“Estou perdendo os melhores anos da minha vida”. Esta foi a frase que escutei de uma adolescente referindo-se ao fato de que não consegue mais ter uma vida social igual à que tinha antes de ter sido mãe precocemente. Ao se manifestar assim, a “contrario sensu”, ela está querendo dizer que passada a juventude, os anos que se seguirem serão os “piores de sua vida” ou que no mínimo, não serão tão bons assim.

 

Na verdade, a adolescente não está renegando a filha que nasceu. Apenas se arrepende de não ter escutado as centenas de conselhos e avisos que lhe foram despejados nos ouvidos a partir do momento em que começou a despertar para o sexo. Movida por aquela sensação de poder que nos impregna na juventude, ela acreditou que qualquer coisa que fizesse, não poderia lhe trazer maiores consequências e seguiu vivendo tudo o que a idade lhe permitia da maneira mais intensa possível. Até que veio a notícia da gravidez, acordando-a da ilusão causada por esta espécie de embriaguez que nos é causada pela inundação hormonal a que somos submetidos nesta primeira fase da vida.

 

De repente, o despertar de uma ilusão e o contato com a vida real, ou seja, as dificuldades de se cuidar de uma nova vida, missão para a qual ainda não estava preparada. É como alçar vôo em um objeto alado sem saber ainda como aterrisá-lo e ter que aprender a fazê-lo ainda em pleno ar.

 

Não é uma situação incomum. Vemos isso todo o tempo e por todos os lados. Afinal, a natureza, logo no amanhecer da vida, nos dá a sensação de sermos uma espécie de deuses do Olimpo. Tal qual eles, recebemos algumas virtudes e uma infinidade de defeitos. Mesmo assim, achamos que as poucas virtudes que temos, podem neutralizar ou superar nossos muitos defeitos. Seguimos na vida achando que nada de mal nos acontecerá, deixando um rastro de atos impensados cujas consequências podem ser irreversíveis.

 

Com o passar do tempo, a surpresa. A mesma natureza que nos deu tanta imponência, vai nos retirando aos poucos aquela sensação de força que tínhamos no início da jornada e vamos tendo que viver com limitações cada vez maiores e, se não tivermos nos preparados para esta fase da existência, inevitavelmente iremos sucumbir diante da vida.

 

É claro que não estou aqui tentando ser moralista e querendo dizer que não se deva viver intensamente, até porque sou da geração dos hippies, da contracultura e do “é proibido proibir”. Mas alguma coisa se aprende pelo caminho e uma delas é que, se optarmos por fazer tudo o que nossos sentidos exigirem, não devemos fazê-lo com dedicação exclusiva. Ao tentarmos “aproveitar os melhores dias de nossas vidas”, devemos sempre dedicar um tempo para o contato com a realidade e pensarmos em ir solidificando as bases para que possamos amenizar ou encontrar algum significado para vivermos o “resto de nossas vidas”. A meu modo de ver, devemos nos preparar para substituir gradativamente o prazer dos instintos pelo prazer do intelecto, sempre permeado pelo tempero das emoções. Cultivar conhecimento e bons sentimentos, evitando deixar marcas negativas que não possamos apagar nos dias futuros. Eles poderão se tornar para nós, uma espécie de fantasmas particulares com os quais seremos condenados a conviver até o fim de nossos dias.

 

Quanto ao fato de se tentar eleger aqueles que serão os “melhores anos de nossas vidas” baseados em um critério meramente cronológico, acho que não é a melhor coisa a se fazer. O que eu posso dizer é que cada faixa etária tem o seu encanto, o seu campo próprio de sintonia, suas próprias experiências e aprendizados. Hoje, após muitos anos já vividos intensamente, afirmo que minha visão de mundo estaria muito empobrecida se ficasse restrita tão somente à vivência da minha fase adolescente.


Jorge André Irion Jobim. Advogado de Santa Maria
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