A fazenda era realmente um lugar dos sonhos, e todos caminhavam sobre o pasto compartilhando suas aspirações. Alguns sonhavam com coisas extravagantes, como ganhar na Mega-Sena, enquanto outros buscavam algo mais simples, como construir uma casa para toda a família ou mesmo uma cabana para descansar nos fins de semana.

A paisagem à beira da ribanceira, com seus verdes e montanhas, parecia inspirar ainda mais a imaginação dos irmãos, enquanto as primas gêmeas, atentamente, ouviam. A sincronia nas conversas e gestos corporais era evidente, e cada um descrevia sua visão da casa dos sonhos.

Cada pessoa apresentava o seu ponto de vista e como deveria ser a casa. Jusceli descreveu as janelas grandes viradas para a floresta, Rosilda, sorrindo, descrevia uma casa com paredes altas e portas largas. José Soares, por sua vez, tinha uma visão mais ambiciosa e ousada. Ele descrevia uma grande casa cheia de suítes, onde cada um dos irmãos teria a sua própria espaço privado. Ele acreditava que a casa deveria ser ampla e acolhedora, para que todos pudessem se sentir confortáveis e bem-vindos.

Essas visões distintas, no entanto, tinham um objetivo comum: a criação de um lar que refletisse a personalidade e os valores da família. Todos queriam que a casa fosse um lugar de harmonia e de amor, onde pudessem se reunir e celebrar a vida juntos.

A partir destas descrições se percebe que cada um deles tinha um pedaço da verdade, e que juntos eles poderiam construir algo ainda mais bonito e significativo, ainda que tudo isso não passava de sonhos. 

O importante mesmo é permitir o sonho ser transformado em convivência. Isso mesmo aqueles sonhos representava o momento de convivência entre aqueles primos, enquanto para as gêmeas que estava conhecendo aquela história dos seus antepassados, e por sorte, aqueles que memoravam seus dias de glória na fazenda, mostrava o quanto era oportuno aquela partilha.

Os velhos guardiões da fazenda, que ainda mantinham vivos os dias de glória da terra, transmitiam a todos a sabedoria de seus anos e a riqueza de sua cultura. Todos conversavam sobre quase tudo, e cada palavra era como um encanto, que prendia a atenção e encantava a alma.

Os pensamentos dos irmãos se espelhavam na ribanceira, enquanto contemplavam um tronco de aroeira caído defronte. A ideia de construir uma mesa para habitar seus sonhos ecoava em uníssono.

Um cão de cor amarela, grande o bastante para não parecer “vira lata”, conseguia enganar qualquer pessoa que pensava que ele fosse de raça. Sem uma raça definida, o pobre animal se mesclava com o capim meio ressequido pelo forte calor que aquele sol regalado proporcionava, desaparecendo quase que por completo entre a vegetação. Sentado em seus pés, curioso e inquieto, acompanhava de perto a jornada dos sonhadores. Quase imperceptível entre a vegetação, ele parecia que também infiltrava em suas fantasias, ajudando a tecer a trama de sua utopia.

O animal parou ao lado de Jusceli Soares d’Abadia Silva, fixando seu olhar no topo da montanha, como se visse uma presa distante. Como um anjo do campo, ele infiltra as fantasias dos sonhadores, tecendo a trama de suas utopias. E ao mesmo tempo, ele também é parte da paisagem, desaparecendo quase por completo entre a vegetação seca, como se fosse um espírito da natureza.

Assim, todos ali viviam uma visão mística, contemplando o distante e, por vezes, sonhando. Enxergavam uma casa erguida sobre o cume de uma pequena elevação, simbolizando a conquista de seus anseios.

Era como se a realidade e a fantasia se misturassem, num universo neológico e surreais. A linguagem poética se espraiava, filosofando sobre o sentido da existência e a busca pelo ideal. Nada era desprezível! Até mesmo um corredor de animais servia de inspiração para viverem aquela sadia companhia.

 


Padre Joacir d’Abadia, Filósofo, autor de 16 livros, Especialista em Docência do Ensino Superior, Bacharel em Filosofia e Teologia, Licenciando em Filosofia, Professor de Filosofia Prática. Acadêmico: ALANEG, ALBPLGO, AlLAP, FEBACLA e da "Casa do Poeta Brasileiro -  Seção Formosa-GO"_ Contato: (61) 9 9931-543