As professoras da Educação Infantil e do Ensino Fundamental, normalmente, se vêem às voltas com tantas atividades, no exercício de seu magistério, que não se sentem motivadas para uma leitura como atividade de lazer, de informação ou, até mesmo, de formação e capacitação. Isto acontece de maneira geral com os leitores brasileiros, que passaram a exercitar apenas a leitura funcional: ler bulas de remé-dios, o manual dos eletrodomésticos, os informativos nos murais, as manchetes nos jornais. A televisão tem facilitado o acesso às informações, sem a necessidade de ler um jornal ou uma revista. A internet, embora não acessível à maioria da popula-ção, tem incentivado seus usuários a não manusear livros ou revistas, pois a pesquisa pode ser feita através do monitor. Além disso, infelizmente, menos de 27% das escolas de Ensino Fundamental e apenas 81% das de Ensino Médio, no Brasil, têm uma biblioteca ou sala de leitura.
A própria formação que os docentes recebem não dá ênfase à prática da leitu-ra, que não seja dos textos teóricos obrigatórios, para a apresentação de resenhas, seminários ou a monografia de final de curso. Para Machado, esta é uma situação contraditória, pois as salas de aula estão repletas de pessoas que, apesar de não lerem, tentam ensinar (1).
Acrescentem-se a estes fatores que desestimulam a leitura, o fato dos profes-sores não possuírem verba suficiente para a aquisição de livros, que ainda são ca-ros, ou para serem assinantes de revistas ou ainda para comprarem o jornal diariamente. Os livros são caros porque a produção ainda é pequena em relação ao ta-manho do país. Aguinaldo Silva lembra que, enquanto em Buenos Aires existem cerca de 800 livrarias, no Brasil há apenas 1.500. Acontece que lá vivem quatro milhões de pessoas, enquanto aqui vivem 180 milhões. É preciso que o Brasil invista mais em educação, opere mudanças profundas no Ensino Fundamental, para conquistar novos leitores. Mais uma agravante à falta de motivação para a leitura é a ausência de um plano de carreira no magistério, o que não oportuniza o alcance de posições almejadas e, com isso, arrefece o ânimo de se aperfeiçoar.
Tais problemas, no entanto, não podem obscurecer a importância que a leitura tem para o(a) professor(a) em exercício e em formação; não devem tirar-lhe a mo-tivação de modificar seu comportamento em relação a esta prática. Tendo em vista tal realidade, os objetivos que o presente texto deseja alcançar são os seguintes: 1) Reconhecer o desinteresse pela leitura de entretenimento e a de aprofundamento dos conhecimentos; 2) Identificar os benefícios que a leitura pode trazer; 3) Refletir sobre a necessidade da prática da leitura, a fim de se tornar um hábito; e 4) Reconhecer posturas que contribuem para seu desenvolvimento como leitor(a) assíduo(a).

A IMPORTÂNCIA DA LEITURA
Não podemos conceber um(a) professor(a) que não goste de ler, ainda que seja esta a cultura do povo brasileiro em geral. A leitura é prática fundamental para ampliar os horizontes, para nos tornar pessoas mais livres, formar novos conceitos, estimular a criatividade, exercitar a mente, transformar atitudes, contribuir para o a-perfeiçoamento da própria leitura, aprimorar a escrita e ainda para fundamentar diálogos com outros professores, com os amigos e outras pessoas. Qualquer profes-sor(a) precisa estar bem informado(a) e, para tanto, precisa exercitar a leitura de jornais, revistas, livros variados e de obras específicas sobre educação. A leitura ajudará o docente a se atualizar profissionalmente, a conhecer novas metodologias, bem como o resultado das últimas pesquisas em sua área.
Se o(a) professor(a) foi preparado para apenas transmitir conhecimento (pos-tura tradicional), há necessidade de mudar seus conceitos e sua prática. "Os profes-sores não podem continuar atuando como transmissores de conhecimento", ressalta Iara Prado, secretária de Ensino Fundamental do MEC. Através da leitura, o(a) pro-fessor(a) obterá novos conhecimentos que poderá compartilhar com seus colegas e aplicar novos recursos à sua prática cotidiana. Para se adequar às exigências do dia-a-dia, o(a) professor(a) precisa estudar sempre. "O professor deve ensinar o alu-no a buscar a informação, a interpretá-la, a estabelecer relações e tirar suas conclu-sões", continua Iara Prado. Para tanto, ele(ela) próprio(a) precisa desenvolver uma atitude de pesquisa e interpretação.
Para Lacerda (2), é indispensável que o(a) professor(a) esteja inserido(a) na re-de da leitura e da escrita, pois pede do aluno que se aproprie da cultura escrita e que usufrua desse patrimônio. Se o(a) professor(a) não demonstrar uma atitude de busca constante de novos conhecimentos, não poderá incentivar seu aluno a desen-volver a mesma. O papel do(a) professor(a) é desenvolver a criatividade dos educandos, além de torná-los autônomos na busca e na utilização do conhecimento; então, é imprescindível que ele(ela) desenvolva a mesma atitude. Estudar e se manter atualizado é sempre necessário.
Chalita (3) afirma que:
A formação é um fator fundamental para o professor. Não apenas a graduação u-niversitária ou a pós-graduação, mas a formação continuada, ampla, as atualiza-ções e os aperfeiçoamentos. [...] O professor só conseguirá fazer com que o aluno aprenda se ele próprio continuar a aprender. A aprendizagem do aluno é, indiscuti-velmente, diretamente proporcional à capacidade de aprendizado dos professores. Essa mudança de paradigma faz com que o professor não seja o repassador de conhecimento, mas orientador, aquele que zela pelo desenvolvimento das habilidades de seus alunos. Não se admite mais um professor mal formado ou que pare de estudar.

