OS BENEFÍCIOS FÍSICOS, PSICOLÓGICOS E SOCIOLÓGICOS DO JUDÔ

Octaviano Augusto Alvarez Cardoso

RESUMO

A preocupação básica deste estudo é refletir sobre o incentivo do Judô como arte marcial formadora de caráter, filosófica, instrutiva, educadora do corpo e da mente dos jovens, futuros cidadãos e dos atletas adultos, aliviando psicologicamente e trazendo o conhecimento oriental adaptável ao mundo antigo e contemporâneo. Este artigo tem como objetivo analisar o destaque da arte marcial Japonesa pesquisando história e lendas, desde os primórdios do esporte, sua chegada ao Brasil e seu auge como valorizada modalidade esportiva ascendente no país e grande esporte olímpico Mundial. Realizou-se uma pesquisa bibliográfica, considerando as contribuições de autores como WATSON, BRIAN (2011), VIRGILIO, STANLEI (1992), ROZA, ANTÔNIO FRANCISCO C. (1999), entre outros, procurando enfatizar a importância do ensino da arte marcial nas escolas, em academias e clubes cumprindo a meta social de estimular relacionamentos interpessoais, contemplando a cordialidade da arte japonesa no cotidiano do indivíduo, trazendo à tona uma boa relação entre preceptores e discentes. Concluiu-se a relevância do Judô e sua eficácia no fortalecimento físico desportivo, assim como, grande alívio de tensões psíquicas, e facilitador de vínculos sociais positivos, não apenas dentro da escola, mas também fora de seus muros, na intimidade familiar e em sociedade. Palavras-chave: Judô; Interpessoal; Fortalecimento; Sociedade. Introdução O presente trabalho tem como tema os benefícios físicos, psicológicos e sociológicos do judô como a arte suave nas Escolas e Academias, criando vínculos relacionais humanos nos dojos, propiciando a melhora do temperamento da criança, adolescente, adulto, favorecendo o processo ensino-aprendizagem entre o professor e o aluno e criando senso de responsabilidade, moral, ética, dignificando a cultura e disciplina oriental, que com seus ensinamentos teóricos, traz na prática diária o senso de cidadania. Nesta perspectiva, construíram-se questões que nortearam este trabalho: • Pode o treinamento regular de arte marcial favorecer o fortalecimento físico, psicológico moldando o caráter e boa conduta do educando através da disciplina dos tatames, e filosofia oriental, tornando-o um cidadão consciente e bem relacionado na sociedade? • Qual deve ser a colaboração do professor frente aos alunos como exemplo de interação e fortalecimento dos laços sociais em um esporte extremamente competitivo e de intenso contato físico? Quando se fala em processo de interação competitivo, pressupõem-se os estímulos trocados entre os alunos iniciantes e os experientes, como o sparing versus carrasco, mas em academias sérias, o esporte é considerado e tratado na doutrina filosófica da Arte Suave de Jigoro Kano. Remetemos à ideia do termo: “pé de galinha não machuca pintinho”, tamanho o cuidado tomado pelos alunos veteranos com seus “pupilos” no início. Imagine a responsabilidade do sensei (professor). (VIRGÍLIO 1994) O respeito à integridade física, o pronto auxílio em caso de acidente, o uso de técnicas japonesas de relaxamento, massagem e movimentos respiratórios. O aprender a cair no chão sem sofrer lesões, o estudo do tempo e espaço e da inércia na prática, na esquiva, usando a força do oponente contra ele mesmo com movimentos circulares. A doutrina da moral e da boa conduta que se ensina em grande maioria dos dojos do país e do Mundo. (WATSON 2011) Com o tempo, o praticante e fica tão à vontade com os outros alunos, que passa a fazer parte de um círculo fraternal, que vem a suprir aquela necessidade de extravasar com brutalidade, soltar a válvula de escape. De uma forma intimista, cercada de técnicas, macetes contados ao “pé do ouvido”, na verdade, todos que participam efetivamente de um treino são alunos-professores. Sempre tem muito para ensinar e muito mais a aprender. A relação física tão intrínseca torna o sujeito mais inteirado. Não sabemos como foi o dia do aluno que ali chegou pra treinar. (TASSONI 2010) Uma criança pode ter tido um dia ruim no colégio, sofrido bullying, tirado nota baixa, discutido com o amigo, sido advertido pelos pais, e um adulto pode ter tido um dia péssimo no trabalho, ou tido um embate com sua namorada ou esposa, preocupado com as prestações da escola dos filhos ou da faculdade, etc. Deficientes físicos também treinam Judô. Indivíduos portadores de deficiências visuais, físicas e até mentais treinam a Arte Suave e melhoram muito a atuação no seu nicho social. (WATSON 2011) Em pesquisas de campo nas Academias de Judô do Rio de Janeiro, podemos afirmar os alunos sempre saem bem melhores e renovados do que entraram. Treinam até o esgotamento e provável relaxamento, aprendendo na prática a anteceder o problema e esquivar-se dele. O sujeito fica confiante e mais bem entrosado na sociedade. Daí a importância de investigar as relações entre alunos novatos e antigos no decorrer do processo ensino-aprendizagem no ambiente de escolas, academias e clubes, e o papel do professor diante de possíveis destemperos na ocorrência desse treino, além de seu papel garantidor da manutenção do ambiente sóbrio e solene comum nos dojos brasileiros e mundiais. Temos o conceito de interação social como a ação recíproca entre duas ou mais pessoas, na condição de impulsos trocados entre si, com a influência da instalação física e moral, sobre as capacidades corporais e intelectuais do indivíduo e sua ação sobre o entorno, permitindo a disposição e a expansão do ser humano. (TASSONI 2010) Por