FACULDADE INTERNACIONAL DE CURITIBA – FACINTER

MARIA ILZA DE OLIVEIRA

ORIENTAÇÃO SEXUAL: UM TEMA NECESSÁRIO AO CURRÍCULO ESCOLAR NA ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL PROFESSOR FRANCISCO NUNES

RONDON DO PARÁ

2010

FACULDADE INTERNACIONAL DE CURITIBA – FACINTER

MARIA ILZA DE OLIVEIRA

ORIENTAÇÃO SEXUAL: UM TEMA NECESSÁRIO AO CURRÍCULO ESCOLAR NA ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL PROFESSOR FRANCISCO NUNES

TCC apresentado como requisito avaliativo no Curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia Clínica e Institucional da Faculdade Internacional de Curitiba – FACINTER.

Prof.ª MSc Regiane Banzzatto Bergamo

                                                                      

                                                                                 

RONDON DO PARÁ

2010

FOLHA DE APROVAÇÃO

 

 

MARIA ILZA DE OLIVEIRA

 

 

 

 

ORIENTAÇÃO SEXUAL: UM TEMA NECESSÁRIO AO CURRÍCULO ESCOLAR NA ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL PROFESSOR FRANCISCO NUNES

 

 

 

Trabalho de Conclusão do Curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia Clínica e Institucional apresentado como requisito para obtenção do Título de Psicopedagoga Clínica da Faculdade Internacional de Curitiba – FACINTER.

Aprovado em _______ de ______________________ de 2010.

 

 

Componentes da Banca Examinadora:

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Prof. ........................................................................

Faculdade Internacional de Curitiba – FACINTER

 

 

 

 

 

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Faculdade Internacional de Curitiba – FACINTER

 

 

 

 

 

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Faculdade Internacional de Curitiba – FACINTER

 

DEDICATÓRIA

Dedico a Deus, pela infinita bondade de me conceder a possibilidade de construção deste trabalho e aos meus familiares e amigos, que me apoiaram nos momentos em que mais precisei.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por ter concedido esta oportunidade, de ser uma pessoa persistente na busca do conhecimento.

Aos meus familiares: Gisleide Miranda Oliveira, netos e nora pela inestimável colaboração, sem a qual não teria sido possível a conclusão deste curso.

Aos meus filhos, os quais se constituem o mais precioso tesouro de minha vida.

Aos meus colegas, e em especial, à professora Erline Melo, que de forma alguma deixou de me ajudar nos momentos em que dela precisei.

Aos meus professores, por terem sido os mediadores da aprendizagem que realizei.

EPÍGRAFE

Uma coisa posso afirmar e provar com palavras e atos: é que nos tornamos melhores se cremos que é nosso dever seguir em busca da verdade desconhecida.

(Sócrates)

SUMÁRIO

RESUMO  ...........................................................................................................   08

1. INTRODUÇÃO  ..............................................................................................  09

2. ORIENTAÇÃO SEXUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL NA ESCOLA

MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL

PROFESSOR FRANCISCO NUNES  ................................................................         13

2.1 ORIENTAÇÃO SEXUAL: POSSIBILIDADE DE MUDANÇA NA ESCOLA  .  13

2.2 ORIENTAÇÃO SEXUAL NA ESCOLA  ........................................................         15

2.3 A ORIENTAÇÃO SEXUAL E OS PCNs  ......................................................         18

2.4 PROJETOS DE ORIENTAÇÃO SEXUAL NA ESCOLA  .............................      23

3. CARACTERIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO  ......................................................         27

3.1 ANÁLISE DOS DADOS  ..............................................................................            28

2.2.1 Categoria: Pais  .......................................................................................  29

2.2.2 Categoria: Professores  ..........................................................................           30

2.2.3 Categoria: Alunos  ...................................................................................            32

4. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO  .................................................................          35

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS  ..........................................................................           38

REFERÊNCIAS  ..................................................................................................            40

 

 

RESUMO

O presente trabalho tem como título “Orientação Sexual: Um Tema Necessário ao Currículo Escolar na Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Francisco Nunes, objetivando a importância da Educação Sexual no projeto educativo das escolas. Para entender e responder questões tão atuais e que permeiam o dia-a-dia das crianças e adolescentes. Sem dúvida, a sexualidade humana figura como um dos temas mais importantes e quase sempre mais recusados no universo prático do educador. Entretanto, cada vez mais a escola tem sido convocada a enfrentar as transformações das práticas sexuais, principalmente na adolescência, uma vez que seus efeitos ostentam o cotidiano escolar. Sabe-se que a luta é árdua, as dificuldades são muitas e nem todos estão preparados para este ministério de fundamental importância para o desenvolvimento integral das crianças e adolescentes. Adotou-se o método de investigação do estudo em questão, onde realizei uma pesquisa de campo, juntamente com estudos teóricos, através de uma abordagem qualitativa descritiva, utilizando perguntas abertas e fechadas, que envolvem seis professores de 4ª a 6ª séries e quarenta e oito alunos de 4ª a 6ª séries do Ensino Fundamental, e vinte e cinco pais de alunos, com o intuito de sondar opiniões à inclusão da Educação Sexual na escola. Esperei através desta entrevista-pesquisa atingir os objetivos propostos: o de informar e discutir tabus, crenças e atitudes existentes na sociedade. Os resultados dessa investigação também permitiram compreender que falar em Educação Sexual vai além de simples informações. É fundamental discutir valores, trabalhar os aspectos emocionais e sócio-culturais envolvidos; dar espaço para os adolescentes falar, estimulando seu processo reflexivo e a sua autonomia. Portanto, independentemente de sua potencialidade reprodutiva, a sexualidade se relaciona antes de qualquer coisa com a busca do prazer, necessidade fundamental dos seres humanos. Fruto da cultura, ela se expressa com singularidade em cada sujeito.

PALAVRAS-CHAVE: Conhecimento; Criança; Escola; Orientação Sexual.

1. INTRODUÇÃO

Sabe-se que a sexualidade tem grande importância no desenvolvimento e na vida psíquica das pessoas, pois independentemente da potencialidade reprodutiva, relaciona-se com a busca do prazer, necessidade fundamental dos seres humanos. A análise dessa pesquisa tem como finalidade contribuir com o processo educativo e para o bem-estar de crianças e adolescentes de sua vida sexual atual e futura.

Quando se fala em “Educação Sexual” faz-se necessário, desde o início, uma clara definição dos termos para evitar que eles sejam mal interpretados, e assim, a exposição do assunto fique prejudicada, recebendo um sentido que não se quis atribuir a eles.

A Educação Sexual é um tema profundamente sério e importante dentro do campo atual, pois é dela que depende a integração bio-psico-sociológico. Sabe-se, portanto, que a curiosidade das crianças a respeito da sexualidade é uma questão muito significativa para a subjetividade na medida em que se relacionam com o conhecimento das origens de cada um e com o desejo de saber. A oferta por parte da escola de um espaço em que as crianças e os adolescentes possam esclarecer suas dúvidas e continuar formulando novas questões contribui para o alívio das ansiedades, que muitas vezes interferem no aprendizado. Assim, a escolha desse tema se fez necessária no sentido de buscar informações e orientar os adolescentes sobre os riscos de uma gravidez indesejada, de se contrair as Doenças Sexualmente Transmissíveis ou AIDS (AIDS/DSTs/AIDS).

É sabido que não existe uma opinião unânime a respeito da sexualidade. De qualquer forma, a Educação Sexual das crianças e adolescentes cabe em primeiro lugar aos pais, depois à escola, e por fim à própria sociedade. À escola cabe complementar o ensino dos pais. Aliás, a complementação é mútua, pois deve existir entre ambos uma integração total, que lhes permita acompanhar eficientemente o adolescente, mas, infelizmente, pela insuficiente preparação dos pais, a escola se vê obrigada a não cooperar com eles, mas assumir seu papel e fazer-lhes às vezes.

