Relação professor-aluno e as variáveis individuais

*Sebastião Maciel Costa

“Quando um pai atira o seu filho pequeno para o alto, quando ele volta aos braços do pai ele volta sorrindo: ele confia.” A cumplicidade em nome da aprendizagem representa um grande desafio para a escola e todas as possibilidades de crescimento da Educação. Em sendo a aprendizagem, um processo de mudança de comportamento obtido através da experiência construída levando em conta as dimensões do emocional, situacional, relacional e ambiental, o ato de aprender é o resultado da interação entre estruturas mentais, sociais e o meio que envolve os agentes do processo ensino-aprendizagem.

A educação é construída pelo sujeito da aprendizagem. Na rua, em casa, no trabalho são construídas as possibilidades e definidas as ferramentas que tornam o ser humano em um atencioso aprendiz de situações as quais ele precisa dominar para sobreviver. E domina, e sobrevive, e supera, e vence. Ali, não se trabalha com hipóteses, testes e simulações. É vida real como somente ela consegue ser. No cenário escolar, nem sempre, prevalece a ressignificação dos sujeitos, jeito próprio de se comunicar, formas diferentes de  ver o mundo e efetuar suas leituras, é negado o reconhecimento de seus saberes e condições, a construção de novas habilidades, ignorando competências e atitudes significativas. Na escola, essas características e condições, muitas vezes,  insistem em ser vistas como limitações, déficit de atenção, distúrbios emocionais novos comportamentos, novas formas de comunicação.

Fenômeno integrante de Pedagogia, a aprendizagem significa mudanças de atitudes comportamentais do indivíduo em função de suas experiências, saberes e históricos. Por assim definir, a primeira grande dificuldade enfrentada pela escola é fazer valer a imagem do professor, como co-autor da produção do conhecimento sistematizado que será usado em favor da relação que será estabelecida com o aluno, enquanto portador de toda uma vida de encontros e desencontros.

“Um sistema de meteorologia identifica e divulga para a comunidade que aquele dia será de fortes chuvas. Poucas pessoas saem de casa com agasalhos e guarda-chuvas. Essas pessoas acreditam no que lhes foi transmitido.” No ambiente escolar, para onde convergem todas as espécies de expectativas, não há possiblidade de uniformidade na forma de agir, portar-se, pensar, entender, apreender, aprender e modificar cada visão de mundo que os alunos trouxeram. Poucos são os que atendem aos chamados comandos do entendimento e respondem porque aprenderam. Apenas os que acreditam no que lhes foi transmitido, como premissas de acréscimo aos seus conhecimentos prévios, que foram respeitados, trabalhados, transformados e garantidos.

Ora, quando se estabelecem condições de entendimento entre os agentes de um processo, salvo se perdurar conflitos mais fortes que a capacidade de interação e reconhecimento, abrem várias possiblidades de crescimento que favorecem ao elastecer de oportunidades para os seus agentes. No caso específico, o professor e o aluno. Ao professor, cabe a responsabilidade de se reconhecer apenas à frente do processo, por ter se preparado há mais tempo para aquela missão; ao aluno, cabe reconhecer nesse parceiro, uma referência de maturidade e respeito que, sendo um prolongamento das figuras paternas, se impõe mais pelo papel de mediador que de impositor de opiniões, informações e pontos-de-vista. Nasce o diálogo, a correspondência, a cumplicidade que fortalece conteúdos, assegura habilidade, reforça os laços para o estudo do currículo que, na verdade é um roteiro a ser observado, um parâmetro a ser experimentado, um construir de oportunidades. Os afazeres desse “sistema” perpassam pela dialogicidade, negociações e combinados, acordos e variantes processuais, as sondagens e avaliações, a auto-avaliação de suas funções.

Novos caminhos são traçados e construídos mas em nenhuma etapa, o aluno recebe conhecimento em forma de instrução. Instrução aqui será sempre bem vista, como modelo meio para se alcançar o aprender. Imagine-se que a instrução é o conjunto de informações que o professor, enquanto agente institucional acredita ser o melhor caminho a seguir. Esse caminho é que é o processo de movimentação de saberes prévios repensados para encontrar a melhor resposta. Essa simbiose é fundamental, pois nesse encontro, professor e alunos vão construindo novos modos de se praticar a educação. É necessário que o trabalho escolar seja competente para abdicar a cidadania tutelada, ultrapassar a cidadania assistida, para chegar à cidadania emancipada, que exige sujeitos capazes de fazerem história própria. Saber pensar é uma das estratégias mais decisivas. O ser humano precisa saber fazer e, principalmente, saber fazer-se oportunidade. (DEMO, Política Social do Conhecimento). 