meio de técnicas de autodefesa, o aluno aprimora o equilíbrio corporal, aprende a utilizar-se da disciplina e do respeito nas ações e reações, desenvolve a segurança e a autoconfiança. Aprende, ainda, a lidar com suas limitações e a controlar suas emoções. Além de ser uma atividade de relaxamento e de prazer, o judô é uma prática esportiva que desenvolve no aluno a concentração e a possibilidade de analisar e conviver com situações de sucesso e fracasso. (VILLAMON & BROUSSE 2002 Revista Brasileira de Psicologia do Esporte, São Paulo, v.3, nº- 2, julho/dezembro 2010, p 119.) Neste contexto, o objetivo primordial deste estudo é, pois, investigar como a arte marcial objeto da pesquisa, traz benefícios físicos e psicológicos aos praticantes, além de estimular a coordenação motora, as relações interpessoais e afetivas, já que envolve o atleta em um círculo de aprendizado condicionador e hierárquico, em que os mais novos e (ou) menos experientes no tatame, são incentivados à repetição até chegarem à perfeição do golpe. Tudo isso em uma atmosfera de respeito e disciplina oriental. Para alcançar os objetivos propostos, utilizou-se como recurso metodológico, a pesquisa bibliográfica, realizada a partir da análise minuciosa de materiais já espargidos na literatura e artigos científicos difundidos na internet. O texto final foi fundamentado nas ideias e concepções de autores como: Tegner (1967), Roza (1999), Virgílio (1992), Freitas (2005), Villamon & Brousse (2002), Tassoni (2010) GAMA (1986), Watson (2011). Desenvolvimento A educação física é de importância inigualável no cotidiano do ser humano saudável. Fator prevalecente no processo de formação física e mental de qualquer sociedade, e a escola ou academia, por sua vez, enquanto instituições educativas executam um papel primordial no progresso de qualquer indivíduo e oferecem expectativas para a extensão da cidadania, sendo palco de diversas relações. (WATSON 2011) A reunião com outras pessoas é uma característica humana, pois, desde que nasce o indivíduo se relaciona com outros congêneres, formando vínculos sentimentais e gregários, inspirados por valores culturais de seu âmbito. O termo interação é bastante antigo. É utilizado nas mais variadas ciências designando as relações e influências mútuas entre duas ou mais pessoas. TASSONI (2010) Cabe ao professor de Judô, transferir aos atletas aprofundamentos consistentes relativos ao esporte em questão. Em alguns anos de pesquisa sobre o esporte de origem japonesa, com as questões filosóficas inerentes ao esporte bem estruturadas, ocorreu maior interesse em explorá-lo, principalmente no tocante à História e lendas que poucos conhecem, além de alguns praticantes, é claro. O objetivo real é de motivar e incentivar a prática filosofal e prática do Judô como meio de extravaso psicológico, repassando um pouco da ideologia oriental, divulgando os valores éticos e morais do esporte e como consequência acréscimo na educação e sociabilização dos praticantes. WATSON (2011) Para melhor ilustrar a intenção da importância dos conhecimentos filosóficos como base para o esporte avançar no caminho da boa conduta começamos contando a história do médico Shirobei Akiama, de origem japonesa, que esteve na China em meados do século XVI, aperfeiçoando conhecimentos inerentes à sua profissão e também, estudando WU-CHU. (luta chinesa cujo professor foi Pao-Chuan.) Ao terminar seu estágio, regressou ao Japão e decepcionado com o que havia aprendido, e até mesmo tendo insucesso e frustração perante alguns alunos por carência de absorção de técnicas, este resolveu retirar-se para meditação durante cem dias. Passou então a revisar o aprendizado de filosofia Ying e Yang, Taoísmo medicina e acupuntura. Desenvolveu golpes de projeção, luxação, estrangulamento e restabelecimento, e fundou uma Escola de Arte Marcial denominada “CORAÇÃO DE SALGUEIRO” em japonês “YOSHIN RYU”. O nome da escola fundamenta-se na seguinte doutrina: O mestre estava desmotivado, apático, sem a devida impulsão para esquadrinhar suas pesquisas e seu senso de observação encontrava-se definhando no espaço mental, quando ao contemplar uma nevasca notou que as cerejeiras tinham seus galhos rompidos com o peso da neve, enquanto os salgueiros se adequavam, suportavam o peso, envergavam e usavam o próprio peso da neve para livrar-se dela, arremessando-a longe, voltando assim à disposição original. Assim percebeu a importância da sua observação: “Ao positivo, interpõe-se o negativo, à força interpõe-se a esquiva, a finta e assim por diante.” Desde então, Akiama aprimorou seus recursos de luta e nasceu a Escola YOSHIN RYU. VIRGÍLIO(1994) Há uma estória, de um Bonzo (sacerdote ou homem místico) chinês chamado Shen Yung Pin que residiu por algum tempo em um templo na região de Edo, atualmente a cidade de Tóquio, que ensinava filosofia e caligrafia chinesa aos dignitários e membros de famílias nobres japonesas. Uma noite, ao regressar ao templo teve sua carruagem e escolta atacados por mercenários. Os homens de sua segurança pessoal foram derrotados pelos bandidos, porém, o pacato e humilde Bonzo se alterou completamente, transformando-se no lutador mais exímio visto em todos os tempos, e com golpes ágeis e incisivos, levou a quadrilha ao total desbaratamento. Tanto que grupos de kachis (samurais inferiores) ficaram deslumbrados com tamanha eficiência, e com muitos pedidos e pernoites à porta da instalação do Bonzo, acabaram conseguindo seu intento. O mestre aceitou ensinar uma técnica apenas para cada um dos samurais: Para um ensinou técnicas