Esta situação prejudica grandemente a evolução e a maturação integral do adolescente, que precisa de apoio imediato e amigo, tanto por parte da escola quanto dos pais.

Nessas circunstâncias, ele procura resolver sozinho os problemas e as interrogações que o angustiam, e com frequência encontram a solução errada. É verdade que ele poderia ainda dispor da ajuda da sociedade, mas, esta, infelizmente está mais desorientada que ele próprio. Se os pais não têm condições de orientá-los, muito menos terá a sociedade, que vive e traz em si mesma conflitos profundos. Dificilmente poderá ir além da informação superficial. Talvez seja exagero dizer que, no campo da Educação Sexual, a própria sociedade, mesmo não querendo, confunde o adolescente e mesmo querendo não consegue orientá-lo.

A imprensa, por fim, e todos os meios de informações poderiam servir como fatores de Educação Sexual em massa. Acontece, porém, que esses meios por carecerem em geral de uma direção consciente e definida, o que acaba se vendo com frequência é a exploração de fatos fora de seu contexto, um tratamento puramente sensacionalista, informando e desinformando.

Propõe-se então que a Educação Sexual oferecida pela escola, onde as repercussões de todas as mensagens transmitidas pela mídia, pela família e pela sociedade, trate de preencher lacunas nas informações que as crianças já possuem e, principalmente, criar possibilidade de formar opinião a respeito do que lhe é ou foi apresentado.

Então, aos educadores, este estudo é relevante, porque propiciará subsídios para promover reflexão e discussão com professores, equipes pedagógicas, bem como pais e responsáveis com a finalidade de sistematizar a ação pedagógica no desenvolvimento dos alunos, levando em conta os princípios de cada um dos envolvidos.

O trabalho de Orientação Sexual desperta dúvidas nos jovens. A satisfação dessas curiosidades contribui para que esse desejo de saber seja esclarecido ao longo de sua vida, enquanto o não esclarecimento gera ansiedade e tensão. A escola que se deseja, deve ter uma visão integrada das experiências vividas pelos alunos, buscando desenvolver o prazer pelo conhecimento. É necessário que a escola desempenhe um papel importante para uma sexualidade ligada à vida, à saúde, ao prazer e ao bem-estar do ser humano. O educador deve reconhecer como legítimo por parte das crianças e dos adolescentes a busca do prazer e as ansiedades manifestas acerca da sexualidade, uma vez que fazem parte do seu processo de desenvolvimento. Por isso, o professor deve se mostrar disponível para conversar a respeito das dúvidas e curiosidades trazidas pelos alunos para a escola, respondendo as perguntas dos mesmos, no momento em que elas surgirem.

Na decorrência dos problemas detectados desde o Estágio Supervisionado, o que mais surpreendeu foi em relação ao alto índice de gravidez na adolescência, a falta de conhecimento que os alunos têm em relação a assuntos que, ao nosso ver, são de extrema importância, esclarecimentos esses que vão conduzir o jovem à maturidade e à responsabilidade no uso ou no exercício de sua sexualidade, proporcionando-lhe uma visão global e integrada da mesma, mostrando-lhe as consequências e a responsabilidade de seus atos.

A família deixa muito a desejar nessa tarefa, que a primeira instância é dela, mas por se julgar incapaz, ou por inibição, deixa de cooperar com a escola e acaba deixando a orientação dos filhos a mercê de fontes informais.

Em função dessa problemática, torna-se imprescindível a investigação do assunto, embasados em conhecimentos científicos, através de teorias, que sugerem diversas alternativas no campo educacional, que tem por finalidade dar sentido positivo responsável à sexualidade humana. Propõe-se então, para nortear essas metas, algumas questões que servem para especificar de maneira precisa os caminhos que serão traçados na busca de esclarecimentos para o alvo da pesquisa:

— Como os professores devem desenvolver um trabalho de Orientação Sexual que promova a formação cidadã na escola?

— Quais as medidas que a escola deve tomar para orientar as crianças em relação à sexualidade?

— Que conhecimentos são necessários para que a escola exerça um papel significativo na formação dessas crianças?

A partir dessas questões, o objetivo deste TCC é possibilitar aos profissionais da educação, pais e sociedade que é possível a realização de um trabalho desse porte e resgatar conhecimentos sexuais com informações corretas, através do processo educativo, que contribuirão para o bem-estar das crianças e adolescentes na vivência de sua sexualidade atual e futura.

Para viabilizar a investigação do estudo em questão, foi realizada uma pesquisa de campo de estudos teóricos, através de uma abordagem qualitativa e quantitativa, utilizando questionário com perguntas abertas e fechadas envolvendo 06 (seis) professores, 48 (quarenta e oito) alunos de 4ª a 6ª séries do Ensino Fundamental e 25 (vinte e cinco) pais, que forneceram informações necessárias para o desenvolvimento do nosso estudo.

O lócus da pesquisa foi a Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Francisco Nunes.

Após a coleta dos dados em campo, os dados qualitativos receberão uma análise descritiva do conteúdo, baseada nas questões abertas dos instrumentos de pesquisa. Os dados quantitativos foram organizados em tabelas ou gráficos com tratamento estatístico.

Desse modo, este TCC está assim estruturado: o primeiro capítulo trata da fundamentação teórica, momento em que se faz uma confluência com as referências dos autores Egypto, Castro e Silva, Wereb, Fernandes, PCNs e outros, referentes à temática “Orientação Sexual: Um Tema Necessário ao Currículo Escolar”. O segundo capítulo apresenta o resultado da pesquisa de campo. O terceiro capítulo consta de uma proposta de intervenção para a instituição pesquisada e, finalmente, as considerações finais.

2. ORIENTAÇÃO SEXUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL NA ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL PROFESSOR FRANCISCO NUNES

2.1 ORIENTAÇÃO SEXUAL: POSSIBILIDADE DE MUDANÇA NA ESCOLA

Orientação Sexual é o conjunto dos caracteres especiais do que tem sexo. Instinto sexual é a qualidade do que é sexual. Para Castro e Silva, a Orientação Sexual deve ser compreendida como um processo de intervenção sistemático e contínuo, realizado na escola, com o envolvimento de toda a comunidade escolar, assegurando ao aluno espaços necessários para receber uma informação clara e precisa, através de conceitos, que o levem à construção do pensamento, à reflexão de valores, para chegar a uma ação autônoma e criativa.

Hoje, no Brasil, diferentes grupos estão construindo sua metodologia de trabalho nesta área, nem sempre utilizando o termo Orientação Sexual para designar sua ação educativa.

A formação do educador sexual deve ser focada no sentido de preparar as pessoas em nível de conhecimento, metodologia e postura para trabalhar na escola com um tema que é ainda polêmico na sociedade. As diversas instituições públicas e particulares, incluindo ONGs e fundações, que vêm desenvolvendo processos de educação sexual, estão propondo interessantes e diferentes programas de formação de educadores. Espera-se que em pouco tempo tenhamos o início de uma síntese desses diversos processos, construindo-se um cabedal sólido de conhecimentos a partir do qual novos questionamentos surgirão, criando-se uma forma dinâmica e consistente de subsidiar esta área educacional.

