RELAÇÃO FAMILIA E ESCOLA: FUNÇÕES E RESPONSABILIDADES

 

 

Alessandra Mujica[1]

 Eleni Luguch2

Geni de Souza Vogt3

Marines da Silva4[2]

Jane Rodrigues5

 

 

 

RESUMO

 

 

O presente artigo origina-se de uma reflexão acerca da relação das instituições escola e família, uma vez que, como acadêmicas de um curso de educação, precisamos analisar e nos posicionar frente a esta questão, procurando criar estratégias que possibilitem a superação de problemas e/ou o distanciamento que se revela entre essas instituições. Nesse sentido encontramos situações em que as escolas nem sempre propiciam ou valorizam a participação da família nas suas ações, levando mais em conta o lado assistencialista e técnico, chamando os pais somente para resolver “problemas” dos filhos ou para prestar serviços e “obrigações” de trabalhar em eventos que são promovidos com a intenção de auxiliar nos recursos financeiros da escola, problema este que deveria ser assumido pelo poder público. Entendemos que a participação dos pais deve ir, além disso, deve ser abrangente e sistemático. A escola deve fazer o papel de motivadora, propiciando e oportunizando os pais a participar de todas as decisões, dos rumos que se pretende seguir para que aconteça uma educação de qualidade.

 

Palavras-chave: Participação, responsabilidade, poder, família, escola

 

 

 

 

ABSTRACT

The present article originates from a reflection concerning the relation of the institutions school and family, a time that, as academics of an education course, we need to analyze and in them to locate front to this question, looking for to create strategies that they make possible the overcoming of problems and/or the distanciamento that if discloses between these institutions. In this direction we find situations where the schools nor always propitiate or only value the participation of the family in its actions, leading more in account the assistencialista side and technician, calling the parents to decide "problems" of the children or to give to services and "obligations" to work in events that are promoted with the intention of assisting in the financial resources of the school, problem this that would have to be assumed by the public power. We understand that the participation of the parents must go, moreover, must be including and systematic. The school must play the motivadora role, propitiating and oportunizando the parents to participate of all the decisions, of the routes that if so that intends to follow an education of quality happens.

 

Word-key: Participation, responsibility, power, family, school

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

 

 Segundo Veiga (1995), diante do cenário nacional, a Gestão Escolar está sendo amplamente discutida nas diferentes organizações de ensino. O projeto político pedagógico é intencional, é político no sentido de compromisso da formação do cidadão para um tipo de sociedade, é pedagógico no sentido de definir as ações educativas e as características necessárias das escolas de cumprirem seus propósitos e sua intencionalidade (p.13).

O PPP deve ser representativo dos interesses de uma comunidade escolar, consciente de seus propósitos e esta é uma das prerrogativas que se salienta como característica fundamental de uma escola que, se utilizando dos espaços possíveis, constrói, também lucidamente, a sua autonomia (Lei de Diretrizes e Bases da educação nº. 9394/96).

Portanto, a Lei estabelece que a escola deve aproximar-se da comunidade, integrando-se a ela e fazendo com que também participe, de forma ativa, desse processo. Assim, a comunidade é instigada a refletir, tomar parte das decisões, rompendo com esquemas centralizados, ainda hoje existentes e com muita resistência para que aconteçam essas mudanças de fato.

 

A parceria entre escola e família pode ocorrer em vários níveis e momentos. Relata Regina Scarpa, coordenadora pedagógica da Fundação Vitor Civita. Diz ainda que os pais exijam cada vez mais qualidade da escola, e essa é uma das vantagens de ter essa relação fortalecida (GENTILE, 2006 in Revista Nova Escola, p. 34).

Ainda, a mesma autora destaca que os professores relatam que o fato da família não ir bem, influencia o desenvolvimento escolar dos alunos, o que nos comprova de quão importante a participação da família na educação de seus filhos. A participação coletiva envolvendo pais e professores é fundamental para que educação e família caminhem juntas. Além do que, isso se constitui o passo inicial da transparência dessa relação necessária e indispensável. Todos os segmentos da escola devem ter clareza das finalidades, dos objetivos, das ações e dos serviços oferecidos pela escola.

