O Grafismo Infantil

            A construção da escrita é um processo que a humanidade vem fazendo há milhares de anos. Essa produção coletiva, nomeada sociogênese, determina historicamente a construção individual, chamada ontogênese. O desenvolvimento da linguagem escrita na criança, portanto é o foco principal deste estudo.

 

           Está ligado a teoria do processo das informações, aos Processos Mentais Superiores da Construção dos Conhecimentos.  Os processos pelos quais as crianças passam para compreender uma situação nova é o objeto de discussão para estudiosos da cognição. Corresponde a uma visão das etapas de construção da aprendizagem na criança. Desde sua concepção a criança obedece a uma ordem seqüencial em seu desenvolvimento, por isso, a cognição abrange toda a capacidade de processar informações, de reagir ao que percebemos no mundo e em nós mesmos. É um processo de conhecer, que envolve a atenção, percepção, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento e linguagem até lhes possibilitar transformá-los em conceitos científicos.

 

Nesta análise discutirei criticamente alguns aspectos da escrita e da memória como um processo de retenção de informações no qual a experiência vivida pela criança são arquivadas e recuperadas quando lhes são necessárias. Buscando nesse processo mostrar como se dá a compreensão dentro das etapas das concepções da criança, dentro de um esquema geral que lhes permitem relacioná-las e ao mesmo tempo diferenciá-las dos conceitos apreendidos na escola. A proposta deste trabalho é resumir a ampla definição de leitura apreendida a partir dos quatro modelos cognitivos de processamento propostos na literatura psicolingüística: ascendente, descendente, interativo e interativo compensatório. Analisar as possíveis interações entre os processos de desenho e de escrita, tendo por foco as estratégias de representação construídas pelas crianças.

 

Durante muito tempo o pensamento da criança permanece dominado por impressões e ela é incapaz de analisar, de diferenciar as relações existentes entre as coisas. Como sua percepção é inicialmente afetiva, a criança confunde imagem e objeto. No momento em que a percepção infantil torna-se mais discriminadora, aparece certa oposição entre a representação e a intuição afetiva. Quando pode comparar, escolher e rejeitar o que não lhe agrada, a criança aprende a diferenciar o objeto de sua representação. A possibilidade de fazer diferenciações reduz o sincretismo, permite a formação de categorias de pensamento, a distinção entre sujeito e objeto, qualidade e coisa.

  

       O desenvolvimento cognitivo e de linguagem expressiva, refere-se ao período sensório motor, é o período de pensamento onde a criança estrutura seu desenvolvimento através da ação motriz. A conduta motriz se refere uma organização do comportamento motor com seus significados, constituindo uma série de fatos que dão significados as ações auditivas e visuais da linguagem e da escrita, instrumentalizando-as para compreensão do mundo.

 

Para Vygotsky, o brincar e o desenhar deveriam ser estágios preparatórios ao desenvolvimento de linguagem escrita. O desenho parece surgir de forma espontânea e evolui junto ao processo de desenvolvimento global da criança. Também é uma tentativa de comunicação formal e um meio de representação e simbolização. A criança expressa em seu grafismo àquilo que ainda não consegue com outras linguagens, por exemplo, a fala ou a escrita.

Essa noção permite entender as evoluções das suas idéias até chegar à sala de aula, não como uma substituição de idéias alternativas por idéias científicas, mas como a evolução do seu desenvolvimento mental, em que as novas idéias adquiridas no processo desse ensino passam a incorporar conhecimentos anteriores, sendo que cada uma delas lhes permitem chegar a uma aprendizagem significativa.

            A atenção é um processo cognitivo pelo qual o intelecto focaliza e seleciona estímulos, estabelecendo relação entre eles, mediante o qual concentramos a nossa atividade psíquica sobre o estímulo, seja ele a sensação, percepção, representação, afeto ou desejo. Que compreende uma organização interna e uma organização externa, cuja criança deverá interpretar a codificação, decodificando de acordo com seu significado, a fim de fixar, definir e selecionar as percepções, as representações, os conceitos e elaborar seus próprios pensamentos.

 

           A orientação é o processo perceptivo e está relacionado à forma de interação da recepção transmitida, ou seja, a capacidade de situar a criança em relação a si mesma e ao mundo no tempo e no espaço. Percebe-se de imediato que se faz necessário usar de ações interativas permeadas pela afetividade para construção e reconstrução de conhecimentos. É concebida aos alunos pela via da conscientização, cooperação, autonomia e equilíbrio, uma moral altruísta.   