A resposta pode ser buscada em Maria José Wereb (1977), uma das primeiras referências para a Educação Sexual no Brasil, cujos pressupostos básicos auxiliam o pensar sobre a Orientação sexual hoje. Sua definição de Educação Sexual é a seguinte:

A Educação Sexual, tomada num sentido mais amplo, compreende todas as ações, diretas ou indiretas, deliberadas ou não, conscientes ou não, exercidas sobre um indivíduo ao longo de seu desenvolvimento, que lhe permite situar-se em relação à sexualidade em geral e a sua vida sexual. (WEREB, 1977, p. 11)

Outra referência indispensável é Carmem Barroso (1982), que nos coloca a importância do trabalho com valores e atitudes, tanto para com o aluno como para com o professor, objetivando um significado mais abrangente e profundo no processo educacional. Ela afirma:

É importante que um programa de O. S. se apóie no conhecimento do universo de valores, atitudes e informações, subjacentes aos comportamentos dos estudantes e de seus professores, não limitando seus objetivos a questões de reprodução e incluindo uma questão do significado mais amplo da sexualidade para o indivíduo e para a sociedade. (BARROSO, 1982, p. 18)

As autoras apontam os princípios fundamentais para nortear todo e qualquer trabalho na área da sexualidade humana, aos quais acrescento alguns pontos que, ao meu entender, são como centros circuladores da reflexão e da ação, pois podem fazer fluir ou estagnar a ação educativa.

Trata-se da comunicação, que é especial no trabalho sobre sexualidade humana. Outro ponto que pode ser acrescentado é a atenção à personalidade do educador/educando no aspecto de construção de sua identidade.

O terceiro acréscimo seria o auto (re)conhecimento diante da construção de novos conhecimentos e novas formas de ver o mundo... Sexualidade é um tema que, necessariamente, coloca as diferenças de uma forma muito clara, e dessas diferenças deverão surgir conflitos, fator essencial na construção de novas ideias.

Entende-se que a sexualidade seja basicamente uma construção social datada, portanto, histórica, e que através do desvelamento gradual de seu conteúdo, o que passa necessariamente pela experiência pessoal e coletiva, se favoreça o contato com infinitas possibilidades da existência humana que se concretizam pela marca pessoal e singular. É uma sexualidade assim pensada e vivenciada que se faz indispensável no cotidiano do trabalho com os educadores e estes levarem para a escola e a comunidade.

A Orientação Sexual leva a escola a assumir o aluno e a aluna como seres humanos integrais, sexuados, pois não há possibilidade de haver humanidade sem sexualidade. Ao desejar-se oferecer educação integral como um direito que cabe ao aluno, como um ser humano, tem-se que reconhecer e atender as questões da sexualidade, que é parte da sua humanidade.

Alicia Fernandez (1990), psicopedagoga argentina, ensina que o corpo é o organismo permeado pela inteligência e pela cultura. O corpo é fundamental na aprendizagem.

Na escola, o que se faz, contradiz a afirmação de Fernandez, pois ali o corpo é exageradamente controlado, vigiado e normatizado, chegando a ser totalmente ignorado na sua maturação sexual.

Muitas vezes, o adolescente e a adolescente não têm acesso às informações claras, em questões de sexualidade, pois a escola é um dos lugares em que o adolescente tem possibilidade de acesso às informações claras, honestas e democráticas nas questões de sexualidade. Informações que podem propiciar uma compreensão sobre eles mesmos, como mulheres e homens que são. Reconhecer as questões de gênero, nesse momento de vida, pode lhes assegurar uma visão nova do mundo feminino e masculino, possibilitando-lhes mudanças.

A escola é um dos lugares possíveis de se conhecer o mundo. Conhecer, através do prazer, garante a transformação das informações em conceitos incorporados.

Quando a sexualidade passa a ser reconhecida e incorporada nos trabalhos da escola, começam a se modificar as condições de aprendizagem, os novos conceitos levam às mudanças de visão de mundo, de entender o ser humano e a própria vida.

2.2 ORIENTAÇÃO SEXUAL NA ESCOLA

Segundo Egypto, a sexualidade está presente em nossa vida desde que nascemos até a morte.

A mesma acontece diariamente. De uma forma ou de outra, estamos sempre sendo educados sexualmente, em casa ou nos demais lugares por onde passamos, mesmo com a postura de nossos pais. Por meio de programas de televisão, lendo alguma reportagem em revistas e jornais, estamos sempre recebendo informações e muitas ideias, às vezes até preconceituosas a respeito da sexualidade. E, ainda que não pareça, mesmo quando não falamos sobre sexo, estamos admitindo que sexo é algo proibido. Ainda que reprimindo e omitindo, de alguma forma, estamos educando as pessoas sexualmente. Porém, a escola, via de regra, por incapacidade ou por dificuldade de lidar com o assunto, leva-nos a fazer a seguinte pergunta: Está a sexualidade presente dentro da escola? Está, sim. Só que fica à margem do que a escola faz, ou seja, ela se expressa nos intervalos entre as aulas, na hora do recreio, nos bilhetinhos, nas conversas paralelas durante as aulas, nas reações dos alunos, diante do que está acontecendo, enquanto se está estudando.

A sexualidade está presente na escola assim como em vários outros lugares, porém, se a escola se omite a trabalhar o assunto, está permitindo que essa sexualidade continue a ser tratada só informalmente pelo que acontece em casa, na rua ou recebe da mídia.

Diante disso, quando nos omitimos ou quando a escola fica alheia às questões da sexualidade?

Estamos deixando os jovens na dependência de fontes informais. O jovem pode até ter uma família adequada e receptiva, que seja capaz de prover um diálogo. Pode até encontrar pessoas interessantes entre seus colegas, que possam ajudá-lo a responder as ansiedades e lacunas, mas há de se convir que isso é improvável. Daí a importância que a escola possui no sentido de trabalhar sistematicamente a questão da sexualidade. Não é uma responsabilidade somente da família. É importante destacar que a família tem um papel primordial, porém, se a escola não participar, vai deixar o jovem a mercê das experiências, que, provavelmente, não vão dar conta dos medos, das ansiedades, das dúvidas e dos questionamentos que vão se desenvolvendo ao longo de sua vida.

Para diferenciar o trabalho sistemático da escola desse processo informal, é utilizada a denominação “Orientação Sexual”.

Pelo conceito da Organização Mundial de Saúde, emitido em 1975:

A sexualidade forma a parte integral da personalidade de cada um. A sexualidade não é sinônimo de coito e não se limita à presença ou não de orgasmo. A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações, tanto à saúde física como à mental. (Egypto, ano, p.)

Se a saúde é um direito fundamental do ser humano, a saúde sexual também deveria ser considerada como um direito humano básico.

Quando o assunto é sexo, não se deve falar apenas no aspecto genético ou biológico, mas essencialmente pensar na sexualidade total, ou seja, uma sexualidade de homem inteiro, a única capaz de preparar o indivíduo para conhecer seu corpo. A escola é um lugar onde se está produzindo diálogo e reflexão, é um lugar privilegiado para falar sobre a sexualidade com crianças e adolescentes.

Na medida em que a escola se nega ou não consegue se capacitar, ela reforça a ideia de que a sexualidade não faz parte do conhecimento humano. Ela transmite a pseudo-informação de que a sexualidade é mesmo para se aprender na rua, como uma coisa suja e informal aprendida de qualquer jeito. Reservamos um espaço específico para aprender Geografia, História, Matemática, Português, etc., e não reservamos um espaço para discutir questões que estão afetando diretamente a vida dos jovens, como: sexualidade, drogas, além do próprio desenvolvimento psíquico-social do adolescente. Estamos dando status diferentes às informações discutidas na escola, estamos dizendo que é importante ter o domínio do próprio corpo, e, se o assunto permanecer à margem, se ficar em momentos eventuais, não tem maior significado na vida dos alunos. É evidente, que esse trabalho pode ser feito na área da saúde, mas a escola é um espaço onde as crianças e os adolescentes convivem por muito mais tempo.