De outro lado, à escola não pode chamar os pais somente para falar dos “problemas dos seus filhos”. Cabe a escola encontrar o melhor caminho para a participação dos pais e da comunidade escolar no processo educativo. O que não pode é continuar esse jogo de responsabilidade - a escola culpa a família e por outro lado à família culpa os professores - pelo fracasso escolar.

             É importante que a escola abra as portas para a participação de familiares e da comunidade, isso contribui para a qualidade da vida escolar e colabora para diminuir a evasão e violência. Um trabalho de parcerias se constitui em uma estratégia positiva na promoção do diálogo e no envolvimento de todos na aprendizagem de cada aluno.

            É sabido que, devido à globalização,o avanço tecnológico e as exigências do mercado de trabalho, a família moderna não segue mais os padrões tradicionais, e se estrutura de formas variadas o que vem provocando situações que se revelam em um jogo de responsabilidades e de poder.

Podemos compreender que “os vínculos biológicos, ser o pai ou a mãe, jurídico (matrimônio formal ou não), afetivo (amor) (morar sob o mesmo teto) ou econômicos, podem existir juntos ou isoladamente” (Revista Nova Escola, 2006, p.35). Essa explicação é necessária para derrubar a primeira barreira que impede uma convivência eficiente, o fato de muitas vezes a escola achar que uma família por não corresponder aos padrões tradicionais, não é capaz de cuidar. Que a escola muitas vezes pensa que, por não ser uma família estruturada, não irá dar conta de seus compromissos perante a educação de seus filhos. Mas isso é possível, pois o conceito de família mudou e as atribuições ficam por conta dos que juntos convivem.

A família é um núcleo, “um grupo de pessoas”, vivendo numa estrutura hierarquizada, que convive com uma proposta de uma ligação afetiva duradoura, incluindo uma relação de cuidados entre os adultos e deles para com as crianças e idosos que aparecem neste contexto (GOMES 1988 apud PAROLIN 2006, p. 49).

     A família é o primeiro grupo com o qual a pessoa convive e seus membros são exemplos para a vida. Se essas pessoas demonstrarem curiosidade em relação ao que acontece em sala de aula e reforçarem a importância do que está sendo aprendido, estarão dando uma enorme contribuição para o sucesso da aprendizagem. A família deve ser parceira da proposta pedagógica para assim dar a continuidade necessária ao trabalho realizado na escola. O bom relacionamento deve começar na matrícula do aluno e se estender em todos os momentos (GENTILE, 2006 in Revista Nova Escola, p. 35).

A relação entre a escola e a família é muito pertinente, pois envolve um globo de funções e responsabilidades que determinam à direção central que a escola e a família querem buscar. Em meados do século XX, notou-se que a família passou por várias mudanças no contexto social, político, econômico e cultural, a fim de resultar em um novo modelo de família na sociedade moderna. Por conta disso, suas responsabilidades e funções com o passar dos anos foi sofrendo transformações e hoje a desorganização da família é um dos aspectos que vem prejudicando a vida escolar dos educandos, como também a autonomia da escola. Segundo a autora, (PAROLIN 2006), cabe à família a tarefa de estruturar o sujeito em sua identificação, individualização e autonomia.  Perreira (1995), ressalta que essas mudanças não devem ser encaradas como tendências negativas.

A idéia de crise, atualmente em voga, pode ser enganosa. A aparente desorganização da família é um dos aspectos da reestruturação que ela vem sofrendo, a qual se, por um lado, pode causar problemas, pode, por outro, apresentar soluções. Trata-se, pois, de um processo contraditório que, ao mesmo tempo em que abala o sentimento de segurança das pessoas, com a falta ou diminuição da solidariedade familiar, proporciona também a possibilidade de emancipação de segmentos tradicionalmente aprisionados no espaço restritivo de muitas sociedades conjugais opressoras... Com ele, também, os papéis sociais atribuídos diferenciadamente ao homem e à mulher tendem a desaparecer não só no lar, mas também no trabalho, na rua, no lazer e em outras esferas da atividade humana (Pereira 1995, p.3).

