PONTO DE VISTA
Os problemas do mundo moderno têm solução?

Por Roniria S. dos Santos
Pedagoga com Mestrado em Educação

Século XXI! Palco de muitos avanços. Todavia, com a presença também de inúmeros limites. O homem historicamente conquistou muitos territórios, chegou até à lua; se comunica em tempo real com qualquer lugar do hemisfério, entretanto, convive em simbiose com miséria, doença, degradação ambiental e muita violência. Minha dissertação de mestrado traz a seguinte afirmação:
Aos poucos, as relações cada vez mais se fragilizam diante o perfil da vida moderna. O instável caráter das relações amorosas dos jovens, a alteração da estrutura familiar, o desrespeito aos valores e juízos morais, insurgem como limitações desse tempo.[...] Pois, diante de tantas mudanças e readaptações que o tempo presente exige dos cidadãos contemporâneos, os direitos e a valorização da vida vêm sendo desconsiderados.
A grande dúvida é como o homem que consegue tantos avanços, não obtém ao mesmo tempo, soluções para coisas mínimas que dizem respeito à dignidade humana?
Muitos diriam que isso decorre da política. Usualmente se diz que os brasileiros não sabem eleger seus governantes com o rigor necessário que uma eleição exige. Discordo desta suposta interpretação "cultural". Penso que escolhemos sim, de forma correta nossos representantes políticos, isso quando optamos pelo que nos é disposto saber, e no campo da política, isso quase nunca é significativo.
O que todavia ocorre depois das eleições é que, no meu entender, acolhe os desacordos. Os candidatos depois de eleitos incorrem em equívocos políticos. Distanciam-se do que as promessas de campanha promulgavam. Um exemplo disso, na realidade brasileira, se deu quando no discurso de vitória, em 2002, nas palavras de um sindicalista, agora presidente da República, assim se fizeram ouvir: a esperança venceu o medo.
Hoje, ao final de seu segundo mandato governamental, o que se pode constatar é que a esperança da classe trabalhadora, ou seja, um justo encaminhamento às suas causas, já que seu maior líder era agora o representante máximo da nação, não aconteceu. Ao contrário, o que se constata nestes anos de governo é, curiosamente, uma grande parceria com os donos do capital.
Órgãos internacionais, com todo apoio de um governo, historicamente de esquerda, ditam as regras do jogo nas mais diferentes áreas da sociedade brasileira. Isso na mesma medida em que os muitos países subdesenvolvidos também dependentes do dinheiro estrangeiro, se utilizam para custear seu próprio desenvolvimento. Então, ao invés de uma grande negociação como era esperado, o que foi vivenciado no campo político foi apenas mais uma aceitação pacífica, para não dizer covarde e, ambiciosa, em relação aos ditames internacionais.
Isso pode ser colocado na responsabilidade do eleitor, que conseguiu eleger um homem supostamente sem estudos, para representá-lo no maior cargo da nação brasileira, ainda na condição de sindicalista? Penso que, definitivamente, não. Isso, pois, no lugar da tão esperada conquista trabalhista obtivemos não por nossa escolha, muito pelo contrário, uma adesão ainda maior ao neoliberalismo e as suas consequentes perversidades que implementam uma grande desigualdade social.
Logo, ao invés de um salário digno, o que se constata é uma série de "bolsas" ofertadas pelo governo, aos seus milhares de cidadãos desamparados e marginalizados pelo capital. Este governo que era nossa esperança, não quis enfrentar e acabar em definitivo com a divisão de classes sociais. Pelo contrário, deixou que tal realidade fosse ainda mais estabelecida e reafirmada pelos donos hegemônicos do capital.
Sua suposta ajuda por meio de incentivos ao cidadão pobre ou desempregado, seja dando leite, gás ou ainda bolsas de estudo, o que provavelmente foi a grande responsável por sua reeleição, só confirma que a diferença de classes na sociedade brasileira está cada vez mais instituída e gritante. Com isso, afirmo que não se pode culpar quem elegeu este ou aquele candidato.
O governante que, depois de eleito, muda suas promessas de campanha e se vende como marionete ao poder do capital é que deve ser responsabilizado pelos descaminhos políticos, fatos tão comuns à realidade brasileira. Esta constatação pode ser ainda reafirmada se consideramos os inúmeros escândalos políticos que se estabelecem por meio de mensalões, propinas e muitos outros artifícios fraudulentos, comuns no cenário político nacional que diariamente são noticiados nos meios de comunicação.
A opção que fazemos diante uma urna eletrônica, penso que seja sempre a que mais se adequada ao que acreditamos ser o melhor, naquele momento específico. No entanto, a corrupção que sucede tal escolha, por meio de interesses pessoais, é que verdadeiramente se configura como equívoco político seja ele: ético, profissional ou ainda moral. Com isso, o povo brasileiro não pode e nem deve assumir a responsabilidade no pagamento desta lamentável conta. Por que falo isso?
Muito pela minha escolha profissional. De um educador espera-se que haja encaminhamentos para uma suposta superação diante fatos tão alarmantes. Reafirmo o que destaquei em minha pesquisa: "Entendemos que, mesmo no cenário de metamorfoses sociais, o valor da educação está como os poucos sentidos que não foram alterados. Muitos elementos relacionados à esperança convergem-se para ela, numa proporção inversa, aos limites impostos a realidade social. Talvez por desde cedo, ser comum ouvir a afirmação de sua relevância. É sabido por todos que educação é condição para o desenvolvimento de qualquer nação. Escutamos isso frequentemente. Ninguém se opõe. Esse valor insinua particularidades".
É certo que quanto mais educado for o povo de uma nação, muito mais facilmente, se dará o enfrentamento de tantas desigualdades e condições adversas a tudo que está apenas no papel, previsto e legislado no documento maior de nossa nação, ou seja, a instituição de um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos.
Eis o que está promulgado. Eis o que seria justo e necessário. Enfim, eis o que esperamos de nossos políticos: simplesmente que se faça cumprir o que está previsto na Constituição Federal. Se isso fosse viabilizado teríamos então, a solução para todos os maiores problemas do mundo contemporâneo.
Ser educador é nunca perder a esperança num mundo melhor. Por isso e, ainda, apesar de tantos limites e adversidades ao exercício do magistério, permanecemos em sala de aula, quase sempre só com o uso de quadro e giz tentando conscientizar o que, contrariamente, o mundo moderno apresenta, diariamente, na televisão. É preciso sim, que o aluno, perceba e acredite que, pelo conhecimento, por mais que este caminho não seja tão sedutor como as muitas chances que cotidianamente descortinam-se nas telas da televisão ou agora no computador, é possível transformar esta sociedade moderna.
Mesmo estando ela imersa e erigida em ilusões imediatas, as quais a grande maioria de cidadãos mundiais nunca conseguirão, por meio de regime neoliberal, alcançar. Deste modo, educados de forma crítica e humanizadora conseguiremos por certo resolver a grande maioria dos problemas que ainda hoje se fazem presentes na sociedade contemporânea. Eis minha esperança! Por isso, ainda sou educadora.