Os Desafios da Educação na Sociedade do Conhecimento

Vivemos em uma sociedade em que a informação e seu domínio tornaram-se essenciais ao processo produtivo. É a chamada Sociedade do Conhecimento, que evoluiu a partir de um modelo de produção industrial onde o que era valorizado era a quantidade, passando para o modelo atual que procura valorizar a qualitativa. Chamada também de Sociedade da Informação ou Pós-Industrial, a sociedade contemporânea preconiza a informação e o conhecimento, à medida que está aprendendo a aprender com suas ações e decisões. A informação e o conhecimento assumiram aspectos tais que seu domínio e interpretação se transformaram em ferramentas de auxilio a tomada de decisões gerenciais e corporativas. Em que a educação se insere nesse contexto? Como o sistema educacional tem lidado com essas transformações? São questões que norteiam esse trabalho.
Palavras-chave: Sociedade do Conhecimento, Era da Informação, Desafios, Educação

Introdução
Por muito tempo a economia mundial esteve voltada as questões agrícolas, passando posteriormente, com o advento da Revolução Fabril, para a economia industrial. A produção industrial dominava a produção e a economia mundial, até que a partir do fim do Século XX, o conhecimento começa a ditar as regras do cenário econômico mundial. Essa nova etapa é denominada por muitos estudiosos de Sociedade do Conhecimento, e por outros de Sociedade da Informação, sendo ambos os termos popularmente empregados como sinônimos.
A palavra conhecimento possui inúmeras interpretações. No dicionário Caldas Aulete vemos que conhecimento é "ação ou resultado de conhecer" é também "informação que se adquiri sobre algo ou alguém por meio de estudo ou experiência". Em geral, conhecimento é entendido como o conjunto de fatos, princípios, conceitos e valores acumulados pelo homem ao longo do tempo. Aprofundando a conceituação Squirra (2005) menciona três formas de conhecimentos: o conhecimento declarativo que é aquele que diz por que e como as coisas funcionam. O conhecimento procedimental ligado à conduta indica como realizar determinadas tarefas. E o conhecimento estratégico que busca compreender a ciência do contexto no qual determinados procedimentos devem ser implantados.
O conceito de informação também carrega diversas acepções. No mesmo dicionário acima citado temos: "ação ou resultado de informar-se; conjunto de dado sobre algo ou alguém; relatos de acontecimentos ou fatos, transmitidos ou recebidos; explicação dada para uma determinada finalidade (...)". Podemos juntar os conceitos supracitados e dizermos que informação é o resultado do processamento, da manipulação ou organização de dados, de tal forma que represente uma modificação (quantitativa ou qualitativa) no conhecimento do indivíduo ou sistema que a recebe.
No que diz respeito ao termo sociedade a conceituação torna-se ainda mais ampla. Sendo geralmente entendida como grupo organizado, natural ou de concordância, de indivíduos que ao viverem juntos de forma permanente, compartilham propósitos, gostos, preocupações, costumes, que interagem entre si, e que representam uma unidade distinta de cada um dos seus indivíduos, com o fim de cumprir, mediante a mútua cooperação, todos ou a maioria dos objetivos propostos constituindo uma comunidade.
Concluí-se que é pertinente a nomenclatura tanto de Sociedade do Conhecimento como Sociedade da Informação para esse estágio da vida humana onde o que predomina, ao contrário das demais épocas que tinham como ponto de partida os meios de produção, é o "saber". A sociedade industrial trazia consigo elementos como máquinas e ferramentas, trabalhadores especializados, produção em série, energia, entre outros, tudo isso voltado para a produção de bens materiais, a sociedade pós-industrial consolida-se na experiência das organizações, no investimento em tecnologia avançada, nos grupos especializados na informação, isto é, na geração de serviços e na produção e transmissão da informação. (Santos, 1990). Desse modo, os ativos tangíveis que eram o ponto central de qualquer organização perdem lugar aos intangíveis que formam um conjunto de bens de difícil mensuração que se tornou notório como capital intelectual.
O mundo passa a ter um sistema unificado de comunicação através de combinação de múltiplos satélites, sistema multinacionais de televisão, telefonia de baixo custo com cabo de fibra óptica e microcomputadores, acabando com a imprecisão da informação. Nessa sociedade regida pela velocidade e em tempo real, o acesso a informação é facilitada a qualquer que queira, através de mídias e redes internacionais, que utilizando as mais variadas tecnologias e fazem a propagação do conhecimento.
Werthein (2000) destaca algumas características fundamentais identificadas nesta nova sociedade: a informação é sua matéria-prima, os efeitos das novas tecnologias têm alta penetrabilidade, a flexibilidade e a crescente convergência de tecnologias. Destaca ainda, que a mera disponibilização crescente de informação não bastaria para caracterizar uma sociedade como sendo uma sociedade do conhecimento ou da informação. O mais importante segundo ele seria o desencadeamento de um vasto e continuo processo de aprendizagem. É nesse ponto que a educação, enquanto sistema constituido para desenvolver o ensino e tornar mais breve a aprendizagem das futuras gerações, assume um papel de fundamental impotância. Talvez não o modelo educacional de países como o Brasil e outros, que ainda não puderam em sua totalidade se adequar ao antigo sistema da Sociedade Industrial. Como já foi dito, vivemos em tempos pós-modernos com as escolas tentando ser modernas.