de Luxação, para outro de projeção, outro estrangulamento e para o último o atemi (ataque a pontos vitais). Conta a lenda que após o aprendizado, cada um teve a missão de partir para regiões diferentes do globo, para repassar sua especialidade, fundando diversas escolas por todo o Japão e consequentemente por todo o mundo. VIRGÍLIO (1994) Há também outro conto interessante, de um lutador de nome Takenuchi Hizamor, que extenuado após grande treinamento, adormentou vindo a vislumbrar contatos com seres espirituais que lhe instruíram como refinar sua arte em velocidade e justeza precisa, passando a expandir técnicas de retenção (osae-komi-waza). Partindo da instrução obtida nas visões, o jovem Takenuchi criou uma nova arte de luta para samurais, sem armadura, com varapau e espada menores, mais precisa e rápida, o Gokusoku da qual se originou o Aiki-do, o Tambô, o Ju-jitsu (variante do jiu-jitsu) e ainda diversas lutas. Menor peso, mais mobilidade ao samurai. A partir da metade do século XVI, há relatos de profundo desenvolvimento e inovações nas técnicas de combate. Isso veio a engrandecer e estabilizar o que seria chamado "jiu-jitsu japonês". (VIRGÍLIO 1994) Da idade média, avançamos ao século XIX quando Jigoro Kano, homem comum, humilde, de família não tradicional, nascido em 1860 no distrito de Hyogo foi morar em Kyoto com onze anos de idade, a fim de aprender inglês. Tornou-se professor e tradutor da língua. Faleceu em quatro de maio de 1938, aos setenta e sete anos, ao retornar da Assembleia Geral do Comitê Internacional dos jogos Olímpicos. Foi considerado o precursor do Judô. Devido à sua dedicação ao esporte, galgou os degraus da escala Imperial Japonesa, tendo em homenagem póstuma, ascendido ao segundo grau da realeza. TEGNER (1967) O mestre media apenas 1, 55 de altura, média de 55 kg, mas compensava seu pequeno porte com tenacidade, vigor físico, inteligência atípica e grande força de vontade. Aos dezessete anos iniciou Jiu-Jitsu na Escola Coração de Salgueiro com o Mestre Fukuda, posteriormente os mestres Iso e Likugo. Buscou conhecimento em várias escolas trocando informações com diversos atletas. O estudo prático levou ao teórico, o que fez com que criasse o conjunto de técnicas, regras e princípios que constituem o Judô olímpico que conhecemos hoje. Formou-se em 1882, pela Universidade Imperial de Tóquio em filosofia, Economia e Ciência Política e fundou sua escola, o KODOKAN. É considerado o “pai da Educação Física no Japão”. TEGNER (1967) Stanlei Virgílio, assim conceitua o idealismo do Professor de Judô nas atitudes suas e de seus educandos na Academia: [...] é bastante comum encontrarmos instalações pobres e improvisadas, sem conforto, mas com pessoas interessadas e disciplinadas. O professor idealista, mesmo em meio à simplicidade e escassez de recursos, leva a sério os ensinamentos do mestre Jigoro Kano, cultivando e mantendo presente o espírito do Judô. Deve ser louvada essa luta pelo verdadeiro esporte. É preciso lembrar que Jigoro Kano começou sua Escola com um dojo de apenas vinte metros quadrados. Virgílio (1994, p. 65), No ano de 1879, Jigoro Kano iniciava um estudo meticuloso de artes marciais, no interesse do aprimoramento para montar seu próprio DOJÔ. De acordo com Stanlei Virgílio, ele percebia e não gostava da rotina das escolas de Jiu-Jitsu, preocupadas em manter segredos, e desvalorizar outros mestres. Buscou então expandir-se em busca da perfeição técnica e conduta moral ilibada. As técnicas também eram pobres, sem princípios pedagógicos científicos, e colocavam os instruídos em perigo de morte, devido à rivalidade das escolas na época. Uma tentava destruir a outra a qualquer custo sem ética, desprezando e desrespeitando a todos. O Jiu-Jitsu estava fadado à decadência. Pensando nisso, o mestre Kano colocou a disciplina e a retidão moral como base de sustentação do Judô. Também o Quimono (judogui) nasceu da mente inventiva de Kano! Havia uma necessidade de uma roupa forte, que suportasse arremessos sem rasgar. A partir da confecção dessa roupa, o mestre teve a possibilidade de preparar golpes que enriqueceram a cultura de uma nação - Técnicas poderosas como o Kata-Guruma, Tai-Otoshi, Harai-Goshi, Tsuri-Komi-Goshi entre outras puderam ser aperfeiçoadas a partir do uniforme perfeito, que aguentasse os “trancos, pegadas, puxadas e solavancos” do treino. FREITAS (2005) Bruce Tegner, assim conceitua o Judô: [...] Literalmente o Judô significa “o modo suave”. Talvez se tornasse de mais fácil compreensão interpretá-lo como “o meio mais fácil”, baseado na definição do próprio Dr. Kano, de que o modo mais eficiente de se fazer qualquer coisa é o modo suave. Com isso sugeria a ideia básica do “Caminho da Vida”. Tegner (1967, p. 17), Com todas as vicissitudes desde o século XVI até a atualidade, apesar de toda a discriminação, pois as escolas de artes marciais eram consideradas redutos de marginais, percebemos o idealismo do mestre, que lecionava no Colégio Gakushuin, e mantinha sua escola de inglês, o Kobukan. Para cobrir as despesas com seus alunos em Eishosi (templo Budista) passava noite adentro fazendo traduções. Um grande exemplo de perseverança e solidariedade aos mais humildes. Criou normas que faziam seus alunos empenharem sua palavra: Se fosse admitido no Kodokan não ensinaria nem divulgaria os conhecimentos, salvo com a autorização de seus mestres; não faria demonstrações públicas com o fim de lucro; sua conduta nunca poderia desacreditar ou comprometer o Kodokan; que não abusaria nem faria uso indevido dos conhecimentos adquiridos