Educação é um processo muito mais amplo do que se possa considerar. Dentro do universo da educação encontra-se o ensino propriamente dito.  Os próprios termos entre si se prestam à confusão, e se isso ocorre, é porque os limitantes semânticos também são. Educação tem um campo de abrangência que contém os demais. O ensino, como se quer entender, é o que se caracteriza por algumas características próprias: a formalidade, a intencionalidade, a construção curricular e sua aplicação. O currículo, por exemplo, é uma construção social.

Mas, como a confusão persiste, se eu disser que o pai educa o filho, ou que o pai ensina o filho, compreenderíamos que, aí se trata de educação no seu sentido mais amplo, e que a aprendizagem, então, é social e está predominantemente associada a valores, sejam eles da família, da comunidade ou transmitido no seio da própria família. No entanto, se eu disser que o filho está sendo educado na escola, quero dizer que o menino participa de um processo formal, que se insere numa agência educacional para cumprir um determinado currículo, na maior parte das vezes atendendo a interesses que ultrapassam a sua  própria formação.

Pais cobram que a escola eduque seus filhos, quando a mesma, strictu sensu, deveria ensiná-los. Daí a expressão conhecida de que a educação vem de casa e que a escola ensina. Esses limites, contudo, embora sejam elásticos, até porque a escola realmente faz parte do processo educacional, se prestam a confusões convenientes, no sentido de que pais irresponsáveis tendem a simplesmente jogar seus filhos na escola e responsabilizá-la por tudo. Quando aquela sede não o faz, os pais arrogam-se ao direito de cobrá-la.

Por outro lado, existe uma pedagogia compensatória, cujos representantes, de certo modo, compreendem que realmente o processo educacional depende muito mais da escola do que possam fazer os pais, especialmente se aqueles se encontram em condições de vulnerabilidade social. No caso, a aprendizagem formal, em muitos casos é trocada vis-a-vis pela educação em seu sentido mais amplo, e mais, a não aprendizagem também se inclui aí.

Quer-se compensar a ineficiência ou ineficácia da aprendizagem, seja por quais motivos forem, em razão do aluno e/ou da sua família terem problemas muitas vezes reais e graves a partir da aprovação indiscriminada. Dessa maneira a escola patrocina, através da ideologia social do pensamento de tal pedagogia e de sua aplicabilidade, uma exclusão social por dentro do sistema, e não como anteriormente, através do mero e simples afastamento do aluno da escola. Esse aluno receberá um diploma que significará absolutamente menos do que deveria. O Estado, aí, publiciza e dá fé a uma aprendizagem que não se formou completamente, em razão do grau de tolerabilidade da pedagogia compensatória.

Muitas vezes isso ocorre porque o próprio sistema educacional incentiva tais práticas de aprovação automática, não exatamente por razões educativas, mas econômicas, entre as quais se incluem a possibilidade de uma estatística melhor no IDH – Índice de Desenvolvimento Humano que classifica os países como desenvolvidos, em desenvolvimento e subdesenvolvidos e é utilizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD/ONU). Três índices compõem o IDH – Educação, Renda e Saúde. O primeiro se compõe da avaliação de dois indicadores: a taxa de alfabetização de pessoas com quinze ou mais anos e a taxa de escolarização em quaisquer cursos regulares, seja fundamental, médio, superior, além de alunos do curso supletivo, de classes de aceleração e de pós-graduação universitária.

Compreende-se, pois, que quando se utiliza do mecanismo compensatório pedagógico, não se está pensando unicamente nas pessoas que estejam incluídas em um perfil carente do ponto de vista social, econômico ou cultural, mas na própria estratégia política internacional do Brasil. Também entendo que um aluno que inicia em uma série e não tem qualquer tipo de reprovação acaba fluindo pelo sistema, não criando, por exemplo, a possibilidade de gargalos no sistema. Uma imagem muito simples: imagine-se um automóvel rodando em uma via livre e o mesmo automóvel num engarrafamento. Simples assim.

Práticas pedagógicas compensatórias e que incentivem o aprovar pelo aprovar contribuem eficazmente com as vias de trânsito livres, o que significa que não serão necessários investimentos suplementares. Todo mundo fica feliz e o sistema confere um bônus adicional, representado pelo diploma, mesmo que habilidades fundamentais para o mundo produtivo, como quer Bernardo Del Toro, sejam negligenciadas não por romantismo, por sentimento de culpa ou por ineficácia, mas pela simples incúria. Participar ou não desse sistema, infelizmente, não é uma opção viável.