“PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO NA ESCOLA”

 

1. INTRODUÇÃO

O conhecimento é o grande capital da humanidade. Nesse contexto, o educador é um mediador do conhecimento, diante do educando que é o sujeito da sua própria formação. Ele precisa construir conhecimento a partir do que faz e, para isso, também precisa ser curioso, buscar sentido para o que faz e apontar novos sentidos para o que fazer dos seus educandos.

 O programa Mais educação neste contexto abre espaços, tempos e oportunidades educativas através de oficinas especificas, dando ao educando oportunidade do mesmo ter acesso a uma Educação Integral de qualidade e de forma mais ampla, vivenciando o conhecimento na teoria e trazendo a prática dentro da própria realidade escolar. Sendo assim, as atividades do Programa Mais Educação dentro desta proposta, não poderão descaracterizar a realidade do campo, as concepções pedagógicas deverão considerar a realidade local, suas especificidades ambientais e particularidades étnicas, devendo embasar seus eixos nas categorias terra, cultura e trabalho, sendo estas fundamentais na matriz formadora humana.

Segundo Jaques Delors (1998), no livro Educação: um tesouro a descobrir, aponta como principal consequência da sociedade o conhecimento a necessidade de uma aprendizagem ao longo de toda a vida (Lifelong Learning) fundada em quatro pilares que são ao mesmo tempo pilares do conhecimento e da formação continuada.

“Aprender a conhecer é mais do que aprender a aprender. Aprender mais linguagem e metodologias do que conteúdos, pois estes envelhecem rapidamente. Não basta aprender a conhecer. E preciso aprender a pensar, a pensar na realidade e não apenas“ pensar pensamentos”, pensar o já feito, reproduzir o pensamento. Aprender a fazer é indissociável ao aprender a conhecer. A substituição de certas atividades humanas por máquinas acentuou o caráter cognitivo do fazer.O fazer deixou de ser puramente instrumental. Aprender a viver juntos ou melhor com os outros. Nos oferta a chance de compreender o outro, desenvolver a percepção da interdependência, da não violência, administrar conflitos. Descobrir o projetos de cooperação. Essa é a tendência. Aprender a ser baseada no desenvolvimento integral da pessoa: inteligência, sensibilidade, sentido ético e estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade, pensamento autônomo e critico, imaginação, criatividade e iniciativa. Para isso não se deve negligenciar nenhuma das potencialidades de cada individuo. Aprendizagem não pode ser apenas lógica-matemática e linguística. Precisa ser integral”.

 2. JUSTIFICATIVA

A escola, enquanto Instituição de Ensino firma-se na busca de melhorias e ou, aprimoramento que contribuam de forma corroborativa e somática aos diversos fatores instigantes de uma educação mais eficiente.

O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece que a educação deve ser incentivada e promovida com a colaboração da sociedade.

 A proposta do Programa Mais Educação está baseada na Portaria Interministerial n° 17/2007, no qual destaca a formação e integra as ações do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), como uma estratégia do Governo Federal para induzir a ampliação da jornada escolar e a organização curricular, na perspectiva da Educação Integral do individuo.

A partir dessa percepção o programa atenderá alunos do 1°, 2° e 3° ciclos, com oficinas em turno x contra turno, assim as atividades realizadas durante os turnos serão ministradas por professores comunitários e por um coordenador juntamente com a comunidade, seus agentes e saberes.

A participação da comunidade na escola está prevista na Constituição Federal de 1988.

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Dessa forma o projeto apresenta-se como um espaço onde a educação busque superar o processo de escolarização de forma diferenciada propondo novas estratégias, conhecimento prático e métodos para trabalhar os conteúdos, e tentar construir uma educação onde a aprendizagem seja significativa, para a vida e cidadã.

3. OBJETIVOS 

Objetivo Geral

  • Oportunizar aos educandos uma educação integral de qualidade, com a perspectiva de ampliar tempos e espaços a uma prática associada ao processo de escolarização e de aprendizagem conectada à vida, à saúde, à liberdade, ao respeito, à dignidade a convivência familiar e comunitária, despertando assim um melhor aprendizado as crianças, adolescentes e jovens.

Objetivos Específicos

  • Educar, instruir, entreter;
  • Criar uma nova vida de acesso ao conhecimento;
  • Estimular a curiosidade e o prazer em aprender, dando novos significados as atividades propostas;
  • Possibilitar a inclusão do aluno ao meio social;
  • Preparar o aluno para enfrentar a complexidade da vida em sociedade;
  • Valorizar a leitura, a escrita e a execução de situações e problemas, como fonte de prazer e entretenimento;
  • Estimular a imaginação das crianças, jovens e adolescentes;
  • Transmitir valores culturais;
  • Desenvolver habilidades e raciocínio lógico.