Para Piaget a criança desenha menos o que vê e mais o que sabe. Ao desenhar ela elabora conceitualmente objetos e eventos. Daí a importância de se estudar o processo de construção do desenho junto ao enunciado verbal que nos é dado pelo indivíduo. Semelhantemente ao brincar, se caracteriza inicialmente pelo exercício da ação. O desenho passa a ser conceituado como tal a partir do reconhecimento pela criança de um objeto no traçado que realizou. Nessa fase inicial, predomina no desenho a assimilação, isto é, o objeto é modificado em função da significação que lhe é atribuída, de forma semelhante ao que ocorre com o brinquedo simbólico

A partir das várias leituras dos autores encontrados no texto em tela a respeito das fases do grafismo infantil, pode-se verificar que o rabisco é um meio que a criança utiliza para se relacionar com o ambiente físico e social de onde vive, despertando sua curiosidade e ampliando seus conhecimentos e suas habilidades, sejam elas motoras cognitivas ou lingüísticas, e assim, temos os fundamentos teóricos para deduzirmos a importância que deve ser dada à experiência pré-escolar da criança.

A pré-escola, por ser um segmento da sociedade que se organiza e se estrutura formalmente, deve oportunizar o desenvolvimento da criança de acordo com suas potencialidades e seu nível de desenvolvimento, pois a criança não inicia sua aprendizagem somente ao ingressar na escola, ela traz consigo uma gama de conhecimentos e habilidades adquiridas desde seus primeiros anos de vida em seu ambiente sócio-cultural.

Trata de relacionar a visão de mundo para esclarecer o valor e a função da linguagem, em especial a escrita no processo de desenvolvimento do sujeito-autor e suas relações com o meio sócio histórico- cultural. Aborda sobre o objeto de estudo da psicopedagogia a fim de apresentar as possibilidades que a psicopedagogia possui, para garantir a compreensão dos fatos, das coisas, dos conceitos e do mundo, num olhar ampliado e integrador, para posteriormente apresentar a importância da escrita, evitando assim compreensão reducionista desse processo de desenvolvimento humano.

Constitui-se como um lugar de discussão sobre a teoria sociocultural aprofundar conhecimentos acerca da teoria sociocultural nos aspectos relacionados ao desenvolvimento e aprendizagem. Assim, a mesma visa o entendimento sobre o processo de desenvolvimento e aprendizagem através do pensamento e da linguagem. Neste sentido, torna-se fundamental pensar esses como processos psicológicos superiores, os quais se desenvolvem, segundo Vigotsky, através das relações entre o indivíduo e o mundo externo. Além disso, faz-se necessário a relação entre pensamento e linguagem e o papel da intervenção pedagógica no âmbito escolar e não- escolar. 

 Com a construção de rabiscos, marcas e símbolos, é possível perceber que a criança, é capaz de produzir à escrita, a criança, imersa no ambiente cultural, pensa sobre a escrita e, auxiliada muitas vezes por intervenções, exercita e organiza o pensamento, a noção de individualidade, a linguagem, entre outros. No desenho e no brincar a criança exprime seus medos, desejos e experiências. De forma simbólica o desenho torna-se um meio de expressão. Se o ato de brincar é algo tão importante no desenvolvimento da criança, é também fundamental para o desenvolvimento da linguagem e da fala.

Se for dado para uma criança um lápis e um papel, ela descobrirá que é capaz de deixar sua marca ali, e se surpreenderá ao repetir o movimento e e surgir mais marcas com gestos repetidos, despertando o interesse e o gosto pela descoberta.

Neste primeiro momento não existe qualquer pretensão que não seja o simples movimento. Dessa forma não existe qualquer referência na interpretação do desenho

Percebo que o desenvolvimento do grafismo revela a natureza emocional e psíquica da criança. E que, é na linguagem gráfica que ela registra suas idéias, vontades e fantasias, e isto acontece a partir da evolução do grafismo que podemos acompanhar nas mudanças e aprimoramentos dos seus desenhos.

À medida que a criança interage com o meio que se situa, percebe que pode fazer novos movimentos, mesmo que seja sem intenção definida com a representação, porém ela perceberá que existe relação entre esses movimentos e as marcas que deixa no papel. Isto propiciará um desenvolvimento do controle sobre a mão, com isso surgirão outros movimentos em círculos que contribuirão para o aparecimento do circulo fechado mais claro.