no Judô. Nasceu a filosofia do Judô. Diante destes pressupostos, necessário se faz, que o profissional de Educação física, professor de Judô, como elemento facilitador das relações na escola e academia, esteja sempre atento às interações existentes entre os alunos modernos e antigos, criando situações que levem a cordialidade e civilidade. O sensei deve Impor-se nos momentos do treino, facilitando o entrosamento e boa formação dos alunos, de modo que tenha a oportunidade de respaldar seu fazer educativo, buscando a boa interação entre seus alunos, para cumprir o papel essencial do educador: Orientar e formar cidadãos. ROZA (1999) Conclusão Diante do exposto, concluiu-se que a interação existente entre os profissionais de Educação Física, praticantes de Judô e os seus alunos, é um dos integrantes mais importantes para o sucesso do ensino como formador de cidadania. Sem que haja uma coexistência positiva entre os diversos indivíduos no âmbito educacional, não há aprendizagem de qualidade. O professor de Judô enquanto sujeito formador e gestor dos procedimentos de aprendizagem dentro da escola, clube ou academia, é responsável por tratar que na rotina da instituição, haja mais do que apenas manifestações de interação, haja um local saudável, em que os participantes da Arte Suave se sintam seguros, caucados na técnica, sempre analisados pelo profissional que estimula o companheirismo, criando a condição do aluno mais experiente ajudar a ensinar os golpes ao menos graduados, intensificando a responsabilidade de um com o outro, estimulando os laços mais importantes que constroem a atmosfera fraternal, com um instruendo se preocupando com o outro, repassando detalhes, manhas do esporte, convivendo em plena cumplicidade, esquecendo os problemas, se concentrando na filosofia do esporte. As lendas, estórias e fatos históricos devem ser contados a todos os alunos para completa difusão da moral e conduta ilibada. O exemplo de vida do mestre Kano, potencializando a importância da disciplina necessária a qualquer arte marcial, moldando o caráter e dando ciência da realidade para quem vai aprender golpes capazes de aleijar ou até tirar a vida de alguém. Que seja usada a técnica apenas em defesa de sí ou da vida de outrem. A consequência desta doutrina é que o indivíduo detentor de graduação inclusive passa a se policiar, pois seu corpo apo´s adquirir a técnica necessária passa a ser uma arma letal, e por perceber a fragilidade dos que ignoram o conhecimento marcial japonês, passa a ver os outros indivíduos de uma forma menos agressiva, mais respeitosa e humilde. Dessa forma constatou-se que o profissional de Educação Física, professor de Judô, em sua função de dirigente deve elucidar os conflitos e tensões no dojo, exortando a solidariedade, urbanidade e educação com aqueles considerados mais fracos, exercitando a bondade e paciência com os deficientes físicos e idosos no tatame, no intuito de cumprir a meta estabelecida pela filosofia oriental. Nesse intervalo, cabe ao profissional de Judô, formalizar a missão que a ele foi dada desde o início de sua formação, ainda na faixa branca. A de zelar para o bom convívio entre os que aprendizes, lúcido das dificuldades que pode encontrar devido à sua interposição entre possíveis conflitos consequentes do estado emocional diário de cada pessoa. A visão clínica de um profissional da área reconhece a mudança nas características, no olhar, no humor do atleta que ele treina e conhece. Aluno alterado é perfeito para gastar energia. Em casos de alterações reconhecidas pelo docente, este deve imediatamente parar o combate, no interesse de esfriar ânimos. Exercícios para os hiperativos e agressivos e massificação do ensino filosófico exemplar que nos deixou o mestre JIGORO KANO são boas formas de quebrar o mal estar com inteligência digna de um professor envolvido com a causa da formação de cidadania. Estes são valores sociológicos importantes, que vem a estabelecer o clima de igualdade e respeito entre atletas, de forma a otimizar os relacionamentos não apenas no âmbito do dojo, mas em toda a esfera social. REFERÊNCIAS ROZA, Antônio Francisco C. Judô infantil. São Paulo: Phorte, 1999. VIRGILIO, Stanlei. Golpes Extra gokio: São Paulo: Átomo, 1992. FREITAS, Armando. O que é Judô? Porto Alegre: Casa da Palavra, 2005. VIRGILIO, Stanlei. A arte do Judô: São Paulo: Rigel,1994. TRUSZ, Rodrigo Augusto & DELL’AGLIO, Debora Dalbosco. A prática do Judô e o desenvolvimento moral das crianças. Disponível em: http://www.abrapesp.org.br/revista/v3n2/RBPE_12_117-135.pdf Acesso em 11de março de 2015. TASSONI, E. C. M. Afetividade e produção escrita: a mediação do professor em sala de aula. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Educação UNICAMP, 2000. GAMA, R. J. Manual de iniciação do Judô. Rio de Janeiro: Grupo Palestra Sport, 1986. WATSON, Brian N. Memórias de Jigoro Kano. Rio de Janeiro: Saraiva, 2011. CARVALHO, Mauro Cesar Gurgel de Alencar. O Judô dentro do contexto da regulamentação da educação física. Disponível em: http://www.judocarioca.com.br/PDF/O%20JUDO%20DENTRO%20DO%20CONTEXTO%20REGULAMENTACAO%20DA%20EDUCACAO%20FISICA.pdf Acesso em 31de Março de 2015. BETTI, Mauro. Esporte, educação e sociabilização. Algumas reflexões à luz da sociologia do esporte. Disponível em: http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs2.2.2/index.php/kinesis/article/view/8536/5178 Acesso em 01 de abril de 2015. VILLAMÓN, M. & BROUSSE, M. (2002). El judo como contenido de la educación física escolar. Barcelona: Editorial Hispano Europea. BENEFÍCIOS