A sociedade pós-moderna faz com que voltemo-nos às reflexões acerca do trabalho pedagógico, este agora pautado no professor como agente de sua própria formação, responsável pelo uso consciente dessa ferramenta que pode contribuir de fato com suas escolhas desde a elaboração até à produção do conhecimento sistematizado e socializado por seus alunos.

Nesse sentido, o trabalho pedagógico e a didática do professor não podem ser vistos isoladamente, mas sim partindo do princípio de que quanto mais adquirimos conhecimento, mais inquietações nos rodeiam e nos remetem a buscar e questionar algumas de nossas verdades absolutas.

Segundo Vygotsky:

 

“Aprendizado não é desenvolvimento; entretanto, o aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer. Assim, o aprendizado é um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas.” (Vygotsky, 1988, p.101).

 

No passado a escola era mais rígida, pouco se importando em estabelecer a relação necessária entre pensamento e ação visando formar uma sociedade autônoma, como explica Kuenzer (2001, p. 35):

[...] Os conteúdos, assim organizados, são repetidos ano após ano de forma linear e fragmentada, predominantemente por meio do método expositivo, combinado com a realização de atividades que vão da cópia de parcelas de texto à resposta de questões, onde mais importa cumprir a tarefa, tanto para o professor quanto para o aluno, do que estabelecer uma profícua relação com o mundo do conhecimento. A habilidade cognitiva fundamental para o trabalho pedagógico é a memorização, valorizada em si mesma como evidência de aprendizagem.

 

Contudo, hoje com a democratização do ensino, a educação se torna mais complexa, a nova forma de educar requer uma redefinição importante da profissão docente, ou seja, é latente a urgência de um novo profissional da educação e sobre a formação desse sujeito Imbérnon pontua que:

 

[...] Trata-se de formar um professor como um profissional prático-reflexivo que se defronta com situações de incerteza, contextualizadas e únicas, que recorre à investigação como uma forma de decidir e de intervir praticamente em tais situações, que faz emergir novos discursos teóricos e concepções alternativas de formação. (IMBÉRNON 2004, p.39)

 

Durante nossos estudos, constatamos que desde os primórdios, sobretudo acerca do Ratio Studiorum, a importância dada ao planejamento sistemático e a organização da aula, com o uso adequado de métodos de ensino e planejamento.

O Regime Militar nos deixa seu legado marcado pelo evento de maior magnitude e mais ampla repercussão da época, que foi o Fórum “A educação que nos convém”.

A partir daí, surgiu a concepção produtivista de educação. Essa concepção adquiriu força impositiva ao ser incorporada à legislação do ensino no período militar, na forma dos princípios da racionalidade, eficiência e produtividade, com os corolários do “máximo resultado com o mínimo dispêndio” e “não duplicação de meios para fins idênticos”.

Quanto à estruturação do ensino no caso da educação básica, decorreu das leis orgânicas constitutivas das chamadas “reformas Capanema”, baixadas pelo ministro da Educação do Estado Novo Gustavo Capanema. Daí decorreu um ensino primário de quatro anos, seguido pelo ensino médio dividido em dois ciclos: o ginasial, com a duração de quatro anos, e o colegial, com a duração de três anos.

Já no caso do ensino superior, a estrutura decorreu do Decreto-Lei n. 1.190, de 4 de abril de 1939, também de iniciativa de Capanema, que estabeleceu a duração de quatro anos para os cursos de bacharelado e licenciatura pela via do “esquema 3+1”.

As formas de produção e sistematização do saber, o aspecto científico, ficaram sob a jurisdição do departamento. Os objetivos, as finalidades, as formas de transmissão do saber, o aspecto pedagógico, a cargo da coordenação de curso. Paradoxalmente, acentuou-se o divórcio entre o ensino e a pesquisa, no momento mesmo em que a reforma proclamava sua indissociabilidade.

Na prática, a dependência da coordenação de curso em relação ao departamento, esvaziado este de preocupações pedagógicas, significou, em termos da estrutura do ensino, a subordinação dos fins aos meios. Tal conseqüência – é bom lembrar – está em perfeita consonância com a concepção que orientou a reforma universitária, guiada pelos princípios da racionalidade, eficiência e produtividade.

Com base em todas essas informações, salientamos que o conhecimento do professor não pode ser desvinculado da relação entre teoria e prática, nem tampouco de um contexto concreto onde o fazer pedagógico é organizado e sistematizado através de políticas, estratégias e ações que lhe garantam suportes pertinentes para o sucesso do seu trabalho.