A escola é, portanto, o melhor lugar para que esse trabalho aconteça. É importante discutir a questão da sexualidade, não só pelas dificuldades históricas, que todos conhecemos (repressão, censura, discriminações de gênero, preconceito), mas porque hoje a desinformação é muito grande. Nunca se falou tanto em sexo como atualmente, e nunca se mostrou, pelo menos no Brasil, tanta coisa a respeito de sexo, mas não existe espaço para a reflexão. Há tanto estímulo, muita excitação, mas pouca ou nenhuma informação. As crianças e os adolescentes não conseguem se situar no espaço e no tempo quando o assunto é sexo e ficam respondendo àquela sexualidade “erótica”. A sexualidade, que é passada pelos meios de comunicação é consumista e excitante, atrai e estimula crianças e adolescentes.

Os índices de audiência de programas televisivos perversos, onde o sexo é escancarado, mostram isso. Os adolescentes e até mesmo as crianças são platéia garantida. E recebem com isso muito estímulo e nenhuma reflexão. O que a escola tem que fazer? Provocar essa reflexão e o espírito crítico naquilo que é consumido pelos jovens; passar, com mais clareza, como evitar problemas na questão da gravidez precoce e a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. Sabemos que há muita desinformação, muita coisa não se sabe a respeito do corpo. É importante ajudar a decodificar as mensagens dos meios de comunicação por meio de visão crítica.

É importante que o trabalho da escola ajude a refletir e a debater valores, porque esses valores não são passados só pela família, mas por todos esses outros meios e geralmente não são explicitados. O ideal seria que a família sempre conseguisse explicitar no que ela acredita e porque acredita.

Não é fácil, é complexo e exige um trabalho continuado. As aulas de Biologia e de Ciências sempre discutiram a questão do corpo humano, mas de forma completamente assexuada, por meio de cartazes laterais que mostram os órgãos. Ali não se discute. Aquelas gravuras não representam um corpo que tenha a ver com as crianças e com os jovens. O que acontece com o corpo dele não aparece naquelas gravuras.

É fundamental que a escola possa ajudar na formação da identidade e possibilitar um desenvolvimento de harmonia. A sexualidade é fator essencial na questão da identidade: o ser menina ou ser menino, o que é ser homem ou ser mulher, os comportamentos e ações de cada gênero. Essas são as primeiras questões que aparecem para as crianças na escola e tem a ver com essa identidade básica. A Orientação Sexual na escola tem ajudado a abrir canais de participação e de comunicação na medida em que usa metodologia participativa, estimula o jovem a dizer o que pensa. Além disso, também pode levar questionamentos para casa, porque é evidente que muitas vezes existam diferenças na visão da escola e na família. É importante que essas diferenças existam, porque à família cabe direcionar o que é certo e o que é errado, e quais os valores que ela acredita. A escola faz outro papel, que é de ampliar a conversa e colocar tudo em discussão.

2.3 A ORIENTAÇÃO SEXUAL E OS PCNs

A Orientação Sexual na escola, junto com outros temas propostos nos Parâmetros Curriculares Nacionais do MEC, ajuda na formação da cidadania, que hoje é eixo fundamental de preocupação da escola. A Orientação Sexual na escola pode ser concebida como uma intervenção pedagógica que favorece a reflexão sobre a sexualidade, problematizando os temas polêmicos, favorecendo a ampla liberdade de expressão em ambiente acolhedor que visa promover o bem-estar sexual.

De acordo com os PCNs (1997), a problematização de temas polêmicos e a grande dificuldade de conversar na escola sobre homossexualidade, aborto, prostituição, pornografia, abuso sexual, etc., está entre os papeis designados à escola na orientação e apresentação de diferentes visões, bem como colocar valores em discussão. Daí a importância da Educação Sexual estar incluída no currículo escolar, se possível, como disciplina prioritária.

A questão da Orientação Sexual vai muito além de conhecer por onde caminha o espermatozóide, como ele se encontra com o óvulo, isso nem o professor de Ciências é capaz de ensinar com tanta facilidade, discutir o que está envolvido no aborto, na homossexualidade é completamente diferente, e traria impactos mais significativos na formação docente.

A Orientação Sexual está concebida como tema transversal ao longo do Ensino Fundamental e possui espaço específico. É necessário que haja trabalho planejado e sistematizado para todos os alunos da escola e não apenas para alguns que se interessam. Não é conversa ocasional, quando o assunto entra na roda. Não se pode limitar a informação, porque é importante produzir debate e reflexão. A informação é necessária, mas não é o suficiente. Deve existir um canal aberto permanente para debates. A ênfase é para que haja um processo ininterrupto, que não fique só na eventualidade. Por melhor ou mais elaborado que seja um processo eventual, não atinge os objetivos da Orientação Sexual, porque há questões que ocorrem para crianças pequenas, outros ocorrem na 4ª, 5ª e 7ª séries, etc. Às vezes, os professores alegam já terem discutido um assunto que é colocado em discussão novamente pelos alunos. Na verdade, não se trata do mesmo assunto, porque a fase que a criança está mudou e as necessidades são outras.

O autor sugere uma sistematização da Orientação Sexual de 1ª a 4ª séries do Ensino Fundamental, esse trabalho é transversalizado com base na observação e na demanda das crianças. Dispensa o espaço específico, porque geralmente um único professor toma conta de uma classe com muitos alunos e trabalhando todos os temas da escola. Assim, não há razão para se separar um determinado horário para a Orientação Sexual. Este professor precisa fazer um acompanhamento da classe e perceber as necessidades mais urgentes das crianças de forma instantânea. Isso pode acontecer das formas mais naturais possíveis, numa brincadeira, num exercício que não tem nada a ver com o assunto, se o professor estiver preparado, será capaz de aproveitar o momento oportuno.

Geralmente os professores não estão preparados para lidar com situações de sexualidade. Quem é professor primário geralmente sabe que criança pequena muitas vezes se masturba em plena sala de aula. Em geral, os professores fogem do assunto, fingem que não viram, não conseguem falar do assunto, não conseguem lidar com aquilo. É preciso abordar a criança, conversar com ela, investigar o que sente, esclarecer sobre o que é intimidade, mostrar que tudo tem sua hora e seu lugar.

A ideia não é que se inicie a aula dizendo: “Hoje não teremos aula de Geografia”, e sim dizer: “Hoje vamos falar de um tema: a Sexualidade”. Por exemplo, pode-se discutir a incidência de AIDS nas áreas rurais e urbanas, em diferentes pontos do mundo, porque ela é maior em uma determinada região do que em outra. Desta forma, o tema será iniciado naturalmente.

A sexualidade está em tudo, até nos números das estatísticas. Questões amorosas estão na base da literatura. O corpo humano é matéria de estudo da Biologia.

A transversalidade, porém, não dispensa a existência de um espaço específico para trabalhar com a sexualidade, que começa com um levantamento dos interesses dos alunos.

Procura-se obter deles aquilo que eles querem saber e discutir. Não é uma aula de perguntas e respostas, porque não vai dar uma noção integrada do tema.

Não é uma matéria que se atribui nota e a atitude do aluno é avaliada para efeito de aprovação. A ação pedagógica, um contato de trabalho, onde temos de conversar um pouco sobre o que é aquele espaço, como funciona, para garantir sigilo, respeito ao outro, respeito às diferenças e oportunidades de participação de todos.

As aulas são participativas, dando vez e voz ao aluno, problematizando e construindo conhecimento.

É importante selecionar o material didático, que abra discussão e ajude a levantar questões possibilitando a reflexão. O material didático não é para dar resposta, mas para abrir debates. O trabalho de Orientação Sexual na escola integra o projeto pedagógico, não é algo que um professor faça isoladamente, porque resolveu, e tem que ser discutido pela equipe, mas exige planejamento.