Os desafios da Educação
No quadro da sociedade organizada a partir do paradigma do conhecimento, como vimos, o fator educação assume papel fundamental nesse processo. É ela que dá suporte ao esquema dessa sociedade procurando criar novas formas de conhecimento, pois essa é a mola propulsora que mantém esse tipo social.
É certo que a realidade do mundo atual requer um novo modelo de pessoa, que vai atuar como profissional, membro de uma família, e até mesmo como cidadão inserido nessa sociedade, de maneira bem distinta do que era antes. O que coloca para a escola uma série de novos desafios.
O dia-a-dia escolar não mais deve ser pautado no ensino de conceitos e fórmulas prontas, o que a sociedade da informação requer, é muito mais que o aprender a fazer, o que ela demanda é o aprender a aprender. Não se trata apenas de ter acesso a informações prontas e acabadas, e sim de saber encontrar o conhecimento em diferentes fontes e, mais que isso, saber manejar dados transformando-os em informações e difundindo-as em forma de conhecimentos para resolver diversos tipos de situações problemas que antes não eram encontradas.
A construção do conhecimento, baseado nas novas competências do período atual implica repensar a escola. A informática se destaca nesse processo, sendo um das principais formas de aproximar a escola à sociedade de hoje com sua complexidade e volatilidade.
Temos hoje como uma tentativa de se modificar esse cenário a inserção das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) no espaço escolar, claro que assim como tudo que diz respeito à educação, em passos lentos, com a morosidade costumeira. No entanto, esse é apenas o início de um processo que passa por inúmeras outras etapas. Como afirma Tadao Takahashi no Livro Verde Educação na Sociedade da Informação, uma publicação do Ministério das Ciências e Tecnologia do Brasil:
educar em uma sociedade da informação significa muito mais que treinar as pessoas para o uso das tecnologias de informação e comunicação: trata-se de investir na criação de competências suficientemente amplas que lhes permitam ter uma atuação efetiva na produção de bens e serviços, tomar decisões fundamentadas no conhecimento, operar com fluência os novos meios e ferramentas em seu trabalho, bem como aplicar criativamente as novas mídias, seja em usos simples e rotineiros, seja em aplicações mais sofisticadas. (TAKAHASHI, 2000, p. 45)
A revolução tecnológica atual tem provocado mutações na nossa maneira de pensar, no agir conosco e com as demais pessoas, com os objetos e com o mundo ao redor. O pensar torna-se o grande diferencial entre as pessoas na sociedade da informação. É aí que entra a principal função das escolas nesse processo, o de fazer os alunos pensarem. Como a vida baseada no conhecimento requer novas habilidades faz-se necessário pessoas capazes de pensarem novos modos e técnicas, a fim de desenvolver as tecnologias.
O autor Andy Hargreaves destaca em seu livro "o ensino na sociedade do conhecimento" a importância da escola na sociedade do conhecimento para que essa torne sociedades de aprendizado, criativas e solidárias. Examina a escola, nesta sociedade, como uma entidade dita em extinção, enfocando as possibilidades de ir além da padronização, em comunidades de aprendizagem profissional, ou em suas palavras "seitas" de treinamento para o desempenho; para desembocar, finalmente no futuro do ensino na sociedade do conhecimento, que preza pela via do repensar o aprimoramento e eliminar o empobrecimento.