A Educação é um ato político, ou seja, de decisão. Diz-se que há política quando diante de um problema se opta por um determinado curso de ação, se faz uma escolha consciente numa determinada direção. A construção de um projeto educativo é, portanto, uma escolha consciente por parte dos indivíduos investidos de poder decisório e acadêmico.

Assim, o objeto da educação diz respeito, de um lado, à identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que eles se tornem humanos e, de outro lado e concomitantemente, à descoberta das formas mais adequada para atingir esse objetivo.

Parte-se do pressuposto de que o currículo, entendido numa perspectiva da sociologia crítica, não é apenas uma relação de conteúdos, listagem de componentes curriculares a serem ministrados em uma série escolar ou em um curso, de qualquer grau de ensino, mas estão profundamente ligadas ao momento social, histórico, político e econômico do sujeito.

As inquietações que justificam essa pesquisa surgiram, em primeiro lugar, após a constatação da necessidade de políticas públicas que garantam mudanças na formação docente, permitindo aos profissionais adquirir competências para desenvolver habilidades que lhe garantam atingir as múltiplas facetas do trabalho pedagógico de excelência, que, no entanto não são tão atraentes às políticas.

Em segundo lugar após as reflexões e estudo das políticas públicas educacionais, tendo-as como princípio norteador da práxis dos profissionais da educação básica.

Partindo dessa premissa, destaca-se a necessidade de se pesquisar políticas sobre o acompanhamento da formação docente, que sirvam como suporte aos aprendizes experientes que se tornam professores novatos com falta de preparo pedagógico e de políticas que os apoiem nessa caminhada.

Tardif ressalta que a formação continuada é “[...] um período muito importante da história profissional do professor, determinando inclusive seu futuro e sua relação com o trabalho” (TARDIF, 2002, p.84).

Pretende-se através dessa pesquisa estabelecer diálogos entre os documentos mapeados, em busca da comprovação de que se fazem necessário encontrar diagnósticos e articulá-los na construção de propostas e estratégias de aperfeiçoamento do processo formativo dos professores.

Espera-se ainda fazer uma análise sobre o aproveitamento consciente do tempo dedicado ao planejamento pelos professores, sobre o quanto é dedicado ao estudo, quanto é dedicado à formação oferecida pelos gestores e das de interesse individual e qual o retorno que esses profissionais e os gestores obtêm desse período garantido por lei.

Libâneo (1992, p. 221) defende que: O planejamento é um processo de racionalização, organização e coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar e a problemática do contexto social. Afirmando o planejamento como poderosa ferramenta para os avanços da educação.

Com isso pretende-se propor uma análise e reflexão das políticas públicas de acompanhamento da formação do professor e da organização do seu trabalho pedagógico, que articule a teoria e a prática, através da investigação da docência na educação básica, que afirme que a didática é uma ciência que ainda precisa ser discutida de forma teórica.

Objetivando desenvolver mecanismos que possam:

1. Promover pesquisa no campo da formação profissional;

2. Interpretar e analisar as ferramentas acerca do planejamento pedagógico;

3. Construir diálogos que articulem teoria e prática na formação e no exercício inicial da profissão docente, por meio do acompanhamento pedagógico;

4. Investigar a didática na educação básica aliada a um planejamento flexível e eficaz;

5. Analisar as políticas públicas sobre o trabalho pedagógico.

 

Segundo Luckesi (1994 p. 115-116), o educador deve ter além do comprometimento, competência teórica e paixão pelo que faz para desenvolver assim o seu planejamento de forma eficaz. Desvelado assim, a necessidade de estudar as práticas escolares e seus protagonistas.

Quanto à metodologia, os processos de análise e reflexão da própria ação são um importante instrumento para a transformação da prática do professor. Há necessidade de as informações, nos cursos iniciais, serem relacionadas com o cotidiano escolar.

Observamos que nos cursos de formação a prática dos professores está por vezes desconectada da realidade dos alunos. Vale destacar que a metodologia dos programas de atualização deve considerar a prática, as experiências e o saber fazer do professor que é o protagonista no contexto em que atua.

Uma boa alternativa para a atualização profissional é a implementação de espaços de discussão em que se valorize a observação, análise e reflexão crítica sobre a própria prática, com a participação de toda a equipe na própria unidade escolar.

Após reunir todas essas informações e nos debruçarmos sobre tantas outras leituras, nos depararam com a crescente demanda de ajustar as necessidades dos profissionais da educação às necessidades dos alunos. Para isso deveriam ser direcionados os esforços dos gestores, no aproveitamento dos recursos, na organização de estudos e treinamentos para os professores.

Criando mecanismos que sirvam como molas propulsoras que os apoiem na construção dos saberes dando-lhe autonomia para que ele seja capaz de se tornar sujeito da aprendizagem e de sua atuação profissional.