A Orientação Sexual precisa de apoio institucional declarado à escola devendo existir comunicação e debate nos diferentes setores do conhecimento de ensino, bem como a participação de pais e mães no processo. (PCNs, 1997).

Eles devem ser informados do que está sendo feito, não para que se faça do jeito que eles querem, mas para que conheçam, colaborem e participem junto com a escola.

O que precisa ficar claro é que o professor não tomará para si a responsabilidade que é dos pais, pois eles devem participar muito mais do processo de aprendizagem do aluno.

Temos que destacar que, escola e família têm papeis diferentes e complementares na preparação da criança. Uma não substitui e nem exclui a outra.

Há situações em que a família se preocupa com este tipo de informação e que essas aulas passem a estimular e despertar a curiosidade sexual. Neste caso, fica subentendida a ideia de que a “ignorância” sobre o tema possa frear o desejo sexual ou suas manifestações.

Esta ignorância não protege e nem justifica o que possa acontecer no futuro, ao contrário, torna a pessoa mais vulnerável.

Qualquer que sejam os temas escolhidos pelos alunos, ou que estejam presentes nas diferentes matérias, os eixos básicos do trabalho envolvem o corpo erótico e reprodutivo, matriz da sexualidade. Um corpo que tem sensações, que sente prazer e desejos. As relações de gêneros, que são muito importantes, visam a equidade de direitos entre homens e mulheres.

A prevenção das DSTs é elemento indispensável e urgente nos tempos atuais. Esses eixos têm que estar presentes nas discussões da sexualidade na escola.

Claro que, um trabalho de Orientação Sexual na escola não irá eliminar por completo o risco de acontecer uma gravidez na fase da adolescência, até porque acontece em alguns casos de a própria adolescente engravidar por vontade própria.

O trabalho não é diretivo. Não se pode chegar em sala de aula dizendo: “você não vai engravidar”, mas esclarecendo e trabalhando questões como: O que significa engravidar? O que significa contrair uma doença? Quais os métodos anticoncepcionais mais eficazes? O trabalho de Orientação Sexual ajuda na conscientização do problema, a encarar a resistência, as dificuldades e riscos, a superar preconceitos? Enfim, pode quebrar alguns tabus, mas não pode garantir que o comportamento de adolescentes mude de forma imediata e surpreendente.

A escola tem que assumir institucionalmente o compromisso incorporando o tema ao seu projeto pedagógico, que implica posicionamento claro da direção e da equipe técnica.

Essa equipe deve passar por um processo de capacitação, que trabalhe postura, metodologia e dinâmica para os temas transversais, dando ênfase ao tratamento dos temas sociais, polêmicos e aos eixos norteadores da atividade (corpo-gênero-DST/AIDS).

O trabalho de Orientação Sexual supõe um trabalho contínuo, sistemático e regular, que acontece ao longo de toda a seriação escolar. Deve começar na Educação Infantil e se estender até o final do Ensino Médio. Espera-se que ultrapasse os limites da sala de aula para se tornar objeto de reflexão e debate na comunidade escolar.

Não é raro que isso aconteça, porque, ao mesmo tempo em que a implantação da Orientação Sexual na escola representa um desafio que assusta muitos gestores e educadores, também envolve e apaixona a muitos. Ao assumir o projeto e incluir na sua proposta pedagógica, a responsabilidade passa a ser de todos e não apenas de uma pequena equipe. A partir daí, poderá ser possível obter o apoio necessário da direção e do corpo docente para que a escola fale a mesma linguagem e compartilhe de uma missão comum sobre a sexualidade humana.

Os temas que serão tratados variam bastante e atendem a demanda dos alunos. São escolhidos por eles, os menores manifestam suas ações, desenhos, histórias, perguntas, os maiores explicitando os temas, que mais os preocupam e causam polêmicas. Tratar-se-á ternas como, de onde viemos e como nascem os bebês até contracepção, aborto, homossexualidade, abuso sexual, etc.

Na Educação Sexual e no Ensino Fundamental até a 4ª série, o professor deve estar preparado para atuar com as crianças, sempre que a questão surgir, mesmo que de forma imprevisível.

O tema sexualidade mexe muito com as pessoas, desestabiliza alguns, provoca resistência em outros. Envolver toda a comunidade escolar já é uma tarefa complexa e que propõe um processo longo e cuidadoso. A Orientação Sexual na escola não deve ser confundida com eventuais palestras familiares, é um processo artesanal e elaborado, onde se constrói conhecimento, cidadania e mudança social. Este tema veio para se incorporar de forma definitiva à escola, além de ser uma questão social urgente e central na vida das pessoas.

 

 

2.4 PROJETOS DE ORIENTAÇÃO SEXUAL NA ESCOLA

Um dos fatores mais importantes para garantir projetos dessa natureza é que a Educação Sexual esteja prevista no projeto anual da escola, e que contemple todos os alunos em suas diferentes faixas etárias. Evidentemente, o professor ou professora deve estar preparado para abordar essas questões, a partir do interesse e das possibilidades de compreensão própria de cada idade. Não existe uma receita infalível de como começar um projeto nestes modelos, mas uma coisa é certa: para muitas pessoas, a sexualidade ainda é um assunto difícil de ser tratado e com muita polêmica. Por isso, antes de iniciar a proposta, não custa nada se certificar de certos cuidados, tais como:

— Sensibilizar a direção da escola e outras instâncias de poderes, na instituição sobre a importância de um projeto desse porte.

— Informar e explicitar as propostas do trabalho a todos os funcionários.

— Falar da importância do projeto e de outras experiências bem sucedidas que conheceram; pedir sugestões e abrir espaço de discussão do projeto e de dúvidas pessoais.

Inicialmente se faz importante uma reunião com os pais, esclarecimentos das propostas e dos objetivos. Deixar o material que será utilizado acessível para quem quiser conhecê-lo e abrir espaço para discussão, tanto durante a reunião quanto em particular, caso seja necessário.

Essas medidas funcionam como uma garantia de que todos estarão comprometidos com o processo.

A presente proposta de Orientação Sexual se caracteriza por trabalhar o esclarecimento e a problematização de questões que possibilitem a reflexão e a ressignificação das informações, emoções e valores recebidos e vividos no decorrer da história de cada um. Ressalta-se também a importância de se abordar a sexualidade da criança e do adolescente não somente no que tange aos aspectos biológicos, mas também e principalmente, aos aspectos sociais, culturais, políticos, econômicos e psíquicos dessa natureza.

O trabalho de Orientação Sexual implica no tratamento de questões, que nem sempre estarão articuladas com as diversas áreas do currículo, seja porque se trata de questões singulares que necessitam, então, de um tratamento específico, seja porque permearão o dia-a-dia na escola das mais diferentes formas, surgindo de maneira emergente, e exigindo do professor flexibilidade e disponibilidade para trabalhar essas questões.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), este processo deverá, portanto, dar-se de duas formas: “Dentro da programação por meio dos conteúdos já transversalizados nas diferentes áreas do currículo e extraprogramação, sempre que surgirem questões relacionadas ao tema”.

É importante que a escola possa oferecer um espaço específico dentro da rotina para essa finalidade.

O trabalho de Orientação Sexual pode ser prolongado com maior detalhamento, tendo como ponto de partida a montagem do programa feito por cada turma. Cabe ao educador responsável a organização dos temas (a partir das questões trazidas pelos alunos) e a inclusão de tópicos essenciais por vezes não levantados pelos jovens (prevenção a Doenças Sexualmente Transmissíveis, por exemplo) e o estabelecimento de regras necessárias ao trabalho. Essas regras devem garantir a privacidade de cada um.