Ser Professor na Sociedade do Conhecimento
À escola é imposta a se transformar para acompanhar o ritmo frenético da era pós-indústria. A primeira via são as TICs que diuturnamente têm batido à porta e as instituições de ensino sem condições de deixá-las entrar de vez, buscam formas de não negá-las, mas, ao mesmo tempo não se apropriam de forma adequada desse instrumento.
Nesse mesmo contexto, encontram-se os profissionais docentes que possuem uma responsabilidade muito grande, principalmente por serem esses os responsáveis pela formação das novas gerações.
O professor tem como principal função, não ser o detentor do conhecimento como no ensino tradicional, mas ser mediador da aprendizagem. Ele deve interagir com todos os discentes, ser dinâmico para conquistar os mais encabulados, e empreendedor para sempre criar novas situações. Pois ele não apenas tem a incumbência de apresentar às crianças as informações, precisa estimular a criança para que crie e recrie conhecimento.
Além disso, é necessário reconhecer a importância dos recursos tecnológicos e buscar meios de planejar situações de ensino aproveitando o potencial das TICs, proporcionando, dessa forma, uma aprendizagem significativa. Nesse quadro, como afirma Antonio Nóvoa, o professor deve ser "um organizador de aprendizagens, de aprendizagens via os novos meios informáticos, por via dessas novas realidades virtuais". Não é novidade, pois se esse é um imperativo da sociedade do conhecimento às escolas, é claro que o professor se inclui nesse esquema como executor.
Ser professor na atualidade é enfrentar muitos desafios. Não somente o desafio das tecnologias como é posto acima. Além desse, existe ainda o desafio da diversidade, que não pode ser negada e que ainda é um sério enigma da profissão docente. Com a democratização do ensino, cada vez mais os até então marginalizados pelo sistema educacional chegam às escolas, trazendo consigo a exigência de novas competências aos docentes. Outro desafio que está posto pela modernidade são as transformações das instituições sociais, como a família, a religião e outras, que desempenham papéis fundamentais no processo educacional, as quais parecem ter aberto mão dessa prerrogativa deixando a escola e seus educadores com toda a responsabilidade pelo e ensino e a educação das crianças desde a mais tenra idade. Há outros desafios tão complexos como os expostos nesse parágrafo, como a violência, as drogas e muitos mais, que a cada dia modificam a sociedade como um todo e a escola que esta inserida nesse meio.
Em meio a tudo isso, é importante como sugere Nóvoa, que o profissional docente reflita sobre sua prática, que procure sempre aprender, e principalmente aprender a ensinar melhor, seja com alunos ou colegas. Procurando, a todo momento, se manter o mais atualizado possível, principalmente no que diz respeito ao que ensina, sempre tendo em mente que não se pode saber de tudo, para assim, tirar aproveito de toda situação de aprendizagem, seja em casa, na rua ou em qualquer que seja o ambiente em que se encontre. É preciso também acreditar, como Paulo Freire, que "a educação é um ato político", não esquecendo a luta constante por dias melhores para seus alunos, para a escola e para a sociedade em si, mesmo que seja essa, uma luta apenas ideológica e de pouco efeito.

Considerações Finais
Ao finalizar essa reflexão sobre a educação na sociedade do conhecimento é imperioso lembrar a necessidade de democratizar os avanços que a era da informação trouxe através dos avanços tecnológicos. Com tudo que foi exposto, talvez a principal contenda da educação, principalmente nos países em desenvolvimento como o caso do Brasil, é conseguir implantar nas futuras gerações o sentimento de fraternidade e solidariedade, que há muito tempo é pregado e até então pouco praticado. Para que as camadas menos favorecidas tenham acesso aos benefícios que a sociedade do conhecimento tem inaugurado a cada dia. Como em Demo (2009) é preciso evitar o futuro aterrorizante, que está posto, como se a criatura já dominasse o criador, para tanto é preciso rever esta trajetória colonizadora impiedosa, tendo em vista que a ambivalência do conhecimento teima em mostrar muito mais sua face negra, do que a promissora.


Referências

DEMO, P. Sociedade Intensiva de Conhecimento. Revista Brasileira de Docência, Ensino e Pesquisa em Turismo. Vol. 1, n. 1, p.05-16 Maio/2009;

HARGREAVES, A. O Ensino na Sociedade do Conhecimento: A educação na era da insegurança. Porto Alegre: Artmed, 2004;

NÓVOA, A. O professor pesquisador e reflexivo. Brasília: TVE Brasil, 13 de setembro 2001. Entrevista concedida ao programa Salto para o Futuro;

SANTOS, J. F. dos. O que é pós-moderno. 8 ed. São Paulo: Brasiliense, 1990;

SQUIRRA, S. Sociedade do Conhecimento. In MARQUES DE MELO, J. M.; SATHLER, L. Direitos à Comunicação na Sociedade da Informação. São Bernardo do Campo, SP: Umesp, 2005 ;

TAKAHASHI, T. (Org). Sociedade da informação no Brasil: livro verde. Brasília: Ministério da Ciência e Tecnologia, 2000;

WERTHEIN, J. A Sociedade da Informação e Seus Desafios. In: Ci. Inf., Brasília, v. 29, n. 2, p. 71-77, maio/ago. 2000.