FÍSICOS, PSICOLÓGICOS E SOCIOLÓGICOS DO JUDÔ Octaviano Augusto Alvarez Cardoso RESUMO A preocupação básica deste estudo é refletir sobre o incentivo do Judô como arte marcial formadora de caráter, filosófica, instrutiva, educadora do corpo e da mente dos jovens, futuros cidadãos e dos atletas adultos, aliviando psicologicamente e trazendo o conhecimento oriental adaptável ao mundo antigo e contemporâneo. Este artigo tem como objetivo analisar o destaque da arte marcial Japonesa pesquisando história e lendas, desde os primórdios do esporte, sua chegada ao Brasil e seu auge como valorizada modalidade esportiva ascendente no país e grande esporte olímpico Mundial. Realizou-se uma pesquisa bibliográfica, considerando as contribuições de autores como WATSON, BRIAN (2011), VIRGILIO, STANLEI (1992), ROZA, ANTÔNIO FRANCISCO C. (1999), entre outros, procurando enfatizar a importância do ensino da arte marcial nas escolas, em academias e clubes cumprindo a meta social de estimular relacionamentos interpessoais, contemplando a cordialidade da arte japonesa no cotidiano do indivíduo, trazendo à tona uma boa relação entre preceptores e discentes. Concluiu-se a relevância do Judô e sua eficácia no fortalecimento físico desportivo, assim como, grande alívio de tensões psíquicas, e facilitador de vínculos sociais positivos, não apenas dentro da escola, mas também fora de seus muros, na intimidade familiar e em sociedade. Palavras-chave: Judô; Interpessoal; Fortalecimento; Sociedade. Introdução O presente trabalho tem como tema os benefícios físicos, psicológicos e sociológicos do judô como a arte suave nas Escolas e Academias, criando vínculos relacionais humanos nos dojos, propiciando a melhora do temperamento da criança, adolescente, adulto, favorecendo o processo ensino-aprendizagem entre o professor e o aluno e criando senso de responsabilidade, moral, ética, dignificando a cultura e disciplina oriental, que com seus ensinamentos teóricos, traz na prática diária o senso de cidadania. Nesta perspectiva, construíram-se questões que nortearam este trabalho: • Pode o treinamento regular de arte marcial favorecer o fortalecimento físico, psicológico moldando o caráter e boa conduta do educando através da disciplina dos tatames, e filosofia oriental, tornando-o um cidadão consciente e bem relacionado na sociedade? • Qual deve ser a colaboração do professor frente aos alunos como exemplo de interação e fortalecimento dos laços sociais em um esporte extremamente competitivo e de intenso contato físico? Quando se fala em processo de interação competitivo, pressupõem-se os estímulos trocados entre os alunos iniciantes e os experientes, como o sparing versus carrasco, mas em academias sérias, o esporte é considerado e tratado na doutrina filosófica da Arte Suave de Jigoro Kano. Remetemos à ideia do termo: “pé de galinha não machuca pintinho”, tamanho o cuidado tomado pelos alunos veteranos com seus “pupilos” no início. Imagine a responsabilidade do sensei (professor). (VIRGÍLIO 1994) O respeito à integridade física, o pronto auxílio em caso de acidente, o uso de técnicas japonesas de relaxamento, massagem e movimentos respiratórios. O aprender a cair no chão sem sofrer lesões, o estudo do tempo e espaço e da inércia na prática, na esquiva, usando a força do oponente contra ele mesmo com movimentos circulares. A doutrina da moral e da boa conduta que se ensina em grande maioria dos dojos do país e do Mundo. (WATSON 2011) Com o tempo, o praticante e fica tão à vontade com os outros alunos, que passa a fazer parte de um círculo fraternal, que vem a suprir aquela necessidade de extravasar com brutalidade, soltar a válvula de escape. De uma forma intimista, cercada de técnicas, macetes contados ao “pé do ouvido”, na verdade, todos que participam efetivamente de um treino são alunos-professores. Sempre tem muito para ensinar e muito mais a aprender. A relação física tão intrínseca torna o sujeito mais inteirado. Não sabemos como foi o dia do aluno que ali chegou pra treinar. (TASSONI 2010) Uma criança pode ter tido um dia ruim no colégio, sofrido bullying, tirado nota baixa, discutido com o amigo, sido advertido pelos pais, e um adulto pode ter tido um dia péssimo no trabalho, ou tido um embate com sua namorada ou esposa, preocupado com as prestações da escola dos filhos ou da faculdade, etc. Deficientes físicos também treinam Judô. Indivíduos portadores de deficiências visuais, físicas e até mentais treinam a Arte Suave e melhoram muito a atuação no seu nicho social. (WATSON 2011) Em pesquisas de campo nas Academias de Judô do Rio de Janeiro, podemos afirmar os alunos sempre saem bem melhores e renovados do que entraram. Treinam até o esgotamento e provável relaxamento, aprendendo na prática a anteceder o problema e esquivar-se dele. O sujeito fica confiante e mais bem entrosado na sociedade. Daí a importância de investigar as relações entre alunos novatos e antigos no decorrer do processo ensino-aprendizagem no ambiente de escolas, academias e clubes, e o papel do professor diante de possíveis destemperos na ocorrência desse treino, além de seu papel garantidor da manutenção do ambiente sóbrio e solene comum nos dojos brasileiros e mundiais. Temos o conceito de interação social como a ação recíproca entre duas ou mais pessoas, na condição de impulsos trocados entre si, com a influência da instalação física e moral, sobre as capacidades corporais e intelectuais do indivíduo e sua ação sobre o entorno, permitindo a disposição e a expansão do ser humano. (TASSONI 2010) Por meio de