Ao definir o trabalho de Orientação Sexual como uma de suas competências, a escola o estará incluindo ao seu projeto educativo. Isso significa uma definição clara dos princípios que deverão nortear o trabalho de Orientação Sexual e sua explicitação para toda comunidade escolar envolvida no processo educativo dos alunos.

Esses princípios determinarão desde a postura que se deve ter em relação a questões ligadas à sexualidade e suas manifestações até a escolha de conteúdos a ser trabalhados junto com os alunos. A coerência entre os princípios adotados e a prática cotidiana da escola deverá pautar todo o trabalho.

Para garantir essa coerência, ao tratar de temas associados a tão grande multiplicidade de valores, a escola deverá estar consciente da necessidade de se abrir um espaço para a reflexão como parte do processo de formação constante de todos os envolvidos no processo educativo.

A vivência da sexualidade em cada indivíduo inclui fatores oriundos de ordens distintas.

“Aprendizagem, descoberta e invenção”. Um bom trabalho de Orientação Sexual deve se nortear pelas questões que pertencem à ordem que pode ser aprendida socialmente, preservando, assim, a vivência singular das infinitas possibilidades da sexualidade humana. Assim, buscou-se relacionar os conteúdos, segundo os critérios:

— Relevância sócio-cultural, isto é, conteúdos que correspondem às questões apresentadas pela sociedade no momento atual.

— Consideração às dimensões biológicas, psíquicas e sócio-culturais da sexualidade, buscando contemplar uma visão ampla e não-reducionista das questões que envolvem a sexualidade e sem desenvolvimento no âmbito pessoal.

— Possibilidade de conceber a sexualidade de forma saudável, prazerosa e responsável.

Os conteúdos de Orientação Sexual podem e devem ser flexíveis de forma a abranger as necessidades específicas de cada turma, a cada momento. Como decorrência, podem-se encontrar programas de Orientação Sexual bastante diversificados, que incluem tópicos, como pornografia, prostituição, abuso sexual, métodos contraceptivos, desejo sexual, transformação do corpo na puberdade, iniciação sexual, menstruação e outros mais. A presente proposta de Orientação Sexual responde à necessidade de eleger tópicos que devem estar presentes em qualquer programa de Orientação Sexual, de forma a garantir informações e discussões básicas sobre sexualidade.

Esses conteúdos devem possibilitar a abordagem dos diferentes assuntos, que variam de acordo com a faixa etária, cultura regional e fatos veiculados pela mídia ou vividos por uma dada comunidade. O desafio que se coloca é o de dar visibilidade a esses aspectos considerados fundamentais.

Os blocos (corpo: matriz da sexualidade, relação de gênero e prevenção a Doenças Sexualmente Transmissíveis/AIDS) foram definidos para os quatro ciclos do Ensino Fundamental, ao passo que os conteúdos especificados em cada bloco referem-se aos dois primeiros ciclos e já se encontram transversalizados, isto é, contemplados pelas áreas. Estão destacados para garantir a compreensão do tema de forma integral, e favorecer a reflexão e articulação do trabalho de Orientação Sexual.

Ao fechar este primeiro capítulo, sintetizar, que, no trabalho de Orientação Sexual, estamos sempre envolvidos com os conceitos de sexualidade e aprendizagem, pois são os fios condutores de nossa reflexão e ação.

3. CARACTERIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO

A Escola Municipal de Ensino Fundamenta Professor Francisco Nunes é de médio porte e funciona com uma clientela de 783 (setecentos e oitenta e três alunos), distribuídos desde a 1ª série até a 8ª série, tendo como unidade mantenedora a SEMEC (Secretaria Municipal de Educação), atendendo em dois turnos: matutino, com 10 (dez turmas) com média de alunos por sala de 35 (trinta e cinco) a 40 (quarenta) alunos e; vespertino, funcionando com 10 (dez) salas e a mesma média de alunos por sala. Conta com uma equipe de trabalho qualificada: 01 (uma) diretora, 01 (um) orientador pedagógico, professores, 01 (uma) secretária, auxiliares de secretaria, serventes e vigias.

A estrutura física conta com 10 (dez) salas com tamanho proporcional a quantidade de alunos, cozinha, pátio recreativo coberto, banheiros, sala de professores, biblioteca, sala de vídeo e leitura. É um prédio construído, bem localizado geograficamente e em boas condições físicas de uso.

A avaliação transcorre de forma quantitativa e qualitativa. Apesar dos esforços, alguns professores estimulam os alunos a expressarem suas ideias, enquanto outros permanecem usando uma pedagogia tradicional, necessitando de uma quebra de paradigma.

A escola possui Conselho Escolar, participa dos programas e projetos do Governo Federal, como: PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, PDDE – Programa Dinheiro Direto na Escola e PDE – Programa de Desenvolvimento Escolar, cujo objetivo é desenvolver um aprendizado eficaz, de forma que não ocorra o fracasso escolar, já que a escola recebe verbas anuais destinadas à compra de equipamentos eletrônicos, materiais de consumo, materiais didáticos e pedagógicos, com o fim de dinamizar a prática educativa na escola.

Atualmente, a escola tem sido dirigida pela professora Kelly Cristine Ladeia Higino, que vem trabalhando em parceria com os demais professores no intuito de que o processo de ensino-aprendizagem seja evidenciado na sociedade.

Foi escolhida essa escola para a realização desta pesquisa, porque já vinha sendo feito um trabalho de acompanhamento desde o início do Estágio Supervisionado.

Através dessa observação, foi constatado que há uma grande carência de informação sobre Orientação Sexual para as crianças e adolescentes que frequentam a instituição escolar.

Apesar da escola já desenvolver algumas iniciativas sobre o assunto, trazendo profissionais que realizam palestras, a escola está longe de suprir as reais necessidades ligadas à sexualidade.

3.1 ANÁLISE DOS DADOS

Os dados obtidos para a elaboração da análise desta pesquisa foram realizados através de questionários com perguntas abertas e fechadas com seis professores e vinte e cinco alunos de 4ª a 6ª série do Ensino Fundamental da Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Francisco Nunes. Os pais foram vinte e cinco, haja vista que se precisou obter informações a respeito dos trabalhos e atividades desenvolvidas na escola, as quais contam com suas participações.

A pesquisa de campo e as respostas obtidas abrangem os seguintes aspectos: Esclarecimento e a problematização de questões que favoreçam a reflexão, ressignificação das informações, emoções e valores recebidos e vividos no decorrer da história de cada um; a importância de se abordar a sexualidade da criança e do adolescente nos aspectos biológicos, sociais, culturais, políticos, filosóficos, econômicos e psíquicos dessa sexualidade.

Os dados qualitativos se encontram em forma de questionário, em que estão evidenciadas as respostas obtidas através da técnica da pesquisa. Em seguida, esses dados foram organizados levando em consideração as respostas fornecidas pelos entrevistados na sua íntegra.

As perguntas foram direcionadas com o objetivo de analisar qual a opinião e o grau de informação em relação à sexualidade, quais os interesses dos educadores, além de verificar o nível de conhecimento dos alunos, de que forma os pais podem complementar o trabalho da escola, qual é realmente a opinião de ambas as partes para o bom desempenho da Orientação Sexual na escola. Vejamos, a seguir, as respostas envolvendo os sujeitos da pesquisa.

2.2.1 Categoria: Pais

Participaram desta pesquisa 25 (vinte cinco) pais com idade entre 30 e 54 anos, sendo 10 (dez) do sexo masculino e 15 (quinze) do sexo feminino, ambos exercem profissões e escolaridades diversificadas.