 5. METODOLOGIA

O desenvolvimento deste programa trata-se da construção de uma ação das políticas públicas educacionais e sociais, contribuindo, desse modo, tanto para a diminuição das desigualdades educacionais, quanto para a valorização da diversidade cultural brasileira. Essa estratégia tende a promover a ampliação de tempos, espaços, oportunidades educativa e o compartilhamento da tarefa de educar entre os profissionais da educação e de outras áreas, as famílias e diferentes atores sociais, sob a coordenação da escola e dos professores.

         A Educação Integral associa se ao processo de escolarização, que pressupõe a aprendizagem conectada à vida e ao universo de interesse e de possibilidades como condição para o próprio desenvolvimento de uma sociedade mais democrática. Assim por meio da Educação Integral, se reconhece as múltiplas dimensões do ser humano e a peculiaridade do desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens.

         Considerando a expansão do Programa Mais Educação nos diversos territórios brasileiros, vemos a necessidade de definição de estratégias que contribuam para a oferta de uma educação de qualidade, adequada ao modo de viver, pensar e produzir das populações identificadas com o campo – agricultores, criadores, extrativistas, pescadores, ribeirinhos, caiçaras, quilombolas, seringueiros, assentados e acampados da reforma agrária, trabalhadores assalariados rurais, povos da floresta, caboclos, dentre outros. Uma educação que afirme o campo como o lugar onde vivem sujeitos de direitos, com diferentes dinâmicas de trabalho, de cultura, de relações sociais, e não apenas como um espaço que meramente reproduz os valores do desenvolvimento urbano.

         O Programa Mais Educação atenderá educandos frequentadores de uma comunidade rural, onde os mesmos irão participar das oficinas durante o contra turno, o professor comunitário seguirá um planejamento anual, este que será elaborado a partir das necessidades de cada educando, respeitando suas limitações e dificuldades, como também visará estratégias pedagógicas em que tenham por objetivo, o desenvolvimento cognitivo, emocional, afetivo e intelectual de cada educando.

Os conteúdos serão desenvolvidos de acordo com a fase e as necessidades do educando, procurando propiciar situações de aprendizagem que busque desenvolver habilidades como: linguagem, pensamento, fluência verbal; percepção visual, auditiva e corporal; memória, concentração, raciocínio lógico matemático, criatividade; reconhecimento de grandezas, de quantidades, de espaço, de letras, de silabas simples e complexas; ortografia, interpretação de texto, coordenação motora, sistema de numeração, operações matemáticas (adição, subtração, multiplicação e divisão); conjuntos, sociabilidade, regras e limites; classificação, ordenação, associação de quantidades e de ideias; autoconhecimento e relacionamento social; leitura e escrita.

Essas habilidades serão desenvolvidas através de atividades, jogos pedagógicos, livros de literatura, brinquedos educativos e/ou outros recursos disponíveis, com o intuito de provocar uma aprendizagem significativa, estimulando a construção de um novo conhecimento e, principalmente ajudando o educando nos fenômenos sociais e culturais.

Nesse sentido, o projeto político-pedagógico irá amparar o programa garantindo o direito dos educandos a não interrupção do seu ciclo/processo formativo escolar e de vivenciar cada idade de formação, num continuum de escolarização mais amplo. Para isso, a reelaboração do projeto político pedagógico deverá contemplar a educação integral e a elaboração do planejamento prevendo as atividades, os responsáveis e corresponsáveis, onde deverá se pensar nos recursos, e em que lugar essas atividades serão realizadas, permitindo que os educadores desenvolvam as atividades inspiradas nos macro campos.

Funcionalidade das Oficinas

De acordo com a proposta do Programa Mais Educação na escola as atividades que serão realizadas por meio das oficinas foram organizadas nos seguintes macros campos:

  • Ø Acompanhamento Pedagógico – Sendo obrigatório, e que atenderá por:
  • Letramento/Alfabetização – Desenvolvimento da função social da língua portuguesa, comunicação verbal, leitura e escrita. Compreensão e produção de textos de diferentes gêneros em situações comunicativas, tanto na modalidade escrita quanto na modalidade oral.
  • Ø Meio Ambiente – Educação para Sustentabilidade.
  • Canteiros Sustentáveis – Atividades de estudo e produção de plantas com propriedades medicinais, canteiros de hortaliças, mudas de espécies ativas para o reflorestamento de áreas degradadas, resgate de cultivos originais do bioma da região e tecnologias de manejo sustentável de plantas. Assim, é possível construir uma horta, que pode servir como fonte de alimentos para a merenda escolar, viveiros destinados a produzir mudas de espécies nativas para o reflorestamento de áreas degradadas, farmácias vivas, formadas por plantas com propriedades medicinais e outros canteiros sustentáveis compatíveis com o bioma local.
  • Uso Eficiente de Água e Energia – Esta atividade visa criar um espaço de discussão e aprofundamento sobre o uso sustentável da água e da energia. Com auxílio de um kit de análise de água, crianças e jovens aprendem a avaliar a qualidade da água utilizada na escola e em suas comunidades. A partir da análise, os estudantes dialogam sobre o ciclo da água e a sua importância na manutenção dos ecossistemas. Além disso, podem também construir um filtro ecológico para “reciclar” a água cinza (proveniente de torneiras de pias de cozinha e lavatórios), e uma cisterna de coleta de água da chuva para irrigação de plantas e hortas locais. A atividade propõe a reflexão sobre o uso de energia e a realização de pequenas adaptações na estrutura física da escola a fim de tornar mais eficiente o consumo de água e energia.
  • Ø Esporte e Lazer – Atividades baseadas em práticas corporais, lúdicas e esportivas, enfatizando o resgate da cultura local.
  • Ciclismo – Atividade direcionada às escolas do campo, tendo por objetivo a prática do esporte saudável na perspectiva do desenvolvimento integral do estudante, fazendo da prática do pedalar ações que visem o contato direto com a natureza.

As oficinas serão compreendidas como espaços-tempos para a organização de novos saberes e práticas relacionadas aos direitos dos educandos em ter uma educação inclusiva e de qualidade sendo ela formal ou informal. Embasada neste principio podemos destacar que para que o programa tenha fundamento à escola e o mesmo precisão caminhar juntos de forma que esse envolvimento escolar seja de maneira geral, educandos, professores, coordenadores, direção e a comunidade (famílias).

Segundo Paulo Freire:

Não devemos chamar o povo á escola para receber instruções, postulados, receitas, ameaças, repreensões, punições, mas para participar coletivamente da construção de um saber que vai além do saber da pura experiência feita, que leve em conta suas necessidades e o torne instrumento de luta, possibilitando-lhe transforma-se em sujeito de sua própria historia. A participação popular na criação da cultura e da educação rompe com tradição de que só a elite é competente e sabe quais são as necessidades e interesses de toda a sociedade. A escola deve ser também um centro irradiador da cultura popular, á disposição da comunidade, não para consumi – lá, mas para recria - lá. A escola é também um espaço de organização política das classes populares. A escola como um espaço de ensino-aprendizagem será então um centro de debates, ideias, soluções, reflexões, aonde a organização popular vai sistematizando sua própria experiência. O filho do trabalhador deve encontrar nesta escola os meios de autoemancipação intelectual, independentemente dos valores da classe dominante. A escola não é só um espaço físico. E um clima de trabalho, uma postura, um modo de ser. (Pedagogia do Oprimido, 1991, p.16).

6. Considerações Finais

          Utilizar o “Programa Mais Educação” como prática educativa propõe um alinhamento com a Escola do Campo, e uma prática pedagógica inovadora. Se situar como professor, mediador e educador do campo, nesta nova perspectiva de trabalho é saber as diferenças de conviver harmoniosamente, respeitar as diferenças individuais de cada aluno e compreender a realidade na qual estão inseridos. Estas competências são requisitos mínimos para se viver de acordo com a sociedade, portanto devem estar presentes nos currículos a serem trabalhados e na formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de auto realização, preparação para o trabalho e para o exercício da cidadania.

         A Escola oferece aos educandos com este programa a oportunidade de conhecer e incorporar novos saberes, possibilitando a transformação do Ambiente de Ensino através da prática educativa em Ambiente de Aprendizagem.

         Ao reconhecermos o Projeto como postura didático-metodológica, podemos destacar que as estratégias de trabalho e de conhecimento serão o ponto principal para que os educandos tenham uma educação de qualidade e de forma Integral.

7. Referencias Bibliográficas

BRASIL. MEC/CNE. Parecer 009/2002 e Resolução CNE/CP 01/2002, que institui as Diretrizes Curriculares para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica, em cursos de nível superior. Brasília, 2002.

BRASIL. Lei 9394/96, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, 1997. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L9394.htm.

BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada,

Alfabetização e Diversidade, Diretoria de Educação Integral, Direitos humanos e Cidadania. Programa Mais Educação Passo a Passo.

Disponível: http://www. portal.mec.gov.br/secad

DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir, São Paulo, Cortez, 1998.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedagogia_do_Oprimido

http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/479/Educacao-na-Constituicao-de-1988-O-artigo-205 

Parâmetros Curriculares nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais / Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. – .ed. – Brasília: A Secretaria, 2001.

 

Jacqueline Cordeiro Gazola, 

Pós Graduada em Educação Física Escolar.