técnicas de autodefesa, o aluno aprimora o equilíbrio corporal, aprende a utilizar-se da disciplina e do respeito nas ações e reações, desenvolve a segurança e a autoconfiança. Aprende, ainda, a lidar com suas limitações e a controlar suas emoções. Além de ser uma atividade de relaxamento e de prazer, o judô é uma prática esportiva que desenvolve no aluno a concentração e a possibilidade de analisar e conviver com situações de sucesso e fracasso. (VILLAMON & BROUSSE 2002 Revista Brasileira de Psicologia do Esporte, São Paulo, v.3, nº- 2, julho/dezembro 2010, p 119.) Neste contexto, o objetivo primordial deste estudo é, pois, investigar como a arte marcial objeto da pesquisa, traz benefícios físicos e psicológicos aos praticantes, além de estimular a coordenação motora, as relações interpessoais e afetivas, já que envolve o atleta em um círculo de aprendizado condicionador e hierárquico, em que os mais novos e (ou) menos experientes no tatame, são incentivados à repetição até chegarem à perfeição do golpe. Tudo isso em uma atmosfera de respeito e disciplina oriental. Para alcançar os objetivos propostos, utilizou-se como recurso metodológico, a pesquisa bibliográfica, realizada a partir da análise minuciosa de materiais já espargidos na literatura e artigos científicos difundidos na internet. O texto final foi fundamentado nas ideias e concepções de autores como: Tegner (1967), Roza (1999), Virgílio (1992), Freitas (2005), Villamon & Brousse (2002), Tassoni (2010) GAMA (1986), Watson (2011). Desenvolvimento A educação física é de importância inigualável no cotidiano do ser humano saudável. Fator prevalecente no processo de formação física e mental de qualquer sociedade, e a escola ou academia, por sua vez, enquanto instituições educativas executam um papel primordial no progresso de qualquer indivíduo e oferecem expectativas para a extensão da cidadania, sendo palco de diversas relações. (WATSON 2011) A reunião com outras pessoas é uma característica humana, pois, desde que nasce o indivíduo se relaciona com outros congêneres, formando vínculos sentimentais e gregários, inspirados por valores culturais de seu âmbito. O termo interação é bastante antigo. É utilizado nas mais variadas ciências designando as relações e influências mútuas entre duas ou mais pessoas. TASSONI (2010) Cabe ao professor de Judô, transferir aos atletas aprofundamentos consistentes relativos ao esporte em questão. Em alguns anos de pesquisa sobre o esporte de origem japonesa, com as questões filosóficas inerentes ao esporte bem estruturadas, ocorreu maior interesse em explorá-lo, principalmente no tocante à História e lendas que poucos conhecem, além de alguns praticantes, é claro. O objetivo real é de motivar e incentivar a prática filosofal e prática do Judô como meio de extravaso psicológico, repassando um pouco da ideologia oriental, divulgando os valores éticos e morais do esporte e como consequência acréscimo na educação e sociabilização dos praticantes. WATSON (2011) Para melhor ilustrar a intenção da importância dos conhecimentos filosóficos como base para o esporte avançar no caminho da boa conduta começamos contando a história do médico Shirobei Akiama, de origem japonesa, que esteve na China em meados do século XVI, aperfeiçoando conhecimentos inerentes à sua profissão e também, estudando WU-CHU. (luta chinesa cujo professor foi Pao-Chuan.) Ao terminar seu estágio, regressou ao Japão e decepcionado com o que havia aprendido, e até mesmo tendo insucesso e frustração perante alguns alunos por carência de absorção de técnicas, este resolveu retirar-se para meditação durante cem dias. Passou então a revisar o aprendizado de filosofia Ying e Yang, Taoísmo medicina e acupuntura. Desenvolveu golpes de projeção, luxação, estrangulamento e restabelecimento, e fundou uma Escola de Arte Marcial denominada “CORAÇÃO DE SALGUEIRO” em japonês “YOSHIN RYU”. O nome da escola fundamenta-se na seguinte doutrina: O mestre estava desmotivado, apático, sem a devida impulsão para esquadrinhar suas pesquisas e seu senso de observação encontrava-se definhando no espaço mental, quando ao contemplar uma nevasca notou que as cerejeiras tinham seus galhos rompidos com o peso da neve, enquanto os salgueiros se adequavam, suportavam o peso, envergavam e usavam o próprio peso da neve para livrar-se dela, arremessando-a longe, voltando assim à disposição original. Assim percebeu a importância da sua observação: “Ao positivo, interpõe-se o negativo, à força interpõe-se a esquiva, a finta e assim por diante.” Desde então, Akiama aprimorou seus recursos de luta e nasceu a Escola YOSHIN RYU. VIRGÍLIO(1994) Há uma estória, de um Bonzo (sacerdote ou homem místico) chinês chamado Shen Yung Pin que residiu por algum tempo em um templo na região de Edo, atualmente a cidade de Tóquio, que ensinava filosofia e caligrafia chinesa aos dignitários e membros de famílias nobres japonesas. Uma noite, ao regressar ao templo teve sua carruagem e escolta atacados por mercenários. Os homens de sua segurança pessoal foram derrotados pelos bandidos, porém, o pacato e humilde Bonzo se alterou completamente, transformando-se no lutador mais exímio visto em todos os tempos, e com golpes ágeis e incisivos, levou a quadrilha ao total desbaratamento. Tanto que grupos de kachis (samurais inferiores) ficaram deslumbrados com tamanha eficiência, e com muitos pedidos e pernoites à porta da instalação do Bonzo, acabaram conseguindo seu intento. O mestre aceitou ensinar uma técnica apenas para cada um dos samurais: Para um ensinou técnicas de