Ao analisar o perfil dos pais, foi observado algo em comum: nenhum deles está suficientemente preparado para diálogos mais abertos com os filhos sobre assuntos relacionados à sexualidade. Para ambos, a escola deve fazer esse papel, por estar mais bem preparada para essa tarefa e missão.

Em seguida, foi perguntado aos pais:

1 – Qual a sua opinião em relação à Orientação Sexual na escola para adolescentes?

— “Necessária, desde que sejam orientados conforme a Bíblia”.

— “Concordam, desde que sejam orientados por pessoas preparadas”.

Diante do exposto, pôde ser observado que os pais concordam com a inclusão do tema “Sexualidade” na grada escolar, desde que sejam orientadas por pessoas capacitadas, já que os mesmos não conversam com os filhos sobre sexualidade por falta de conhecimento ou por vergonha e concordam que o melhor lugar para esse tipo de orientação é a escola.

 

 

Gráfico 1 – Você costuma conversar com seus filhos sobre sexualidade?

 

 

No gráfico acima, vê-se que 40% dos pais responderam que “sim”, que já falaram alguma coisa em relação à sexualidade, mas disseram também que gostariam de ter mais esclarecimentos sobre o assunto. 30% responderam que nunca conversaram com os filhos sobre o assunto por vergonha ou por falta de esclarecimentos mais adequados. Os outros 30% reconhecem que só conversam às vezes e sobre coisas simplesmente superficiais.

A princípio, acredita-se que a família não queira a abordagem dessa questão na escola, mas, atualmente, devido às circunstâncias, sabe-se que os pais reivindicam a Orientação Sexual nas escolas, pois reconhecem não só a importância para as crianças e adolescentes, mas principalmente a dificuldade de falar abertamente sobre o assunto em casa.

Foi questionado também:

3 – Como os pais devem orientar seus adolescentes na formação sexual?

— “Mostrando a realidade da vida”.

— “Esclarecendo as dúvidas, falando abertamente sobre as Doenças Sexualmente Transmissíveis/AIDS e dos métodos contraceptivos”.

— “Conversar sobre as consequências de uma gravidez indesejada”.

Observando o que foi acima colocado, conclui-se que os pais pesquisados dizem que os adolescentes devem ser orientados através de conversas francas e abertas, sem insegurança e com naturalidade, mas concordam não ser fácil falar de assunto tão complexo e delicado.

2.2.2 Categoria: Professores

Participaram dês pesquisa 06 (seis) professores, com idade de 25 a 40 anos, sendo um com curso de Magistério e cinco com o ensino superior completo, 03 (três) do sexo masculino e 03 (três) do sexo feminino, todos com mais de cinco anos de profissão.

Ao analisar o perfil dos educadores na amostragem desta pesquisa, foi observado que todos concordam com a inclusão do tema Orientação Sexual no currículo escolar e com o apoio dos pais definindo os princípios educativos que muito ajudarão cada professor, em particular, nessa difícil tarefa. Para eles, também é necessário que os educadores tenham uma preparação didática para que possam trabalhar um assunto tão delicado, com informações e esclarecimentos adequados.

Assim, foi perguntado:

1 – Como os professores devem desenvolver um trabalho de Orientação Sexual que venha contribuir e desenvolver atitudes coerentes a sua formação enquanto cidadão?

— “De forma clara e objetiva”.

— “Que o profissional participe de uma capacitação sobre o assunto”.

— “Desenvolver um trabalho consciente com os adolescentes”.

Observa-se que os professores pesquisados concordam com a inclusão de Orientação Sexual no currículo escolar; dizem ser um tema necessário e urgente, mas ambos concordam que nenhum professor está preparado para o trabalho com assuntos relacionados à sexualidade e que para tal necessitam passar por um processo de formação.

2 – Quais as medidas que a escola deve tomar para orientar as crianças em relação à sexualidade?

— “Engajar as famílias e os educandos em palestras de esclarecimentos sobre a sexualidade”.

— “Preparar os professores para que os mesmos sejam capazes de realizar uma orientação sexual que venha conscientizar os educandos”.

Analisando as respostas, foi observado que os professores gostariam que a família também se preparasse com conhecimentos adequados ao tema, para que não deixe a responsabilidade da formação sexual de seus filhos só para a escola. É importante que ambas falem a mesma língua. Ambas têm papeis diferentes, mas uma completa a outra.

3 – Que conhecimentos são necessários para que a escola exerça um papel significativo na formação sexual dessas crianças?

— “Conhecendo a realidade dos alunos e desenvolver um trabalho com a conscientização em geral”.

— “O professor deverá estar preparado para trabalhar a questão da sexualidade no momento em que ela acontece”.

Analisando o quadro, foi observado que os professores pesquisados responderam que deve haver um diálogo mais aberto entre escola e a família, para que os professores conheçam a realidade dessas crianças e adolescentes e que não só os professores devem estar preparados para trabalhar as questões relacionadas à sexualidade, mas toda a comunidade escolar.

2.2.3 Categoria: Alunos

Direcionada a 48 (quarenta e oito) alunos matriculados na 4ª e 6ª séries, com idade entre 12 a 17 anos do Ensino Fundamental da Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Francisco Nunes, no turno diurno, sendo 20 (vinte) do sexo masculino e 28 (vinte e oito) do sexo feminino.

A sala de aula, ampla e arejada, composta de 40 (quarenta) cadeiras, 02 (dois) ventiladores, 01 (um) mural, 01 (um) quadro negro e cartazes com atividades diversificadas.

Durante a aula, além da acadêmica Maria Ilza de Oliveira, estava presenta a professora da turma Leila Rodrigues e a diretora da escola Kelly Cristine Ladeia Higino.

Foi desenvolvida com os alunos uma aula de Ciências envolvendo questões do corpo humano. A turma é composta por alunos com idades e necessidades diferenciadas, onde muitos são curiosos e trazem consigo muitas dúvidas.

As atividades foram as seguintes:

— Conversa informal;

— Dinâmica de grupo;

— Debates;

— Questionário com perguntas abertas e fechadas;

— Atividades lúdicas;

— Cartazes;

— Observação de uma fita de vídeo sobre Orientação Sexual: “O corpo humano”.

Entre as atividades que foram desenvolvidas, como critério de análise, foram usadas algumas perguntas abertas e fechadas com o intuito de se analisar os conhecimentos dos mesmos em relação a assuntos relacionados à sexualidade. Então, foram obtidas as seguintes respostas:

1 – O que você entende por sexualidade?

— “Não sei o que quer dizer”.

— “É uma coisa que não podemos fazer”.

— “Pode ser usada, mas não podemos fazer”.

— “Não sei explicar”.

Os alunos demonstraram grandes dificuldades em decodificar as mensagens, confundem termos e dão sentidos contrários às perguntas. Isso demonstra o quanto eles estão confusos em questões relacionadas à sexualidade.

2 – Você sabe o que são Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST/AIDS)?

— “Gostaria de saber mais”.

— “Não sei o que é”.

— “É a AIDS?”.

— “É doença que a gente pega no sangue”.

Foi verificado, através das respostas dos alunos, que eles já ouviram falar das doenças, mas nunca foram informados de forma correta, ouviram falar informalmente.

3 – Que método de prevenção você conhece?

— “Camisinha”.

— “O que é prevenção?”.

— “Camisinha”.

— “Camisinha”.

Foi observado que todos os alunos já ouviram falar de “camisinha”, mas eles não têm consciência do que realmente quer dizer a palavra “prevenção”.

 

 

Gráfico 2 – O que você achou da aula sobre Orientação Sexual?