Os objetivos da aprendizagem vêm sendo ao longo da história,  classificados a partir da capacidade cognitiva, que representa o conhecimento, informações ou capacidades intelectuais que cada um traz em si, Já que se considera como o aspecto afetivo, que se relaciona diretamente com os sentimentos, emoções,  projetos e ambições fundamentados em atitudes forjadas no seio familiar, parece ser o lastro sob o qual devem se debruçar as perspectivas de “ensinamentos”, aí se configura a necessidade de se estabelecer relações de credibilidade no sistema e confiabilidade nas intenções  do professor. Por último, não menos importante, reside o domínio psicomotor que ressalta o uso e a coordenação dos músculos para resistir a diversos desafios. O maior entrave, para alunos de algumas escolas de redes públicas em periferias e zonas rurais, nasce nesse ponto: com fome, com sede, cansado, sem ânimo, sem forças, percorrendo longas distâncias a pé, na chuva ou no sol, não  há como se registrar dados positivos no domínio cognitivo nas habilidades de memorização, compreensão, aplicação, análise, síntese e a avaliação. É preciso, nessa perspectiva, redefinir o papel do professor pela via da aprendizagem, não da aula. Professor é, primeiro, quem sabe aprender com virtudes comprovadas e reconhecidas. Segundo, é quem sabe fazer o estudante aprender. Não se trata de “dar aula de matemática”, ou de “produção textual”, mas de assegurar que os estudantes aprendam de verdade matemática, assim como os meandros dos falares dos brasis que o Brasil possui. O cuidado com o aluno é primordial, porque é a razão de ser da atividade docente. Segue outra forma de avaliar, já que não se busca reprovar, mas garantir, ainda mais, que o aluno tenha seu direito de aprender devidamente efetivado. Aí aparece sobretudo o papel de educador, ou a face da politicidade do professor, enquanto “adulto” capaz de conduzir um processo de interação e busca sem se destacar como detentor saber. Apesar de reconhecimento como alguém que aprende a cada dia, para poder participar desse sublime embate: reproduzir conhecimentos, massageando o ego do que veio em busca do conhecimento sistematizado que a escola “detém” como espaço.

No domínio afetivo só dispõe-se de habilidades de receptividade, resposta, valorização, organização e caracterização dos conteúdos aquele que se reconhece produtor do seu próprio conhecimento e como reflexo de um direito inalienável que, garantido por lei, reforçará possibilidades futuras de melhorias de qualidade de vida. Segundo o psicólogo da educação americano, a aprendizagem reveste-se de significados que implicam que os novos conteúdos apreendidos pelo aluno são organizados e formam uma hierarquia de conceitos, e se relacionam com o conhecimento previamente interiorizado pelo mesmo.

A educação vista sobre o prisma da aprendizagem, significa o resgate da oportunidade de ser levado em consideração, o papel do aluno como o primeiro a “entender” por que deve aprender determinados conteúdos e qual o custo-benefício que esses componentes da educação formal transformará o seu pluriuniverso de informações, que precisam ser decodificadas e transformadas em conhecimentos que valerão para o a continuação dos estudos, para o trabalho, para a  vida.

Esse novo homem-pensador que faz da escola seu campo de concentração; da educação a sua ferramenta e do seu tempo e energia instrumentos de transformação, ele cresce, ele pensa, ele é crítico sobre si mesmo, sobre sua história, seu povo, os seus ideais. “Porque nós estamos na educação formando o sujeito capaz de ter história própria, e não história copiada, reproduzida, na sombra dos outros, parasitária. Uma história que permita ao sujeito participar da sociedade”. (Pedro Demo).Ref: DEMO, Política Social do Conhecimento. 

Para que, muito mais que o Monitoramento da Aprendizagem, haja uma contrapartida na relação de confiança entre escola ( representada pelos atos do professor) e aluno (representando o efetivo contingente de aprendizes do seu tempo em nome de sua contextualidade social), há de se reconhecer os instrumentos do monitoramento da aprendizagem, como a análise dos resultados de instrumentos publicamente postos a serviço a “avaliação”, como acompanhamentos sistemáticos e individualizados dos alunos dos mais variados níveis de ensino, notadamente da Educação Básica, tornam-se unilaterais. Na outra ponta, para que se efetive o reconhecimento da importância do aluno nessa construção, imperativo se torna que não se entre no mérito das dificuldades de aprendizagem, mas que se definam meios de motivar, incentivar, conquistar o aluno para ele, por si mesmo, defina escola como mais um espaço de aprendizagem e se sistematização de conhecimentos, sem contudo ignorar que, na prática, o que se faz na escola é a continuidade do que se vive, na rua, em casa, no trabalho, na vida.

Modelando o futuro construído no agora, o aluno precisa ser vê com autonomia conferida pelo sistema educacional composto pela educação familiar e a educação escolar. Cada uma exercendo o seu papel. Aquela cuidando dos valores que hão de nortear a busca pela realização e esta a cristalização da história das sociedades. "Os registros em avaliação são dados de uma história vivida por educadores com os educandos. Ao acompanhar vários alunos,em diferentes momentos de aprendizagem,é preciso registrar o que se observa de significativo como um recurso de memória diante da diversidade e um "exercício de prestar atenção ao processo"."(Hoffmann,2001:175) Esse presenteísmo natural, o reconhecimento da importância do aluno na produção do processo, desde a concepção do planejamento de atividades escolares até aos mais significativos códigos, regras, normas e fórmulas a que será submetido a cada etapa. Esse contexto reveste-se da importância da ensinagem (ensino+aprendizagem), justifica que a aluno se deteve a cada momento de sua trajetória refletindo sobre perdas e ganhos no processo de garimpagem de informações e estruturação do que se reconhece como bagagem acadêmica já que essa ligação entre ensinar e aprender é estabelecida no cotidiano da sala de aula, alinhando as metodologias e recursos empregados para ensinar ao acompanhamento do processo

É, aos poucos, sabendo o que sabe, para aprender mais que a auto-regulação da aprendizagem reforça todas as possiblidades de se definir como meio de o aluno apropriar-se de conhecimentos, por etapa, reconhecendo-se capaz de avançar sem ter que ser rotulado como gênio ou mero reprodutor das informações obtidas no universo midiático dos dias de hoje, sem ter que ver ou ter visto o professor como o detentor do conhecimento, mas como o mediador de situações favoráveis ao saber.

*Mestrando em Ciências da Educação – Defendendo

 “AUTO-REGULAÇÃO DA APRENDIZAGEM: AUTONOMIA DO EDUCANDO”