Luxação, para outro de projeção, outro estrangulamento e para o último o atemi (ataque a pontos vitais). Conta a lenda que após o aprendizado, cada um teve a missão de partir para regiões diferentes do globo, para repassar sua especialidade, fundando diversas escolas por todo o Japão e consequentemente por todo o mundo. VIRGÍLIO (1994) Há também outro conto interessante, de um lutador de nome Takenuchi Hizamor, que extenuado após grande treinamento, adormentou vindo a vislumbrar contatos com seres espirituais que lhe instruíram como refinar sua arte em velocidade e justeza precisa, passando a expandir técnicas de retenção (osae-komi-waza). Partindo da instrução obtida nas visões, o jovem Takenuchi criou uma nova arte de luta para samurais, sem armadura, com varapau e espada menores, mais precisa e rápida, o Gokusoku da qual se originou o Aiki-do, o Tambô, o Ju-jitsu (variante do jiu-jitsu) e ainda diversas lutas. Menor peso, mais mobilidade ao samurai. A partir da metade do século XVI, há relatos de profundo desenvolvimento e inovações nas técnicas de combate. Isso veio a engrandecer e estabilizar o que seria chamado "jiu-jitsu japonês". (VIRGÍLIO 1994) Da idade média, avançamos ao século XIX quando Jigoro Kano, homem comum, humilde, de família não tradicional, nascido em 1860 no distrito de Hyogo foi morar em Kyoto com onze anos de idade, a fim de aprender inglês. Tornou-se professor e tradutor da língua. Faleceu em quatro de maio de 1938, aos setenta e sete anos, ao retornar da Assembleia Geral do Comitê Internacional dos jogos Olímpicos. Foi considerado o precursor do Judô. Devido à sua dedicação ao esporte, galgou os degraus da escala Imperial Japonesa, tendo em homenagem póstuma, ascendido ao segundo grau da realeza. TEGNER (1967) O mestre media apenas 1, 55 de altura, média de 55 kg, mas compensava seu pequeno porte com tenacidade, vigor físico, inteligência atípica e grande força de vontade. Aos dezessete anos iniciou Jiu-Jitsu na Escola Coração de Salgueiro com o Mestre Fukuda, posteriormente os mestres Iso e Likugo. Buscou conhecimento em várias escolas trocando informações com diversos atletas. O estudo prático levou ao teórico, o que fez com que criasse o conjunto de técnicas, regras e princípios que constituem o Judô olímpico que conhecemos hoje. Formou-se em 1882, pela Universidade Imperial de Tóquio em filosofia, Economia e Ciência Política e fundou sua escola, o KODOKAN. É considerado o “pai da Educação Física no Japão”. TEGNER (1967) Stanlei Virgílio, assim conceitua o idealismo do Professor de Judô nas atitudes suas e de seus educandos na Academia: [...] é bastante comum encontrarmos instalações pobres e improvisadas, sem conforto, mas com pessoas interessadas e disciplinadas. O professor idealista, mesmo em meio à simplicidade e escassez de recursos, leva a sério os ensinamentos do mestre Jigoro Kano, cultivando e mantendo presente o espírito do Judô. Deve ser louvada essa luta pelo verdadeiro esporte. É preciso lembrar que Jigoro Kano começou sua Escola com um dojo de apenas vinte metros quadrados. Virgílio (1994, p. 65), No ano de 1879, Jigoro Kano iniciava um estudo meticuloso de artes marciais, no interesse do aprimoramento para montar seu próprio DOJÔ. De acordo com Stanlei Virgílio, ele percebia e não gostava da rotina das escolas de Jiu-Jitsu, preocupadas em manter segredos, e desvalorizar outros mestres. Buscou então expandir-se em busca da perfeição técnica e conduta moral ilibada. As técnicas também eram pobres, sem princípios pedagógicos científicos, e colocavam os instruídos em perigo de morte, devido à rivalidade das escolas na época. Uma tentava destruir a outra a qualquer custo sem ética, desprezando e desrespeitando a todos. O Jiu-Jitsu estava fadado à decadência. Pensando nisso, o mestre Kano colocou a disciplina e a retidão moral como base de sustentação do Judô. Também o Quimono (judogui) nasceu da mente inventiva de Kano! Havia uma necessidade de uma roupa forte, que suportasse arremessos sem rasgar. A partir da confecção dessa roupa, o mestre teve a possibilidade de preparar golpes que enriqueceram a cultura de uma nação - Técnicas poderosas como o Kata-Guruma, Tai-Otoshi, Harai-Goshi, Tsuri-Komi-Goshi entre outras puderam ser aperfeiçoadas a partir do uniforme perfeito, que aguentasse os “trancos, pegadas, puxadas e solavancos” do treino. FREITAS (2005) Bruce Tegner, assim conceitua o Judô: [...] Literalmente o Judô significa “o modo suave”. Talvez se tornasse de mais fácil compreensão interpretá-lo como “o meio mais fácil”, baseado na definição do próprio Dr. Kano, de que o modo mais eficiente de se fazer qualquer coisa é o modo suave. Com isso sugeria a ideia básica do “Caminho da Vida”. Tegner (1967, p. 17), Com todas as vicissitudes desde o século XVI até a atualidade, apesar de toda a discriminação, pois as escolas de artes marciais eram consideradas redutos de marginais, percebemos o idealismo do mestre, que lecionava no Colégio Gakushuin, e mantinha sua escola de inglês, o Kobukan. Para cobrir as despesas com seus alunos em Eishosi (templo Budista) passava noite adentro fazendo traduções. Um grande exemplo de perseverança e solidariedade aos mais humildes. Criou normas que faziam seus alunos empenharem sua palavra: Se fosse admitido no Kodokan não ensinaria nem divulgaria os conhecimentos, salvo com a autorização de seus mestres; não faria demonstrações públicas com o fim de lucro; sua conduta nunca poderia desacreditar ou comprometer o Kodokan; que não abusaria nem faria uso indevido dos conhecimentos adquiridos no