 

Analisando graficamente a questão, constata-se que 30% dos alunos pesquisados responderam que seria ótimo se a escola tivesse no seu currículo aulas sobre Orientação Sexual, pois acham que a escola é o melhor lugar de se informar e discutir assuntos que muitas vezes não são discutidos na família. 15% dos alunos pesquisados consideram a aula como boa e consideraram que seria muito bom se a escola abrisse um espaço para falar e esclarecer dúvidas sobre sexualidade. E outros 55% consideraram a aula diferente, mas importante, pois trata de temas associados à sexualidade, que são tão importantes quanto a ler e a fazer cálculos.

 


4. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

 

 

Ao processo de intervenção, a Educação Sexual faz-se necessária numa interação entre alunos e professores, pois é no espaço da sala de aula que acontecem os grandes encontros, troca de experiências e discussões, afinal, os aspectos emocionais e afetivos são tão relevantes quanto os cognitivos. Sabe-se que grande parte dos adolescentes já ouviu falar alguma coisa sobre sexualidade, ainda que informalmente, mas nada que os levem a refletir de maneira correta. Foi pensando nessa problemática que se constatou a importância de direcionar a atenção para este tema: “Orientação Sexual”, buscando assim subsídios informativos que a Instituição Escolar possuía. O desejo que se alimentou ao longo deste importantíssimo projeto era de mostrar um trabalho que fosse o ponto de partida para a Orientação Sexual na escola e que seja um processo ininterrupto e não fique somente nas eventualidades.

A intenção, a priori, foi de conscientizar os docentes que o objetivo não é o de levar a antecipar o comportamento da vida sexual adulta, mas de ajudá-lo nessa fase vital de busca de maturidade que lhe é própria. O objetivo precípuo é mostrar que com a competência dos pais e a conveniente preparação didática do professor especializado, a escola com seu ambiente natural de seriedade e compreensão, seja um local convidativo e adequado para a discussão da educação sexual entre crianças e adolescentes.

A escola é a grande arena onde podem ser travadas lutas para transformação da sociedade e que tem convocado os educadores para que abram os olhos e vejam o óbvio, a necessidade de inserir e trabalhar ações preventivas e discutir com os jovens os cuidados com a saúde e o desenvolvimento de atitudes saudáveis em relação à sexualidade. Algo mais forte precisa existir no cotidiano escolar. Para tanto, é necessário que o primeiro passo seja dado: o desejo de criar cm nossas relações uma conduta amorosa, um ambiente de profundo respeito e confiança.

Este desafio começou quando foi elaborado no Projeto de Pesquisa um questionário com perguntas abertas e fechadas para pais e educadores, direcionado às turmas de 4ª a 6ª séries. Porém, este trabalho detectou que nenhum educador está suficientemente preparado para tão difícil tarefa. Os educandos, por conseguinte, estão cheios de dúvidas em quando o assunto é sexualidade, e o pouco que sabem sobre o tema, encontram dificuldades para codificar a mesma.

Verificou-se que entre os familiares não existe diálogo sobre o assunto, as crianças e adolescentes são menos ansiosos e menos hostis, enquanto que entre os familiares que não existe informações desse tipo, geralmente se mostram envergonhados e preferem não tocar no assunto.

Para concluir este trabalho, deve-se frisar que a postura do educador é fundamental para que os valores básicos propostos possam ser reconhecidos e legitimados de acordo com os mesmos objetivos apontados. É justo e necessário que o trabalho da escola esteja aliado ao acompanhamento dos pais e apesar da cooperação mútua de mestres e pais ser um tanto difícil, é possível através de reuniões destes com o corpo docente da escola aumentar as relações de aproximação. Estas reuniões são importantes para a troca de informações e esclarecimentos, orientações que possam melhor entender e instruir as crianças e adolescentes a seguirem um caminho mais seguro. A escola poderá ainda ajudar os pais fornecendo-lhes materiais didáticos, o que lhes prestaria auxílio não só quanto ao que dizer aos filhos, mas também como dizê-lo, facilitando a comunicação e o entendimento de ambos.

Acredita-se que uma proposta metodológica que mais tem obtido sucesso em projeto de sexualidade e saúde reprodutiva tem sido aquela que opta pelo uso de uma metodologia de linha participativa, com a realização de oficinas. Nesse tipo de metodologia, as discussões são menos formais e privilegiam o debate e a troca de experiência.

O uso de dinâmicas de grupos permite também que se fale de assuntos difíceis, sem expor os adolescentes a situações constrangedoras ou comprometedoras.

Além das condições descritas, são necessárias propostas didáticas especialmente no sentido de ensinar as crianças e os adolescentes a refletir e a descobrir os valores e as dimensões reais da sexualidade humana, capacitando-o, dessa maneira, a viver uma vida física e psicologicamente saudável e integrada. Assim, eles se libertarão da escravidão do próprio corpo e terão uma visão correta e global da função e da finalidade do mesmo.

A seguir, são apresentadas algumas sugestões para o trabalho de Orientação Sexual com os alunos que podem servir de referência para a geração de outras propostas:

— Formação docente;

— Criação de um espaço cultural para palestras;

— Dinâmicas e dramatizações;

— Realização de projetos com diversas alternativas no campo da educação sexual.

 

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando surgiu a ideia de estudar Orientação Sexual na escola, o objetivo era o de despertar o interesse entre educadores, pais, alunos e sociedade civil para a problemática da sexualidade. Tendo em vista que essa temática é considerada como algo natural, presente e inevitável na vida do indivíduo, a Orientação Sexual na escola deve ser tratada com muita atenção e carinho, pois ela mexe com valores éticos, filosóficos e políticos de todos. Por isso, é necessária muita responsabilidade ao conduzir esse assunto. Essa formação deve ser contínua e sistemática, propiciando a reflexão sobre valores e preconceitos dos próprios educadores, pois as crianças e adolescentes não tem como deixar os problemas em casa. Sabe-se que enfrentar sentimentos não é fácil para ninguém, mas trabalhar as emoções é importante no amadurecimento do ser humano.

Percebe-se, portanto, que para fomentar tal ato na escola, faz-se mister a prática do diálogo como fator indispensável na condução do processo cujo exercício deve se tornar objeto de aprendizagem contínua, uma vez que se constitui como instrumento para identificar necessidades, conhecer posições e buscar alternativas para problemas que emergem discussões, e diante destes pensamentos, através de inúmeros estudos feitos por educadores e pesquisadores que acreditam que a Orientação Sexual na escola ajude na formação da cidadania que hoje é eixo fundamental de preocupação da escola. Sabe-se que a implantação de um projeto desse porte não acontecerá de uma hora para a outra, como em um passe de mágica, mas através de parcerias e com o envolvimento de toda comunidade escolar, e para isso, é importante que a escola busque a participação de todos os segmentos da comunidade, envolvendo inclusive as famílias e se integrando com outras áreas e entidades para que as ações sejam garantidas por infra-estrutura institucional e orçamentária, uma vez que as intenções voltadas para a melhoria de qualidade de vida só surtem efeitos a médio e longo prazo.

Dessa forma, pode-se crer que parte dos objetivos foi alcançada, pois ao conversar com as categorias citadas no lócus da pesquisa, acredita-se ter inquietado e despertado nos mesmos que a necessidade e as relações entre as pessoas sejam igualitárias e solidárias.

Por fim, sabe-se que a inclusão da Orientação Sexual nos currículos das escolas representa um desafio que assusta a muitos educadores, mas que pode ser uma realidade futura e quem sabe daqui a alguns anos, após incessante trabalho, possa comemorar resultados vistos nas ruas, nas escolas e dentro da própria casa. E a escola, ao assumir o projeto, permite que a responsabilidade deixe de ser de um grupo isolado e passe a ser uma preocupação de todos, onde se buscam compartilhar o respeito de escolha e valores pessoais.

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