Reflexões a Respeito da Psicomotricidade Relacional e Psicologia
Publicado em 27 de abril de 2010 por Bruna Hecht
Quando busquei fazer uma eletiva de psicomotricidade na universidade fui conversar com um amigo que acabara de se formar em educação física, pois essa relação entre psicomotricidade e educação física existia na minha cabeça. Para minha surpresa, ele não me falou nada a fundo, como se soubesse poucas coisas a respeito. Foi aí que resolvi fazer uma eletiva que a PUCRS oferecia ao curso de Psicologia para aprender um pouco mais sobre o que é essa tal psicomotricidade. No fim da eletiva percebi o quão rica era essa área que resolvi me aperfeiçoar com o curso do Portal de Educação. O que eu fiquei muito animada foi conhecer que existe a psicomotricidade de cunho educativo, servindo como uma possibilidade de oportunizar as crianças um ambiente pedagógico que permita a ampliação do seu vocabulário psicomotriz, favorecendo "avanços nos processos de comunicação, expressão corporal e de vivência simbólica" (Negrine, 2002, p.141). Entendi que não é somente através de testes psicomotrizes padronizados que se pode analisar níveis de desenvolvimento, mas que a premissa básica é saber quais as habilidades que a criança apresenta quando é iniciado o trabalho para poder dimensionar sua evolução a partir dos estímulos que serão oferecidos, fazendo comparações em relação a sua história prévia, ou seja comparar uma criança com ela mesma, ao invés de comparar a criança a supostos padrões universais. Conheci que existe a área da psicomotricidade relacional, que toma como fundamentais questões bem diferentes das consideradas pela psicomotricidade funcional. Quando um psicomotricista relacional vai trabalhar em uma escola, sua atuação não é oferecendo ginástica as crianças, mas sim uma prática psicomotriz através de brincadeiras e jogos. Normalmente a falta desse conhecimento é o maior impedimento para que se possa ver de outro ângulo o que ocorre com o comportamento infantil em situações espontâneas. Embora a estrutura da aula psicomotora siga uma rotina, a idéia central é estimular as crianças para que realizem muitas coisas; que tenham muitas experiências e que cumpram as normas de convivências social. A psicomotricidade é uma atividade que deve estar inserida na rotina semanal da escola infantil. O jogo é uma das ferramentas mais importantes que o psicomotricista vai contar. Isso favorece seu trabalho, pois as crianças chegam contentes porque sabem que vão brincar e se divertir. O jogo em si não exige habilidades especiais para jogar, ele visa apenas proporcionar a compreensão das regras sociais, facilitar a imitação de movimentos que estimulem a coordenação motora. Também busca estimular a cognição, quando, por exemplo, a criança pensa a quem deve passar a bola, com quanta força, desde onde, com que parte do corpo e com que intenção. Além disso, busca favorecer a relação com outros jogadores e com isso promove um espaço para a simbolização. A educação psicomotora cumpre uma missão de fundamental importância na educação infantil: condiciona todas as aprendizagens escolares que a criança não pode alcançar se não tiver alcançado previamente a tomada de consciência de seu corpo, sabendo lateralizar-se, situar-se no espaço, dominando o tempo, possuindo habilidade e coordenação necessária dos seus gestos e movimentos.
Como já foi dito, na prática psicomotriz, o essencial é a observação do comportamento da criança, pois este é um instrumental que indica o caminho para fazer com que a criança progressivamente possa ir eliminando suas dificuldades. O mais importante é observar as relações da criança com o tempo, o espaço, os outros, os objetos e o seu próprio corpo. O professor que utiliza o ato de brincar necessita saber quando intervir para ajudar a criança a ampliar seu vocabulário lúdico, psicomotriz e lingüístico. A aula precisa ser pensada de forma que as crianças tenham que cumprir normas e regras de convívio social, e uma das funções do professor é persuadir as crianças a respeitá-las, servindo-se de estratégias que possam levá-las a fazer reflexões sobre suas atitudes, uma vez que o ato pedagógico deve provocar aprendizagens significativas, caso contrário, não faz sentido acontecer. Ademais, "são as trocas entre as crianças, entre os iguais, que enriquecem o ato pedagógico e justificam o valor da representação na construção do conhecimento" (NEGRINE, 2002, p. 167).
Ao saber tudo isso pude relacionar diversas teorias com a prática da psicologia no ambiente pedagógico, visando à promoção de saúde mental. Quando se fala em convívio social me lembro das tais "habilidades sociais". A psicologia também acredita na importância de se trabalhar essas questões, porque expressão corporal é, às vezes, mais significativa que a verbal. Porém, muitas vezes acontece das escolas não aproveitarem esse potencial de trabalho devido a uma falta de conhecimento do que o trabalho psicológico e psicomotriz tem a oferecer a pedagogia e psicopedagogia. Concluirei essa atividade reflexiva com uma citação que achei na internet a respeito da psicomotricidade relacional: "No mundo contemporâneo cresce a necessidade de compreender melhor o ser humano na sua globalidade, de acordo com o princípio fundamental de que se deve aprender a cuidar da pessoa e não da doença, através de uma ação preventiva que tome em consideração o relacionamento interpessoal. Na Psicomotricidade Relacional utilizamos o jogo espontâneo como meio de expressão que através dos gestos e do movimento vão permitir que se faça uma análise da problemática inconsciente que interfere na aprendizagem e na elaboração dos conflitos relacionais possibilitando uma melhoria na qualidade do desenvolvimento cognitivo, social e afetivo da pessoa em constante processo de transformação." (autor desconhecido).
Referência utilizada:
NEGRINE, Airton.O corpo na educação infantil. Caxias do Sul: Educs, 2002.