Nós, seres sociáveis, passamos por dois tipos de socialização durante toda a vida, ou seja, a socialização primária (dada no seio familiar) e a secundária, quando os membros mais novos de uma família passam a ter contato com indivíduos vindos de outras famílias, em lugares frequentáveis, como em escolas, por exemplo, e, essa última acontecerá até o final da vida desse indivíduo.

De maneira ampla, a socialização é considerada como o processo pelo qual a criança adquire comportamento, atitudes, valores, etc., considerados adequados pela cultura onde vive. Os papéis sociais são variados em todas as culturas, de acordo com sexo, idade, status sócio-econômico-cultural do sujeito e se formam durante a infância e adolescência. Acredito que um indivíduo é socializado quando estiver inserido em um convívio social, com valores incorporados e aceitos pela sociedade da qual faz parte.
Como visualizei nos resultados de minha pesquisa, além da importância da família no processo de socialização de um novo indivíduo pertencente a ela, a maneira como os pais criam seus filhos, além do ambiente familiar disposto à criança, vai direcioná-lo para o convívio social futuro com outras pessoas extra-familiares.
A transmissão de cultura envolve valores, normas, costumes, atribuição de papéis, ensino de linguagens e códigos, habilidades e conteúdos escolares, assim também como as características do seu grupo social, acumuladas ao longo de sua história. Essas características são transmitidas aos novos integrantes de cada grupo através de agentes sociais que são encarregados de satisfazer as necessidades do indivíduo para integrá-lo ao grupo.
Os agentes sociais são formados por indivíduos mais “velhos” como pai, mãe, irmãos, parentes, colegas, amigos e professores, por alguma instituição, como a família e a escola, pelos meios de comunicação de massa e por outros instrumentos, que também influenciam no processo de socialização do indivíduo.
Assim, a família, abordada aqui como agente social primário, transmite informações que garantem aos indivíduos mais novos meios de se tornarem capazes de sobreviver, quando em contato com outros membros que compõem a sociedade em que estão inseridos, independentes da forma por que lhes foram passados os padrões de comportamento, hábitos, usos, costumes, valores, atitudes e linguagem que os identificam com o seu grupo familiar.
A cada nova fase do crescimento da criança ela entra em contato com novos agentes de socialização. Se na fase inicial de sua vida tinha contato restrito com sua família, essas experiências começam a se ampliar em contato com outras pessoas, quer na escola, na religião, assim como com integrantes de outros grupos. Para isso, à família também cabe a tarefa de servir como intermediadora dessas novas relações entre filhos e outras pessoas.
É nesse momento que o novo indivíduo vai colocar em prática todos os ensinamentos obtidos no ambiente familiar Ao entrar em contato com outros agentes de socialização, o indivíduo percebe que as normas sociais têm como destinatário todas as pessoas e que as lições ensinadas por seus familiares têm de ser adequadas à integração social.
Assim, para o ser humano viver em sociedade, é necessário que ele se organize em relação aos outros do mesmo grupo a fim de limitar suas ações para ter harmonia com o coletivo. Nesse sentido, viver em sociedade significa criar normas de comportamento, que não só determinam esferas específicas de ação para os homens, mas também criam discriminações. As normas sociais têm como destinatário, todas as pessoas necessárias à integração social, o que, muitas vezes, passa a ser conflitante ao indivíduo, sugerindo que este não está preparado para viver em sociedade.
A socialização secundária é momento em que o indivíduo ingressa em instituições sociais, tais como a escola, a religião, os grupos de amigos, os meios de comunicação de massa, dentre outras e, é na socialização secundária que as ações sociais podem ser conflitantes às adotadas como adequadas à sociedade em que este jovem indivíduo está inserido, que surgem como forma expressa de violência na sociedade em geral e, especificamente, no ambiente escolar, como o Bullying por exemplo.
O adolescente despreparado, muitas vezes. fruto de lares conflitantes, com relações conturbadas e inseguras, certamente passa a se distinguir dos demais membros da sociedade na qual está inserido e esta diferença emerge na interação com outros agentes sociais, quer no papel de agressor/intimidador, ou vítima, ou ainda espectador do Bullying.
Os atores sociais envolvidos em ações de Bullying são os agressores/intimidadores, a vítima e os espectadores, cada um com características distintas, porém com problemas de socialização em comum, porque todos eles sofreram de alguma forma, problemas na socialização primária, os quais, por sua vez, foram refletidos na socialização secundária, momento esse distinto do familiar.
O agressor/intimidador tem a necessidade de projetar em suas vítimas o que ele vivenciava em seu cotidiano, a fim de ser esta a única maneira de lidar com suas deficiências pessoais e se fazer notado, reconhecido e satisfeito. Isso reforça o argumento de que o agressor/intimidador tem seu poder sobre a vítima, destacando-se inclusive entre os demais a partir da imposição de sua força física ou psicológica.
Ao mesmo tempo em que a vítima não encontra ajuda necessária, capaz de lhe dar suporte, o agressor/intimidador também dificilmente encontra quem o faça cessar e/ou o conscientize e o sensibilize para a boa convivência em sociedade.
 
*Profª Ms. Juliana Munaretti de Oliveira Barbieri, com Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente (2007) e Licenciatura Plena em Geografia (1998), é professora efetiva no Governo do Estado de São Paulo e no Ceeteps - Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza. Ministra palestras e oferece treinamento sobre os temas: Bullying e Mobbing, pois é de sua autoria a primeira Dissertação de Mestrado publicada, no Brasil, sobre o tema, intitulada por Indícios de casos de Bullying no Ensino Médio de Araraquara-SP. Autora do Projeto Desvendando e Prevenindo Bullying, aplicado em Instituições de Ensino Públicas e Privadas, desde 2005. Por fim, atua de forma independente como editora, autora e co-autora de livros, artigos e textos que abordam os temas: Bullying, Mobbing, Violência Sistemática e o que é previsto na legislação vigente, no Brasil. Contato: www.facebook.com/bullyingjulianabarbieri