A formação continuada está diretamente relacionada à prática da leitura e também à Pedagogia das Competências. Perrenoud (4) defende que o(a) próprio(a) professor(a) precisa desenvolver 50 competências, divididas em 10 grandes "famílias", da qual faz parte a formação continuada. Através da leitura e interpretação de textos, da participação de cursos de atualização, enfocando diferentes aspectos da prática pedagógica, o(a) educador(a) vai preenchendo as lacunas abertas com o passar dos anos.
Na verdade, ser estudante e ser estudioso não é a mesma coisa. Estudante é o aluno subordinado à disciplina escolar. Estudioso qualifica a pessoa aplicada ao estudo, que gosta de ler e estudar. Os estudantes, via de regra, são pouco estudio-sos; pessoas estudiosas há que nunca foram estudantes; e há pessoas que, tendo sido maus estudantes, por causa dos embates da vida, se tornaram estudiosos.
Entre alguns amantes dos livros, no Brasil, é relevante mencionar Rui Barbo-sa, o homem do livro. Falar dos livros que Rui Barbosa ajuntou é falar dele próprio, de sua índole, de seu gênio, de sua formação mental. Os livros fizeram com que seu pensamento atingisse a beleza que poucos oradores alcançaram. O seu poder de expressão estava associado à sua dedicação à leitura. Rui Barbosa possuía inigualável poder descritivo, grande eloquência e riqueza de linguagem verbal.
Garcez (5), escritora e doutora em lingüística, de Brasília, destaca que, muitas vezes, o(a) professor(a) evita escrever textos mais longos porque se sente despre-parado. No entanto, se não tentar, sempre terá a mesma dificuldade. Os relatórios e os diários de classe são exercícios de escrita; são momentos em que refletimos so-bre o nosso trabalho e sobre o texto que estamos produzindo. Na medida em que melhoramos nossa qualidade de redação, adquirimos maior confiança para produzir mais, afirma Ricardo Barreto, consultor em Língua Portuguesa. Para desenvolver melhor a escrita é muito importante o hábito da leitura, que precisa ser, paulatina-mente, cultivado.