Esta descoberta para criança é de extrema importância, pois evidencia a descoberta das formas, e na seqüência as garatujas ganham nomes e detalhes como: olhos, pernas, braços e cabelos. Neste momento começa existir a intenção de linguagem escrita a partir dos desenhos dos que estão mais próximos dela, como por exemplo, sua família bem como ela própria.

            A interação professor-aluno que ocorre em sala de aula é um processo relacional perpassado pela afetividade, por sentimentos e emoções que afetam as crianças e podem favorecer ou não as aprendizagens. Por exemplo: a criança que brinca de ser um caixa de supermercado e não aceita que seu colega leve as mercadorias sem pagar durante a brincadeira, já sabe como funciona essa ação social. Através dessa imitação ela faz uma ligação com a realidade.  

        A criança não sabe ainda dá explicações coerentes a respeito das coisas, pois a fantasia ainda é mais forte que a capacidade de explicar. Mas através do lúdico a criança desenvolve sua capacidade de pensar, passando a representar, simbolicamente, suas ações e também suas atividades motoras, porque neste período, já corre, salta, enfim, realiza inúmeras atividades que propiciam desenvolvimento a essas habilidades. O uso da imaginação, e outras atividades lúdicas, são de grande importância porque influenciam no desenvolvimento cognitivo e, também, o equilíbrio emocional, são assimilados conceitos do mundo real e das relações concretas, e então, a criança passa da individualidade para a socialização. 

        O professor, enquanto mediador do conhecimento poderá criar situações oportunas para poder observar os indicadores que cada criança dá e, a partir disso, trabalhar, o desenvolvimento de cada um. Através de atividades próprias para cada período do desenvolvimento da criança, o professor poderá auxiliá-lo a desenvolver sua capacidade de criar hipóteses de inferir, lembrando aqui, que esse é um dos requisitos básicos para o sucesso na educação infantil. A brincadeira espontânea da criança já estimula seu desenvolvimento por si só e muito mais, far-se-á por ela se o professor estiver preparado para auxiliá-la nesse momento de grande importância.

         É também responsabilidade dos educadores alertarem os pais, informando-os da importância do brincar, para que compreendam esse momento de seus filhos, não como um passatempo, mas como puro desenvolvimento. É direito da criança o brincar e muito mais que isso, é nesse momento que estarão se formando futuros cidadãos, que conduzidos de maneira correta e consciente, com certeza serão pessoas com valores morais, que sabem respeitar regras, participativos, sociáveis, e também, autônomos e conscientes.

A linguagem presente no ambiente oferece os meios para a representação, favorece o desenvolvimento da simpatia, garante a harmonia entre os membros do grupo social e sua expressão revela o nível do desenvolvimento infantil. Por exemplo, antes do desenvolvimento da representação simbólica pela criança, a afetividade manifesta-se mais pelo contato físico, pelo toque, pelo abraço ou pela voz do parceiro da relação. No momento em que o pensamento já se desenvolveu, a atenção, o cuidado e a compreensão da professora podem ser percebidos como manifestações de afeto.

                    Por exemplo, quando as crianças falam: "deixava ir ao banheiro", "dava coisa legal", "dava brinquedo pra gente brincar", "brincava com a gente", ajudava nas lições”. O gostar como reciprocidade, gera o respeito mútuo, seria um nível mais elevado, mais maduro, de compreensão: o gostar por causa de alguma coisa ou o fazer algo em benefício de outra pessoa.

A prática educativa tem sua origem e se justifica pela permanente necessidade que o ser humano tem de superar obstáculos com vistas ao alcance de um desejo de atingir um objetivo.  

Diante dessas considerações seria oportuno salientar também que a pré-escola deve oferecer à criança um ambiente de qualidade que estimule as interações sociais entre as crianças e professores, e que seja um ambiente enriquecedor da imaginação infantil, onde a criança tenha a oportunidade de atuar de forma autônoma e ativa. E é neste local que o educador tem papel fundamental no preparo do ambiente e na seleção e definição dos objetivos a serem alcançados por meio da escrita infantil. Porém, esse desenvolvimento é assistemático e contínuo, a criança oscila entre a afetividade e a inteligência, ou seja, aparece á medida que as coisas e os fatos se apresentam, não segue um sistema, e que poderemos distinguir e dividir uns dos outros a partir dos desenhos precedido pela garatuja, fase inicial do grafismo, nos anexos desta análise.