Segundo Kaloustian (1988), a família é o lugar indispensável para a garantia da sobrevivência e da proteção integral dos filhos e demais membros, independentemente do arranjo familiar ou da forma como vêm se estruturando.

É na família que o educando constrói seus primeiros vínculos com a aprendizagem e forma o seu estilo de aprender. A tarefa dos pais e professores e dos familiares é a de favorecer uma consciência moral, pautada em uma lógica socialmente aceita, para que, quando essa criança tiver que decidir, saiba como e por que está tomando determinados caminhos ou decisões (PAROLIN, 2006, p.56).

O papel da família diante da tarefa de casa é dar apoio, é criar rotinas, é dar espaço, oferecer materiais, potencializar este momento, para que o aluno aprenda a pensar, a discernir, a escolher, a priorizar, enfim, a resolver problemas. A família precisa valorizar o pouco que ela tem para conviver, convivendo.

A falta de participação dos pais na escola e principalmente no Conselho de Pais da escola (CPM), é um dos grandes problemas que a escola enfrenta, pois acompanhar de perto o que está acontecendo, estar “por dentro” daquilo que acontece na escola é responsabilidade da família. E a função da escola seria proporcionar encontros e espaços de interação e colocar o que está acontecendo na escola, pois a gestão democrática deve implicar necessariamente a participação da comunidade nas decisões, buscar uma parceria com os pais.

Segundo Paro (2001), a participação democrática não se dá espontaneamente, sendo antes um processo histórico de construção coletiva, coloca-se a necessidade de se preverem mecanismos institucionais que não apenas viabilizem, mas também incentivem práticas dentro da escola pública.

As atitudes reprováveis dos alunos se dão pelo fato de muitas famílias estarem transferindo para a escola a responsabilidade pela educação e construção de limites a seus filhos, esquecendo que “educação vem de casa”. A responsabilidade pelos limites, formação ética do individuo que era função da família tem sido transferida para a escola, ficando esta incumbida disso, além da construção do conhecimento.

 

A escola possui uma importante função, não só enquanto lugar do saber formal, como também pelo seu papel de mediadora de relacionamentos e espaço de convívio coletivo onde a diversidade está presente, em contraposição ao espaço privado e familiar da casa. A escola cabe a transmissão da cultura acumulada e uma parte da formação de hábitos e atitudes, e tanto educadores como outros adultos servem de padrões de conduta e de observação crítica do mundo (CAMBELL, 2006, p.13).

 

A educação é um processo complexo que exige uma grande interação entre família e educadores. A escola deve revitalizar a confiança da família no seu papel de formadora e trazê-la cada vez mais para dentro da escola. A escola se vê obrigada a dar conta de questões que fogem de sua função.

Conforme Parolin (2005), a família é peça fundamental na formação do educando, pois é através dela que humanizamos. Nesse sentido, há um objetivo em comum, ou seja, fazer a criança se desenvolver em todos os seus aspectos e ter sucesso na aprendizagem, prepará-los para a vida.

 

 A escola está cada vez mais abrindo espaços para essa participação, mas por outro lado os pais não conseguem se incluir nessa parceria alegando falta de tempo, atribuindo a responsabilidade somente aos professores.

 

A responsabilidade da família na escola é acompanhar o processo de perto. O que está acontecendo, verificar o rendimento, perguntar sobre as aulas, questionar sobre trabalhos e tarefas, freqüentar as reuniões programadas pela escola e conhecer os membros do corpo docente são requisitos elementares para os pais que querem estar realmente atualizados quanto ao aproveitamento de seus filhos na escola. Estando por dentro de tudo que acontece na escola, fica muito mais fácil para os pais cobrar da escola a medida necessária para melhorar a condição de seus filhos nos estudos (PAROLIN, 2007, p.25).

