo sobre suas relações culturais recuperando o senso etnico para a formação de indivíduos mais humanizados .

Educação, cidadania e relações étnico -raciais

A educação para a cidadania , pode configurar-se num agente de transformação da sociedade , com vistas á promoção da igualdade e melhoria de vida das populações excluídas, dando-lhes condições de compreender sua realidade histórica.
Marisa Vorraber, no seu livro Educação popular hoje,, ao tempo em que lança a discussão sobre as relação população oprimida com a práxis da educação popular, sugere que é prioritário aliar as metodologia educacionais aos sujeitos sociais, tornando-os um problema pedagógico a ser desafiado, com base numa educação humanizadora .
Essas matrizes, têm lugar na pedagogia de Paulo Freire, cuja reflexão reconstrói alguns paradigmas educativos desumanizadores, e considera a construção do sujeito humano, em cada lugar, diferenciadamente.
Vorraber, propõe ainda que é necessário considerar que a cultura e o saber popular, não se dissociam do ato pedagógico, pois,os indivíduos envolvidos no processo educativo estão imersos em relações coletivas que os tornam sujeitos culturais.
O desafio é distinguir os processos que humanizam e desumanizam, e lutar para ressignificar a educação permitindo a humanização do saber. No momento em que o individuo se descobre como autônomo (...) ele se firmará como ser que cria e recria o mundo, e saberá se autodeterminar, agindo com segurança no meio em que vive ( ROBINSON,1998,P.21)

A produção social da identidade e da diferença

Há no Brasil, a ausência de uma teoria da identidade e da diferença, apesar de oficialmente, essas questões sejam legitimadas pela idéia de diversidade.
Sem uma teoria central, com base numa pedagogia crítica, essa diversidade suposta, acaba não tendo força diante das inúmeras questões pertinentes á essa temática.
Tomando a autonomia da identidade como exemplo, parece ter lugar nessa análise, sua condição positiva e autocontida , cuja referência em si próprio a torna auto-suficiente. Já a diferença , tem caráter independente, mas mantêm relação de dependência como a identidade. Quando nos deparamos numa situação afirmativa de identidade, acabamos escondendo essa relação com a diferença.
De certo modo, a diferença deriva da identidade, que lhe serve de referência.Aquilo que somos acaba definindo o que não-somos.Uma nova configuração á produção social da identidade associa-se á eleição de parâmetros que interpretam as relações étnico-raciais e as diferenças que se evidenciam nas sociedades contemporâneas.
Para solucionar o problema, segundo o discurso das elites, surgiram duas ideologias: a ideologia do branqueamento e o mito da democracia racial, que acabou substituindo a ideologia do branqueamento como explicação da identidade nacional
( ORTIZ, 1994)
Como os mecanismos políticos, culturais e educacionais refletem as idéias, os valores e os padrões de uma elite dominante, as discriminações de classe e de raça reproduzem essas visões, contribuindo para o fracasso escolar, respaldada por visões europizantes e com forte influência monoculturalista.
A escola ao longo da história, veiculou através de seu currículo, a ideologia do dominante, negandoao negro uma identidade afirmativa, colocada sobre suposta forma de democracia racial e impondo fatores como incompetência,, preguiça e malandragem como esteriótipo da etnia afro-descendente.
Dentro dessa análise a população negra, ver estignatizados seus valores,negada sua história, enquanto o elemento dominante passa a sintetizar o esteriótipo da normalidade e da beleza. Decorre daí, portanto, a necessidade dos oprimidos em aparecerem como o opressor, tentando reconquistar suas aspirações negadas.
Para Bourdieu ( 2004 ) o oprimido passa a se enxergar com o olhar do opressor evidenciando a vergonha de si mesmo, negando sua personalidade. Por essa análise, a crise de identidade cria a seguinte dicotomia: ou se aceitra a definidação identitária dada pela elite dominante ou se trava uma luta de resistência coletiva.
O estigma produza a revolta contra o estigma, que começa pela reinvidicação pública do estigma, constituindo assim um emblema.
( Bourdieu, 1989 )


Referências bibliográficas

1.MUNANGA, K. Superando o Racismo na Escola. Brasília, Ministério da Educação, 2000.
2.FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. RJ: Paz e Terra, 1987. 38ª edição.
Bernd, Z. (1988). O que é negritude. São Paulo: Brasiliense.
3.Foucault, M. (1980). História da sexualidade I: a vontade de saber. (M. T. C. Albuquerque & J. A. Foucault, M. (1995). O sujeito e o poder. Em H. Dreyfus & P. Rabinow, Michel Foucault, uma trajetória Munanga, K. (1988). Negritude: usos e sentidos. São Paulo: Ática.
4.BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo, Perspectiva, 2004.______. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil/Difel, 1989.
5.HENRIQUES, Ricardo. Desigualdade racial no Brasil: evolução das condições de vida na década de 90. Rio de Janeiro, IPEA, 2001.
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8. PETIT, Sandra Haydée: Socipoética; Potencializando a dimensão poiética da
pesquisa. In:
9. SODRÉ, Muniz: Claros e Escuros: Identidade, povo e mídia no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1999.