Judô. Nasceu a filosofia do Judô. Diante destes pressupostos, necessário se faz, que o profissional de Educação física, professor de Judô, como elemento facilitador das relações na escola e academia, esteja sempre atento às interações existentes entre os alunos modernos e antigos, criando situações que levem a cordialidade e civilidade. O sensei deve Impor-se nos momentos do treino, facilitando o entrosamento e boa formação dos alunos, de modo que tenha a oportunidade de respaldar seu fazer educativo, buscando a boa interação entre seus alunos, para cumprir o papel essencial do educador: Orientar e formar cidadãos. ROZA (1999) Conclusão Diante do exposto, concluiu-se que a interação existente entre os profissionais de Educação Física, praticantes de Judô e os seus alunos, é um dos integrantes mais importantes para o sucesso do ensino como formador de cidadania. Sem que haja uma coexistência positiva entre os diversos indivíduos no âmbito educacional, não há aprendizagem de qualidade. O professor de Judô enquanto sujeito formador e gestor dos procedimentos de aprendizagem dentro da escola, clube ou academia, é responsável por tratar que na rotina da instituição, haja mais do que apenas manifestações de interação, haja um local saudável, em que os participantes da Arte Suave se sintam seguros, caucados na técnica, sempre analisados pelo profissional que estimula o companheirismo, criando a condição do aluno mais experiente ajudar a ensinar os golpes ao menos graduados, intensificando a responsabilidade de um com o outro, estimulando os laços mais importantes que constroem a atmosfera fraternal, com um instruendo se preocupando com o outro, repassando detalhes, manhas do esporte, convivendo em plena cumplicidade, esquecendo os problemas, se concentrando na filosofia do esporte. As lendas, estórias e fatos históricos devem ser contados a todos os alunos para completa difusão da moral e conduta ilibada. O exemplo de vida do mestre Kano, potencializando a importância da disciplina necessária a qualquer arte marcial, moldando o caráter e dando ciência da realidade para quem vai aprender golpes capazes de aleijar ou até tirar a vida de alguém. Que seja usada a técnica apenas em defesa de sí ou da vida de outrem. A consequência desta doutrina é que o indivíduo detentor de graduação inclusive passa a se policiar, pois seu corpo apo´s adquirir a técnica necessária passa a ser uma arma letal, e por perceber a fragilidade dos que ignoram o conhecimento marcial japonês, passa a ver os outros indivíduos de uma forma menos agressiva, mais respeitosa e humilde. Dessa forma constatou-se que o profissional de Educação Física, professor de Judô, em sua função de dirigente deve elucidar os conflitos e tensões no dojo, exortando a solidariedade, urbanidade e educação com aqueles considerados mais fracos, exercitando a bondade e paciência com os deficientes físicos e idosos no tatame, no intuito de cumprir a meta estabelecida pela filosofia oriental. Nesse intervalo, cabe ao profissional de Judô, formalizar a missão que a ele foi dada desde o início de sua formação, ainda na faixa branca. A de zelar para o bom convívio entre os que aprendizes, lúcido das dificuldades que pode encontrar devido à sua interposição entre possíveis conflitos consequentes do estado emocional diário de cada pessoa. A visão clínica de um profissional da área reconhece a mudança nas características, no olhar, no humor do atleta que ele treina e conhece. Aluno alterado é perfeito para gastar energia. Em casos de alterações reconhecidas pelo docente, este deve imediatamente parar o combate, no interesse de esfriar ânimos. Exercícios para os hiperativos e agressivos e massificação do ensino filosófico exemplar que nos deixou o mestre JIGORO KANO são boas formas de quebrar o mal estar com inteligência digna de um professor envolvido com a causa da formação de cidadania. Estes são valores sociológicos importantes, que vem a estabelecer o clima de igualdade e respeito entre atletas, de forma a otimizar os relacionamentos não apenas no âmbito do dojo, mas em toda a esfera social. REFERÊNCIAS ROZA, Antônio Francisco C. Judô infantil. São Paulo: Phorte, 1999. VIRGILIO, Stanlei. Golpes Extra gokio: São Paulo: Átomo, 1992. FREITAS, Armando. O que é Judô? Porto Alegre: Casa da Palavra, 2005. VIRGILIO, Stanlei. A arte do Judô: São Paulo: Rigel,1994. TRUSZ, Rodrigo Augusto & DELL’AGLIO, Debora Dalbosco. A prática do Judô e o desenvolvimento moral das crianças. Disponível em: http://www.abrapesp.org.br/revista/v3n2/RBPE_12_117-135.pdf Acesso em 11de março de 2015. TASSONI, E. C. M. Afetividade e produção escrita: a mediação do professor em sala de aula. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Educação UNICAMP, 2000. GAMA, R. J. Manual de iniciação do Judô. Rio de Janeiro: Grupo Palestra Sport, 1986. WATSON, Brian N. Memórias de Jigoro Kano. Rio de Janeiro: Saraiva, 2011. CARVALHO, Mauro Cesar Gurgel de Alencar. O Judô dentro do contexto da regulamentação da educação física. Disponível em: http://www.judocarioca.com.br/PDF/O%20JUDO%20DENTRO%20DO%20CONTEXTO%20REGULAMENTACAO%20DA%20EDUCACAO%20FISICA.pdf Acesso em 31de Março de 2015. BETTI, Mauro. Esporte, educação e sociabilização. Algumas reflexões à luz da sociologia do esporte. Disponível em: http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs2.2.2/index.php/kinesis/article/view/8536/5178 Acesso em 01 de abril de 2015. VILLAMÓN, M. & BROUSSE, M. (2002). El judo como contenido de la educación física escolar. 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