O dever da família com o processo de escolaridade e a importância da sua presença no contexto escolar é publicamente reconhecido na legislação nacional e nas diretrizes do Ministério da Educação aprovadas no decorrer dos anos 90, tais como: Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90), nos artigos 4º e 55º. Política Nacional de Educação Especial, que adota como uma de suas diretrizes gerais os mecanismos que oportunizem a participação efetiva da família no desenvolvimento global do aluno. E ainda, conscientizar e comprometer os segmentos sociais, a comunidade escolar, a família e o próprio portador de necessidades especiais, na defesa de seus direitos e deveres. Entre seus objetivos específicos, temos: envolvimento familiar e da comunidade no processo de desenvolvimento da personalidade do educando. Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9394/96), artigos 1º, 2º, 6º e 12º. Conforme o Plano Nacional de Educação (aprovado pela Lei nº 10172/2007), que define como uma de suas diretrizes a implantação de conselhos escolares e outras formas de participação da comunidade escolar (composta também pela família) e local na melhoria do funcionamento das instituições de educação e no enriquecimento das oportunidades educativas e dos recursos pedagógicos.

 

CONCLUSÃO

 

            Concluímos, que apesar das escolas estarem organizadas com as propostas das atuais políticas públicas e baseadas na gestão democrática, na realidade há um jogo de poder, onde a escola acaba jogando a responsabilidade para a família e essa culpando a escola pelo fracasso de seus filhos.

Percebemos que há necessidade de uma reorganização, muita discussão para que se reverta estes conflitos transformando-os em objetivos educacionais como uma necessidade tanto da escola como da família, ou seja, torná-la uma parceria em prol da qualidade da educação, no qual o beneficiado é o aluno.

Desta forma a escola comprometida com a comunidade escolar, trilhará seus caminhos num processo coletivo na conquista dos espaços, efetivando seu papel social e assumindo sua verdadeira autonomia.

Percebe-se através de pesquisa bibliográfica e análise de textos divulgados sobre o assunto que falta muito para que a escola consiga realmente efetivar de fato a participação dos pais na escola. O PPP ainda não é discutido com a comunidade escolar e tampouco construído com essa participação. Parece que a escola não consegue abrir mãos de alguns conceitos tradicionais de que os pais “não sabem” decidir o que é bom para a escola. Acabam assim, centralizando cada vez mais o poder de decisão nas mãos dos gestores e de seus assessores mais próximos.

Neste aspecto constata-se que não basta à escola buscar a comunidade, é preciso a participação de forma efetiva. A escola precisa também ir ao encontro da comunidade, sendo ela a responsável pela construção de uma consciência crítica e reflexiva de todos os envolvidos. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERENCIAS

 

 

ABC. Educatio. Agressividade, agressão, violência no cotidiano escolar. São Paulo: Criarp, agosto de 2006.

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei nº 8069, de julho de 1990.

BRASIL. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial: livro 1. Brasília, MEC/SEESP, 1994.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Lei nº 9424, de dezembro de 1996.

BRASIL. Plano Nacional de Educação. Brasília, MEC, 2001.

KALOUSTIAN, S.M. (org.) Família Brasileira, a Base de Tudo. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNICEF, 1988.

PARO, Vitor. Gestão Democrática da Escola Pública. São Paulo: editora ática, 2001.          

PAROLIN, Isabel C. H. Professores Formadores: a relação entre a família, a escola e a aprendizagem. Curitiba: Positivo, 2005.

PEREIRA, P.A. Desafios Contemporâneos para a Sociedade e a Família. In Revista Serviço Social e Sociedade. Nº 48, Ano XVI. São Paulo, Cortez, 1995.

REVISTA NOVA ESCOLA Escola e Família Ano 2006.



[1] Acadêmicas do Curso Licenciatura Plena em Pedagogia-Habilitação em Administração Escolar- 7º Semestre -SETREM, Três de Maio.

[2] Professora do Curso Licenciatura Plena em Pedagogia-Habilitação em Administração Escolar-SETREM, Três de Maio.