Núbia da Silva Cruz
Não é nada absurdo afirmar que a máxima "os fins justificam os meios", do filósofo italiano Maquiavel, mesmo após mais de quatro séculos de sua morte, continua, por vezes mal interpretada pelo senso comum, embasando as práticas sociais na contemporaneidade.
Em busca de sua realização o homem transgride o código de ética, o qual explicita os parâmetros de conduta necessários para a boa convivência entre uma instituição e seus públicos de interesse, focando na forma com que seus valores são praticados e,na maioria das vezes, acaba também sendo usado como um mero meio para se chegar aos fins desejados.
È muito comum, nos distintos estratos sociais, presenciarmos, por exemplo, cenas em que políticos burlam legislações em busca de votos e ascensão social, empresas apostam nas irregularidades fiscais e comerciais como suporte para seu crescimento, fazem propagandas enganosas de um determinado produto, exagerando nas descrições de suas utilidades para ganhar visibilidade e reconhecimento, sem a mínima preocupação com os usuários, suas necessidades, seus planos para o futuro e, sobretudo, suas vidas. Nessa dinâmica social, mais vale o ter que o ser.
Cidadãos comuns também são adeptos a essas práticas. È constante nas organizações haver competições desenfreadas entre funcionários para alcançar um cargo almejado, tornar-se amigo do chefe e ganhar sua confiança, bem como elevar o nível da função desenvolvida.
Um exemplo clássico de que para muito os fins justificam os meios foi a invasão dos Estados Unidos ao Iraque, no ano de 2003, por decisão do presidente George W. Bush. O presidente Bush tomou a decisão de invadir o Iraque sem a aprovação do Conselho de Segurança da ONU e deflagrou assim uma grande guerra, pôs em risco a vida de milhares de pessoas inocentes. Tudo pela ânsia de ter o melhor e mai barato acesso ao petróleo do qual os americanos são os principais consumidores do planeta.
No entanto, vale ressaltar que a máxima de Maquiavel nada tem a ver com as práticas desumanas e arbitrárias desenvolvidas pela sociedade. Até que ponto matar, roubar, ser desleal consigo mesmo e com os outros nos garantem certeza de termos alcançado os fins?
É preciso que os meios sejam coerentes com os fins objetivados. E, acima de tudo, é preciso que o homem não seja, jamais, usado como meio para se chegar a fins que não tenham relação direta com a sua felicidade e progresso intelecto-moral.