HÁBITOS E POSTURAS
Cada professor(a) da Educação Infantil e do Ensino Fundamental, formado(a) e em formação, precisa desenvolver hábitos e adotar posturas de investimento na prática da leitura.
Em primeiro lugar, deveria tornar-se assinante de uma revista dentro de sua área de atuação, porque isso o(a) obrigará a folhear e ler alguns artigos. As revistas sempre estão atualizadas, trazem experiências interessantes vivenciadas por outros professores, apontam dificuldades do cotidiano escolar, além de trazer novidades, conceitos teóricos variados, etc. Não havendo possibilidade de uma assinatura anu-al, o(a) professor(a) pode adquirir exemplares avulsos, que publicam textos de seu interesse. Pode, ainda, consultar a revista pela internet e imprimir os artigos mais palpitantes e relacionados à sua prática pedagógica.
Em segundo lugar, o(a) professor(a) formado(a) e em formação deveria fre-qüentar periodicamente uma biblioteca, como a Nacional (na Av. Rio Branco), a do Estado do Rio de Janeiro (na Presidente Vargas), a do Centro Cultural Banco do Brasil, a biblioteca de sua escola ou ainda a do bairro onde mora. Nem sempre podemos adquirir livros, mas isto não nos impede de ler. Chalita observa que, embora a dificuldade financeira seja um obstáculo para a maior parte dos professores deste país, não pode servir de desculpa, pois existem numerosos programas culturais gratuitos, além das bibliotecas públicas.
A presença na biblioteca nem sempre é para pesquisas, ou seja, para desen-volver uma leitura de textos teóricos, que permite aprender por descoberta e pela reflexão; este tipo de leitura exige uma participação mais ativa do(a) leitor(a). Na biblioteca, o(a) professor(a) pode simplesmente ler revistas, jornais, romances, biogra-fias, que é uma leitura menos ativa, permitindo uma aprendizagem por instrução. Este tipo de leitura prepara o(a) leitor(a) para um aprofundamento na prática. Para Burnier (6), cada professor(a) necessita de tempo remunerado e espaço próprio para a leitura, para frequentar bibliotecas, para visitar instituições, para participar de con-gressos, além de outros. Se o(a) professor(a) se satisfizer apenas com o seu diplo-ma, estará sujeito à mesmice em sua prática pedagógica, à falta de atualização, à ausência de criatividade.
A biblioteca é um dos principais espaços onde podemos usufruir a cultura es-crita. Ali, alunos e professores podem viajar para além dos conhecimentos aborda-dos em sala de aula, podem descobrir o mundo da literatura, aprofundar conceitos, aprender histórias. É na biblioteca que os professores se atualizam, aperfeiçoam sua prática, abrem a mente para as novidades na área de sua formação e podem so-nhar, através dos contos, romances, poesias. Se o(a) professor(a) lê um bom livro pode recomendá-lo aos alunos e colegas de profissão e assim ampliar a rede de leitores e da própria cultura.
Em terceiro lugar, o(a) professor(a) deveria anotar em fichas ou folhas as principais idéias daquilo que lê, incluindo a referência bibliográfica (autor, título, tra-dutor(a), edição, local, editora, ano, página). Estas fichas ou folhas devem ser orga-nizadas em pastas por assunto, para que estejam disponíveis no momento em que houver necessidade de consulta ou de pesquisa. Esta prática, embora pareça um ideal não atingível, pode tornar-se simples e muito útil no dia-a-dia do(a) profissional da educação, do(a) educador(a) em formação, bem como para estudos posteriores.
Em quarto lugar, o(a) educador(a) deveria ler jornais. Para o escritor Aguinaldo Silva (7), "os jornais brasileiros têm um papel importantíssimo na formação da cidadania, sobretudo no que se refere à política e ao posicionamento dos cidadãos". Ele defende a ampliação da educação, para que mais pessoas criem o hábito da leitura, de jornais e de livros, e tenham acesso à leitura do jornal, pois haverá resultados positivos para a cidadania.
Alguns projetos de formação continuada têm revelado que os professores, principalmente do Ensino Fundamental e Médio, enfrentam problemas em relação à leitura de jornais. Além das dificuldades econômicas e de tempo, o próprio manuseio do jornal, enquanto suporte para a veiculação de informações e organização da docência, está perdendo o seu espaço junto ao magistério. No entanto, não há dúvida de que a mídia impressa é muito importante para a escola e para os professores, uma vez que atualiza os cidadãos, aponta versões da realidade social, aborda a opi-nião pública, enfim, nos insere no movimento da globalização. O acesso aos jornais é, pois, um elemento imprescindível na formação básica e continuada de todos os professores. Tendo em vista tais benefícios, é realizado o Seminário Nacional "O Professor e a Leitura do Jornal", de dois em dois anos, na UNICAMP, São Paulo. Os resultados dos eventos estão disponíveis no site da Acorde (8).
Em quinto lugar, o(a) educador(a) deveria ser um "colecionador incansável de experiências didáticas bem-sucedidas", aponta Burnier. Ele(ela) precisa ser um(a) investigador(a) permanente de sua área de conhecimento. Isto significa, também, recortar e guardar artigos de revistas ou jornais nas pastas (por assunto). Ao se deparar com algum artigo de revista ou jornal relevante para seu exercício no magistério, o(a) professor(a) formado ou em formação precisa anotar a fonte (jornal ou revista, data, página) e colecioná-lo.

Finalizando, ressalto a importância de desenvolvermos o hábito da leitura in-formativa e formativa, bem como criarmos posturas de constantes investigadores. Ainda são muitos os desafios para que tenhamos uma sociedade leitora. A responsabilidade dos professores é muito grande, pois formalmente recebem a missão de introduzir e de incentivar a permanência das novas gerações no universo da leitura e da escrita, por meio da alfabetização e do letramento. Cabe ao(à) professor(a) ter intimidade com todos os veículos formadores de opiniões e de conceitos, para que as idéias sejam ampliadas e circulem em sociedade.


1 MACHADO, Ana Maria. A literatura deve dar prazer. In. Nova Escola. São Paulo. N º. 145, set/2001.


2 LACERDA, Nilma. Um saber muito novo ? a letra e o livro na vida de todos. In: www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2003/baf/tetxt4.htm (Consulta: 04/09/2003)


3 CHALITA, Gabriel. Educação. In: www.catho.com.Br/jcs/inputer (Consulta: 24/06/2006).


4 PERRENOUD, Philippe. Competências para ser professor. In: Atitude - revista do professor. Rio de Janeiro: JUERP, 3T06.


5 http://revistaescola.abril.com.br (Consulta: 29/06/2006)


6 BURNIER, Suzana. Pedagogia das competências: conteúdos e métodos. In: http://www.senac.br/INFORMATIVO/BTS/273/boltec273e.htm


7 SILVA, Aguinaldo. Jornal como fonte de inspiração. Jornal ANJ. Rio de Janeiro, junho/2006.


8 http://www.acordeduca.com.br/ (Consulta: 30/06/2006)